quarta-feira, 25 de maio de 2011

Monsters



Já devem ter reparado pelo tipo de filmes que analiso por aqui que algo chamado Monsters não é bem o meu tipo de filme. Mas este caso é diferente, li há uns tempos a crítica na Empire e fiquei curioso com a descrição que fizeram: é um misto de ficção científica com road trip, um filme de monstros para raparigas ou um romance para geeks. Algo deste género.

E não é que realmente o título é (meio) enganador? O filme tem os ditos monstros, mais precisamente seres extra-terrestes com uma altura entre 100 e 150 metros originários de uma das luas de Júpiter, mas é muito diferente do que costumamos ver neste tipo de filmes. Para fazer uma comparação assim a dar para o mais ou menos, este filme está para os filmes de monstros como o 2001: Odisseia no Espaço está para o Star Wars.

A história deve mais a um road movie que aos tais filmes de monstros: Sam é a filha do patrão de Kaulder e está (por motivos que desconheço) para lá da "zona infectada" que existe entre o México e os EUA. O pai de Sam usa as suas prerrogativas de chefe para fazer com que Kaulder - que é fotógrafo - tenha de abandonar a sua reportagem sobre os tais monstros e garanta que a filha do patrão chega bem a casa. O que é que se segue? Uma viagem México acima, até à "fortaleza" que os EUA ergueram para se proteger dos novos habitantes do nosso planeta.

Esta história com o muro dá logo que pensar numa eventual conotação política, uma comparação com o muro construído para deter os imigrantes mexicanos, mas segundo o realizador (Gareth Edwards, que fez tudo sozinho - já lá vamos) não era essa a intenção...a ideia dele era contar uma história que se passasse alguns anos depois dos demais filmes de aliens, quando as pessoas já estivessem habituadas, a vida seguisse a (possível) normalidade e a destruição provocada pelos "monstros" não se devesse a um eventual ataque mas sim a defesa de ataques humanos e à mera escala daqueles seres. Um bocadinho como o District 9 mas com "bichos" de 150 metros.

Outro dos pontos que trouxe Monsters para as luzes da ribalta foi o facto de, como já referi, ser um trabalho quase amador (mas altamente profissional!). Não houve guião, o realizador fez tudo menos tratar do som, o equipamento usado poderia ser comprado por nós numa qualquer fnac ou Media Markt, foi tudo filmado on location sem ensaios prévios e existem apenas dois actores (sendo que um deles não é)...todos os extras são locais que aceitaram fazer parte do filme enquanto a equipa de 7 pessoas viajava pela América do Sul numa carrinha alugada. A única actriz do filme é a protagonista feminina, Whitney Able, que só ganhou o papel por ser namorada do protagonista masculino, Scoot McNairy, que só ganhou o papel por ser um grande amigo do realizador.

O filme teve um orçamento perto dos quinhentos mil euros (muito pouco para este tipo de filmes), já deve ter feito umas 3 ou 4 vezes esse valor e só há pouco é que estreou na Europa continental. É um trabalho de um jovem que acreditou, conseguiu arranjar quem acreditasse com ele (e lhe desse algum dinheiro) e agora está a ter a confirmação do seu valor.

O filme é interessante, podia ser um bocadinho melhor (a relação entre Sam e Kaulder podia chegar ao fim de forma mais intensa, sobretudo se pensarmos que eles são um casal real), mas quando a história que está por detrás do filme é tão interessante como a do filme propriamente dito só podemos dar-nos por contentes.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Le concert




Sabem aquelas pessoas que são uma coisa, queriam ser outra e andam a saltar de emprego em emprego (ou de relação em relação) até finalmente conseguirem o que achavam que queriam, para depois perceber que afinal também não era aquilo? Se fosse humano, Le concert seria uma dessas pessoas.

O início do filme é de longe o melhor: num estilo quase à Kusturica, Radu Mihăileanu começa por nos contar a história de Andreï Filipov, um ex-maestro do famoso Teatro Bolshoi, de Moscovo. Por motivos políticos Andreï perdeu o emprego ainda no tempo da URSS (segunda referência em 2 SMR's, é obra!) mas - depois de ter interceptado um convite do não menos famoso Teatro Châtelet - tem a oportunidade de pegar na sua velha orquestra, ir a Paris passando-se pelo Bolshoi e finalmente atingir a glória que lhe escapara há umas décadas.

O terço do filme em que Andreï procura convencer os ex-colegas a tentar novamente é por vezes hilariante, sempre divertido e a única parte do filme em que existe alguma preocupação com um mínimo de realismo da coisa. A partir daí é sempre tudo a descer.

Tal como as tais pessoas que andam sempre a saltitar, o filme decide a dada altura que afinal não quer ser uma comédia gira e passa a uma comédia tão exagerada que não tem piada e depois a drama familiar sem ponta por onde se lhe pegue. O momento em que isso acontece dá-se quando - orquestra montada - todos partem para Paris com passaportes e vistos falsos emitidos por uma família cigana em pleno aeroporto de Moscovo. Eu avisei.

Honestamente, parece mesmo que o filme teve duas equipas de produtores/realizadores/guionistas, uma em Moscovo e outra em Paris. Tudo o que se passa na chamada cidade luz requer do espectador uma tal suspension of disbelief que a dada altura o fardo se torna demasiado pesado e nem quem seja menos exigente pode deixar de reparar! Não acredito que haja uma única pessoa no planeta que seja intelectualmente capaz e que ache que a cena final seja possível, por muito bonita que seja. E sim, eu tenho noção que o Harrison Ford não poderia ser congelado em "carbonite" e sobreviver, mas em Le concert ninguém voa pela galáxia, andam de metro.

Ora, alguns de vocês poderão estar a pensar: "então mas este filme não teve um enorme sucesso e esteve umas 30 semanas em sala?" Sim, teve e esteve (não sei o número de semanas, though, estou mesmo só a lançar um número ao calhas) mas honestamente não consigo perceber o porquê...a banda sonora de Stravinsky é boa, algumas interpretações (as mais discretas) também são boas mas fica-se por aí...Imaginem um filme como o Saving Private Ryan. Agora imaginem que nesse filme todas as cenas eram exactamente as mesmas mas todos os soldados eram cegos. Acham que seria um bom filme? Não, tal como Le concert seria demasiado irrealista para se poder ter como tolerável.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Ile Wazy Kon Trojanski?

Como sabem, aqui há uns tempos estive de férias e durante essas férias estive na Alemanha e na Polónia. O cinema alemão já vou conhecendo mais ou menos, o polaco nem por isso (não conhecia nada tirando o Kieslowski e o Skolimowski). Essa situação vai alterar-se em breve; trouxe uma série de DVD de lá e por isso não estranhem se nos próximos tempos o marcador Polónia daqui do blog cresça um bocadinho.

Como primeiro destes filmes polacos escolhi o




O título desta comédia/romance fantástico (as in cinema fantástico, não fantástico por ser bom) significa "Quanto pesava o cavalo de Tróia?" e, para ser muito honesto, é o elemento mais profundo de todo o filme...mesmo tendo em conta que a história envolve viagens no tempo.
A história é 1/3 Back to the Future, 1/3 Goodbye Lenin! e 1/3 Friends: no ano 2000, na véspera do seu quadragésimo aniversário, Zosia (Ilona Ostrowska, igual à Courteney Cox - daí o Friends) deseja voltar a ser mais nova. Pouco tempo depois esse desejo é concretizado, claro, mas de uma forma mais literal do que o desejado: Zosia viaja no tempo (não se sabe nem interessa como) e - tendo adormecido na Varsóvia de 2000 - acorda na Varsóvia de 1987, ainda sufocada pela URSS (daí o Goodbye Lenin).

Com uma moral de "cuidado com o que desejas" Zosia vai ter de tentar reverter o seu desejo. Isto porque, ao ter ficado mais nova Zosia voltou a estar casada com o idiota do seu primeiro marido (igual ao Sean Penn), vai ter de re-engravidar da sua filha e tentar com que o segundo marido se apaixone novamente por ela.

A ideia do filme é tentar apelar pelas cenas de fish out of water (Zosia mantém a mentalidade e conhecimentos de 2000 em 1987) e pelo eventual romantismo a extrair da tentativa de reconquista do (actual?) marido. Esse segundo aspecto não resulta de todo (ou então sou eu que sou um insensível) e mesmo o primeiro só tem duas ou três piadas dignas de nota. Talvez para um Polaco a coisa funcione melhor, mas eu não fiquei nada convencido com este trabalho do realizador Juliusz Machulski.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Indie Lisboa 2011: retrospectiva


Cá estou eu! O Indie acabou e este blog está numa (merecida) semana (e picos) de férias.

O festival foi fixe, mas achei que em termos gerais foi o mais fraco, só vi dois filmes mesmo muito bons quando normalmente apanho uns 4 ou 5. Serei eu que estou mais exigente?

Digam-me de vossa justiça, qual o filme que mais gostaram? Qual a desilusão do festival? E logo depois, toca a ir festejar a grande vitória do Futebol Clube do Porto na Liga Europa!!!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Indie Lisboa dia 11

Cleveland contre Wall Street:



Cleveland contre Wall Street ganhou o prémio do público do Indie Lisboa 2011. Foi precisamente na sessão de consagração que o vi. Porque é que não o vi antes? Porque pensava que seria como afinal é mesmo.

O tema é perfeito para ganhar prémios do público. A cruzada do underdog (desta vez os cidadãos de Cleveland, Ohio) contra a toda poderosa Wall Street. A razão? Os prejuízos que a chamada crise do sub-prime, causada pelos bancos de investimento, causaram à cidade. O movimento iniciou-se junto da população, teve o apoio oficial da autarquia e seguiu para os Tribunais...onde os advogados dos grandes bancos que causaram a crise conseguiram encher aquilo de tantos requerimentos que o caso ficou adiado sine die.

É deste ponto que o filme parte. O conceito é interessante: já que os Tribunais reais não podem julgar o caso, faz-se uma simulação do julgamento e filma-se tudo. Todas as pessoas são reais, todas as histórias são reais, até mesmo o juiz é real. Ninguém ensaiou nada, todas as regras de processo civil do Ohio foram seguidas e os jurados seguiram os procedimentos adequados...é isto que nos dizem as legendas no inicio do filme e nós só temos é de acreditar.

A execução do conceito é que podia ter sido muito melhor. É interessante ouvir as histórias daqueles que sofreram com a crise, vivendo agora debaixo da ponte com as suas famílias, é interessante até ouvir uma das testemunhas trazidas pelo advogado dos bancos - muito mais informado e convicto dos benefícios do capitalismo. Também é interessante ouvir a discussão dos jurados quando ao assunto, mas quando chegam os créditos algo nos deixa insatisfeitos...e não é só o look do filme, com ar de ter sido filmado nos anos 70 não conseguindo no entanto ser retro chic.

A meu ver a razão dessa insatisfação é mesmo o sabermos do princípio ao fim que aquilo é uma simulação. Independentemente do resultado e do que achamos sobre o assunto, sabemos que dali não vai sair nada.

Eu sou daqueles que está no meio. Não acho que as culpas sejam inteiramente atribuíveis aos bancos (os meus pais educaram-me a não consumir mais do que tenho...crédito nunca) mas a verdade é que o próprio do sistema do sub-prime e outros instrumentos financeiros similares (como os credit default swaps) são construídos com base numa premissa tão simples como assustadora: eles não vão poder pagar o empréstimo, mas só nós é que sabemos isso.

Gerentes destes bancos a ganhar milhões "oferecidos" pelo dinheiro dos mesmos contribuintes com cuja desgraça lucraram pouquíssimos anos antes não é só criminoso, é imoral e sem dúvida que todos aqueles que são responsáveis por esta crise deverão pagar. Pena é que uma simulação de julgamento não tenha eficácia legal.


Meek's Cutoff:


E assim chegámos ao último dos 25 filmes que vi no Indie deste ano. Curiosamente, ou não, foi dos que mais gostei.

Quando comprei os vouchers que poderia trocar por bilhetes do festival este foi um dos filmes que troquei logo...não o queria perder por nada e não me arrependi. Trata-se de um Western, situado no separador inicial como "Oregon, 1845". Acompanhamos um grupo de 7 pessoas (se não me estou a esquecer de ninguém) que seguem uma oitava, um guia que contrataram para os levar até às costas do Pacífico, numa altura em que aquele território ainda não era dos EUA e onde existiam "cerca de 250 americanos".

Este grupo de 8 está perdido. Contavam chegar ao seu destino em 3 semanas e já vão em cinco, sem verem a luz ao fundo do túnel. Essa luz acaba por chegar, não tem nome mas é um índio que segue aquele grupo e acaba por ser apanhado. Naquele ambiente inóspito, onde a água é escassa e não é vista há vários dias até um inimigo é visto como a salvação...

Disse há pouco que o filme é um Western e mantenho o que disse, mas devo avisar os meus queridos leitores para uma coisa: só o é em termos de localização geográfica e temporal. Se estão à espera de tiros e gajos machões estão completamente enganados. Como alguém dizia algures, este é o Western mais feminino da história...das 8 pessoas 3 são mulheres e 1 é uma criança...os restantes são homens mais ou menos de barba rija e se no primeiro plano são eles que mandam, acompanhamos mais as senhoras da expedição...talvez porque é uma realizadora que o filma?

Seja por que razão for é uma boa opção. Num filme introspectivo sobre a confiança e a fé fica sempre bem darmos mais atenção ao personagem mais confiante e mais optimista...esse personagem é Emily Tetherow, a senhora do poster ali de cima e um dos papéis da vida da ainda jovem actriz Michelle Williams. Normalmente não gosto dela, confesso, mas aqui faz mesmo um papelão, convencendo-nos (e convencendo-se) que é ela que vai dando energia a um grupo cada vez mais desesperado.

Se a Michelle Williams vai muito bem, os outros também mas acima de tudo o trabalho de realização e de fotografia que merece destaque. Os pormenores de época estão impecáveis, as paisagens quase lunares de tão desérticas são tornadas esteticamente apelativas e - algo que gosto muito de referir - a banda sonora, discreta mas quase constante, ajuda muito ao ambiente que se quer dar a esta história de provação daqueles que têm esperança num futuro melhor mesmo perante o desespero do presente.

Única queixa? A ratio de exibição do filme é 1.33 : 1. Vi agora que é propositado (pensei que fosse algum problema específico da sessão) e penso que não se adequa a um filme que devia orgulhar-se dos seus planos abertos.



E assim acabou o Indie, amanhã farei o resumo da praxe. Espero que tenham gostado tanto de ler estas SMR como eu gostei de as escrever (e ver os filmes que lhes deram origem)

domingo, 15 de maio de 2011

Indie Lisboa dia 10: Postmortem + A Film Unfinished + Bummer Summer

Post Mortem:


Post Mortem é a história do crítico gastronómico do Ratatouille enquanto funcionário do departamento de Medicina Legal de um hospital chileno, se nesse hospital chileno fosse feita aquela famosa autópsia a um alien, sendo que neste caso o alien seria o Salvador Allende, assassinado pelas tropas do Pinochet a 11 de Setembro de 1973. (Ou suicidado nesse dia, dependendo do que acreditarem).

Resumo estranho, não é? Pois o filme não é assim tão estranho mas o protagonista é mesmo parecido com o crítico gastronómico do Ratatouille, what can I do? Chama-se Mário, é mesmo funcionário desse departamento de Medicina Legal, onde transcreve as observações do médico para depois as colocar nos relatórios de autópsia, e é convidado à força para participar na autópsia do Salvador Allende.

É por aí que fica a ligação deste filme a essa revolução. Pensava que teria maior ligação mas Mário é um actor terciário que só passa pela revolução tangencialmente. O interesse dele está noutro lado: em Nancy Puelma, a sua vizinha/bailarina de cabaret que se aproxima dele quando o seu pai e irmão desaparecem nesse malfadado dia.

Mário parece ser um homem muito solitário e aquela dupla Nancy + sentir que tem um papel importante na revolução ("eu agora tenho um cargo") fazem-lhe mal à cabeça. Enquanto Nancy lhe dá bola ele está dominado, mas a partir do momento em que não qual animal ferido, Mário vai mostrar a sua maneira de ser. Cruel e fria.

O filme começa devagar, devagarinho, e vai crescendo em nós aos bocadinhos. Acaba por ser uma boa experiência (sobretudo pelo terço final, que vale mesmo a pena) mas sofre por demorar a pegar.

A Film Unfinished:


Um filme israelita filmado maioritariamente por cameramen nazis? Sim, A Film Unfinished é um documentário sobre o mais longo filme de propaganda nazi, descoberto há uns anos numa espécie de bunker algures na floresta alemã.

Este filme, gravado no gueto de Varsóvia em Maio de 1942, cerca de 3 meses antes da sua destruição e extermínio dos seus habitantes, tinha um título muito simples: "O Gueto". A Film Unfinished analisa esse filme e tenta perceber o seu propósito. Não vou falar muito sobre o documentário, que está bem feito e não abusa da emoção fácil, uma das coisas que menos gosto em documentários. Vou antes debruçar-me sobre o filme original.

Como alguns daqui sabem a minha namorada é alemã e por isso conheço aquele país um pouco melhor que o normal. Sei, por exemplo, que não são os monstros que muitas vezes o preconceito deixa transparecer. Por saber isso custa-me muito perceber o que é que se terá passado durante aqueles anos, a um povo que de repente deixou de ser humano e passou a considerar todos os outros povos sub-humanos. Ontem, durante este filme, reflecti sobre isso e fiquei a pensar se não terá a ver com a capacidade alemã para cumprir ordens...Em Portugal dizem-nos para fazer algo e tentamos logo arranjar forma de o fazer com pouco esforço/não o fazer ganhando o mesmo mérito, na Alemanha fazem e não questionam sequer. Pode ter sido isso que levou à barbárie do Holocausto.

O filme de propaganda (que compõe uns 90% do documentário) mostra-nos essa barbárie ao extremo. Se é verdade que os cineastas obrigavam os judeus a encenar algumas partes, para mostrar ao mundo que até não viviam mal (uma das cenas mais impressionantes é uma suposta refeição num restaurante..em que obrigaram a comunidade judaica a pagar as iguarias daqueles figurantes quando milhares morriam à fome lá fora) por outro lado não se coibiram de filmar a desgraça que por lá havia.

A intenção da propaganda nazi era mostrar que os judeus que viviam no luxo não se preocupavam com os desgraçados que morriam nas ruas, mas o que eles não estavam à espera era que o filme (encontrado sem qualquer bandas sonora) só seria visto agora...com comentário de alguns sobreviventes e a leitura do diário do director do Judenrat de Varsóvia. Estes depoimentos, longe da lógica da propaganda e muito mais próximos do que realmente aconteceu fazem-nos sofrer com aqueles que lá viveram e sofreram. Os nazis tentaram desumanizá-los, conseguiram-no com muitos, mas felizmente para nós as suas vozes, os seus testemunhos e - através desta propaganda - o seu quotidiano miserável passou para as gerações futuras, para que nunca esqueçamos a história.

Gosto muito da Alemanha actual, mas continuo a achar que a Alemanha nazi (que não é a mesma, apesar de ser o mesmo povo e o mesmo país) foi o ponto mais baixo da história da humanidade.


Bummer Summer:

Bummer Summer foi filmado com actores jovens, não conhecidos, e isso nota-se. É uma road trip dividida entre Ben, Lila (a sua ex-namorada) e Isaac, o seu irmão que acaba por ser um bocadinho empata-f*das!

As situações pelas quais passam interessantes, os diálogos são credíveis, as imagens a preto e branco são muito bonitas e têm lá uma praia absolutamente fantástica (se alguém descobrir onde foi filmado diga-me, a sério, quero visitar aquela praia!) e por isso é um filme muito agradável de se ver. Não é o cinema na maior nobreza da arte, mas por vezes - como os próprios personagens se apercebem no final - mais importante que o destino é a viagem.

sábado, 14 de maio de 2011

Indie Lisboa dia 9: rien de rien

Hoje não houve filmes para o menino João. Amanhã há mais...filmes e SMR's

Indie Lisboa dia 8: O que há de novo no amor?

ATENÇÃO: Este post é relativo ao dia 12 de Maio, não o publiquei antes porque o Blogger este offline uma data de tempo!


O que há de novo no amor?:



Há noites em que nada parece correr bem. Vejamos o que ontem correu mal.

A sala: Já aqui o disse várias vezes, adoro o cinema São Jorge e em particular a sala 1, provavelmente a maior sala de cinema do país. Neste caso, o problema é que a sala, apesar de renovada, é velha. E não tem ar condicionado (ou, tendo-o, é demasiado fraco para aquele tamanho). E a sala, com 500/600 lugares estava esgotada. E estava muito calor.

A sessão: Bem sei que era a estreia mundial deste filme. Bem sei que o filme tem 6 (seis) realizadores (mas já lá vamos) e todos queriam fazer os seus agradecimentos. Bem sei que os actores poderiam ser chamados ao palco para receber os aplausos. Bem sei que ia haver atrasos. Mas um atraso de mais de meia a hora começa a ser intolerável! Para aqueles que, como eu, vão ao cinema pelos filmes e não pelas cerimónias o facto de uma sessão marcada para as 21h45 começar só depois das 22h15 tem consequências chatas. A consequência ontem foi ter perdido o Finisterrae à meia noite, um filme que tinha mais interesse em ver e que decerto é melhor. E sim, podia ter saído a meio..mas eu não saio a meio de filmes.

A SMR: Quando cheguei a casa o Blogger estava em "Read-only mode" e é por isso que só agora é que estão a ler isto. Mas passemos então ao mais importante...

O filme: Queria tanto gostar deste filme. É que queria mesmo! Trata-se de um projecto jovem, um conceito original q.b. e é um filme português sem a sobranceria típica dos filmes portugueses. Eu queria, mas não consigo gostar.

A questão de ser feito por 6 realizadores vai ser, de certeza, o ponto mais falado quando estrear comercialmente, mas mesmo que não se considere que isso é pouco mais que um gimmick não se pode dizer que acrescente o que quer que seja. Só retira, na verdade: notam-se os estilos diferentes mas a opção de tentar manter uma história única em vez de vários segmentos tipo New York, I Love You foi uma opção errada, a meu ver, porque - para usar uma expressão antiga - não é carne nem é peixe: as histórias entrecruzam-se o suficiente para serem uma só mas os saltos que o filme dá acabam por fazer com que nenhum dos personagens, e as suas histórias, tenha um princípio, meio e fim.

Apesar de tudo a realização é o menor dos problemas desta obra: muito piores são o argumento e as interpretações, à excepção de Joana Santos, que faz de Rita.

Uma das piores coisas que podem acontecer a um argumento é provocar o riso em momentos não cómicos. Em O que há de novo no amor? isso acontece várias vezes e é perfeitamente compreensível, quanto temos frases como esta, dita por um jovem bué rebelde que vive numa casa okupada onde decorre a pior festa de hip-hop da história da humanidade: "Sabes, as pessoas vêm aqui e pensam que esta casa é diferente e ficam todas malucas. Só que eu vivo aqui e vejo que é diferente, é tudo uma ilusão...as pessoas nem sequer se olham nos olhos. Mas tenho bué carinho por essas pessoas e por esta casa, caso contrário não vivia aqui".

Face a isto ou choramos, ou rimos, ou vamo-nos embora (o que muita gente fez e eu não fiz - para ir ver o Finisterrae - porque por princípio não saio de filmes a meio).

O elenco é todo jovem, numa onda Morangos com Açúcar (em termos de idade e estilos) e o nível também é parecido, com a excepção que já referi antes. Estes Morangos são é sem açúcar, não porque são piores (que não são) mas porque o ritmo é muito mais lento (demasiadamente lento, por vezes) e menos capaz de provocar uma crise de hiperglicémia.

No início da sessão um dos directores do festival referiu que gostava que este filme tivesse sucesso em sala quando estrear comercialmente. Para esse efeito, pediu-nos para "passarmos palavra" aos nossos contactos. Eu gostava de o poder fazer, porque admiro a coragem que todos os envolvidos tiveram em fazer isto e estreá-lo na sala mais mítica do país, mas de boas intenções está o inferno cheio e se querem ter sucesso vão ter de se esforçar mais e produzir algo com mais qualidade.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Indie Lisboa dia 7: Essential Killing

Essential Killing:



Antes da SMR propriamente dita, um desabafo. ODEIO saber informação importante sobre o filme antes de o ver e desta vez, por causa de uma simpática crítica de uma simpática revista semanal do nosso simpático país soube uma dessas informações. Estragou-me completamente o filme? Não, mas tornou-o completamente diferente!

E agora avancemos para a SMR, sem essa informação.

Falar-se de um thriller quando nos referimos a este filme é capaz de ser exagero. Se é verdade que enquanto dura preocupamo-nos com o destino do protagonista (Vincent Gallo, actor perfeito para o papel) mas ao contrário do que deve ser a base de qualquer bom thriller e dadas as circunstâncias em que se encontra sabemos desde cedo qual será o final da história. Ou não...eu achei-o óbvio, mas à saída do cinema ouvi gente a defender um desfecho contrário.

Claro que não vos vou dizer quais são essas possibilidades, mas digo-vos que Essential Killing, do polaco Jerzy Skolimowski, é um filme de sobrevivência. De forma semelhante a um Alive (para mim o melhor filme deste género) ou a um 127 Hours, o protagonista (que o IMDB diz que se chama Muhammad, mas eu não ouvi esse nome durante o filme inteiro) está, basicamente, lixado. Tal como no Alive, está no meio da neve; tal como no 127 Hours está absolutamente sozinho. Ao contrário de qualquer um desses exemplos, está a ser perseguido pelo exército americano. Há que convir que isso é chato.

A culpa é realmente do talibã (sim, ele é talibã). Não fosse ele ter feito o que não devia e já não estava naquela situação...mas será que a culpa é só dele? Não..não fossem os americanos o tratarem como um animal e o torturarem selvaticamente e provavelmente desistiria mais cedo e rendia-se.

No entanto, para ser verdadeiramente honesto convosco, acho que a atribuição de culpas é mais importante para a conversa intelectualó-politizada pós-filme do que para a história propriamente dita. A culpa pode ser do talibã (da mamã?) mas mesmo que não fosse, e mesmo que os americanos não fossem culpados tampouco, mesmo que ninguém tivesse culpa de nada a mensagem que passa passava na mesma: todos nós, por muito pouco preparados que estejamos, faríamos tudo para sobreviver.

Essential Killing mostra-nos isso sem precisar de recorrer ao gore e ao canibalismo. De uma forma muito mais contida, talvez fruto da escola europeia de cinema, faz-nos torcer por um homem que, sendo um terrorista, acaba o filme completamente vulnerável, voltando ainda que mentalmente ao seu lugar seguro.

Já aqui referi o Vincent Gallo mas quero mesmo sublinhar isto: este papel não poderia ter sido melhor entregue! Posso não concordar com algumas das suas ideias (mesmo achando que só podem ser a gozar!) mas aqui, enquanto actor, mostra o que, se eu não fosse um crítico de cinema para aqueles que não têm paciência para críticos de cinema chamaria de tour de force de interpretação contida.

Resumindo, que estou cheio de sono: Essential Killing é um bom filme que, mercê das suas paisagens fabulosas e da sua grandeza de escala, merece ser visto num ecrã de cinema. Não passa é novamente no Indie, por isso façam figas que estreie em sala.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Indie Lisboa dia 6: Memory Lane + All Good Children

Memory Lane:



No Q&A que se seguiu a esta sessão o realizador partilhou que uma das questões que mais costuma ouvir é "qual a idade dos protagonistas?"; confesso que eu também tive essa dúvida e fiquei satisfeito quando o ouvi dizer que escreveu o guião imaginando-os com 25 anos, "uma idade em que já têm responsabilidades e a vida deles já mudou, mas em que o passado ainda está muito presente".

Acho que todos nós que já passámos por essa idade (ou que, mesmo mais novos, já deixámos de estudar) sabemos que a dada altura temos um momento em que nos apercebemos que as coisas já não são as mesmas. Alguns adaptam-se melhor a isso, outros nem tanto, muitas vezes dependendo do quanto temos para fazer quando nos tornamos adultos.

Em Memory Lane, a primeira longa de Mikhael Hers, todos os personagens principais têm essa incerteza no coração. Dos sete, Raphael é quem sofre mais com essa mudança. Aparentando não ter emprego nem família/namorada (as maiores ocupações dos restantes amigos) e vivendo ainda na Paris que os uniu, Raphael é o que o Eça de Queirós chamaria de dandy. No entanto, ao contrário de Carlos da Maia ou João da Ega, Raphael começa a bater mal com o facto do seu grupo se ter desmantelado.

Quando vocês passaram por esse momento como é que reagiram? Eu devo admitir que um pouco como Raphael, mas entretanto avancei e julgo estar mais próximo da reacção de Vincent (Thibault Vinçon, que às vezes é igual ao Jesse Eisenberg). Em vez de desesperar, Vincent apercebe-se que a mudança é natural e que o não estar constantemente com os amigos de outrora não quer dizer que não se possa estar bem, com eles, sem eles ou com alguns deles num registo que não existia antes.

O entrecruzar das memórias colectivas do grupo com o seu momento presente é uma excelente forma de nos pôr a reflectir sobre os nossos próprios grupos de amigos e aquelas longas tardes de Verão em que não ter nada para fazer era uma actividade em si mesma. O trabalho do realizador é notável, ao manter ao longo do filme um aspecto orgânico muito agradável (sobretudo a nível das cores) e, algo que já não referia há algum tempo, a banda sonora é bastante adequada ao tom que se quer para o filme.

Volta a passar no dia 13 às 16h30 e é um excelente programa para levarem os vossos amigos, aqueles com quem viveram as tais tardes de Verão.


All Good Children:



O resumo oficial deste filme na programação do Indie diz o seguinte: "Quanto menos soubermos sobre esta surpreendente primeira longa-metragem da cineasta britânica Alicia Duffy, melhor". Concordo com esta regra (no geral, não só em relação a este filme) por isso vou ser um menino obediente, falando de um outro filme.

Antichrist é um filme que estreiou em Portugal no Estoril Film Festival de 2009. Nele acompanhamos a história de um casal que resolve ir viver para o meio de uma floresta (não interessa agora porquê) e dessa mudança nasce a loucura.

Nos filmes as florestas costumam ser mais assustadoras que locais de agradável passseio. Aqui não estamos perante uma excepção: esta floresta cinemática é escura, ventosa, povoada de animais mais ou menos pequenos, mais ou menos assustadores. Falo de aranhas e de raposas, especificamente.

Talvez seja o isolamento provocado, talvez seja uma predisposição mental, mas em Antichrist (tal como em All Good Children) a floresta é um óbvio catalisador para o caos. O que antes era razão e auto-controlo passa a emoção e desespero, o que era paz passa a violência e o que era bonito torna-se muito, muito feio.

Antichrist é uma obra madura, com actores de gabarito com uma cinematografia de um nível muito elevado.

All Good Children é, com as devidas (poucas) diferenças, o Antichrist com crianças. É uma obra de qualidade (a fotografia e as interpretações infantis são especialmente merecedores de mérito), mas sofre pela excessiva colagem que, julgo eu, não conseguirá sair da cabeça daqueles que já viram a obra de Lars von Trier. São demasiadas as parecenças para que possam ser ignoradas.

A realizadora não esteve presente na sessão. Gostava de lhe ter perguntado se gostou de Antichrist e não tenho muitas dúvidas quanto à resposta.

Indie Lisboa dia 5: Competição Internacional de Curtas 8 + Long Live the New Flesh + Vampires

Dos 8 filmes que vi hoje os 7 primeiros eram curtas metragens, por isso não estranhem as SMR mais curtas que o habital.

Muscles:



Uma rapariga australiana cujos pais decidem quem lava a louça lutando boxe um contra o outro tem uma obsessão muito pouco feminina: o culturismo. Arranca as cabeças das Barbies, cola-as nos corpos dos lutadores de wrestling do irmão e passa muito tempo no ginásio a tentar transformar o seu corpo.

O irmão, mais novo, é mais pacato e não tem esse interesse. No entanto, tem de provar que não é menos gajo que a irmã e começa a fazer asneira. Asneira da série.

Ao fim de dois anos de blog este é, curiosamente, o primeiro filme australiano que analiso. Gostei do que vi, é melhor que o Crocodile Dundee e era bem capaz de dar uma longa interessante.


Los minutos, las horas:


Uma mulher, Yoli, vive com a mãe algures em Cuba. A mãe está dependente dela porque já não consegue andar sozinha. Yoli recebe um convite para sair, irrita-se por estar presa aquela casa e aquela mulher mas no final apercebe-se do valor que têm as relações familiares.

É essa a grande mensagem de Los dias, las horas. Uma mensagem que nos diz que devemos estar lá para as nossas famílias quando elas precisam de nós. O facto de ser um filme em co-produção cubana e brasileira explica muita coisa: são valores intrinsecamente latinos os que transmite.

As interpretações são ok, a fotografia é ok, mas o filme não pega. Talvez por Yoli ser tão solitária que já não precisa de transmitir emoções.

Miten Marjoja Poimitaan:


Uma espécie de documentário artístico sobre os efeitos que a mão de obra tailandesa tem na apanha de frutos silvestres no Norte da Finlândia parece ser das coisas mais desinteressantes de sempre, certo? Errado!

O tema pode não interessar ao menino jesus, mas talvez por saber disso a realizadora - Elina Talvensaari - apostou mais no estilo e foi uma aposta ganha. Com uma série de imagens quase fantasmagóricas e um excelente uso de filtros/planos apertados/contraste entre a natureza e o mecânico este filme, que se chama How to Pick Berries em Finlandês foi visualmente o mais apelativo desta sessão.

La dame au chien:


A única nota que tirei durante este filme foi "Quem é a gorda?". A gorda a que me refiro é a senhora que aparece na foto aqui em cima. É ela a dona do cão e que dá o nome ao filme.

Durante os 16 minutos do filme vemo-la a conversar com um adolescente, numa casa que não parece a sua. No final há uma surpresa, mas esse twist é tão irrelevante como pouco concreto. Daqui saltam à vista as interpretações, tanto da dita gorda como do adolescente e fica a pena de o filme não ter um bocadinho mais de sumo para espremer.


Paris Shangai:


Cada vez me convenço mais que a comédia é o meio que funciona melhor em curta-metragem. Talvez por ser mais imediato e não requerer uma ligação tão próxima com as histórias dos personagens mas a verdade é que normalmente as minhas curtas preferidas são as mais divertidas.

Nesta sessão - Competição Internacional Curtas 8, que volta a passar dia 14 às 14h30 - não houve uma excepção para confirmar a regra. Paris Shangai, a história de um jovem que deseja unir essas duas cidades numa viagem de bicicleta mas não chega a sair de França é a mais divertida das curtas e aquela que mais aplausos obteve por parte do público.

Não é genial, mas deixa-nos com um sorriso nos lábios e só por isso já vale a pena. De destacar ainda a interpretação de Franc Bruneau, que faz de Manu. Não sei se é actor ou não, mas se não o fôr aposto que anda algures pela Ásia à procura de Shangai, montado na sua bicicleta.


The Voice of God:


Um filme experimental que desde o início nos avisa "This movie has no subtitles". É um aviso estranho mas que se percebe logo de seguida...enquanto vemos imagens aceleradas do trânsito em Bombaim e imagens em câmara lenta do quarto de uma mulher indiana ouvimos alguém declamar algo numa qualquer língua indiana.

Não sei o que diziam, sequer se diziam algo que fizesse sentido, mas não consegui deixar de pensar na música Die Eier von Satan, dos Tool - uma música super-agressiva em alemão que goza com o facto de o vocalista estar apenas a ler uma receita de omoletes sem ovos - e isso distraiu-me completamente do simbolismo do filme.



Long Live the New Flesh:


Já fora da sessão de curtas mas uma curta ainda assim, Long Live the New Flesh é mais um filme experimental.

Fez-me lembrar um artista americano com o nome de Girl Talk, um especialista em mash-ups que não faz nada de verdadeiramente original. Em Long Live the New Flesh o realizador pegou em imagens de uma data de filmes de terror (entre os quais o Videodrone, de onde retirou o título) "desfez as imagens em ácido" (se bem que me parece um efeito digital) e está feito.

Não referi acima mas digo-o agora. Detesto Girl Talk. E detestei esta curta como há muito não detestava um filme.

Vampires:


A ideia por detrás de Vampires é tão genial que acabamos a pensar como é nunca ninguém se tinha lembrado disto antes.

Vampires é o que se chamaria de mockumentary. Um documentário falso em que seguimos o dia a dia de uma família de vampiros residente na Bélgica. A piada da coisa é que a vida deles é praticamente normal, só com algumas adaptações: celebram "mortiversários", bebem uma chavenazinha de sangue ao acordar e no pseudo-frigorífico têm uma humana, a quem chamam de Carne.

O pai desta família, Georges, esforça-se por nos mostrar o dia a dia dos vampiros belgas e vê-se que gosta muito de um país em que têm imigrantes ilegais (a quem chamam de salsichas) entregues à porta todas as semanas, qual encomenda online. Mas a vida de Georges não é fácil...para além de ter uma mulher meia chanfrada, tem um filho que insiste em fazer merda (tipo ver se os paraplégicos deixam de o ser quando se tornam vampiros) e uma filha adolescente que insiste em vestir-se de cor de rosa mesmo quando vai à escola. Sim, ouviram bem...os vampiros têm uma escola nocturna onde usam os bonecos de respiração boca a boca para aprender a chupar sangue.

O segredo deste filme é tratar todos os eventos com a maior naturalidade possível. Claro que não passa tudo de um grande disparate, mas quando vemos as entrevistas de Georges à equipa de reportagem, ou os testemunhos dos seus vizinhos vampiros, uns atadinhos que vivem na cave, parece mesmo que estamos a ver uma reportagem do 60 minutes ou um episódio daquele reality show da família Osbourne.

Só por isso Vampires já se assume como um dos grandes filmes deste Indie, mas quando o filho de Georges usa a frase "Estou tão contente que é como se estivesse a peidar foguetes" ficamos com a certeza absoluta que esta vai ser uma das comédias do ano.

Já não volta a passar neste festival mas espero que volte às salas portuguesas. Sei que uns quantos leitores frequentes deste estaminé iriam adorar este filme.

domingo, 8 de maio de 2011

Indie Lisboa dia 4: Curling + Gravity Was Everywhere Back Then + Viagem a Portugal + This Movie Is Broken

Curling:


Enquanto assistia a Curling, o filme de Denis Côté inserido na secção Observatório do Indie deste ano, sentia-me realmente a observar um mundo aparte. Um mundo de condições extremas - o filme é passado no Norte do Canadá, onde a neve e o frio são imensos - mas que me lembrar uma coisa mais familiar.

Não sei se serei só eu mas ao assistir à história de Jean-François Sauvageau (Emmanuel Bilodeau, um famosissimo actor canadiano) e da sua filha Julyvonne (a filha real do actor) pensei frequentemente no caso Joseph Fritzl, aquele austriaco que teve a filha imprisionada na cave de sua casa durante 24 anos. Jean-François não abusa da sua filha, nem sequer a tem presa a nada - Julyvonne pode sair e passa a maior parte do tempo sozinha, de qualquer forma - mas com a sua atitude ultra rígida, o seu modo de vida espartano e o permanente medo de algo que não percebemos nunca o que é fazem com que - amando a sua filha - a prejudique gravemente.

Exemplo? Por causa dos tais medos que o pai tem Julyvonne não vai à escola. Nunca foi. E por isso demonstra limitações intelectuais que até o patrão de Jean-François e Rosie (a mãe?), que raramente a vêem, o notam.

O filme é precisamente sobre esta relação sufocante. Por não ter um pai normal Julyvonne não é uma criança normal e não tem uma infância normal...não tem amigos e, como entretém, deita-se na neve junto a um monte de cadáveres (numa cena que não percebi, devo admitir) e quando o pai a abandona (porque teve uma reacção errada a algo que não provocou) ela não liga lá muito. A relação entre eles é distante, e a nossa relação com o filme também o é.

No final do filme o pai parece querer (re)aproximar-se da filha. Talvez fosse essa a intenção so realizador, (re)aproximar-se do público. No entanto, a reacção morna que teve na sala quer-me fazer crer que a próxima sessão, dia 12 às 21h30, não deve ser muito mais calorosa.


Gravity Was Everywhere Back Then:


Filme mais original que este não vão encontrar neste Indie de certeza absoluta. Melhor que este também vai ser difícil, mas estou pronto para ser surpreendido.

Gravity Was Everywhere Back Then é a ficcionalização de uma história real que o realizador, Brent Green (não se esqueçam deste nome!) ouviu falar: em Louisville, Kentucky, Mary e Leonard Wood eram um casal mais ou menos normal até ao dia em que Mary adoeceu com cancro. A partir dessa altura Leonard começou a construir uma casa muito especial, qual Noé dos tempos modernos.

Segundo o realizador a história base é verdadeira mas grande parte do conteúdo é imaginado porque nunca conheceu os seus inspiradores. A verdade é que esse pormenor (sim, porque neste filme isso é um pormenor) não é muito relevante. A magia deste filme está muito na sua forma...não vemos uma única imagem em movimento, todas as filmagens foram feitas em stop motion se bem que com actores reais; muitas vezes o som não está em sincronia com o que vemos no ecrã e mesmo tendo em conta que Mary, Leonard e a casa são os protagonistas o realizador não se coíbe de dar o seu comentário aos eventos que vamos acompanhando.

Diz ele a dada altura que se acreditasse em deus, que não acredita, diria que os anjos devem estar a fazer um bom trabalho a distraí-lo porque parece que deus se está a cagar para muitas coisas importantes. Ao construir aquela casa, com uma torre de 23 metros a servir de lavandaria, Leonard estava a tentar chegar a deus (Leonard era crente), aproximar-se dele para lhe pedir um pequeno milagre...salvar o grande amor da sua vida.

Deus não lhe concedeu esse milagre, Mary acaba por morrer (não é spoiler, ficamos a saber disso logo no início) mas durante os 20 anos seguintes Leonard continuou a construir aquela Sagrada Família versão hardware store. Que milagre procuraria ele na altura? Essa resposta nunca nos surge, já referi que realizador e personagens nunca se conheceram, mas creio muito honestamente que o milagre que Leonard procurava era manter Mary com ele...pode não a ter curado mas a casa manteve a sua memória viva.

Fomos informados no início da sessão que devido a problemas económicos Leonard acabou por ter de vender a casa e o seu novo dono demoliu-a por ser tão diferente das restantes casas do bairro. Penso que as pessoas que destruiriam tal casa não poderão gostar deste filme (e acreditem que houve muita gente a sair a meio) mas eu gosto de pensar que a manteria assim, estranha e mágica, e eu - tal como as restantes pessoas que a manteriam como estava adorei esta que é uma obra prima do stop motion e, no geral, uma obra prima do cinema. Mesmo, para mim o cinema é isto!

Volta a passar dia 13 às 18h45. Se só puderem ver um filme deste festival este é uma excelente aposta. Mais, só existem 5 cópias deste filme a circular pelo mundo, por isso é mesmo uma oportunidade única.


Viagem a Portugal:


A coisa começou bem: antes do início da sessão actrizes do filme estavam a entregar panfletos com o título "Enquadramento Político". "Boa", pensei eu, "isto é capaz de ser interessante".

Viagem a Portugal conta uma história sobre uma realidade que conheço relativamente bem, a da imigração em Portugal. Os que me conhecem pessoalmente sabem que não sou imigrante, nasci na mítica freguesia de São Sebastião da Pedreira..a razão pela qual conheço esta realidade é de natureza profissional: durante cerca de um ano coordenei um gabinete de apoio jurídico a imigrantes e sei o que custa lidar com o SEF.

Tanya, a mulher ucraniana que inspirou esta história, também o soube. Chegou a Faro (legalmente) no dia 31 de Dezembro de 1997 para visitar o marido, um senegalês que estudou Medicina com ela em Donetsk mas que por cá trabalhou nas obras da Expo '98. Nessa altura Tanya não passou das portas do aeroporto, mas entretanto voltou e contou a sua história, história essa que segundo o realizador - Sérgio Treffaut, que ganhou o prémio de melhor filme português no primeiro Indie com Lisboetas - é "água de rosas quando comparada com outras histórias semelhantes".

A adaptação dessa história feita em Viagem a Portugal é bastante fraca, devo dizê-lo.

A Maria de Medeiros é convincente como ucraniana, mas é basicamente isso...o filme está pejado de frases escolhidas para provocar um sorriso auto-comiserante ("Nós em Portugal não somos corruptos como no teu país", diz a inspectora do SEF a dada altura), personagens secundários escolhidos a dedo para preencher o espaço do cliché (travesti brasileira? check!) e sobretudo tem um look muito muito errado. Um tema como este nunca pediria um preto e branco tão clean, por muito que o contraste entre uma ucraniana e um senegalês fique bem na tela.

O tema da imigração é fértil e merece ser explorado, mas nunca desta forma e com esta leveza de estilo. Os brasileiros, ucranianos, bengalis ou apátridas que tentam todos os dias cruzas as nossas fronteiras mereciam bastante melhor.


This Movie Is Broken:



Com um look algures entre o Nick and Norah's Infinite Playlist e o melhor anúncio da Super Bock This Movie Is Broken é um filme que tenho muita dificuldade em analisar.

Não que seja mau, é muito bom(!), a questão é que não é propriamente um filme. This Movie Is Broken é uma gravação de um concerto que os Broken Social Scene deram em Toronto a 11 de Julho de 2009 mas é um pouco mais que isso. No meio das imagens do concerto propriamente dito temos uma história de 3 amigos - Bruno, Caroline e Blake - que assistem a ele.

Uns 80% do filme são imagens da banda a tocar e isso provoca um efeito curioso e raro numa sala de cinema: à minha frente tinha bastante gente a abanar a cabeça como se estivessem mesmo a assistir àquilo. Os restantes 20% são secundários em relação ao concerto mas passam uma mensagem bonita: a música serve para nos apaixonarmos (não necessariamente em termos amorosos, também pelos nossos amigos) e para nos deixarmos entregar aos bons momentos da vida.

Foi uma excelente maneira de acabar a maratona do dia e se gostarem da banda (ou do estilo de música) ainda o podem apanhar dia 14 às 19h15 no São Jorge. Se não gostarem não vale a pena irem ver.

Amanhã já sei qual vai ser a minha banda sonora.

Indie Lisboa dia 3: Tabloid + The Ballad of Genesis and Lady Jaye

Tabloid:



Joyce Bermann McKinney nasceu em 1949. Durante a sua adolescência era concorrente frequente de concursos de beleza, chegando a Miss Wyoming. Algures durante esse período conheceu Kirk Anderson, namorou-o e a relação terminou por este ser Mormon. Em 1977 Joyce Bermann McKinney viajou até Ewell, em Inglaterra, fez com que Kirk Anderson (que andava por lá a pregar, como todos os Elders Mormon o fazem a dada altura da sua vida) desaparecesse durante 3 dias.

Segundo ela isto foi o que se passou: Kirk foi com ela porque quis, viveram três dias de diversão, comida e sexo, ela só o amarrou à cama porque leu num livro que era a melhor maneira de o fazer sentir que não estava a pecar tendo sexo antes do casamento mas no fundo aquilo foi uma verdadeira lua de mel.

Segundo ele isto foi o que se passou: quando foi abordado por um amigo de Joyce este apontou-lhe uma arma, meteu-lhe um saco na cabeça, levou-o para uma vivenda onde foi amarrado de mãos e pés a uma cama e foi violado...sete vezes...sendo que a partir da terceira, aparentemente, já foi mais consensual que antes.

Segundo os tablóides ingleses, nomeadamente o Daily Mirror, isto foi o que se passou: "Mormon Sex in Chains!!!" --> vamos investigar a vida da americana chanfrada --> e não é que ela foi call girl e dominatrix em Los Angeles? Foi mesmo! Vamos destruir-lhe a vida? Vamos a isso!

Tabloid, o mais recente filme de Errol Morris (que já nos trouxe documentários tão bons como o The Fog of War), tem um nome que engana: fala da exploração que os tablóides fizeram à vida de Joyce McKinney mas está sempre mais interessado em contar as histórias desta mulher que - há que admiti-lo - tem mesmo uma granda panca. Ao vermos este filme, ao rir-mo-nos dos disparates que ela diz ("Violar um homem é impossível! sem uma erecção ter sexo é como enfiar um marshmallow num parquímetro") estamos a alimentar essa mesma cultura de voyeurismo que os tablóides exploram.

Será que a história de Joyce é assim tão interessante? Apesar de ela também ter estado envolvida na primeira clonagem de cães, feita em 2005 na Coreia do Sul (don't even go there) a verdade é que não. Vermos a sua história não é muito diferente de vermos um Big Brother famosos os famosos na selva ou lá o que é. Pega-se numa celebridadezeca qualquer e fala-se das coisas mais estranhas da sua vida.

Foi por isso que apesar deste ter sido o melhor dos filmes que vi até agora no Indie (e tecnicamente está muito interessante) não fiquei plenamente convencido. Ao contrário do The Fog of War, que nos fica na cabeça, este filme será tão vazio como a história que retrata. Joyce pode ser maluca, mas a sua história não é mais que um fait divers que não acrescenta nada de relevante às nossas vidas.

Volta a passar no dia 14 de Maio, Sábado, às 15h. Onde? No São Jorge, claro.



The Ballad of Genesis and Lady Jaye:


Segundo filme do dia, segundo documentário do dia, mas se o primeiro era uma coisa profissional e muito estilizada este é muito mais caseiro e se calhar mais apropriado a um museu do que a uma sala de cinema.

Gravado numa câmara de 16mm com bobines de 3min ao longo de 7 anos, The Ballad of Genesis and Lady Jaye é um documentário que nos mostra o íntimo de Lady Jaye e da sua marido (sim, disse bem, vejam o poster) Genesis P-Orridge, duas artistas avant garde de Nova Iorque que poderiam claramente ser personagens secundários no filme Shortbus. Poderiam estar numa das muitas cenas passadas naquele "salon for the gifted and challenged".

Qualquer uma das estrelas deste filme tem interesse por si só, foram importantes na cena avant garde americana, pioneiras do que chamaram o pandroginia (procuraram aproximar o seu aspecto físico através de operações plásticas, tipo José Castelo Branco e Betty Graffstein mas com cabeça) e Genesis fez parte de uma banda influente dos anos 70, os Throbbing Gristle, mais conhecidos daqueles que sabem um pouco sobre música industrial, mas tal como diz o resumo oficial do Indie isto é mais uma história de amor que outra coisa.

Antes de ser Genesis Genesis era um homem, um dia conheceu Lady Jaye, a faísca veio de imediato e soltou-se. Passaram a viver juntas, casaram (com Genesis a ser a mulher apesar de ser o homem), fizeram uma série de projectos conjuntos e tiveram o que Lady Jaye queria, uma das maiores histórias de amor de que há memória.

É esse o grande mérito da realizadora, Marie Losier. O método que escolheu dá a todo o filme uma sensação de estarmos a ver um vídeo caseiro de um casal apaixonado e ao mesmo tempo - dadas as actividades dos sujeitos do filme - um look experimental que, como já referi, estaria em casa num museu ou num espectáculo de performance art não fosse o "acaso" de ser uma longa metragem.

Apesar de no final ter saído relativamente satisfeito, este filme tem alguns problemas. O início é altamente esquisito (começa com Genesis a fingir que é um pato, por exemplo) e isso fez com que algumas pessoas saíssem da sala e por vezes torna-se meio confuso, provavelmente porque Genesis é muito confusa, por isso há o risco que muita gente desista de o ver.

No entanto, se forem pacientes e se tolerarem pessoas e estilos de vida (muito) diferentes da norma vão encontrar um filme que não sendo tão bom nem tão interessante, tem alguns pontos em comum com o It Came From Kuchar e, como este, foi uma boa surpresa deste Indie.

Passa de novo no São Jorge na 2ª feira, dia 9, às 21h45.

sábado, 7 de maio de 2011

Indie Lisboa dia 2: Brownian Movement

Brownian Movement:


Brownian Movement, o conceito científico, significa o "movimento aleatório de partículas macroscópicas num fluido como consequência dos choques das moléculas do fluido nas partículas". Brownian Movement, o filme, deve ter esse nome porque deseja representar o movimento aleatório de uma partícula (Charlotte, uma Sandra Hüller que é um misto entre Renée Zellweger e Tilda Swinton) e o choque que essa partícula provoca nas moléculas do fluido que é a sua vida.

Os gajos do Indie foram espertos! Provavelmente seguiram a lógica de promoção de todo o filme mas a verdade é que resultou: qual é o segredo para praticamente esgotar uma sessão da meia noite de uma 6ª feira? Referir que o filme é sobre uma ninfomaníaca. Sim, Charlotte é ninfomaníaca...ou pelo menos gosta muito de f*der por fora.

Foram espertos e enganaram-nos: Brownian Movement está para o cinema como um não-evento está para os eventos. O filme é um não-filme. Nunca se passa nada de nada, não conseguimos ter o mínimo de empatia com os personagens porque eles praticamente não falam (tirando uma cena de gritos que deve ter sido colocada de propósito para acordar o pessoal) e rapidamente um filme sobre as consequências da ninfomania de Charlotte passa a ser um filme sobre concertos de hardcore, jogos de ténis, Direito Societário de Angola, Blackberrys, conversas no Skype, McFlurry's de Kit Kat e tantas outras coisas...tudo coisas que não aparecem no filme mas em que pensei porque não se passava nada na tela.

Uma boa ilustração do que estou a dizer é explicar que o momento mais animado da sessão foi quando um dos espectadores não conseguia parar de tossir e toda a gente começou a rir desconfortavelmente. E é isso, como o filme não me disse nada não tenho nada mais a dizer sobre ele.

Passa de novo dia 10, às 16h30, no São Jorge mas vocês não o vão querer ver.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Indie Lisboa dia 1: Carlos

Carlos:

Era uma vez um senhor de origem venezuelana chamado Ilich Ramirez Sanchez. Curiosamente, apesar do nome nada normal para um país de língua espanhola, o mundo conhece-o como Carlos. Carlos, o Chacal, aqui interpretado - e muito bem! - por Édgar Ramirez.

Provavelmente os meus leitores mais jovens não reconhecerão o nome, mas Carlos, o Chacal foi uma das figuras mais conhecidas nos anos 70. Era um actor? Era um cantor? Não, mas era uma estrela de fama mundial, desde Paris a Bagdad. A razão da sua fama? Carlos era o equivalente ao Bin Laden naqueles tempos...não porque foi morto por uma operação dos serviços especiais americanos mas porque era o terrorista mais famoso do mundo. No entanto, ao contrário do Bin Laden, Carlos era um playboy - gostava de álcool, mulheres e da fama que tinha..e também ao contrário do Bin Laden, Carlos tentava parecer-se com o Che Guevara mas aproximava-se mais do Zézé Camarinha.

O momento que trouxe Carlos para as luzes da ribalta aconteceu a 21 de Dezembro de 1975 quando ele e mais cinco membros da Frente Popular para a Libertação da Palestina raptaram uma série de diplomatas durante uma reunião que decorria na sede da OPEP, em Viena. O filme, que não deixa de ser uma obra biográfica apesar das muitas explosões e tiros - a vida é que é sui generis, está lá e mostra-nos o que se passou.

Se é verdade que foi esse o momento que o fez conhecido a nível mundial, as suas acções anteriores e posteriores fizeram-no uma "estrela" mais localizada: em França conhecem-no por ter morto dois agentes da CIA lá do sítio - a DST, acrónimo no mínimo suspeito - e o filme mostra-nos o que se passou; na Líbia conhecem-no por ter assassinado um diplomata próximo do Khadaffi, e o filme mostra-nos o que se passou; na Alemanha (de Leste) conhecem-no por ter apoiado as Células Revolucionárias Alemãs, e o filme - adivinharam - mostra-nos o que se passou.

E depois o mundo mudou, a Guerra Fria acabou e Carlos, o Chacal teve de andar fugido, e o filme - yup - mostra-nos o que se passou. Mas depois, não contente com nos mostrar o que se passa na vida de Carlos, continua...

...e continua...

...e continua...

...e continua...

...e continua tanto, perde-se tanto em pormenores que não interessam que se torna difícil continuarmos a prestar atenção. Já sabia que este filme foi transformado numa mini-série de televisão, e desconfio que não tiveram de filmar muitas mais coisas para a produzir, se calhar até tiveram de fazer cortes...

...e quando pensamos que vai acabar continua...

...e volta a continuar...

...e quando finalmente acaba já eu perdi a oportunidade de ir ver a minha segunda sessão do dia.

Damn!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Indie Lisboa 2011



Olarelas!

Sim, é verdade, já mais um ano se passou e mais um Indie vem aí: o de 2011 começa hoje!


Vou ver menos filmes que o ano passado, mas espero ver uns quantos e claro que vai ser aqui que vão poder ler as melhores críticas do planeta! Mais uma vez vou tentar escrever as SMR no próprio dia em que vi o filme, para ainda poderem apanhar os filmes em sessões seguintes (ou fugir deles, consoante o que eu disser), mas vai ser difícil de gerir trabalho full-time + 2 sessões por dia (sim, estou a ser muito ambicioso!) + dormir portanto se não der não se zanguem, virão o mais depressa possível.


Vemo-nos no Indie!



P.S.: Extra para os que lêem isto até ao fim...mudei o look do blog. Para aqueles que o acompanham pelo Google Reader ou pelo Facebook é só carregar aqui. Digam-me de vossa justiça!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Last Night

Last Night:



"You can be happy and still be tempted"

Esta frase, dita por Michael, empresário de sucesso, (Sam Worthington) enquanto reflecte sobre se deverá ou não trair a sua mulher com uma colega de trabalho foi uma daquelas frases que me ficam na cabeça mesmo muito tempo depois do final da sessão.

Last Night, o primeiro filme de uma senhora chamada Massy Tadjedin, lida com traição. Não só a eventual traição de Michael à sua mulher como também o inverso. Last Night, a noite passada é aquela em que Michael teve de viajar com a colega atraente (Eva Mendes) mas também em que a sua mulher, Joanna (Keira Knightley, bem mais sexy que a Eva Mendes), se reencontra com o seu ex-namorado/amante. É uma coincidência demasiado grande, eu sei, mas perdoa-se porque é o único ponto mais fraco de um filme que em tudo o resto é excelente.

Todo o ambiente à volta do casal principal é meio esbatido: não só a moral dos protagonistas o é um pouco, já que ambos se perguntam ao longo da noite se deverão trair o respectivo, mas - interessantemente - mesmo a própria imagem no ecrã, decerto uma forma que a realizadora encontrou de transmitir esse permanente graduar dos seus votos de fidelidade.

É esta imagem, aliada aos muitos momentos em que o piano da (excelente) banda sonora é a única companhia para o silêncio que decorre da reflexão feita pelo casal principal e acho que é essa a característica que mais me agradou no filme: os personagens pensam! Ao contrário do que acontece na maioria dos filmes, em que só vemos a acção, aqui conseguimos adivinhar o que lhes está a passar pela cabeça. Mais mérito, portanto, para Massy Tadjedin, que não só realizou como escreveu o filme.

Depois da última noite Michael volta a Nova Iorque e à sua mulher, que o recebe com um sorriso muito pouco aberto. O filme, insistindo novamente em fazer-nos pensar em vez de nos dar respostas, não nos mostra o que é dito entre eles. Será que depois da última noite aquela relação será a mesma? Será a última noite A última noite? Só uma sequela nos poderia dizer, mas apesar de por um lado querer saber, por outro acho que o filme está completo assim mesmo; por vezes, o silêncio é melhor que o constante abafar do pensamento com o supérfluo.

No final as luzes acendem-se e nós próprios reflectimos sobre o que Michael e Joanna pensaram, em particular sobre aquela pequena frase, dita quase en passant: Será mesmo verdade? Podemos estar felizes numa relação e mesmo assim sentirmo-nos tentados a deitar tudo ao ar? Não será essa tentação sinal de que algo está mal e de que se calhar não somos assim tão felizes?

A conclusão a que cheguei guardo-a para mim, que isto não é um "Querido diário", mas posso partilhar que aditaria algo à tal frase que citei no início: You can be happy and still be tempted, but you can also resist temptation.