Antes das SMR uma pequena avaliação aos Óscares. Este ano provei ser o
, felizmente não deu. Apesar de tudo, acho que um que devia ter ganho era o de melhor realizador...o
teve aquela visão e fez tudo para nos mostrar o mundo que criou, isso para mim é o papel de um realizador e este ano não houve ninguém com um papel comparável.
Mas adiante...
The Cove:

Ora aqui está um caso raro de um documentário em que gosto mais da forma que do conteúdo. Normalmente é precisamente o contrário, achamos que a história é interessantíssima mas "era tão bom que soubessem fazer um filme mais compostinho".
Aqui não. A história é importante - The Cove denuncia o abate de milhares de golfinhos por ano, por causa da industria dos parques aquáticos, mas já falo mais disto - mas o que mais me impressionou no filme foi a forma como foi filmado. Eu explico: o activista que teve a ideia por detrás deste documentário,
Ric O'Barry, já é conhecido na zona de
Taiji, no
Japão, e isso - aliado ao facto dos abate dos golfinhos ser feito numa baía escondida e protegida com arame farpado e tal- faz com que os realizadores tenham de usar novas técnicas.
Mas quando digo novas técnicas não me refiro a planos mais afastados ou assim. Não, este The Cove torna-se a dada altura um filme de espionagem, basicamente...Para conseguir filmar esta chacina tiveram de ser usadas câmaras de infravermelhos, visão nocturna e microfones sub-aquáticos. É incrível pensar que teve de ser assim, mas ao vermos as imagens "normais" dos pescadores a gritar e a ameaçar violência física contra os realizadores percebemos que era mesmo a única opção.
De certa forma acho é que este "style" torna a "substance" um bocadinho menos impactante. (Isto se impactante for uma palavra) Não deixam de haver momentos em que nos sentimos impelidos a fazer algo, é incontornável a revolta contra o abate de mais de 23.000 (vinte e três mil!) golfinhos por ano, mas na verdade este foi dos documentários activistas que menos me deixou com vontade de agir: talvez seja pelo que disse acima ou talvez porque é uma mensagem importante, mas que é muito localizada no espaço...não há muito que possamos fazer à distância, e imagino de 99,9% das pessoas que o vêm estejam longe daquela comunidade pesqueira.
Por outro lado, não deixa de ser importante que se denuncie esta prática e quanto mais gente vir e espalhar a mensagem mais efeito terá. Eu, pelo menos, nunca mais verei as indústrias dos parques marinhos da mesma forma.
Vocês, mesmo que não vejam o filme (que agora é capaz de ter maior distribuição, por ter ganho o Óscar de Melhor Documentário) façam o favor de ir
aqui e informar-se sobre o assunto.
Alice in Wonderland:

O
Tim Burton ou se ama ou se odeia, está visto. Eu há muito que sou do primeiro grupo...o
primeiro Batman e o
Eduardo mãos de tesoura são dos filmes mais marcantes da minha infância/início da adolescência e desde então tenho seguido com atenção a carreira do realizador mais gótico de Hollywood.
Este Alice in Wonderland é mais um dos seus filmes de que gostei. Tanto que achei estranho ler críticas a dizer mal escritas em blogs com que normalmente partilho opiniões (
Claquete,
Noite Americana, curiosamente com o mesmo título). Talvez seja por esses autores serem conhecedores da história original e eu não, não sei.
Sim, confesso que nunca li o livro e não me lembro quase nada do
clássico da Disney. E talvez isso seja importante na avaliação final desta versão Burtoniana...para quem está fixado no original (ou na versão da Disney) só pode ficar desiludido. Logo à partida porque a protagonista, Alice claro está, é uma adolescente e não a criança da história original.
Ao contrário da versão da Disney, aqui segue-se não só o
Alice's Adventures in Wonderland (o livro original, de que podem fazer o download - legal - no link), como - até mais proximamente, pelo que percebi - a sua sequela -
Through the Looking Glass. No Alice de Tim Burton acompanhamos uma Alice adolescente, a mesma que visitou aquela terra estranha mas que não tem qualquer memória de o fazer. Mas encontramos também uma série de personagens já nossas conhecidas: desde o chapeleiro louco à rainha de copas.
O que eu gosto neste filme é sobretudo a componente estética. A história não é, realmente, nada de profundo (é baseado num conto infantil, carago!) mas toda aquela Underland (sim, Underland e não Wonderland...a Alice é que percebeu mal da primeira vez que lá foi --> pormenor totalmente desnecessário no filme, concordo) está desenhada ao mais ínfimo pormenor com a imagem típica (e bela) do realizador.
Quem diz a imagem diz as personagens que o habitam: o chapeleiro louco do
Johnny Depp é um misto de comédia e sensibilidade; a rainha de copas (
Helena Bonham Carter) é má e prefere ser temida que amada; a rainha branca (
Anne Hathaway) está fantástica com todos aqueles seus gestos exagerados e pureza exacerbada e no campo dos personagens virtuais temos isso mesmo, personagens, e não bonecos.
Nisto tudo a Alice (
Mia Wasikowska) acaba por ser a personagem menos marcante. Mas não faz mal, tudo o resto é suficientemente bom para nos fazer sair da sala felizes por termos passado aqueles momentos a conhecer um mundo menos tropical que o de
Avatar, mas que até tem um 3D de melhor qualidade. (Uma opinião que muito poucos partilham comigo, mas olha...alguém tem de ser o primeiro a dizer as verdades)
Tim
Burton, conta comigo para a equipa dos que gostaram do teu filme. Em troca podias assinar-me o
livro que comprei na
tua exposição em NY, não?
(Reparem a delicadeza com que fiz referência a este livro que deveria ser mostrado a todos os aspirantes a artistas)