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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Contagion

Contagion:


Contagion é um filme de terror com o assassino mais pequeno de sempre. Não, não estou a falar de um homem mascarado anão com uma mini-moto-serra ou de um monstro com meio metro de altura. Aqui o assassino é microscópico, um vírus (ficcionado, felizmente, mas baseado em meningoencefalites) que se vai transmitindo de pessoa em pessoa pelas cidades que o poster aqui de cima vai referindo, matando muitos milhões de permeio.

O que fazer quando não vemos aquilo que nos pode matar? Como reagir ao conhecimento de que basta o tocar algo tocado por uma pessoa infectada para que fiquemos infectados também (num fenómeno, perturbadoramente real, que se chama transmissão por fomite)? O que a humanidade faz neste filme é isolar-se cada vez mais, evitar o contacto ao máximo e basicamente só sair para procurar mantimentos e eventuais curas para a infecção global.

Mas este não é um filme de fim do mundo tipo The Road, é um filme de terror. E nada me aterrorizou mais do que estar a vê-lo ao lado de uma médica que sempre teve o sonho de trabalhar no CDC e essa médica me ter dito que tudo o que ali se passa pode realmente acontecer. Basta que algures no mundo uma infecção animal consiga passar para o ser humano e, com as constantes viagens do mundo de agora, uma grande parte da população do planeta poderá desaparecer. Para terem um termo de comparação, a gripe espanhola de 1919 (época em que ainda não se viajava tanto e, muito importante, muito mais vagarosamente) infectou cerca de 27% da população mundial da altura, acabando por matar 3% da mesma (uns 100 milhões de pessoas).

Nesse aspecto o filme consegue passar a mensagem. Não deve ser possível a alguém que o tenha visto ignorar a tosse de um qualquer co-passageiro de um autocarro. Contagion faz-nos ter medo de corrimões, de guardanapos, de tudo e mais alguma coisa, ao contrário do que se passava em filmes semelhantes, como o Outbreak de 1995 (e o quanto eu adorei esse filme) e pode mesmo vir a ser um importante instrumento para educar a população.

Não está, porém, isento de falhas. Por todos os grandes actores e actrizes que tem (Contagion conta com um dos melhores ensemble casts de 2011, pelo menos em número de estatuetas douradas no palmarés colectivo) muitos deles acabam por ser sub-utilizados (estou a pensar na Gwyneth Paltrow e na Marion Cotillard). Por outro lado tem ainda o quase obrigatório final feliz dos filmes mainstream americanos (a cena final deveria ter ficado de fora, mas tornaria o filme ainda mais assustador). Tem ainda algumas sub-histórias que mais valia não terem sido exploradas (mais uma vez a Marion Cotillard) e um paralelismo com o Ensaio Sobre a Cegueira que não é de todo explicado,falha grave num filme tão cientificamente correcto.

Ainda assim vejam-no, assustem-se e reflictam sobre uma frase dita sobre uma doença real que poderia criar este tipo de caos: No one has to weaponize the bird flu.The birds are doing that.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

EFF parte I: The Girlfriend Experience

The Girlfriend Experience:



Tal como no último post, tenho de começar com uma crítica aos gajos que dão os títulos portugueses aos filmes. (alguém sabe quem é que faz isso?) Que coisa é esta de chamar ao The Girlfriend Experience "Confissões de uma Namorada de Serviço"??? Está bem que a protagonista, Sasha Grey, é uma estrela porno, mas com um título destes devem querer que o filme passe no Cinebolso, não nos cinemas "normais".

Sim, eu disse bem, a protagonista deste filme tem na sua filmografia títulos como Sasha Grey Superslut ou o genial Sasha Grey's Anatomy (genial!!!) e este é o seu primeiro filme "sério". Nele interpreta o papel de Chelsea, uma acompanhante de luxo que fornece aos clientes a chamada girlfriend experience, que no fundo é uma relação mais pessoal com a acompanhante, para além do sexo há conversa, beijos, etc. (leiam mais no link aqui de cima, se estiverem interessados)

Ao longo do filme vamos acompanhando a sua vida, ao estilo de documentário. Desde a sua relação com o namorado (sim, ela tem um namorado), às relações com os clientes e com os críticos (sim, pelos vistos há críticos de escort girls), passando pelos altos e baixos da sua vida profissional.

Para um filme que é em grande parte rodado à sua volta a rapariga (que esteve lá no Estoril Film Festival) até se safou bem. A escolha por uma actriz desconhecida (pelo menos para mim, que não tenho por hábito ver porn) é bastante acertada...se fosse uma cara conhecida seria pouco credível ver este "documentário", assim sentimo-nos mesmo como se estivessemos a acompanhar o dia a dia de uma pessoa real.

Este estilo, aliado à grande qualidade da cinematografia do filme (até o poster é giro!), fazem com que a experiência seja bastante boa. Gostei bastante do que vi, e apesar de ter ouvido gente na fila atrás a dizer que não gostaram, tenho de o recomendar.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

The Informant!

The Informant!:



Sim, com ponto de exclamação e tudo. The Informant!, que em Portugal teve direito à tradução "O delator!", também com ponto de exclamação, é um filme que se promove como sendo especial mas que a meu ver não é nada de especial.

Uma de duas obras que o Soderbergh lançou em poucos meses (a outra é a The Girlfriend Experience, que deve ser bem melhor mas que neste cantinho à beira-mar plantado só vai sair em DVD), este é um filme que conta uma história tão estranha que não parece real. Fez-me muito lembrar o Burn After Reading, que esse sim é ficção e que é muito, mas muito mais engraçado.

Mark Whitacre é o protagonista desta história: é vitima de uma burla, decide fazer "queixinhas" (para citar o poster) sobre uma política empresarial duvidosa e ao mesmo tempo que se acha o agente 014, por ser "duas vezes mais esperto que o 007", afirma ter sido maltratado pelo FBI, entidade para a qual está a fazer trabalho duplo. Mas, na verdade o que Mark Whitacre é é um mentiroso. Porquê? Não vos vou dizer, senão não vale a pena verem o filme.

Não sei se fui eu que percebi mal ou não, mas vi o trailer e o marketing do filme a promovê-lo como uma comédia. Se percebi mal fui parvo, porque me enganei e porque me estraguei o filme. Se não percebi mal (e acho que não) foram eles que foram parvos, porque o filme não consegue ter piada nenhuma. É verdade que tem situações tão absurdas que, bem filmadas, seriam capazes de me arrancar um sorriso ou dois, mas nada...não consegui ter qualquer reacção durante todo o filme. A dada altura dei por mim a pensar se não seria mais correcto ter abordado esta história como um thriller a sério, com um twist no final...talvez assim ficasse melhor.

Assim só posso citar um puto que estava na fila atrás de mim e que quando o filme acabou disse para a mãe "Pensava que o filme era uma comédia para rir". Não é, e nem sequer consegue ser um filme marcante. Nem a interpretação do Matt Damon - que tem sido muito elogiada - me pareceu digna de nota: está bem que aparece careca e que ganhou uns quantos kg. So what? Para mim, a melhor interpretação dele continua a ser esta.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Che

Che:



Inicio esta SMR fazendo o aviso que vi os dois filmes de rajada (viva o Medeia Card!), tal como era suposto serem vistos (já que inicialmente eram um só filme) e que como tal farei um só texto.

Ernesto "Che" Guevara é o mais próximo de um homem do renascimento que o século XX teve a oportunidade de conhecer: médico, guerrilheiro, político, etc. Era um humanista que, impregnado pelos ideias comunistas, decidiu pegar em armas e lutar por aquilo em que acreditava. Não precisava de o fazer, era filho de uma classe média alta argentina e resolveu travar as suas lutas fora do país que o viu nascer.

Em Cuba a coisa correu bem, e é isso que vemos na primeira parte deste quase documentário. Colaborando com Fidel Castro, "Che" Guevara conseguiu tornar real a sua revolução. E aí mostrou o seu carácter: ao contrário da maioria dos seus colegas - guerrilheiros da Sierra Madre - "Che" não quis ficar em Havana, vivendo os proveitos da revolução. Em vez de ficar em Havana partiu para novas lutas, primeiro em África e depois na Bolívia, país que o viu morrer.

Este filme consegue mostrar o guerrilheiro mas sobretudo o ideólogo por detrás das armas: vemos "Che" em Nova Iorque, a responder (magistralmente) às acusações que recebe de representantes de outros países e vemo-lo a defender por mais que uma vez que um país analfabeto é fácil de controlar. "Che" Guevara dava TPC aos seus subordinados e queria que aumentassem a sua cultura.

Mas o filme não mostra só o "herói", mostra também o lado negro...e aqui não me refiro às mortes por si provocadas. Refiro-me a algo mais profundo que isso..."Che" não percebeu que o seu modelo não podia ser exportado livremente, e a sua campanha boliviano mostra-o perfeitamente.

Por lá o herói revolucionário foi visto com desconfiança, era um estrangeiro (tal como o era em Cuba, mas aí a revolução tinha outras condições para ser plantada e crescer proveitosamente). Na Bolívia "Che" não conseguiu organizar tão bem os seus homens e - muito menos - o povo que acreditava poder ajudar. Não que tenha falhado enquanto estratega, apenas estava a jogar um jogo diferente.

Como se diz, "one person's terrorist is another's freedom fighter" e não pretendo discutir tal ponto neste blog. "Che" Guevara é, para bem ou para o mal, um ícone mundial e este filme está à sua altura. Bem que podiam era ter tirado o Joaquim de Almeida e o seu sotaque manhoso.