sábado, 20 de março de 2010

Kramer vs Kramer

Kramer vs Kramer:


Back in 1990, quando os meus pais se divorciaram, eu fui o segundo aluno da minha turma a ter estar nessa condição, tão estranha na altura e tão frequente agora. Felizmente o divórcio dos meus pais não se deu nos mesmos termos que os do casal Kramer.

Nesta história Joanna (Meryl Streep, já a mostrar porque é que haveria hoje de ser considerada a rainha do cinema americano) cansa-se da vida de dona de casa e do desprezo do marido e decide partir, abandonando-o a ele e ao filho. O marido, Ted (Dustin Hoffman, também ele da realeza cinematográfica) toma conta da criança e, quando menos o espera, vê-se embrulhado numa batalha legal pela custódia do pobre Billy (Justin Henry), que é sem dúvida quem sofre mais com tudo o que se vai passando.

Em 1979, altura em que o filme foi produzido, acredito que a temática do divórcio fosse altamente polémico, ainda mais nas condições em que é (a mulher a fugir de casa), e muitas das críticas da altura devem ter-se debruçado sobre isso. Já nos tempos que correm o divórcio é muito mais frequente e é irrelevante qual das partes do casal o pede, por isso a minha análise só poderá recair nos outros aspectos deste filme.

Nesse sentido, não há como não elogiar as duas interpretações dos protagonistas. Tanto um como outro são dos melhores actores que Hollywood já viu e se é verdade que já vi melhores interpretações de ambos noutros filmes (Meryl Streep no Out of Africa, ou mais recentemente no Doubt, e Dustin Hoffman no incontornável Rain Man) é fácil ver que aqui estavam dois diamantes à espera de ser lapidados.

Também a história, para além da eventual polémica que na altura deve ter provocado, é bem contada e não nos deixa aborrecidos por um segundo que seja. Mas aqui achei curioso uma coisa...este Kramer vs Kramer é referenciado como um dos clássicos dentro do género "filmes jurídicos" mas curiosamente as cenas em Tribunal são as que menos me marcaram. Fiquei muito mais fã dos momentos de aproximação entre pai e filho, ou da imagem (belíssima e definidora do personagem) da Joanna Kramer a espreitar o filho do outro lado da rua).

Tribunais ou não, polémica ou falta dela, o que é inegável é que este é um bom filme e só posso ficar contente por finalmente o ter adicionado à minha extensa lista de filmes já vistos. Vejam-no também, que anda a passar em rotação na RTP Memória.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Marcadores

Só para avisar os meus queridos leitores que adicionei marcadores aos meus posts, para ser mais fácil encontrarem SMR mais antigas. Para quem me lê no facebook, têm de vir mesmo ao blog para usar esta nova opção.

Sou tão bonzinho, não sou? Só tenho pena é de já não estarem a receber nomeações para o prémio Nobel da paz.

The Book of Eli

The Book of Eli:



Não sei quantos de vocês me lêem desde o início (nem quantos se dão ao trabalho de ler as SMR antigas) mas durante os primeiros meses dava títulos aos posts. Pois bem, enquanto vi The Book of Eli lembrei-me que um excelente título para este post seria "Apocalipse Pop", um título que também não ficaria nada mal na discografia de uma banda de black metal portuguesa.

Anyway, dito isto passemos à SMR mais curta (e bruta) de sempre. Aqui vai, afastem as vossas crianças do ecrã: que merda de filme!

Agora fundamento a SMR mais curta de sempre com mais umas quantas letritas que nem deveriam ser gastas para este ataque de proselitismo disfarçado de filme. Desta vez vou é usar um esquema diferente, vou só usar bullets uma vez que não acho que valha a pena usar raciocínio lógico quando é tão aparente que os criadores do filme não o fizeram.

Porque é que o The Book of Eli é mau?

1. Porque é uma amálgama descarada do The Road (claramente a maior inspiração, para não dizer vítima de plágio), com pedacinhos de Matrix e uma dose de filmes de cowboys;
2. Porque tem uma história que, como disse, não parece muito mais que um anúncio às igrejas neo-conservadoras americanas (apesar da versão da bíblia usada ser a King James);
3.Porque tem tantas inconsistências que metem medo: supostamente o mundo está todo destruído, tudo é cinzento das cinzas, mas a Golden Gate Bridge não só está quase intacta (algo muito duvidoso após uma guerra nuclear que provocou aquilo tudo) como continua com a sua típica cor vermelha;
4. Porque é uma versão pop do apocalipse, em que quando dá jeito para a história as pessoas são canibais mas por outro lado nunca ninguém é especialmente magro e enquanto que 90% dos personagens se veste com trapos mas os três principais estão impecavelmente vestidos (óculos de sol fashion incluídos)
5. Porque o próprio conceito base da história é idiótico. Onde é que num mundo acabadinho de sair de uma guerra nuclear arrasadora toda a humanidade (mas toda mesmo!) se iria juntar para queimar todas as bíblias mas ao mesmo tempo, wait for it, deixavam cópias dos restantes textos sagrados? (Pergunta pertinente que se perguntava no IMDB: e se em vez de uma bíblia este filme mostrasse um Alcorão como salvação da humanidade???)
6. Porque, e isto é um grande SPOILER por isso saltem para o próximo parágrafo se não quiserem saber mas leiam porque assim há menos hipóteses de irem ver isto e sempre poupam o vosso dinheirinho - porque o protagonista é cego e mesmo assim mesmo assim faz tudo o que uma pessoa que veja faria, inclusivé caçar com arco e flecha!!!!;
7. Porque tem o pior twist final desde o Orphan. Ver tópico acima, ou não (por causa do spoiler, e tal);
8. Porque tem product placement descaradíssimo, sobretudo à Motorola e à Apple. Sim, porque estamos num mundo onde não há água, nem comida suficiente (ao ponto de provocar o canibalismo) mas há sempre espaço para duas(!) cenas em que os protagonistas ouvem o seu iPod.
(reparem o quão fixe eu sou, como me queixei da publicidade a estas marcas não fiz link para os seus sites, quando supostamente seria daqueles termos que honraria com um link)

Dito isto, e sendo este um filme com uma grande teor religioso (propaganda, mesmo), não haverá pontos que o redimam? Existem dois: a banda sonora é bastante boa e a forma como o céu é filmado é bastante bonita. (Ao contrário da restante palete de cores, que é tão cinzenta que se torna forçada...parece que alguém se enganou e carregou no botão "Sépia" na altura de editar o filme).

quarta-feira, 10 de março de 2010

The Cove + Alice in Wonderland

Antes das SMR uma pequena avaliação aos Óscares. Este ano provei ser o Professor Karamba, falhei bastantes (mesmo assim acertei 12!) mas fiquei contente por isso: pensei que a Academia fosse dar mais prémios ao Avatar, felizmente não deu. Apesar de tudo, acho que um que devia ter ganho era o de melhor realizador...o James Cameron teve aquela visão e fez tudo para nos mostrar o mundo que criou, isso para mim é o papel de um realizador e este ano não houve ninguém com um papel comparável.

Mas adiante...


The Cove:



Ora aqui está um caso raro de um documentário em que gosto mais da forma que do conteúdo. Normalmente é precisamente o contrário, achamos que a história é interessantíssima mas "era tão bom que soubessem fazer um filme mais compostinho".

Aqui não. A história é importante - The Cove denuncia o abate de milhares de golfinhos por ano, por causa da industria dos parques aquáticos, mas já falo mais disto - mas o que mais me impressionou no filme foi a forma como foi filmado. Eu explico: o activista que teve a ideia por detrás deste documentário, Ric O'Barry, já é conhecido na zona de Taiji, no Japão, e isso - aliado ao facto dos abate dos golfinhos ser feito numa baía escondida e protegida com arame farpado e tal- faz com que os realizadores tenham de usar novas técnicas.

Mas quando digo novas técnicas não me refiro a planos mais afastados ou assim. Não, este The Cove torna-se a dada altura um filme de espionagem, basicamente...Para conseguir filmar esta chacina tiveram de ser usadas câmaras de infravermelhos, visão nocturna e microfones sub-aquáticos. É incrível pensar que teve de ser assim, mas ao vermos as imagens "normais" dos pescadores a gritar e a ameaçar violência física contra os realizadores percebemos que era mesmo a única opção.

De certa forma acho é que este "style" torna a "substance" um bocadinho menos impactante. (Isto se impactante for uma palavra) Não deixam de haver momentos em que nos sentimos impelidos a fazer algo, é incontornável a revolta contra o abate de mais de 23.000 (vinte e três mil!) golfinhos por ano, mas na verdade este foi dos documentários activistas que menos me deixou com vontade de agir: talvez seja pelo que disse acima ou talvez porque é uma mensagem importante, mas que é muito localizada no espaço...não há muito que possamos fazer à distância, e imagino de 99,9% das pessoas que o vêm estejam longe daquela comunidade pesqueira.

Por outro lado, não deixa de ser importante que se denuncie esta prática e quanto mais gente vir e espalhar a mensagem mais efeito terá. Eu, pelo menos, nunca mais verei as indústrias dos parques marinhos da mesma forma.

Vocês, mesmo que não vejam o filme (que agora é capaz de ter maior distribuição, por ter ganho o Óscar de Melhor Documentário) façam o favor de ir aqui e informar-se sobre o assunto.



Alice in Wonderland:



O Tim Burton ou se ama ou se odeia, está visto. Eu há muito que sou do primeiro grupo...o primeiro Batman e o Eduardo mãos de tesoura são dos filmes mais marcantes da minha infância/início da adolescência e desde então tenho seguido com atenção a carreira do realizador mais gótico de Hollywood.

Este Alice in Wonderland é mais um dos seus filmes de que gostei. Tanto que achei estranho ler críticas a dizer mal escritas em blogs com que normalmente partilho opiniões (Claquete, Noite Americana, curiosamente com o mesmo título). Talvez seja por esses autores serem conhecedores da história original e eu não, não sei.

Sim, confesso que nunca li o livro e não me lembro quase nada do clássico da Disney. E talvez isso seja importante na avaliação final desta versão Burtoniana...para quem está fixado no original (ou na versão da Disney) só pode ficar desiludido. Logo à partida porque a protagonista, Alice claro está, é uma adolescente e não a criança da história original.

Ao contrário da versão da Disney, aqui segue-se não só o Alice's Adventures in Wonderland (o livro original, de que podem fazer o download - legal - no link), como - até mais proximamente, pelo que percebi - a sua sequela - Through the Looking Glass. No Alice de Tim Burton acompanhamos uma Alice adolescente, a mesma que visitou aquela terra estranha mas que não tem qualquer memória de o fazer. Mas encontramos também uma série de personagens já nossas conhecidas: desde o chapeleiro louco à rainha de copas.

O que eu gosto neste filme é sobretudo a componente estética. A história não é, realmente, nada de profundo (é baseado num conto infantil, carago!) mas toda aquela Underland (sim, Underland e não Wonderland...a Alice é que percebeu mal da primeira vez que lá foi --> pormenor totalmente desnecessário no filme, concordo) está desenhada ao mais ínfimo pormenor com a imagem típica (e bela) do realizador.

Quem diz a imagem diz as personagens que o habitam: o chapeleiro louco do Johnny Depp é um misto de comédia e sensibilidade; a rainha de copas (Helena Bonham Carter) é má e prefere ser temida que amada; a rainha branca (Anne Hathaway) está fantástica com todos aqueles seus gestos exagerados e pureza exacerbada e no campo dos personagens virtuais temos isso mesmo, personagens, e não bonecos.

Nisto tudo a Alice (Mia Wasikowska) acaba por ser a personagem menos marcante. Mas não faz mal, tudo o resto é suficientemente bom para nos fazer sair da sala felizes por termos passado aqueles momentos a conhecer um mundo menos tropical que o de Avatar, mas que até tem um 3D de melhor qualidade. (Uma opinião que muito poucos partilham comigo, mas olha...alguém tem de ser o primeiro a dizer as verdades)

Tim Burton, conta comigo para a equipa dos que gostaram do teu filme. Em troca podias assinar-me o livro que comprei na tua exposição em NY, não? (Reparem a delicadeza com que fiz referência a este livro que deveria ser mostrado a todos os aspirantes a artistas)

domingo, 7 de março de 2010

Previsões Óscares 2010

Em véspera de Óscares, aqui ficam as minhas previsões para a cerimónia. A bold estão os filmes que acho que vão ganhar, a sublinhado os que acho que deviam ganhar (de entre os nomeados, porque muitos casos de filmes que nem sequer receberam nomeações para categorias que deveriam ganhar).


Vejamos se sou um Professor Karamba ou um verdadeiro mestre nas capacidades de previsão do futuro. Alguém quer dar os seus bitaites?


Best picture
“Avatar”
“The Blind Side”
“District 9″
“An Education”
“The Hurt Locker”
“Inglourious Basterds”
“Precious”
“A Serious Man”
“Up”
“Up in the Air”

Best actor
Jeff Bridges, “Crazy Heart”
George Clooney, “Up in the Air”
Colin Firth, “A Single Man”
Morgan Freeman, “Invictus”
Jeremy Renner, “The Hurt Locker”

Best actress
Sandra Bullock, “The Blind Side”
Helen Mirren, “The Last Station”
Carey Mulligan, “An Education”
Gabourey Sidibe, “Precious”
Meryl Streep, “Julie & Julia”

Best supporting actor
Matt Damon, “Invictus”
Woody Harrelson, “The Messenger”
Christopher Plummer, “The Last Station”
Stanley Tucci, “The Lovely Bones”
Christoph Waltz, “Inglourious Basterds”

Best supporting actress
Penelope Cruz, “Nine”
Vera Farmiga, “Up in the Air”
Maggie Gyllenhaal, “Crazy Heart”
Anna Kendrick, “Up in the Air”
Mo’Nique, “Precious ”

Best director
James Cameron, “Avatar”
Kathryn Bigelow, “The Hurt Locker”
Quentin Tarantino, “Inglourious Basterds”
Lee Daniels, “Precious”
Jason Reitman, “Up in the Air”

Best foreign-language film
“Ajami” Israel
“El Secreto de Sus Ojos” Argentina
“The Milk of Sorrow” Peru
“Un Prophete” France
“The White Ribbon” Germany

Best adapted screenplay
Neill Blomkamp and Terri Tatchell, “District 9″
Nick Hornby, “An Education”
Jesse Armstrong, Simon Blackwell, Armando Iannucci, Tony Roche, “In the Loop”
Geoffrey Fletcher, “Precious”
Jason Reitman and Sheldon Turner, “Up in the Air”

Best original screenplay
Mark Boal, “The Hurt Locker”
Quentin Tarantino, “Inglourious Basterds”
Alessandro Camon and Oren Moverman, “The Messenger”
Joel Coen and Ethan Coen, “A Serious Man”
Bob Peterson, Pete Docter, Tom McCarthy, “Up”

Best animated feature film
“Coraline”
“Fantastic Mr. Fox”
“The Princess and the Frog”
“The Secret of Kells”
“Up”

Best art direction
“Avatar”
“The Imaginarium of Doctor Parnassus”
“Nine”
“Sherlock Holmes”
“The Young Victoria”

Best cinematography
“Avatar”
“Harry Potter and the Half-Blood Prince”
“The Hurt Locker”
“Inglourious Basterds”
“The White Ribbon”

Best sound mixing
“Avatar”
“The Hurt Locker”
“Inglourious Basterds”
“Star Trek”
“Transformers: Revenge of the Fallen”

Best sound editing
“Avatar”
“The Hurt Locker”
“Inglourious Basterds”
“Star Trek”
“Up”

Best original score
“Avatar,” James Horner
“Fantastic Mr. Fox,” Alexandre Desplat
“The Hurt Locker,” Marco Beltrami and Buck Sanders
“Sherlock Holmes,” Hans Zimmer
“Up,” Michael Giacchino

Best original song
“Almost There” from “The Princess and the Frog,” Randy Newman
“Down in New Orleans” from “The Princess and the Frog,” Randy Newman
“Loin de Paname” from “Paris 36,” Reinhardt Wagner and Frank Thomas
“Take It All” from “Nine,” Maury Yeston
“The Weary Kind (Theme from Crazy Heart)” from “Crazy Heart,” Ryan Bingham and T Bone Burnett

Best costume design
“Bright Star”
“Coco Before Chanel”
“The Imaginarium of Doctor Parnassus”
“Nine”
“The Young Victoria”

Best documentary feature
“Burma VJ”
“The Cove”
“Food, Inc.”
“The Most Dangerous Man in America: Daniel Ellsberg and the Pentagon Papers”
“Which Way Home”

Best documentary short
“China’s Unnatural Disaster: The Tears of Sichuan Province”
“The Last Campaign of Governor Booth Gardner”
“The Last Truck: Closing of a GM Plant”
“Music by Prudence”
“Rabbit a la Berlin”

Best film editing
“Avatar”
“District 9″
“The Hurt Locker”
“Inglourious Basterds”
“Precious”

Best makeup
“Il Divo”
“Star Trek”
“The Young Victoria”

Best animated short film
“French Roast”
“Granny O’Grimm’s Sleeping Beauty”
“The Lady and the Reaper (La Dama y la Muerte)”
“Logorama”
“A Matter of Loaf and Death”

Best live-action short film
“The Door”
“Instead of Abracadabra”
“Kavi”
“Miracle Fish”
“The New Tenants”

Best visual effects
“Avatar”
“District 9″
“Star Trek”


Antes que perguntem, não não vi todos os filmes daqui (é só ir ao histórico do blog para saber que filmes vi, porque estão aqui todos), em alguns casos foi mesmo numa de ler a sinopse e tentar adivinhar as intenções dos votantes. Noutros foi mesmo só porque achei piada ao nome.

Amanhã, a partir das 2h, let the games begin.

(E sim, podia ter metido links como faço nas SMR, mas não me apeteceu gastar as próximas 5h da minha vida nesse projecto tão desinteressante)

sexta-feira, 5 de março de 2010

The Messenger + Up

The Messenger:



Sabem qual é o trabalho mais deprimente do mundo? Tratar doentes oncológicos deve ser terrível mas ainda há uns quantos casos de sucesso, ser coveiro ou agente funerário é mau mas as famílias dos mortos já vão estando acomodadas. O trabalho mais deprimente deve ser o do Staff Sergeant Will Montgomery (Ben Foster) e do Captain Tony Stone (Woody Harrelson).

Ambos são soldados com uma missão muito especial. Fazem parte dos auto-denomimados "angels of death", não porque tenham alguma ligação ao Joseph Mengele (link pesado, aviso já) nem porque gostem de Slayer (se bem que um deles até ouve música bem pesada) mas porque o seu trabalho é o de dar as más notícias aos familiares dos soldados mortos, "mais rápido que a CNN, mais rápido que um SMS".

Para este trabalho têm de estar sempre a postos para, com um sentido cerimonial e de dignidade ainda mais elevado, se deslocarem a casa dos familiares e lhes comunicar que o seu filho/filha/marido/whatever morreu algures no Iraque. Neste trabalho não há qualquer consolo, são sempre os portadores de más notícias e como tal testemunham em primeira mão o sofrimento daqueles que acabaram de saber que perderam os seus mais queridos. Muitas vezes são insultados, outras vezes são agredidos, mas mantêm-se sempre estóicos, forçando (?) uma contenção emocional que, honestamente, não sei como conseguem atingir.

Este é um trabalho sobre o qual nunca tinha reflectido, mas que ao pensar nele me dá vontade de conhecer um pouco mais. Como é possível não ligar a tanto sofrimento num dia de trabalho? Como não se deixar afectar por tudo aquilo e evitar cair na depressão? Eu acho que não era capaz e por isso mesmo gostaria de conhecer as histórias de quem é.

Infelizmente neste filme não se tem muito bem essa noção. É uma obra de ficção e não um documentário, e enquanto obra de ficção desvia-se dessas questões mais existênciais para se focar na relação (condenada?) de um desses "anjos da morte" pela mulher de um soldado cuja morte foi encarregue de notificar.

Acompanhando essa história conseguimos ter um vislumbre da personalidade destes dois soldados (sobretudo do Tony Stone de Woody Harrelson, que merecidamente recebeu uma nomeação para o Óscar de melhor actor secundário, pela sua interpretação de um homem solitário, marcado pela frustração a todos os níveis), mas tenho pena que não se tenha aprofundado mais o tema.

Como está está interessante, e não deixo de o recomendar (até porque é um filme muito pouco divulgado) mas eu - que sou um bocado esquisito - gostaria mais de ver um documentário sobre este tipo de soldados.



Up:



Analisar um filme de animação é-me sempre um bocado complicado, por isso analisar o filme de animação mais conhecido de 2009 com tanto tempo de distância é ainda mais difícil.

Custa-me fazê-lo sobretudo porque sou um rapaz que liga bastante às interpretações, e muitas vezes é difícil avaliar tal coisa neste tipo de filmes. Felizmente, este Up facilita-me um bocadinho as coisas: ao contrário do anterior (e melhor) filme da Pixar, Wall.E (que não se escreve assim mas o blogger não me deixa pôr doutra forma) em Up os personagens principais são humanos e tanto a sua animação como o trabalho de vozes estão bastante bem feitos (Edward Asner no papel de Carl Fredricksen, o velhote rezingão mas que se move por amor, e Jordan Nagai - uma criança desconhecida que sou ganhou o papel porque não se calava durante o casting...do irmão! - no papel do "pequeno carteiro" Russel).

Mas é curioso notar que, apesar de partilharem comigo a característica (pequeniiiiina) de serem humanos, senti-me menos ligado a eles do que a Wall.E e seus amigos. É que o génio da Pixar (provavelmente a companhia com melhor ratio entre filmes produzidos e obras-primas) está em fazer-nos sentir ligados a entidades não humanas...e talvez por isso quando usam, pela primeira vez (ao que sei) protagonistas que o são, ficam um bocado aquém.

Também pode ter sido o facto de ter visto este filme na TV e outros da Pixar no cinema (para mim cinema é no cinema, mesmo) que me fez gostar menos deste Up, mas numa altura em que este filme é tão louvado por ser o primeiro da Pixar a ser nomeado para o Óscar de melhor filme (algo que também só acontece, é preciso dizê-lo, porque agora são 10 os nomeados para essa categoria) não consigo deixar de pensar que sim, este foi nomeado, mas por esta ordem de razões, o Wall.E deveria ter ganho.

Então mas o raio do filme vale a pena ou não?, perguntam vocês. Eu digo que sim, que é divertido e por vezes comovente (não fosse ele um filme da Disney) e que o devem ver. Apenas acho que se por acaso se virem numa situação em que têm de escolher o vosso último filme de animação (tipo última refeição) conseguiriam arranjar melhor.

(Já deu para ver que sou um grande fã do Wall.E, não já?)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Shutter Island

Shutter Island:



As fronteiras da nossa sanidade (tanto para o bem como para o mal) são um tema que há muito me interessa, por isso claro que fiquei contente quando soube que era esse o tema da última colaboração entre o Martin Scorsese e o DiCaprio. Este Shutter Island tinha, à partida tudo para correr muito bem.

A questão sobre se corre ou não tem estado bastante dividida. Pelo que li noutras críticas, tem havido uma grande clivagem entre aqueles que acham que estamos perante um thriller mediano (Rui Monteiro, Time Out Lisboa) e aqueles que acreditam que estamos perante um Scorcese de alta qualidade (Roger Ebert, Chicago Sun-Times). Eu, por muito respeito que tenha ao Rui Monteiro, que até tenho (gosto imenso da Time Out! E ainda gostava mais se me patrocinassem) vou ter de seguir o Roger Ebert e afirmar perante o meu pequenino grupo de grandes leitores que considero Shutter Island um grande filme.

Está lá tudo: num filme que tem uma duração acima da média (passa das duas horas e meia, julgo eu) nem por um segundo me senti aborrecido ou tentado em olhar para o relógio (daí o "julgo eu"). Temos uma banda sonora que marca o ambiente na perfeição, temos um conjunto de actores que interpretam os seus papeis sem falhas (até o Mark Rufallo, que é o elo mais fraco mas que não se safa muito mal no seu permanente ar de quem sofre de prisão de ventre) e acima de tudo temos uma cinematografia de mestre.

Martin Scorcese é, como disse acima, um mestre e neste filme mostra-o bem (mais que no seu The Departed, o filme que finalmente lhe trouxe o reconhecimento da Academia, mas que a meu ver não é dos seus melhores e nem sequer é melhor que o original que tenta recriar). Neste Shutter Island temos todas as marcas de génio que podemos desejar: referências a outros filmes, planos de cortar a respiração e - neste tipo de filmes - um modo de contar a história que nos deixa sempre presos ao que se está a passar.

Neste último caso, temos ainda a preciosa ajuda do Leonardo Di Caprio, que passou de actor-jovem-sensação para um actor de qualidade e que deveria ver o seu Teddy reconhecido com uma nomeação para os Óscares.

No final acabamos por sair com mais perguntas que respostas. É essa uma das maiores críticas que se tem feito a esta história, mas acho que num filme que lida com a sanidade mental nada se adequa melhor que um final aberto, em que cada um o interpreta consoante a sua percepção do que se passou naquela tela de cinema.