Sabem qual é o trabalho mais deprimente do mundo? Tratar doentes oncológicos deve ser terrível mas ainda há uns quantos casos de sucesso, ser coveiro ou agente funerário é mau mas as famílias dos mortos já vão estando acomodadas. O trabalho mais deprimente deve ser o do Staff Sergeant Will Montgomery (Ben Foster) e do Captain Tony Stone (Woody Harrelson).
Ambos são soldados com uma missão muito especial. Fazem parte dos auto-denomimados "angels of death", não porque tenham alguma ligação ao Joseph Mengele (link pesado, aviso já) nem porque gostem de Slayer (se bem que um deles até ouve música bem pesada) mas porque o seu trabalho é o de dar as más notícias aos familiares dos soldados mortos, "mais rápido que a CNN, mais rápido que um SMS".
Para este trabalho têm de estar sempre a postos para, com um sentido cerimonial e de dignidade ainda mais elevado, se deslocarem a casa dos familiares e lhes comunicar que o seu filho/filha/marido/whatever morreu algures no Iraque. Neste trabalho não há qualquer consolo, são sempre os portadores de más notícias e como tal testemunham em primeira mão o sofrimento daqueles que acabaram de saber que perderam os seus mais queridos. Muitas vezes são insultados, outras vezes são agredidos, mas mantêm-se sempre estóicos, forçando (?) uma contenção emocional que, honestamente, não sei como conseguem atingir.
Este é um trabalho sobre o qual nunca tinha reflectido, mas que ao pensar nele me dá vontade de conhecer um pouco mais. Como é possível não ligar a tanto sofrimento num dia de trabalho? Como não se deixar afectar por tudo aquilo e evitar cair na depressão? Eu acho que não era capaz e por isso mesmo gostaria de conhecer as histórias de quem é.
Infelizmente neste filme não se tem muito bem essa noção. É uma obra de ficção e não um documentário, e enquanto obra de ficção desvia-se dessas questões mais existênciais para se focar na relação (condenada?) de um desses "anjos da morte" pela mulher de um soldado cuja morte foi encarregue de notificar.
Acompanhando essa história conseguimos ter um vislumbre da personalidade destes dois soldados (sobretudo do Tony Stone de Woody Harrelson, que merecidamente recebeu uma nomeação para o Óscar de melhor actor secundário, pela sua interpretação de um homem solitário, marcado pela frustração a todos os níveis), mas tenho pena que não se tenha aprofundado mais o tema.
Como está está interessante, e não deixo de o recomendar (até porque é um filme muito pouco divulgado) mas eu - que sou um bocado esquisito - gostaria mais de ver um documentário sobre este tipo de soldados.
Up:
Analisar um filme de animação é-me sempre um bocado complicado, por isso analisar o filme de animação mais conhecido de 2009 com tanto tempo de distância é ainda mais difícil.
Custa-me fazê-lo sobretudo porque sou um rapaz que liga bastante às interpretações, e muitas vezes é difícil avaliar tal coisa neste tipo de filmes. Felizmente, este Up facilita-me um bocadinho as coisas: ao contrário do anterior (e melhor) filme da Pixar, Wall.E (que não se escreve assim mas o blogger não me deixa pôr doutra forma) em Up os personagens principais são humanos e tanto a sua animação como o trabalho de vozes estão bastante bem feitos (Edward Asner no papel de Carl Fredricksen, o velhote rezingão mas que se move por amor, e Jordan Nagai - uma criança desconhecida que sou ganhou o papel porque não se calava durante o casting...do irmão! - no papel do "pequeno carteiro" Russel).
Mas é curioso notar que, apesar de partilharem comigo a característica (pequeniiiiina) de serem humanos, senti-me menos ligado a eles do que a Wall.E e seus amigos. É que o génio da Pixar (provavelmente a companhia com melhor ratio entre filmes produzidos e obras-primas) está em fazer-nos sentir ligados a entidades não humanas...e talvez por isso quando usam, pela primeira vez (ao que sei) protagonistas que o são, ficam um bocado aquém.
Também pode ter sido o facto de ter visto este filme na TV e outros da Pixar no cinema (para mim cinema é no cinema, mesmo) que me fez gostar menos deste Up, mas numa altura em que este filme é tão louvado por ser o primeiro da Pixar a ser nomeado para o Óscar de melhor filme (algo que também só acontece, é preciso dizê-lo, porque agora são 10 os nomeados para essa categoria) não consigo deixar de pensar que sim, este foi nomeado, mas por esta ordem de razões, o Wall.E deveria ter ganho.
Então mas o raio do filme vale a pena ou não?, perguntam vocês. Eu digo que sim, que é divertido e por vezes comovente (não fosse ele um filme da Disney) e que o devem ver. Apenas acho que se por acaso se virem numa situação em que têm de escolher o vosso último filme de animação (tipo última refeição) conseguiriam arranjar melhor.
(Já deu para ver que sou um grande fã do Wall.E, não já?)
O Up é muito bom! Vi-o no cinema e adorei e acredito que deve ser melhor que numa televisão :)
ResponderExcluirAcredito que deva ser melhor no cinema, mas apesar dos bons gags (ainda me ri umas quantas vezes) não fiquei muito maravilhado com a história).
ResponderExcluirDe qualquer forma, o Óscar de Melhor Filme animado é dele, certinho!