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domingo, 11 de março de 2012

Das Boot

Das Boot:


Lembram-se de há uns tempos vos ter falado de um filme israelita chamado Lebanon passado integralmente dentro de um tanque? Pois é, nessa SMR falo da claustrofobia constante que se sente ao longo do filme e, nesse aspecto, de certeza que este se inspirou neste clássico do cinema alemão: Das boot. (Lê-se bôt, não boot, como em inglês)

Não sendo tão extremo com Lebanon, a versão de Das Boot que tive o prazer de ver há uns dias também pega em nós e enfia-nos por períodos muito prolongados de tempo numa situação ainda mais claustrofóbica. Durante grande parte das mais de 3 horas e meia juntamo-nos ao Tenente Herbert A. Werner (Herber Grönemeyer) e à tripulação do submarino U-96, da marinha sub-aquática da Alemanha nazi.

Só pelo facto de acabarmos o filme a torcer por aquele grupo de 42 marinheiros, quando a história do século XX faz com que qualquer pessoa de bem seja anti-nazi por defeito prova o mérito do trabalho do realizador Wolfgang Peterson. Verdade seja dita, as afiliações políticas daquela gente são muito fracas (na tripulação existe apenas um nazi convicto, os outros são - no mínimo - indiferentes) e  não passam de um fait divers justificado pelo facto do filme ser baseado num livro que relata a história real do U-96, escrito nem mais nem menos que pela versão real do já referido Tenente Werner.

Mas o que fez deste filme de 1981 um clássico que deve ser visto 31 anos depois é a incrível tensão que se vai acumulando ao longo do mesmo, uma tensão que não sentia a ver um filme há bastante tempo. A história começa em 1941 na cidade de La Rochelle, comando naval alemão na França cooperacionista e - já agora - cidade que recomendo que visitem. Num par de cenas somos apresentados aos homens que vamos acompanhar mas rapidamente estamos dentro do submarino. 

Tal como grande parte de nós imagina, a vida a bordo de um destes navios é tão difícil como aborrecida. Os tripulantes do U-96 estão constantemente a trabalhar (quando não estão a dormir, claro) mas, ao mesmo tempo, estão sempre à espera que algo aconteça. A guerra sub-aquática que Hitler declarou à marinha britânica obriga-os a estar à escuta de cargueiros da marinha mercante e eventualmente atacá-los - uma cruzada infantil, nas palavras do comandante Willenbrock (Jürgen Prochnow) mas os oceanos são muito grandes e encontrar um inimigo é pouco mais fácil que uma agulha num palheiro. Basta pensar que estão debaixo de água (submergir significa estar exposto) num navio em que o único contacto com o exterior é via rádio. Num submarino submerso a visão é muito pouco útil...não há janelas e tudo é tão apertado que o horizonte nunca está a mais de um par de metros.
O realizador optou por criar réplicas fidedignas do submarino original. Isto significa não só um detalhe histórico impecável mas acima de tudo uma grande dificuldade nas filmagens que acabou por compensar na sensação geral do filme. O movimento das câmaras é constrangido pelo pouco espaço existente e não nos é dado um centímetro sequer que não existia nos submarinos reais.

Mas mais cedo ou mais tarde lá se encontra um inimigo e, quando isso acontece, o ritual é o mesmo: investigar se existem navios da marinha de guerra que possam atacar (a resposta, nesta altura da guerra, era invariavelmente sim), alinhar o submarino com o navio à superfície, disparar torpedos e pirar-se dali para fora antes que as cargas de profundidade comecem a rebentar. Tudo isto se passa num ritmo lento, é certo (os submarinos não são propriamente conhecidos pela sua velocidade), mas imaginem o que é assistirmos em tempo real a esta situação. É como vermos a nossa equipa ir aos penalties na Liga dos Campeões, só queremos que ganhem!

Quando a tripulação é enviada numa missão suicida então sim pensamos que vai tudo vai acabar, mas devido a uma resistência heróica (e uma acção praticamente sobre-humana) o U-96 sobrevive. Acho que já o sabiam, caso contrário o livro não tinha sido escrito, não é? Por uma vez fiquei contente que os ingleses não tenham dado cabo do canastro aos nazis, pois esta é uma história que merece ser contada e Das Boot é um clássico que deve ser visto.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Hiroshima mon amour

Hiroshima mon amour:


Hiroshima mon amour é um filme de 1959 que ficou na história do cinema. Tem dois personagens, um homem e uma mulher (que, por não terem nomes, vou chamar de Ele e Ela) e uma cidade que todos conhecemos pelos piores motivos: Hiroshima, Japão.

Ela (Emmanuelle Riva) é uma actriz francesa que está em Hiroshima cerca de 10 anos depois da sua destruição para filmar um filme. "Sobre o quê?" pergunta Ele. "Sobre a paz. Sobre que mais se pode filmar em Hiroshima senão sobre paz?" A resposta foi dada por Alain Resnais, realizador de Hiroshima mon amour, ao deixar a paz de fora e filmar antes a convulsão interior de se estar preso ao passado.

Antes deste filme Resnais era sobretudo conhecido pelo seu documentário Nuit et Brouillard, sobre os campos de concentração nazis. Na altura em que foi convidado para filmar em Hiroshima a ideia era fazer um documentário sobre o pós-bomba atómica. Na altura o realizador achou que não conseguiria distanciá-lo suficientemente do seu anterior trabalho e a opção narrativa começou a ser explorada.

Os dez a quinze minutos iniciais são o mais parecido com um documentário que acabamos por ter; Ele e Ela abraçam-se (ainda sem nos terem sido apresentados) e, enquanto imagens da cidade nos vão sendo mostradas, debatem em voz-off as experiências dela na cidade: ela garante conhecer a sua verdadeira alma, ele diz-lhe que não, que não viu nada em Hiroshima

Passados esses minutos iniciais a narrativa avança e o estilo documentarial fica para trás, mas não as conversas entre Ele e Ela. A sua relação é fugaz mas intensa, Ela revê n'Ele o amor que perdeu em Nevers e nos sentimentos que Ele lhe desperta a loucura com que foi apossada quando esse amor cessou a sua existência. Ela, falando, liberta-se dos seus demónios ("tu me tues, tu me fais du bien") enquanto que Ele (Eiji Okada), maioritariamente ouvindo, alimenta uma paixão que o seu casamento já perdeu. A paixão face à impossibilidade do futuro.

Hiroshima mon amour ficou na história do cinema por vários motivos, desde o (até então inexistente) uso de rápidos flashbacks como forma de retratar a memória dos personagens até ao fabuloso e constante diálogo escrito pela Marguerite Duras. É um filme que não apelará à maioria dos espectadores actuais (é vagaroso e usa o paralelismo e a repetição como figuras de estilo preferenciais) mas que recompensa quem tenha paciência, vontade e/ou desejo de o ver com 89 minutos de grande, e histórico, cinema.

Nota curiosa: Foi precisa ir à cinemateca de Berlim para ver um filme francês filmado no Japão que estive para comprar em dvd quando vivia nos EUA. Adoro a globalização!

domingo, 23 de janeiro de 2011

Douro, Faina Fluvial + Aniki Bóbó

Olarelas! Aqui está uma dose dupla justificada pelo facto de também ter visto os dois filmes de seguida, tal como se fosse ao cinema e visse a curta metragem antes do feature film.

Douro, Faina Fluvial:



O ano é 1931 (há 70 anos atrás, portanto), o realizador um senhor chamado Manoel de Oliveira, o senhor é - ainda hoje - realizador de cinema. É português, tem 102 anos de idade (cento e dois!) e, para quem não sabe, é o mais velho realizador ainda no activo, com uma média de quase um filme por ano. Ainda falam do Woody Allen.

Os meus leitores portugueses sabem que hoje em dia os filmes deste senhor são associados a uma sensação de aborrecimento. Curiosamente, este que é o seu primeiro filme é cheio de movimento. Trata-se de um documentário que retrata a vida dos trabalhadores e residentes nas áreas ribeirinhas do Porto e de Vila Nova de Gaia. É uma vida de trabalho, muito dependente da pesca (algo que já acabou, a pesca de 1931 é o turismo de 2011) e que não é propriamente agitada: o que aqui é agitado é a forma como foi editado, com efeitos especiais que à altura seriam state of the art e que fazem lembrar Robert Wiene, Eisenstein ou Buñuel.

Já disse aqui que gosto de documentários porque me permitem ver o mundo através de outras perspectivas, mas neste caso gostei porque serviu de máquina de tempo. Nasci e vivo em Lisboa, mas sinto-me portuense de coração e foi com grande curiosidade que vi este filme. É, 70 anos passados, uma excelente forma de ver como era a vida na cidade onde - 13 anos depois do filme ser filmado - nasceria o meu pai.

Não fosse isso seria um filme que talvez visse numa qualquer sessão da sala de curtas da Cinemateca, assim o seu valor aumentou exponencialmente e se algum de vocês tem uma ligação semelhante a esta invicta cidade só o posso recomendar, para que vejam que a arquitectura é a mesma mas tudo o resto parece ter mudado.



Aniki Bóbó:




Aniki Bebé
Aniki Bóbó
Passarinho, tótó
Birimbau, cavaquinho
Salomão, sacristão
Tu és polícia, tu és ladrão

Esta música é o equivalente de 1942 ao actual um-dó-li-tá, usava-se para seleccionar as equipas para um jogo de polícias e ladrões e deu o nome à primeira longa-metragem de Manoel de Oliveira, 11 anos depois do filme aqui de cima.

O nome do filme deriva de uma canção infantil porque o filme é infantil. Não no sentido actual, claro...não há cá mensagens simplificadas, animais falantes, muitas cores e alegria. Aniki Bóbó é um filme com "hipocrisia e egoísmo" (para citar a descrição do DVD), um filme em que o mundo adulto e alguns dos dramas dos adultos são vistos pelo olhar de um grupo de crianças do Cais de Gaia.

A história é igual a tantas outras (se bem que na altura ainda não era tão pouco original e actualmente os protagonistas não teriam uns 10 anos): dois rapazes, Carlitos e Eduardinho, estão apaixonados por Teresinha, uma rapariga do bairro. Enquanto que Carlitos é simpático Eduardinho é o que hoje se chamaria de bully. O conflito entre os dois vai-se estendendo até ao momento em que algo de muito grave acontece e a situação só se resolve com a intervenção de um adulto.

A história é simples mas tudo o resto é notável: em 1942 Manoel de Oliveira fez um filme mais animado que os seus mais recentes trabalhos (também é normal, era 60 anos mais novo), com um excelente grupo de crianças-actores cuja interpretação está ao nível dos melhores e com uma técnica cinematográfica que - como é normal - é menos refinada que a de hoje mas que, por outro lado, permite um contacto mais próximo com os personagens.

É engraçado ver como ao contrário do cinema infantil de hoje, aqui as crianças esforçam-se por representar como adultos (não é mau nem bom, é só diferente), como os hábitos de então desapareceram totalmente para dar lugar a um mundo actual que pareceria ficção científica para estes miúdos e, acima de tudo, o que já disse acima: a arquitectura daquelas margens do Douro está praticamente na mesma, mas tudo o resto mudou.

Este filme é um marco do cinema português. Ouso até dizer que é o mais importante filme da nossa história, deveria ser visto por todos mas já que não é apenas vos posso sugerir, meus leitores, que se esforcem por vê-lo. Estamos perante história do cinema, história do cinema que ainda por cima é gira de se ver.


P.S.: Uma nota para a excelente edição do DVD. Nunca tinha visto nenhuma película restaurada pela Cinemateca Portuguesa mas posso dizer que estas estão que nem novas.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Indie Lisboa dia 7: Baara + Le jour où Dieu est parti en voyage

Baara:


Um blog de cinema que tem um post com uma crítica a um filme Maliano de 1978 começa a entrar por campos de cinema muito alternativo. (In)Felizmente mantenho a minha vertente pouco intelectual porque não consigo falar muito sobre o filme. Isto porquê? Porque estava quase a dormir.

Atenção. Eu estava (e estou) cheio de sono porque ontem não consegui dormir quase nada, não porque o filme é mau. Vejam a hora a que estou a escrever isto hoje e percebem o que estou a dizer.

Inserido na secção Herói Independente do Indie, este ano dedicado à secção Forum, da Berlinale, este que foi o primeiro filme produzido naquele país africano começa com um aviso "Qualquer semelhança de nomes ou eventos é pura coincidência". Ora, pareceu-me um aviso estranho e, como tal, fiquei com a impressão que deve haver uma qualquer semelhança e que não será coincidência nenhuma.

A história não é nada por aí além (ou então foi o meu sono que a tornou assim) mas o filme não deixa de ser bastante interessante, por mostrar uma realidade diferente, não só em termos geográficos (Mali, com as suas tradições tão específicas) como temporais (a luta de classes ocorrida nos primeiros momentos da industrialização do país). Um dia que volte a passar sou capaz de rever.

Tenho é de deixar um recado à organização: eu sei que a película é antiga mas deviam ter isso em conta e se não estava em condições não exibiam o filme...o som esteve em níveis quase inaudíveis e escusado será dizer que os problemas com a imagem que obrigaram à interrupção da sessão por duas vezes não deveriam ocorrer num festival que quer (e pode) estar entre os melhores.



Le jour où Dieu est parti en voyage:


Mesmo com o sono de que falei acima não desisti e vi mais um filme. Já sabem, por isso, que as críticas de hoje são um bocadinho menos esclarecidas. É que como em relação ao Baara, este Le jour où Dieu est parti en voyage sofreu do mesmo problema (só para mim, claro). É um filme interessante, que um dia gostarei de rever mais desperto.

Também passado em África, mas sendo uma co-produção franco-belga, este filme - cujo título não vou repetir por ser demasiado longo - mostra-nos o genocídio no Ruanda de uma perspectiva diferente daquela que os (excelentes) Hotel Rwanda e Shooting Dogs.

Enquanto que estes dois filmes mostram os eventos de uma perspectiva colectiva (Hotel Rwanda) ou de estrangeiros (Shooting Dogs) aqui temos a história de Jacqueline, uma mulher tutsi que consegue escapar à vaga inicial de assassínios e se vê obrigada a sobreviver nas mais duras condições.

Imaginam-se a ouvir mulheres crianças a ser abatidas a tiro e não poder emitir um som, sob pena de serem encontrados?
Imaginam-se a ver os vossos dois filhos mortos, e nem sequer vos deixarem lavar-lhes o sangue que os cobre? Nem sequer poder chorar, ou serão descobertos?
Imaginam-se a ver esses mesmos filhos a ser atirados para a rua pela mulher que ocupou a vossa casa? E a vê-los serem recolhidos por uma camioneta tal qual um saco do lixo?
Imaginam-se a preferir morrer que viver?

Jacqueline passa por tudo isso e tudo isso lhe deixa grandes marcas psicológicas. Não lhe retira o instinto de sobrevivência, nem o instinto de protector que a impele a ajudar um outro tutsi ferido, mas quase tudo o resto da sua humanidade desaparece. Não sei se esta é uma história real, mas mesmo que não seja é bem provável que muita gente tenha vivido desesperos semelhantes. É triste ver como a humanidade pode ser tão selvagem.

Como já referi, o filme é interessante. Não será tão bom com os outros dois que abordam esta temática e que já referi, mas há algo aqui que é extraordinário...a interpretação de Ruth Nirere no papel principal. Para uma actriz que teve aqui o seu primeiro papel em cinema consegue, quase sem palavras, transmitir-nos todo o desespero e pré-insanidade que passam por alguém que vive estas trágicas circunstâncias.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

The Candidate + Bakjwi

The Candidate:


Desde muito jovem (mesmo!) que me interesso pela política, mas também desde jovem que me apercebi que o que estraga a política são os partidos. Tornam os ideais em números e quando isso acontece a vontade de mudar as coisas acaba sempre por se esbater.

Prova disso é este filme já antigo (1972) em que o Robert Redford é seleccionado como "carne para canhão" por um partido que está condenado a perder as eleições e que é rápida e completamente absorvido pela máquina política que nem ele, nem na verdade ninguém, consegue controlar. As suas ideias iniciais vão-se perdendo e, no final, o próprio candidato se pergunta "What do we do now?"

Apesar do tema, o filme é um bocado datado e não me conseguiu interessar lá muito. O Robert Redford podia ser alto ícone sexual na altura (ainda hoje é o crush da minha mãe) mas as suas interpretações na verdade nunca esteve ao nível do seu sex appeal. O restante cast é tão pouco marcante que não me recordo de ninguém e o próprio argumento pega no tal tema que me interessa imenso mas explora-o de uma forma muito estranha, se bem que talvez propositada...tal como o candidado Bill Mckay somos atirados para a corrida eleitoral sem qualquer preparação.

Fico contente por o poder tirar da minha lista de filmes clássicos a ver, mas para além dessa razão não há muitos mais motivos pelos quais o possa recomendar 38 anos depois da estreia. Talvez quando saiu se percebesse melhor porque é que ganhou o Óscar de melhor argumento original.



Bakjwi:


Já apelidado de Twilight sul-coreano, este Bakjwi, Thirst no título inglês, é muito mais pesado que os vampiros mais panhonhas da história do cinema.

Em comum com a saga criada por Stephenie Meyer só mesmo o facto de ter vampiros e uma história de amor. Mas tudo o resto é diferente...mesmo a própria história de amor, que tem muito (e bom) sexo e que na verdade é mais uma obsessão e que - como tudo o resto no filme - é verdadeiramente doentia.

É que (quem é mais atento já sabe isto) esta história de um padre vampiro (Kang-ho Song, com um cabelo à Fernando Alvim) é-nos trazida pelo mais famoso realizador sul-coreano: Chan-wook Park, o mesmo do excelente Oldboy e do igualmente bom mas menos marcante (para mim) Sympathy for Mr. Vengeance...dois filmes que, digamos, não se tornaram famosos pelos seus arco-irís e unicórnios sorridentes. Aqui, o filme não é tão violento, mas dos três é - de longe! - o que me deixou mais enjoado.

E quando digo enjoado é mesmo enjoado. Já há muito que não saía assim de um filme e só o realizador vos poderia dizer se isso é bom ou mau, por isso vão ao Google Translate, metam isto em coreano e mandem-lhe um e-mail. Agora a sério...o filme nem sequer tem violência em demasia, mas as quantidades de sangue são tais que eu passei a achar que se calhar era mais sensível do que anteriormente pensava ser. Digamos que fiquei a perceber porque é que foi, provavelmente, o filme mais aplaudido da edição 2010 do Fantasporto.

Este aspecto, aliado ao facto do filme ser muito (demasiado) longo, faz com que tenha de alertar os meus queridos leitores. Vão vê-lo apenas se quiserem mesmo, este não é um filme para se ir ver quando se está numa de cinema pipoca. É um bom filme, está excelentemente realizado (o senhor Chan-wook tem jeito, coitadinho) mas ainda assim está longe do excelente Låt den rätte komma in, com o qual tem sido frequentemente comparado.

sábado, 20 de março de 2010

Kramer vs Kramer

Kramer vs Kramer:


Back in 1990, quando os meus pais se divorciaram, eu fui o segundo aluno da minha turma a ter estar nessa condição, tão estranha na altura e tão frequente agora. Felizmente o divórcio dos meus pais não se deu nos mesmos termos que os do casal Kramer.

Nesta história Joanna (Meryl Streep, já a mostrar porque é que haveria hoje de ser considerada a rainha do cinema americano) cansa-se da vida de dona de casa e do desprezo do marido e decide partir, abandonando-o a ele e ao filho. O marido, Ted (Dustin Hoffman, também ele da realeza cinematográfica) toma conta da criança e, quando menos o espera, vê-se embrulhado numa batalha legal pela custódia do pobre Billy (Justin Henry), que é sem dúvida quem sofre mais com tudo o que se vai passando.

Em 1979, altura em que o filme foi produzido, acredito que a temática do divórcio fosse altamente polémico, ainda mais nas condições em que é (a mulher a fugir de casa), e muitas das críticas da altura devem ter-se debruçado sobre isso. Já nos tempos que correm o divórcio é muito mais frequente e é irrelevante qual das partes do casal o pede, por isso a minha análise só poderá recair nos outros aspectos deste filme.

Nesse sentido, não há como não elogiar as duas interpretações dos protagonistas. Tanto um como outro são dos melhores actores que Hollywood já viu e se é verdade que já vi melhores interpretações de ambos noutros filmes (Meryl Streep no Out of Africa, ou mais recentemente no Doubt, e Dustin Hoffman no incontornável Rain Man) é fácil ver que aqui estavam dois diamantes à espera de ser lapidados.

Também a história, para além da eventual polémica que na altura deve ter provocado, é bem contada e não nos deixa aborrecidos por um segundo que seja. Mas aqui achei curioso uma coisa...este Kramer vs Kramer é referenciado como um dos clássicos dentro do género "filmes jurídicos" mas curiosamente as cenas em Tribunal são as que menos me marcaram. Fiquei muito mais fã dos momentos de aproximação entre pai e filho, ou da imagem (belíssima e definidora do personagem) da Joanna Kramer a espreitar o filho do outro lado da rua).

Tribunais ou não, polémica ou falta dela, o que é inegável é que este é um bom filme e só posso ficar contente por finalmente o ter adicionado à minha extensa lista de filmes já vistos. Vejam-no também, que anda a passar em rotação na RTP Memória.

domingo, 3 de janeiro de 2010

The Private Lives of Pippa Lee + Mujeres al borde de un ataque de nervios

E aqui vamos nós! O primeiro post de 2010 e, curiosamente, um em que falo do último filme que vi em 2009. Mas também vos falo do primeiro deste ano, e porquê? Porque sou perito no simbolismo das transições.

The Private Lives of Pippa Lee:



De vez em quando surgem-nos filmes muito pouco conhecidos, que vemos quase por acaso mas dos quais ficamos fãs. The Private Lives of Pippa Lee foi um destes casos, tal como já foram no passado o We Don't Live Here Anymore e outro cujo nome não me lembro mas cujo poster tem um livro vermelho e - penso - tem a palavra stories lá pelo meio. (Dou uma pastilha elástica a quem me lembrar qual é esse filme, estou assim tão curioso)

Aqui, acima de tudo, seguimos uma história de vida diferente (e mais completa) do que a que imaginariamos ao conhecer a senhora Pippa Lee pela primeira vez. Sim, porque a Pippa para além de ter um nome estranho (mas fino, ainda deve ser da família da Bibá Pitta) era uma grande maluca...e quem é que imaginaria isso ao vê-la nas primeiras cenas do filme.

O que ela fez ou deixa de fazer não é assim tão relevante, o que me agradou neste filme foi mostrar que nem todas as donas de casa que se vêm nos filmes/séries americanas têm como história de vida a busca incessante pela melhor tarte de maçã. Têm razões (mais ou menos positivas, não me cabe a mim julgar) para terem chegado àquela ponto, neste caso a uma típica comunidade de reformados

Sim, eu sei que o Desperate Housewives faz isso. Sim, eu sei que a temática não anda assim tão longe do Revolutionary Road. Mas gostei mais deste, o que é que querem. E nem estou a dizer isto para impressionar uma miúda, numa de fingir que sou artístico...apenas gosto de filmes mais indiezinhos, parecem-me mais reais.

E como é que se consegue um filme indiezinho (acho que vou registar este novo estilo cinematográfico) com actores como a Winona Ryder (a melhor interpretação do filme) ou o Keanu Reeves? É uma questão de atitude? Deve ser, porque todo o filme tem uma aura muito low-profile que me agrada bastante.

Ainda assim é um filme que me é dificil de definir. Saí da sala bastante satisfeito com esta "pérola" que tinha descoberto, mas actualmente (poucos dias depois) já não me sinto assim tão marcado por ele. Não sei se resistirá à passagem do tempo, mas sei que a tatuagem que meteram no Keanu Reeves deveria ter criado resistências a quem a achou uma boa ideia.


Mujeres al borde de un ataque de nervios:



Não há melhor maneira de começar o 2010 cinéfilo que com um Almodóvar colheita de 1988.

Já é um filme antigo, mas resolvi vê-lo porque o último dele, o Los Abrazos Rotos repete uma cena deste filme e não queria deixar de ver o original. Mujeres al borde de un ataque de nervios é um filme tipicamente deste realizador, cheio de mulheres neuróticas, de cores garridas e planos curiosos. É um filme em que podemos ver alguns traços largos do que Almodóvar veio a explorarar em filmes futuros.

É também por isso que, se calhar, não gostei tanto. O que aqui é resultado de coincidências, em histórias mais recentes foi refinado com argumentos mais completos, as cores são agora mais garridas e os planos curiosos mais ousados. As mulheres continuam neuróticas, mas agora também já somos brindados com homens mais aprofundados que os que aqui vemos.

Já há muito que acho que apesar dos bons filmes serem intemporais a melhor altura para os ver é quando são feitos. Este é um bom exemplo, se o tivesse visto na altura teria ficado mais agradado que agora, depois de já ter visto que o mesmo realizador consegue fazer melhor.







E está feito...este foi o primeiro post do ano. E já agora vejam o novo logotipo aqui do espaço, não há mais King Kong para ninguém.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Clerks + Les Beaux Gosses

Clerks:



Sabem quem são o Jay e o Silent Bob? Dois personagens, interpretados pelo Jason Mewes e pelo Kevin Smith, que vão aparecendo de tempos a tempos nos filmes do segundo, filmes como o Dogma (que achei engraçado). Pois foi aqui que eles surgiram pela primeira vez, o que faz algum sentido se tivermos em conta que este é o primeiro filme do (grande) moço.

Ora, foi por mais por curiosidade em relação a eles que por vontade de ver o filme que me pus a meter a ver este Clerks. É um filme completamente lo-fi, com algumas piadas e muita conversa que não interessa por aí além.(Realista, portanto)

Deu para perceber que...












...e pronto, a SMR fica por aqui porque adormeci a ver o filme. Não que o estivesse a achar péssimo até ali, mas também não estava cheio de sono. Fiquei-me por aqui, mas se um dia destes voltar a apanhar o filme pode ser que venha cá completar isto.


Les Beaux Gosses:



"O American Pie francês"...é assim que este Les Beaux Gosses tem sido falado nas críticas que li. Não concordo.

Sem dúvida que a temática é parecida, a descoberta do amor/sexualidade por parte de jovens do sexo masculino e a abordagem é cómica, mas tudo o mais é bastante diferente. Enquanto que no American Pie tudo é exagerado e as piadas são muitas das vezes escatológicas, aqui estamos perante uma história mostrada de uma forma bastante mais próxima do documentário e o humor é real.

Hervé e Camel (os rapazes do poster) são dois amigos não muito diferentes do que eu era naquela idade...muito convencidos nas conversas entre rapazes, demasiado tímidos/self-conscious quando abordam as miúdas. Mas, vá-se lá saber porquê, uma delas lá fica de beicinho pelo Hervé, e a partir daí seguimos as suas descobertas...os primeiros linguados ("Não! Eu já beijei imensas raparigas antes de ti...Quem? Umas italianas..."), os primeiros planos a dois, a primeira desilusão amorosa e o primeiro "seguir em frente". Enquanto isso Camel, e os restantes amigos do seu grupo, vão vendo Hervé como um enviado especial ao mundo das raparigas, e vão tentando saber tudo o que se está a passar, acrescentando sempre um ponto àquele conto.

O que mais me agradou no filme foi precisamente o ser diferente do tal American Pie, é um filme verdadeiro. Quando vi o American Pie fartei-me de rir (mais que neste) mas nunca me senti ligado àquela realidade, aqui foram tantas as vezes que dei por mim a pensar "já passei por aquela situação" que não posso deixar de elogiar quem escreveu aquela história, fez uma boa investigação e sobretudo puxou bem pela memória (são dois argumentistas homens, de certeza que também passaram por aqueles momentos).

O facto de serem actores totalmente desconhecidos também ajuda...se estivessemos a falar de um filme americano interpretado por jovens actores já conhecidos a ligação não seria tão próxima. Assim, e apesar de nenhuma interpretação ser fabulosa (o destaque, apesar de tudo vai para Alice Trémolière, que faz de Aurore) senti-me em casa naquele grupo de amigos. E sentir-me em casa é bom.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Adventureland + The Party

Adventureland:


Não gostei deste filme.

O que gostei menos foi a tentativa de fazer uma comédia/romance indie mas que é demasiado forçada. E tudo o que é demasiado forçado dá em asneira...neste caso acho que o exemplo mais claro do que estou a dizer é o colocarem o filme no contexto dos anos 80, mas que em nada, tirando a roupa e a banda sonora, é característico dessa altura, e mesmo esses só beneficiam com o revivalismo dos 80's que em breve passará para os 90's.

A história é a do costume neste tipo de filmes: jovem americano meio geek meio cool quer ir viajar para a Europa durante o Verão, mas como não tem dinheiro tem de ir trabalhar para um parque de diversões - o tal Adventureland - onde (surpresa das surpresas!) conhece a rapariga dos seus sonhos, totalmente cool mas assim a dar para o alternativo, que (surpresa das surpresas das surpresas!) vai estudar precisamente para a mesma cidade que ele.

Para além destes dois personagens, existem também uns quantos outros que pouco mais são que um copy/paste do "livro de personagens cliché de comédias/romances que querem ser indie": o namorado bonzão da tal rapariga, de quem ela se farta por não ser tão sensível como o nosso herói; o gajo totalmente geek que tem interesses bizarros (neste caso literatura russa) e nenhum sucesso com miúdas sóbrias; o chefe demasiado intenso e, claro, a beauty queen por quem todos os rapazes se babam e de quem o protagonista abdica pela miúda alternativa.

Nem sequer considero que isto sejam spoilers, porque não é a primeira - nem será a última - vez que verão estes personagens-tipo. Por isso é que não gostei do filme, esforça-se tanto por ser (quem sabe) um outro (500) days of Summer que falha redondamente: é fraco.

De mérito apenas posso reconhecer uma coisa: a boa interpretação da Kristen Stewart, a protagonista da saga Twilight, que nunca vi (nem tenho curiosidade em ver) mas que me surpreendeu pela positiva quanto às suas capacidades de actriz.


The Party:



Este filme foi uma recomendação de uma leitora frequente deste cantinho na Internet plantado e, apesar de perceber as razões da sua paixão, não consegui ficar demasiado fã. Ainda assim, agradeço a sugestão e proponho que deixem aqui as vossas recomendações, pode ser que um dia sejam agraciados com uma SMR.

Plantado entre um Mr. Bean (o que é mau) e o Mon Oncle, do Jacques Tati (o que é bom), esta é uma comédia já antiga caracterizada por um tipo de humor que - a meu ver - está bastante datado e não evoluiu lá muito bem. O filme depende demasiado de quedas, efeitos sonoros e cenas demasiado over the top para o meu gosto, enquanto espectador de 27 anos.

Não tendo essa informação, sou capaz de apostar que este é um filme que a tal leitora assídua viu - e aprendeu a amar - quando era mais pequena. Eu também tenho algumas paixões dessas- filmes que ainda hoje gosto mas que tenho a impressão que se os visse pela primeira vez aos 27 anos não conseguiria ter a mesma relação - casos do Robin Hood, Heróis em Collants ou o Ases pelos Ares.

Não tendo ficado fã, não deixei de me rir com algumas situações (sobretudo a altura em que o Senhor Bakshi mexe nos controlos da casa, hilariante). Sabendo que basicamente o filme é uma improvisação quase completa do Peter Sellers (actor a quem reconheço o grande valor, mas com quem não consigo empatizar) ainda mais valor lhe dou, mas - repito - penso que este é o perfeito filme para se recordar de visualizações mais jovens. Assim é interessante, mas não fará parte do meu património cultural.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

The Killing Fields

The Killing Fields:



Desde 2005 que andava a tentar ver este filme. Vi-o, finalmente, ontem. Não deixa de ser estranho que um filme nomeado para 7 Óscares e vencedor de 3 não seja acessível, mesmo sendo de 1984. Mas pronto, assim cresceu a curiosidade.

Valeu a pena a espera? Acho que sim! O genocídio esquecido do Cambodja há muito que foi um tema que me interessou e esta é uma das poucas histórias que o aborda. Claro que não é um documentário sobre o assunto, vemos a história pelos olhos de um jornalista americano e do seu tradutor cambodjano. Não é objectivo, não o pretende ser nem tem de o ser. O cinema é - tal como este blog - subjectivo.

A vertente "americana" da história é menos marcante, Sydney Schanberg é um correspondente do New York Times destacado no Cambodja na altura do seu bombardeamento (secreto) pelo exército norteamericano que, no momento em que os khmer rouge sobem ao poder, é forçado a abandonar o país, deixando também para trás o seu tradutor, Dith Pran. Chegado aos EUA, Sydney vive com os fantasmas desse momento, em que indirectamente sugeriu a Dith que ficasse com ele quando poderia ter fugido com o resto da família.

Mas é a história de Pran a mais marcante. Depois da tal separação forçada (a cena em que Pran se entrega, saindo da embaixada, é delicada e comovente) Pran é enviado para os famigerados Killing Fields, os campos de agricultura forçada para onde os habitantes das cidades cambodjanas foram enviados. Uma espécie de reprogramação mental e ideológica daqueles que, para a classe política dominante, eram culpados de capitalismo por coisas tão irreais como usar óculos ou falar uma língua estrangeira.

Nesses campos da morte Pran é forçado a manter-se em silêncio, a melhor forma que teve de se proteger das purgas aos intelectuais (era jornalista, teve de assumir ser condutor de táxi para salvar a sua vida) até ao momento em que conseguiu fugir. A história da sua fuga é verdadeiramente épica, atravessando rios repletos de cadáveres, montanhas cravadas de minas anti-pessoais e sobrevivendo a fome, doenças e cansaço quase intoleráveis.

No final do filme surge uma daquelas mensagens típicas dos filmes inspirados em factos reais. Essa mensagem diz que o pesadelo do Cambodja continua. Continuava em 1984, actualmente já não é assim. Mas existirão outros pesadelos por esse mundo fora, e é por relatos destes, de verdadeiros sobreviventes, que nos apercebemos que a realidade da crueldade humana é muito mais abjecta que qualquer ficção.

Mais uma notazinha bem negativa para o DVD. A edição que comprei é a "2 disc special edition" e nem um raio de umas legendas se arranja? Está bem que o comprei na Irlanda, não queria legendas em português, mas um English for the hard of hearing era muito bem vindo, sobretudo tendo em conta que quase um terço do filme é falado em khmer, a língua oficial do Cambodja.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Patton

Patton:



Cá está, resolvido o mistério (nem imagino a quantidade de pessoas que não dormiu a pensar nisto!)...foi o Patton o tal filme que vi na 6ª feira.

Para quem não sabe (e eu não sabia) o General George Patton foi uma das figuras de proa do exército norte-americano durante a 2ª Guerra Mundial. Um grande historiador e estratega militar, um homem que nasceu para a guerra (como um outro General diz durante o filme "I do this job because I was trained to do it, you do this job because you love it") mas que - durante a guerra - quase viu a sua carreira destruida por causa da sua tendência para maltratar (verbal e fisicamente) os soldados sob o seu comando. Por causa de uma chapada num soldado "cobarde" perdeu o comando do seu exército e quase foi demitido, passando porém a servir de isco numa campanha ficticia para enganar o exército nazi.

A história real é fantástica, as interpretações são fora de série, os níveis de produção são inigualáveis (nota-se sobretudo nos detalhes mais ínfimos mas que não foram descurados), o filme tornou-se um marco na história de cinema (já é de 1970 e continua bem melhor que 95% dos filmes que são feitos). Aqui todos saem felizes: quem gosta de filmes de guerra tem tiros e explosões de grande qualidade, quem gosta de drama tem a vida de um homem destruida por um acto empolado pelos media, quem gosta de humor tem uma ou outra piada que dão mesmo para rir e para quem gosta de filmes históricos terá (julgo eu) uma recriação fiel do que se terá passado há não muitos anos atrás.

Enquanto via o filme só pensava "Ora aqui está o E Tudo o Vento Levou dos filmes de guerra". E quem me conhece (todos ou quase todos vocês, portanto) sabe que adoro esse clássico, por isso tenho de me render às evidências e declarar este filme como o melhor que vi este ano e presumir que ainda é capaz de demorar um bocadinho até ser ultrapassado.

P.S.: Nota técnica muito positiva para o Blu-Ray. Foi o primeiro filme que vi com esta tecnologia e notei bem a diferença em relação aos DVD.