segunda-feira, 20 de abril de 2009

The Killing Fields

The Killing Fields:



Desde 2005 que andava a tentar ver este filme. Vi-o, finalmente, ontem. Não deixa de ser estranho que um filme nomeado para 7 Óscares e vencedor de 3 não seja acessível, mesmo sendo de 1984. Mas pronto, assim cresceu a curiosidade.

Valeu a pena a espera? Acho que sim! O genocídio esquecido do Cambodja há muito que foi um tema que me interessou e esta é uma das poucas histórias que o aborda. Claro que não é um documentário sobre o assunto, vemos a história pelos olhos de um jornalista americano e do seu tradutor cambodjano. Não é objectivo, não o pretende ser nem tem de o ser. O cinema é - tal como este blog - subjectivo.

A vertente "americana" da história é menos marcante, Sydney Schanberg é um correspondente do New York Times destacado no Cambodja na altura do seu bombardeamento (secreto) pelo exército norteamericano que, no momento em que os khmer rouge sobem ao poder, é forçado a abandonar o país, deixando também para trás o seu tradutor, Dith Pran. Chegado aos EUA, Sydney vive com os fantasmas desse momento, em que indirectamente sugeriu a Dith que ficasse com ele quando poderia ter fugido com o resto da família.

Mas é a história de Pran a mais marcante. Depois da tal separação forçada (a cena em que Pran se entrega, saindo da embaixada, é delicada e comovente) Pran é enviado para os famigerados Killing Fields, os campos de agricultura forçada para onde os habitantes das cidades cambodjanas foram enviados. Uma espécie de reprogramação mental e ideológica daqueles que, para a classe política dominante, eram culpados de capitalismo por coisas tão irreais como usar óculos ou falar uma língua estrangeira.

Nesses campos da morte Pran é forçado a manter-se em silêncio, a melhor forma que teve de se proteger das purgas aos intelectuais (era jornalista, teve de assumir ser condutor de táxi para salvar a sua vida) até ao momento em que conseguiu fugir. A história da sua fuga é verdadeiramente épica, atravessando rios repletos de cadáveres, montanhas cravadas de minas anti-pessoais e sobrevivendo a fome, doenças e cansaço quase intoleráveis.

No final do filme surge uma daquelas mensagens típicas dos filmes inspirados em factos reais. Essa mensagem diz que o pesadelo do Cambodja continua. Continuava em 1984, actualmente já não é assim. Mas existirão outros pesadelos por esse mundo fora, e é por relatos destes, de verdadeiros sobreviventes, que nos apercebemos que a realidade da crueldade humana é muito mais abjecta que qualquer ficção.

Mais uma notazinha bem negativa para o DVD. A edição que comprei é a "2 disc special edition" e nem um raio de umas legendas se arranja? Está bem que o comprei na Irlanda, não queria legendas em português, mas um English for the hard of hearing era muito bem vindo, sobretudo tendo em conta que quase um terço do filme é falado em khmer, a língua oficial do Cambodja.

2 comentários:

  1. Não vi o filme, não me posso pronunciar sobre ele, mas ao ler o teu post, lembrei-me automaticamente do "Hotel Ruanda"... e a conclusão é a mesma, a "crueldade humana é muito mais abjecta que qualquer ficção".
    Beijinhos,
    C(DP)

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  2. Ouso dizer que a situação no Cambodja foi pior que a do Ruanda...

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