sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Fim do 2º ano do blog

Mais um ano, mais 138 filmes vistos e 137 analisados (ainda não tive tempo de escrever a SMR para o último que vi, fica para breve). O blog cresceu e está no bom caminho, vejamos como estará daqui a 365 dias.

Uma coisa que gostava de ter era mais feedback da vossa parte por isso, queridos leitores, digam-me de vossa justiça. O que é que gostariam de ver alterado no blog, que filmes deveria mesmo ter visto e não vi, "que merda de opinião é a tua em relação ao filme x...". Eu faço isto sobretudo para mim mas dá-me muito gozo saber que já fui lido em várias partes do mundo.

O e-mail (novo!) do blog é: subjectivemoviereviews@gmail.com



Até para o ano e até para a semana.

João

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

L'Illusioniste

L’Illusioniste:



Parece que é impossível uma crítica a este filme não falar do Jacques Tati, por isso vou já tratar dessa parte para depois seguir em frente: tenho uma relação estranha com o Tati, só vi dois filmes dele e se um deles considero uma das comédias que mais me divertiu (Mon Oncle, que chega a aparecer neste filme!) o outro tenho em DVD por me ter sido recomendado vivamente, já tentei ver umas 5 vezes e em todas elas acabei por adormecer, por o achar tão aborrecido. É o Playtime, tido por muitos como a obra-prima do senhor, mas que para mim tem sido impossível de ver.

Fala-se do Tati em relação a este filme porque foi ele que escreveu o guião e era para o protagonizar. Entretanto morreu (já em 1982) e só agora é que a história do mágico Tatischeff e da sua amiga/filha adoptiva Alice foi levada ao grande ecrã.

Raros são os filmes, tirando um sub-género de terror, em que o personagem antagónico é uma criança mas neste filme a tal Alice conseguiu enervar-me. Percebo que a ideia fosse precisamente a contrária: não é difícil perceber que o filme tenta mostrar a afeição que Tatischeff nutre por Alice, mas não conseguia deixar de pensar no quanto as “exigências” dela contribuiram para a ruina dele. Ela não é má, é apenas criança, mas mesmo assim não sei...ou foi ela que me irritou ou a incapacidade dele lhe dizer não.

Ora, se não se gosta de um personagem que é suposto gostar-se para que o filme cumpra o seu intento a coisa fica difícil. Isto, sem dúvida, limitou a minha apreciação do filme, já que interpretei a história de uma maneira completamente diferente. Tive portanto de aproveitar para apreciar outros aspectos do filme.

O primeiro deles é a excelente colecção de personagens secundários. Num filme em que muito do tempo é passado em salas de espectáculo decadentes é fácil encontrar uma boa dose de acrobatas espanhóis, dançarinas de can-can, palhaços suicidas e ventríloquos deprimidos. Todos eles surgem neste filme e todos eles são a meu ver mais interessantes que Tatischeff e Alice. Mas, para além deles, existe ainda uma outra coisa que faz com que este filme valha a pena.

Falo, claro, da fantástica animação de Sylvain Chomet (o mesmo que já tinha feito o Les Triplettes de Belleville). Grande parte do filme é feito com animação tradicional, apenas com algumas cenas em que algum digital é usado mas em que não se impõe, e a qualidade é permanente. Todas as cenas têm um pormenor tal e ao mesmo tempo uma subtileza tão grande que imagino ser interessante ver o filme em DVD para se poder parar de tempos a tempos e apreciar a paisagem. Só por isso e pelo som, essencial num filme quase sem diálogos, vale a pena.

Pelo que pude perceber, esta história foi escrita por Tati como uma tentativa de aproximação a (uma das) suas filhas...Tatischeff era o seu apelido real e Alice seria, não sendo, a filha. Como disse há uns parágrafos acima, para mim esse aspecto falhou, pelo que mais do que qualquer outra coisa vejo L’Illusioniste como uma declaração de amor a Edimburgo e a um tipo de entretenimento que já não existe, ao mesmo tempo que é uma prova da vitalidade da animação tradicional.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

オーディション (Audition)

オーディション:



Foi no dia 9 de Fevereiro de 2004 que, na sequência de uma crítica no Curto Circuito, lá foi o menino João, na altura com uns angélicos 22 anos de idade, comprar dois DVD de um realizador japonês chamado Takashi Miike. Esses dois DVD eram o Ichi the Killer e o Audition (nome inglês deste filme).

O Ichi the Killer vi poucos dias depois de o receber, o Audition vi-o no dia 18 de Dezembro de 2010.

Porquê 2504 dias entre a encomenda do filme e o momento em que o vi? Por várias razões (entre as quais não ter ficado particularmente bem impressionado com o Ichi the Killer) mas uma delas foi o sempre me terem dito que era um filme muito muito muito (muito!) extremo e nunca me ter apetecido ver. E, claro, assim posso escrever esta linda SMR que vai maravilhar os vossos ainda mais lindos olhos.

Pois agora, depois dos tais 2504 dias de espera já posso opinar. E o que é que opino, perguntam vocês. Opino que realmente é muito muito muito (muito!) extremo e sem grande razão para isso, já que o objectivo que consigo identificar no filme (cuidado com quem te apaixonas!) poderia ter sido explorado bastante melhor.

A grande maioria da brutalidade do filme (não apenas física!) tem lugar nos últimos 30 minutos. Até aí a história parece relativamente normal, sobretudo para quem – ao contrário de mim – não saiba ao que vai. Shigeharu é um senhor viúvo que, seguindo o conselho do filho, decide tentar reencontrar o amor e opta por uma excelente estratégia para o conseguir: fingir que vai produzir um filme e fazer um casting para a actriz principal.

Claro que a coisa dá para o torto e Asami (Eihi Shiina, uma antiga modelo que agora só faz filmes série B) vai fazê-lo pagar. Não interessa como, mas tenho de deixar o aviso: a violência (não apenas física, repito) é do mais extremo que já vi, sobretudo por ser tão in your face e prolongada. Até hoje só fiquei realmente enjoado por causa de um filme, Salò o le 120 giornate di Sodoma, mas este acho que me levaria pelo mesmo caminho se o tivesse visto num ecrã de cinema.

Se é esta violência (ultraviolence, como diria Alex deLarge) que trouxe notoriedade ao filme também é por causa dela que não consigo dizer que gostei. É verdade no meio do tormento de Shigeharu há uma cena que, se fosse a última, daria mais sentido àquilo tudo e até faria com que gostasse dele, mas rapidamente a coisa volta ao “disparate” e o tal sentido que o filme poderia fazer esvai-se em sangue.

Gostava de poder dizer que gostei, dar-me-ia pontos junto dos meus leitores que frequentam o Fantasporto (onde teve direito a uma Menção Especial do Júri), mas a verdade é que prefiro a violência quando esta serve realmente a história. Se calhar é de ser mais velho ... quem sabe o que acharia deste filme há 6 anos, 10 meses e 19 dias atrás.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Due Date + Flash of Genius

Olá olá! Prontos para mais uma dose dupla motivada pelo meu atraso na escrita de SMR’s e querer ter todos os filmes de 2010 analisados antes do final do ano? Vamos a isso!


Due Date:


Estão a ver o The Hangover? Foi a comédia mais bem sucedida do ano passado e, como não poderia deixar de ser, mais cedo ou mais tarde haveria de dar uma sequela. Não, ainda não deu mas é como se tivesse dado porque em Due Date temos uma tentativa, usando o mesmo realizador mas nenhum personagem em comum.

Não acharia estranho que alguns de vocês, queridos leitores, me dissessem “quando vi o trailer pensei mesmo que era uma sequela”, pois foi isso que aconteceu comigo. É que, para os que não sabem, apesar de tudo o que disse no parágrafo anterior sobre não haver personagens em comum a diferença num deles é apenas o nome...enquanto que no Hangover o “boneco” se chama Alan e é esquisito, aqui tem o nome de Ethan e é também esquisito.

Mas há ainda uma outra diferença (sim, eu sei que disse que só havia uma, menti!)...o filme em que o Alan aparece é talvez a melhor comédia que vi o ano passado o filme do Ethan não é das piores que vi este ano mas não é nada de jeito. Lá pegaram na ideia base do Hangover (um gajo certinho tem de estar em Los Angeles para uma data importante mas até lá acontecem uma data de coisas estranhíssimas que quase põem em causa a chegada ao destino) e fizeram um road movie em vez de restringirem a acção a Las Vegas.

Então e perguntam vocês: “Se são assim tão parecidos e o primeiro teve tanta piada porque é que não gostaste deste?”. E eu respondo: “Porque enquanto que no primeiro tudo é verosímil (tirando duas cenas que podem, ou não, envolver um Mike Tyson e um tigre) neste nada o é e, ainda pior, o tipo de humor é bem mais básico.”. E porque, meus amigos, Las Vegas é o cenário ideal para um filme em que tudo é possível, enquanto que Birmingham, Alabama nem por isso. Nunca se ouviu dizer "What happens in Birmingham, Alabama, stays in Birmingham, Alabama" ou já?

Sim, meus amigos, estamos perante um filme que usa os seguintes gags : cinzas do paizinho em sítios impróprios, porrada com paraplégicos e cães masturbadores. Acho que está (quase) tudo dito.

Outras coisas que são importantes de dizer:
1. Percebo porque é que o Zach Galifianakis faz o mesmo papel nos dois filmes, na medida em que sempre o considerei muito menos engraçado do que o pintam;
2. Não percebo porque é que o Robert Downey Junior, que estava a recuperar a sua carreira, decidiu fazer algo tão fraco, e;
3. Não percebo como é que durante a edição do filme ninguém notou o gigantesco plot hole (estou a usar demasiadas expressões em inglês, mas não sei como traduzir isto) que é a cena de perseguição da polícia mexicana. Quem já viu sabe do que estou a falar.



Flash of Genius:


Um filme sobre o qual não sabia sequer da sua existência até o começar a ver é algo cada vez mais raro no meu mundo, mas ainda acontece – como aconteceu em relação a este filme.

Estamos perante um filme com muito pouca divulgação sobre a batalha judicial que se seguiu à invenção de uma coisa que também ela sobressai muito pouco mas que quase todos usamos: o limpa-pára-brisas intermitente. Confesso que não sabia sequer que só nos anos 60 é que esta tecnologia foi inventada, quanto mais o nome do inventor (Robert Kearns) e o caso judicial que o colocou a ele contra a Ford Motor Company.

Estão a ver algumas semelhanças com o The Social Network? Eu também pensei nelas, já que a nível de estrutura a história é semelhante: o tal momento de génio, a invenção e a posterior batalha pelo direito a lucrar dela. Só que, como era de esperar, para uma invenção mais aborrecida um filme mais aborrecido (sim, eu sou daquela minoria que considera o limpa-pára-brisas intermitente mais desinteressante que o facebook) e estes dois filmes não estão sequer no mesmo patamar.

Aqui, ao contrário do The Social Network em que tudo se passa a nível de ADR (Alternative Dispute Resolution) o caso vai mesmo a Tribunal e o nosso inventor solitário tem de se defender sozinho contra um gigante chamado Ford. É um tema recorrente em filmes mas mais uma vez aqui nada sobressai, já que não existe nenhum daqueles monólogos inspiradores tão típicos de filmes de Tribunal...só termos técnicos sobre, repito, limpa-pára-brisas intermitentes.

Acho que não ouvi falar do filme (ou se ouvi falar esqueci-me totalmente) por causa destas duas razões: em primeiro lugar porque o tema é desinteressante e quer as interpretações como a história são regulares e muito pouco marcantes, em segundo lugar porque – cheira-me – como consequência de toda a natureza pouco marcante do projecto, o filme não deve ter estreado em sala em muitos sítios.

Acho que esta seria uma boa avaliação para o filme, por acaso: um filme que se vê (não é desagradável) mas que por não ter nada que realmente se destaque ficaria bem numa qualquer madrugada da TVI. Nesse tipo de horário seria possível apanhar alguns espectadores por causa de uma das actrizes secundárias, Lauren Graham da série Gillmore Girls mas pouco mais que isso, já que o seu actor principal (Greg Kinnear, do Little Miss Sunshine, por exemplo), sendo o ponto alto de toda a produção, está bastante irreconhecível.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Fair Game

Fair Game:



Se a SMR anterior era a um filme de espiões que não é bem um filme de espiões, esta vai ser sobre um filme de espiões puro e duro, tanto que nem sequer tem um título original. Fair Game é o título de pelo menos outros 5 filmes, sendo que um deles envolve cangurus e deve ser muito bom.

Neste Fair Game, com a Naomi Watts e o Sean Penn em vez dos ditos cangurus, temos a história (verdadeira? já lá voltamos) de uma agente secreta da CIA cuja identidade foi exposta publicamente por causa do activismo do seu marido – um antigo embaixador que colaborou também com a CIA - contra a invasão americana do Iraque em 2003. O grande problema nesta questão é a suspeita (bastante fundada, ao que parece) de que essa “exposição” foi ordenada pela Administração Bush, contrariamente a todas as normas existentes sobre a protecção da identidade dos agentes secretos.

Quando me coloco a questão sobre a veracidade da história faço-o porque todo o filme parte do princípio que realmente o Plame Affair foi uma cruzada da Administração Bush contra o embaixador Joseph C. Wilson, levando na enxurrada a sua mulher. Não sei se foi ou não – acredito que sim, dadas as irrefutáveis provas de que as famosas armas de destruição massiva que levaram à dita invasão nunca existiram – mas dadas as variadas críticas feitas ao filme pela sua “construção de mitos históricos” é natural que se pense que algo foi exagerado para tornar a história mais dramática.

Independentemente disso, o que para esta SMR interessa é que o realizador Doug Liman fez um bom trabalho criando um thriller que não tendo perseguições e muitas explosões - tem uma cena secundária muito boa em que mostra aquelas explosões que todos nós vimos na CNN mas do solo, da perspectiva daqueles que com elas morreram ou ficaram feridos – consegue manter-nos on the edge of our seats pela forma como um Governo esmaga completamente alguém que supostamente deveria defender por forma a poder sustentar uma guerra sem justificação.

É óbvio que no meio das mais de 150.000 mortes que se estima terem sido consequência desta invasão e subsequente guerra o emprego da senhora Plame é, apesar de tudo, pouco relevante, mas num mundo em que todos os dias a Wikileaks lança novas achas para a fogueira em que a diplomacia norte-americana se está a queimar, seria importante que se desse mais atenção a esta história. Ela, como tantas outras, mostram que o conceito de bom e de mau não é objectivo, dependendo apenas de quem controla a forma como a informação é apresentada.

Alguém tem dúvidas de que se outro país agisse como os EUA agiram nesta guerra teria à sua perna ... os próprios EUA?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

The American

The American:



Antes de tudo o resto dois avisos à navegação: o mais recente filme de espiões com George Clooney não tem nenhuma das características típicas desses filmes e, surpresa!, não é sequer um filme com espiões.

Por isso, e para aqueles que – como eu estava antes – estão induzidos pelo marketing achando que estamos perante um filme de espiões dito normal, tenho de vos dizer o seguinte: amiguinhos, se querem ver explosões, fujam deste filme! Se querem ver um bom filme, fiquem com ele.

Eu (claro que) fiquei e que bem que fiz. The American é um filme lento e silencioso, o oposto ao tal cliché que muitas vezes associamos a um filme deste género, mas em nenhum momento me aborreci e em nenhum momento pensei que preferiria estar a ver outra coisa.

O herói desta história é Jack (ou Edward, conforme a pessoa com quem falem), um George Clooney muito longe do que costuma ser. Aqui é um “custom arms maker” – nope, não é um espião – que depois de se ver em apuros na Suécia é enviado pelo seu patrão para a localidade italiana de Castelvecchio. Daí salta para Castel del Monte e por lá fica, introspectivo e enigmático para os restantes habitantes (à excepção do padre Benedetto - Paolo Bonacelli, actor principal no único filme que me deixou enjoado: Salò o le 120 giornatti di Sodoma), enquanto prepara a sua próxima entrega sendo que quando sai fá-lo no seu Fiat Tempra (e não num Aston Martin) e para pouco mais do que para ter sexo (pago) sempre com a mesma pessoa, Clara (Violante Placido). Muito pouco 007, portanto.

É esta a história base do filme, mas de certa forma pode dizer-se que é meramente acessória. Aqui, o que é dito e feito é menos valioso do que é visto e reflectido. Não que sejamos nós, espectadores, que tenhamos de estar a pensar ininterruptamente para seguir a história (à la Mulholland Drive, por exemplo), quem apresenta estas características é Jack/Edward. Talvez seja defeito profissional talvez seja vontade de não repetir a asneira inicial, de uma forma ou de outra o sentimento de inquietude é permanente...mesmo naquela terriola de 463 habitantes Jack/Edward não tem descanso.

Volto a referir, não tem descanso interior, porque a nível físico basta dizer que a única cena de perseguição é numa scooter, e daí começar a fazer mais sentido a escolha de Anton Corbijn para realizar um filme desta temática. É que, para quem não sabe, Corbijn só fez um filme até agora (Control, biografia do Ian Curtis, vocalista dos Joy Division) e está mais habituado a lidar com imagens estáticas e silenciosas.

Daí a lentidão e o silêncio do filme, que não paro de referir. Daí este The American ser muito diferente do que seria se tivesse sido realizado por Paul Greengrass ou Michael Bay (se bem que o livro em que se baseia nunca permitiria muitas explosões, é certo). Daí ser um tão bom filme. Num mundo em que tudo o que é “fixe” é para ser vivido a 1000 à hora e com mais cores por metro quadrado que a strip de Las Vegas é bom podermos parar durante uma hora e tal e observar este quadro em movimento.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Easy A + This Film is Not Yet Rated

Easy A:



Uma adolescente de um qualquer liceu do Orange County está farta de ser invisível perante os seus colegas. Por motivos que não têm nada a ver com essa invisibilidade (embora as manobras promocionais do filme o queiram dar a entender) finge que já teve sexo, e logo com um estudante universitário (!). Daí começam os boatos e ela resolve aproveitar a fama de putéfia (que, no final de contas, acaba mesmo por ser) para ganhar popularidade e, porque não?, alguns trocos.

Resolvi ver este filme porque já tinha lido em vários sítios que era a "comédia adolescente definidora desta geração", tal como o American Pie e o Clueless já o tinham sido das anteriores.

Acontece que ao contrário desses dois, este Easy A não tem o mínimo de originalidade e, honestamente, não merece estar na mesma lista. Não que os outros dois sejam grandes obras de arte, que não são, mas pelo menos têm piada e de certa forma são realmente marcantes.

Aqui a única coisa marcante é a actriz principal, Emma Stone. Não só é a única interpretação digna de nota, como fiquei com vontade de a ver mais vezes. O resto é cliché atrás de cliché e muito poucas piadas. Não vale a pena perder tempo a ver.



This Film is Not Yet Rated:



No passado mês de Abril disse em relação ao The September Issue que era o primeiro filme que vi em duas metades e ambas em aviões. Este é o segundo, mas com menos piada porque foi na ida e na volta da mesma viagem e não a caminho de dois continentes diferentes.

Dito isto, falemos do filme.

Quem são as pessoas que, nos EUA, decidem as classificações dos filmes? Nunca tinha pensado nisso e vocês provavelmente também não. Se me perguntassem isso antes de ver o filme eu diria que era a MPAA, uma entidade oficial com representantes da indústria...e seria parcialmente mentira. É a MPAA, realmente, mas é uma entidade privada com membros secretos que têm mais afiliação religiosa que cinemática.

Neste documentário o realizador propõe-se a expor esta entidade. Consegue-o mas não me conseguiu deixar muito interessado. Vemos as suas tentativas de contacto directo com a MPAA, as detectives privadas que contrata para conseguir revelar os nomes dos seus membros e, a melhor parte do filme, alguns exemplos comparativos de filmes que foram considerados demasiado agressivos (a nível de violência ou sexualidade) e filmes que não o foram...com algumas surpresas.

Foi esse mesmo o ponto mais interessante do filme, porque tudo o resto é tratado de uma forma demasiado leve e ao mesmo tempo militante. O tema é interessante (uma diferente classificação pode significar diferenças de milhões em termos de facturação) mas merecia ser tratado com maior qualidade.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Machete

Machete:



Lembro-me de ser mais puto e a minha mãe dizer que depois de um dia de trabalho é bom ver algo "levezinho." Ora, na 3ª feira passada percebi totalmente o que é que ela queria dizer com aquilo. Felizmente (para mim e para vocês) ao contrário delas não me pus a ver novelas mas sim o Machete, nova obra do Robert Rodriguez.

Provavelmente já ouviram falar disto, mas este filme começou por causa do Grindhouse, esforço conjunto do Rodriguez e do Tarantino que em Portugal, e em grande parte do mundo, foi apresentado como dois filmes separados. Pois nos sítios onde passou como um só, à boa maneira dos antigas exibições de série B, entre os filmes houve direito a uma série de trailers falsos...um deles era o de Machete, e foi por causa do sucesso do trailer que hoje temos a longa-metragem.

E "levezinho" ele é! Não levezinho no sentido em que não tem membros decepados, cabeças decapitadas, telemóveis inseridos dentro de vaginas ou olhos furados com saca-rolhas, nada disso. Quando digo levezinho é no sentido em que é tão brainless que pela primeira vez em muito tempo nem sequer tirei notas ao longo do filme.

Nem é preciso, senão vejamos o resumo: Machete (Danny Trejo, no seu primeiro papel principal em mais de 200 filmes) é um federale (FBI mexicano, mais ou menos) traído por um barão da droga. 3 anos depois já está nos EUA e cai-lhe uma oportunidade de vingança de pára-quedas...claro que a aproveita e pelo caminho mata tudo e mais alguma coisa, usando como armas preferenciais facas/machetes/os tais saca-rolhas, mas basicamente tudo o que mate causando alguma dor.

Para além disso (mortes a torto e a direito) a história resume-se a mais duas coisas: gajos muito manhosos e gajas muito boas. Sim, para quem julga que o Machete é pouco atraente, o senhor safa-se com as seguintes meninas ao longo do filme: Shé (Michelle Rodriguez, e sim o nome do é uma piada ao Ché), Sartana (Jessica Alba) e April (Lindsay Lohan)!

Para além deste trio feminino, o filme conta ainda com as presenças do mítico Steven Seagal, Don Johnson (o gajo do Miami Vice original!), Jeff Fahey e - surpresa das surpresas! - Robert de Niro. Sim, o mesmo Robert de Niro que já ganhou dois Óscares faz aqui de governador do Texas com um especial desrespeito pelos mexicanos e aprende umas quantas lições de um tal mexicano. O Danny Trejo a dar cabo do canastro ao Robert de Niro, que mundo é este?

É o mundo de Machete, em que nada é sério e, consequentemente, tudo é permitido. É isso que faz o filme divertido; tem algumas cenas mais pesaditas, e uma que poderia causar polémica se o filme fosse mais sério, mas quando a frase mais marcante do filme é "Machete don't text" e posteriormente temos diálogos como:

"Sartana: I thought Machete don't text. Machete: Machete improvise."

temos mais é que desligar o cérebro e viver aquele mundo por alguns momentos.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

The Social Network

The Social Network:



E cá está ela, a prometida SMR ao The Social Network, filme que foi adoptado em quase todo o mundo como sendo “o filme do facebook”.

É verdade, amiguinhos que têm vivido numa caverna desde 2007 (ou 2004, se forem americanos), existe um site chamado facebook que é neste momento, em termos de “população” o terceiro maior país do mundo, com 500 milhões de membros. Este é um filme que conta as suas origens, em 2004 (apenas em 2004!).

Disse “um” filme e não “o” filme porque é preciso fazer-se sempre esta ressalva: o filme é baseado num livro escrito por Ben Mezrich baseado nas informações dadas pelo primeiro CFO do facebook Eduardo Saverin (que, vemos no filme, não pode ter uma visão objectiva) e não teve qualquer informação pelo lado do Mark Zuckerberg, fundador do site e génio anti-social que é aqui interpretado pelo (surpreendente) Jesse Eisenberg.

O resto, poderia dizer-se, é história. Mas não é bem assim, uma das coisas mais estranhas do filme foi – para mim – pensar que todos aqueles eventos decorreram há 5 anos, precisamente quando também eu estive nos EUA e muitas vezes fui à zona da Califórnia para onde eles foram viver. Devia ter conhecido o Mark, apostado naquilo e agora era tão rico que não precisava de escrever críticas de cinema para sustentar a família.

Mas deixemo-nos de considerações parvas. O filme é BOM, assim mesmo com letra grande. E porque é que é bom? A resposta imediata seria “Porque quando acabou estava pronto para mais uma horita daquela história, fiquei mesmo com pena de ter acabado” mas vocês exigem de mim mais que uma resposta imediata, por isso venha a resposta extensa.

Porque como seria de esperar do David Fincher (realizador de que, reparei há pouco tempo, vi todos os filmes) toda a história nos é apresentada de uma forma brilhante e com um ritmo devastador. O primeiro diálogo entre Mark e a sua namorada de então, Erica (que segundo o filme foi a razão pela qual o facebook foi criado, mas aqui acho que houve alguma criatividade), dá o mote: apresenta-nos a personalidade de Mark e sobretudo seu ritmo, mental e verbal, que poucos de nós teríamos paciência para aturar se ele fosse algum colega de trabalho ou de escola mas que para a história funciona na perfeição.

A partir daí a coisa constrói-se através de flashbacks e flashforwards que nos transportam entre os vários locais onde as coisas aconteceram (dormitórios de Harvard, onde o Mark estudou, a tal casa de Palo Alto que já referi, os escritórios em San Francisco, etc.) e os locais – também eles reais – onde as também reais sessões de arbitragem entre Mark e aqueles que procuraram ser compensados pelo seu trabalho (ou não) para a criação deste fenómeno.

É que como diz o poster deste filme, não é possível fazer 500 milhões de amigos sem se fazer uns quantos inimigos. Isto aconteceu nesta história e os tais inimigos foram por um lado Eduardo Saverin, primeiro CFO da empresa e que basicamente foi enrolado até ficar com uma percentagem mínima das acções, e por outro os irmãos Winklevoss e Divya Narendra, que afirmam ter contratado Mark para os ajudar na programação de um site semelhante cuja ideia, dizem, foi apropriada para o facebook.

Sim, o “filme do facebook” é na sua base um court-room drama, mas nem por um momento sentimos associado a ele aquela ideia – generalizada – de que as disputas judiciais são uma seca. Quanto as vemos elas são electrizantes e, na minha opinião, cómicas dado o sentido de humor sequíssimo do fundador da rede social que todos nós usamos e quando somos transportados para fora dela também não temos de lidar com conversas de geeks...Mark é, sem dúvida um geek mas neste caso (e não na vida real, segundo me parece) a presença de Sean Parker (interpretado por um Justin Timberlake que me agrada infinitamente mais como actor que como cantor) só traz benefícios ao filme.

Com ele vêm as festas, vêm os momentos de euforia, o crescimento da empresa – será que seria a mesma sem ele? – mas também os seus maiores problemas. No final fiquei sem qualquer dúvida de que foi ele que tramou Eduardo e não pude deixar de pensar – ao contrário do que tem sido a opinião dominante – que Mark não é assim tão mau como o pintam, ele é apenas um gajo (mais novo que eu) muito enfiado no seu mundo e que, a dada altura, foi levado pela excitação de dominar algo muito maior que ele e com isso lixou quem o tinha ajudado.

Esta história, única, é assim a base de um filme também único - é o primeiro filme sobre uma pessoa viva tão nova (26 anos) - e é, sem dúvida, um empolgante retrato do que deve ter sido uma empolgante experiência.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

You Will Meet a Tall Dark Stranger

You Will Meet a Tall Dark Stranger:



Antes de mais começo por pedir desculpa por andar a fazer posts com tanto atraso. Tenho tido imenso trabalho, muito pouco tempo e como tal procuro gastar o que tenho a ver filmes e não a escrever sobre eles. Fica hoje esta SMR e a promessa de em breve fazer a do The Social Network, que também já vi e – adianto – adorei. Passemos agora ao novo Woody Allen.

Em três palavras: nada de especial. Saí da sessão, a última que vi no Estoril Film Festival deste ano, a pensar que se não fosse ser um filme do Woody Allen nenhuma das estrelas que participa participava e nem um décimo dos espectadores veriam este filme, e desses ainda menos diriam que gostavam.

Há muito que a qualidade do senhor vem decrescendo. É normal, está mais velhote, coitadinho, e a cabeça já não dá para tudo...e neste filme parece que a dada altura deixou mesmo de dar e a história ficou a meio.

Foi isso o que mais me desentusiasmou no filme...as histórias são muito fraquinhas (já as vou resumir num próximo parágrafo) mas podiam ao menos ter acabado. Assim dos 5 ou 6 personagens do filme só dois é que vêm a sua história chegar a um (insatisfatório) fim, sendo que as outras deixamos de as ver como se ainda voltássemos a encontrar-nos mas não.

Deu-me ideia que estava a ver um episódio prolongado (e melhor) de uma novela, sabem? No centro da trama temos Sally e o marido (Naomi Watts e Josh Brolin), casal apenas feliz em aparência, e é por causa deles que conhecemos tanto os pais dela (Anthony Hopkins e, a melhor interpretação do filme, Gemma Jones) - que se divorciaram para o senhor poder estoirar a fortuna com uma prostituta de luxo enquanto a senhora consulta uma taróloga falsa – e ainda o seu chefe (António Banderas) e uma vizinha giríssima (Freida Pinto). No final de contas só uma das histórias tem efectivo final (não vou dizer qual para não me acusarem de ser um spoiler humano) e, ao menos isso, não é o final mais previsível.

Para contar esta história temos os habituais artifícios do Woody Allen: um narrador (será que ainda há outros realizadores a usar narrador com tanta frequência?), piadas existenciais em que o ratio de sucesso está bem abaixo do melhor que o senhor consegue fazer e uma banda sonora de jazz de – parece-me – boa qualidade que vai dando um ambiente mais animado a este que é, a meu ver, a seguir ao Cassandra’s Dream o pior filme “londrino” do mais famoso realizador de Nova Iorque.

Apetece parafrasear o próprio filme, que cita Shakespeare, quando diz que a vida é apenas “sound and fury, signifying nothing”. Este filme é o mesmo, uma hora e trinta e oito minutos que acabam por não adiantar nada à nossa vida.

P.S.: Lembram-se do que disse no primeiro post EFF deste ano sobre o festival estar a perder qualidade? Pois nesta sessão confirmou-se...começou com uma hora de atraso pura e simplesmente porque não conseguiram gerir bem os horários dos filmes. É uma pena para um evento com tanto potencial.

domingo, 14 de novembro de 2010

Scott Pilgrim vs. The World

Scott Pilgrim vs. The World:



A história do cinema está cheia de maus filmes que adaptam videojogos, veja-se o Alone in the Dark ou aquele que foi o primeiro filme que vi sem os meus pais, no dia do meu 12º aniversário, o grandioso Street Fighter (com o Jean-Claude Van Damme).

Pois o Scott Pilgrim vs. The World não é uma adaptação de qualquer jogo (o jogo veio depois) mas antes adapta uma BD e é - sem sombra de dúvidas - o mais próximo de um jogo que o cinema já viu. Tem barras de energia? Tem! Tem 1up's? Tem! Tem pee meters? Tem! (E será que há algum jogo com pee meter? Não que me lembre).

Scott Pilgrim é o protagonista desta nossa história. É interpretado pelo Michael Cera, que pela primeira vez parece começar a soltar-se do personagem padrão que representa sempre, o geek meio trapalhão meio bem sucedido com um determinado tipo de miúdas. O Scott de Cera (e reparem no C maiúsculo, se fosse minúsculo estaria a referir-me a uma estátua do Madame Tussaud's) não deixa de ser geek mas é-o com estilo: toca baixo numa banda e - estranhamente - tem bastante sucesso com as miúdas.

Uma dessas miúdas digamos que lhe rouba o coração. Chama-se Ramona Flowers e é bem mais vivida que o nosso amigo Scott. Tem, aliás, bastante bagagem: sete "evil ex-boyfriends" (ex-namorados maldosos soa mesmo mal) que o nosso herói terá de combater.

Partindo dessa premissa o realizador Edgar Wright (o mesmo do Shaun of the Dead e do, genial, Hot Fuzz) cria basicamente o impossível. A mínima coisa poderia fazer descarrilar o filme e torná-lo impossível de se ver, mas incrivelmente tudo corre bem e - tirando o demasiado tempo dedicado às lutas - ficamos com um filme muito bom.

Será que Scott vai ficar com a sua Ramona? Será que algum dos malvados vencerá? (pareço a voz off do Dragon Ball, eu sei) Será que os seus Sex Bob-omb vencerão o Battle of the Bands? Será que Knives, a sua ex-namorada colegial/stalker assassina reconquistará o seu amor e fará dele o parceiro ideal do Dance Dance Revolution?

É difícil explicar o que se passa na película, dada a insanidade de tudo o que vamos vendo, mas faço o apelo que o Nuno Markl fez e digo-vos que é daqueles filmes que devem mesmo ser vistos numa tela enorme e com o volume bem alto (se bem que eu sou daqueles que acredita que TODOS os filmes devem ser vistos no cinema), sobretudo pelas cenas de acção completamente over the top.

Scott Pilgrim vs The World tem muito humor, tem (demasiada) acção, tem muito boa música (composta de propósito pelo Beck e os Broken Social Scene, entre outros) e tem as melhores piadas vegan de todos os tempos. Nem que seja por isso devem ir vê-lo, mas se não vos chegar volto a parafrasear outros críticos, desta vez a Empire, dizendo que no futuro próximo existirão muitos filmes neste género, felizmente este é o único que é realmente bom.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Winter's Bone

Winter’s Bone:



Antes de ir para o Centro de Congressos do Estoril (uma das salas do Estoril Film Festival) falava com uma amiga que me perguntou como é que escolho os filmes que quero ver nos festivais? A resposta que lhe dei, neste caso, é que já tinha ouvido o muito hype positivo que o Winter’s Bone tem tido junto da crítica. Posso agora juntar-me a esse hype e recomendar vivamente que o vejam assim que estrear nas salas comerciais ou, porque não é um filme muito mainstream, quando for directamente para DVD.

Sabia do hype antecipadamente mas não sabia quase mais nada, à excepção de ser protagonizado por uma actriz muito jovem (Jennifer Lawrence), que dava uma lição a muitas outras bem mais experientes. Também isso posso confirmar, a protagonista está constantemente em cena (penso que não há nenhuma cena sem ela, mesmo) e em todas elas dá razão a quem já vaticinou uma nomeação ao Oscar de melhor actriz.

Ela vai realmente muito bem mas não é a única. Teardrop, seu tio e derradeiro protector (se bem que com métodos muito pouco convencionais), é interpretado por John Hawkes, protagonista de Me, You and Everyone We Know e está tão diametralmente oposto desse e de outros seus papeis que só posso aplaudir a sua prestação. O negócio de um actor é transformar-se e com ele só me apercebi de quem era depois de ler no IMDB, apesar de durante o filme achar sempre que já tinha visto aquela cara.

O que também é muito bom é a realização de Debra Granik, realizadora independente que assina aqui a sua segunda obra. Todo o ambiente do filme é metálico (a luz, as cores, os sons) e feio, quase assustador, chegando a parecer-se por vezes com o The Road mas com a agravante de aqui tudo ser real. Este mundo existe, situa-se no Norte dos EUA (Ozark Mountains) e é um retrato realista da América, muito mais do que o que se costuma ver em filmes de Hollywood. Ao longo do filme pensei que deveria comparar-se esta jovem de 17 anos (é essa a idade da protagonista) e as que entram no programa My Super Sweet 16, da MTV...dificilmente pensaríamos que se tratam de cidadãs do mesmo país.

Finalmente, a tudo isto junta-se uma boa história. A premissa em si não é nada de outro mundo: uma jovem precisa de encontrar o pai para poder continuar a viver a sua (já de si muito difícil) vida, mas o que mais me deixou bem impressionado foi a capacidade que o filme tem de nos mostrar como é que aquela gente vive. Numa região perdida nos confins dos EUA as regras ainda são muito próximas do que ligamos a filmes de cowboys. A honra, o sangue e sobretudo o silêncio perante a lei (assim chamam à polícia) são valores acima dos quais ninguém deve passar, sob pena de sofrer duras consequências. Ree ousa confrontar essas regras, fá-lo por duas simples razões: Sonny e Ashlee, seus irmãos bastante mais novos e únicas razões pelas quais ela – que não pertence realmente àquele mundo miserável – não foge em busca de uma vida melhor.

Só depois de sair do cinema é que soube que este filme tinha ganho dois importantes prémios em Sundance. Confirma-se portanto o hype e agora, depois da minha recomendação, ainda mais. Vejam o filme quando puderem, vão sair deprimidos mas ao mesmo tempo satisfeitos por terem ganho (não perdido) aqueles minutos.





P.S.: Como já referi, vi o filme no âmbito do Estoril Film Festival. É a terceira edição seguida a que vou e das três fiquei com a ideia de que esta está pior que as anteriores (mas também posso estar mais exigente, é possível). Ou eu estou ceguinho ou não existem sinopses dos filmes no site e as mudanças repentinas de sala bem como reels com as legendas todas descoordenadas não ajudam à boa reputação do evento. Lá estarei em 2011 (e noutras sessões de 2010) para ver se melhora.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

She's out of my league

She’s out of my league:



Sabem aqueles filmes com uma premissa que mostra algum potencial mas que acabam por não dar em nada? Leitores, apresento-vos She’s out of my league, She’s out of my league, apresento-te os meus queridos leitores.

Agora que já se conhecem permitam-me desenvolver. A premissa do filme (a tal que tinha algum potencial) tem a ver com a teoria de que cada pessoa tem uma capacidade de atracção que, de acordo com os amigos do personagem principal, Kirk (Jay Baruchel, a fazer-me lembrar um dos leitores deste blog, e ele sabe quem é), se exprime por um valor de 1 a 10, sendo que não é possível dar um salto de mais de dois valores. Ou seja, uma pessoa de nível 6 pode, no máximo, aspirar a um 8 mas nunca a um 9 ou um 10.

Enquanto premissa para uma comédia à la American Pie a coisa poderia ter piada, se bem explorada. O problema é que a tal ideia, que até é mencionada no poster, acaba por não passar de um mero adereço no panorama geral do filme, em que o típico geek que não tem onde cair morto tem a “sorte” de ter a típica rapariga giraça e cheia de potencial (e dinheiro) apaixonar-se por ele. É uma má história de amor disfarçada de (menos, mas ainda assim má) comédia romântica.

Para além do mau uso dessa premissa, o filme a meu ver tem duas grandes falhas: em primeiro lugar deveria ser óbvio que para este tipo de filmes a química entre os actores principais é essencial. Não deve ter sido esse o entendimento do realizador (Jim Field Smith) ao escolher Alice Eve como a sua protagonista, porque a rapariga não só não tem química com o seu par como nem sequer a tem com a câmara. É uma actriz fraca que poderia ter compensado isso com charme (veja-se a Cameron Diaz em The Mask, por exemplo) mas que não consegue passar nada de nada.

O outro problema é o modo piloto automático em que o guião deve ter sido feito. Ambas as partes deste suposto casal maravilha têm os seus side-shows, com nenhuma originalidade: temos o amigo que toda a gente diria que é gay até ele dizer que é casado, temos a amiga cabra e temos o irmão idiota, entre outros.


O que temos no final de contas é um filme que gostaria de ser um 5 (nota positiva), mas que só com muita sorte conseguirá dar esse salto...






... e se não perceberam o parágrafo anterior releiam o segundo parágrafo desta SMR.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Shoot Me + The Town

Shoot Me:



Já disse aqui imensas vezes que gosto quando os cinemas passam curtas-metragens antes dos filmes, é uma prática muito saudável sobretudo porque caso contrário é praticamente impossível vermos curtas fora de festivais.

Dito isto, a exibição desta curta-metragem portuguesa antes do americano The Town percebe-se pouco. Em primeiro lugar, e neste caso por razões objectivas, porque o filme "principal" é bastante longo por si só e como tal ter mais 20 minutos acrescentados estica a sessão de cinema um bocadinho para além do desejável. A segunda razão é subjectiva, os filmes não têm nada a ver um com o outro! Bem sei que não têm de estar relacionados, mas parece-me que havia emparelhamentos mais fáceis de se fazer.

A história de Shoot Me fez-me lembrar o Belle de Jour, já que Teresa (a protagonista) é uma mulher insatisfeita com a sua relação que aproveita alguns momentos de privacidade para dar uma voltinha por fora, chamemos-lhe assim. Essa voltinha é, aliás, o único momento que gostei do filme: tudo o resto é demasiado formal (a seguir a - má - escola do cinema português) e o final bastante previsível.

Tem, porém, a vantagem de sustentar um dos meus celebrity crushes e sustentar a minha afirmação de que a Maria João Bastos é uma das mais sexy mulheres portuguesas.


The Town:



O segundo filme deste double-post, e segundo filme da sessão, é também o segundo filme realizado pelo Ben Affleck.

Não vi o primeiro, Gone Baby Gone, mas teve excelentes críticas na concorrência e um dia que o apanhe por aí terei todo o gosto em vê-lo porque, frase que nunca pensei dizer, o Ben Affleck é bom, caraças!! Sim, é melhor atrás das câmaras que à frente, como o seu Óscar já poderia indicar (sim, amigos, o Ben Affleck já ganhou um Óscar), e agora pode gabar-se de dizer que está a atingir um bom patamar a nível de realização.

Não vão à espera de ver imagens à Terrence Mallick ou uma edição à Tarantino, mas neste filme - que resumidamente é sobre assaltos a bancos - conseguimos sentir-nos no meio de um jogo do gato e do rato, precisamente a sensação que devemos ter neste tipo de histórias.

Será que quem ganha esse jogo é Doug (Ben Affleck, também bem à frente da câmara) e o seu gang - no qual se inclui o James de Jeremy Renner, a grande interpretação do filme - ou sairá o FBI vencedor? Só o descobrimos (literalmente) na cena final, mas entretanto vamos assistindo a excelentes cenas de perseguição através de uma cidade de Boston mostrada por um acérrimo fã.

Por acaso isso foi um ponto extra a favor do filme. Estive recentemente naquela cidade e foi giro re-descobrir alguns dos locais que visitei (nomeadamente o tal bairro de Charlestown, por onde passei sem ter noção da fama). De qualquer forma, mesmo que nunca tenham lá ido e odeiem quem lá foi o filme vale a pena; não é um instant classic mas é um dos melhores filmes tipicamente"de gajo" que vi nos últimos tempos. As raparigas é que se calhar não lhe acham tanta piada.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Wall Street 2: Money Never Sleeps



Que o dinheiro nunca dorme já nós sabíamos, agora que o realizador de um filme adormece enquanto o realiza isso sim seria novidade. Pois foi com essa impressão com que fiquei em dois momentos do filme: as "sessões de formação" sobre o funcionamento da Bolsa e aquele grande disparate que é a cena final.

Mas já lá vamos, que o filme também tem coisas boas. É, aliás, merecedor de uma nota final positiva mas não se safaria de ir à oral.

A razão que levou Oliver Stone a realizar uma sequela ao seu Wall Street, de 1987, mesmo depois de ter dito que nunca realizaria sequelas faz algum sentido: a actual situação económica pede mesmo para que se continue a explorar o funcionamento do sistema financeiro mundial. Pegando nisso, Oliver Stone e a sua equipa de guionistas (que teve bastante rotatividade, ao que sei, o que poderia explicar aqueles tiros no pé a que já me referi) fizeram Gordon Gekko, o famoso protagonista do primeiro filme, sair da cadeia e cair de "pára-quedas" num mundo que avançou a um ritmo avassalador.

Gordon Gekko (Michael Douglas, que é sem dúvida um dos dois pontos fortes do filme mas que apesar de tudo não está à altura da prestação de 1987) pode ter estado na cadeia enquanto as novas regras especulativas foram definidas mas não perdeu o jeito para aquilo e é assim que, abandonado pelos seus pares mas admirado por muitos, resolve aproximar-se de Jacob (Shia LaBeouf, que já parece um adulto) e, aproveitando-se da admiração que este lhe nutre, voltar a encher-se de dinheiro.

Se a história fosse esta a coisa até tinha potencial, era aqui que o desenvolvimento da história devia ter acabado mas não, não se fica por aqui. Acontece que Jacob é não só um personagem muito mal definido (um corretor da bolsa com muito boas intenções?) mas, sobretudo, é namorado da filha de Gekko...uma Carey Mulligan que não me consegue agradar minimamente e que, adivinhe-se, não fala com o pai pela desgraça que este causou.

A partir daqui é tudo downhill, como se costuma dizer. Não faz sentido nenhum dar tanta atenção às crises de um casal num filme que tem como grande foco de atracção o mundo financeiro. E aquele final, minha nossa, aquele final é tão mau que até ao longe se consegue topar o que é que a produtora disse ao realizador: "Pois é, meu amigo, isto é tudo muito bonito mas agora queremos abracinhos!". E assim se fez...um filme que poderia ser o An Inconvenient Truth da alta finança acaba, nos minutos finais, por se transformar num qualquer filme romântico da Sandra Bullock. Não vos vou dizer o que é que se passa para não estragar o filme a quem o quer ver, mas digo-vos que ainda não conheci ninguém que já o tenha visto e tenha gostado do fim.

Falei aí do An Inconvenient Truth de propósito, já que este filme consegue - no meio dos dramas familiares de Jacob e a menina Gekko - espetar-nos com uma data de informações sobre como funciona a Bolsa e como se produziu esta crise financeira. Seria à partida uma boa ideia já que, presumo eu, a maioria das pessoas que vão ver o filme não serão génios do mercado de capitais e, tal como eu, não perceberiam metade dos diálogos se não fossem explicados.

O que acontece, porém, é que ficamos então com três filmes: a sequela do Wall Street original (a parte mais forte do filme, e que faz com que apesar de tudo a minha apreciação seja positiva), o drama familiar que não veria nem que passasse ao Domingo à tarde na TVI, e o documentário sobre o funcionamento da Bolsa que seria muito mais bem vindo se tivesse passado, por exemplo, como uma curta metragem antes do filme.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Doc Lisboa dia 7: nadinha de nada

Hoje tinha planeado ir ver o Skinhead Attitude. Fui hoje à hora do almoço comprar os bilhetes e informaram-me que já estava esgotado.
Como já não vou a mais nenhum filme do Doc este ano aproveito para me despedir (do festival, não das SMR) e sugerir a alguém que tenha visto o filme para me mandar a sua crítica, para eu a publicar aqui.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Doc Lisboa dia 5: Crossing the Bridge: The Sound of Istambul

Crossing the Bridge: The Sound of Istambul:


Há muito que não passava tanto tempo de olhos fechados durante uma sessão de cinema!

Não tenho por hábito dormir em salas de cinema. Por muito cansado que esteja consigo (quase) sempre manter-me de olhos abertos e ver o filme com atenção, sendo a única excepção que me recordo o Topsy Turvy, e mesmo esse só adormeci em condições muito especiais.

Em Crossing the Bridge, um filme de Fatih Akim realizado antes do aqui analisado Soul Kitchen mas só agora exibido (pelo menos perante os meus olhos) também não adormecei. Apanhei-vos não foi, marotos? Passei muito tempo de olhos fechados porque num filme em que a música assume todo o protagonismo valeu a pena apreciar assim mesmo o som que vem do magnífico sistema de som do São Jorge.

Já tinha dito na SMR ao Soul Kitchen que a banda sonora era de primeira qualidade e aqui pude confirmar que o realizador tem muito bom gosto musical. Neste filme resolveu explorar as várias cenas musicais de Istambul, capital do seu país de origem, desde a música tradicional ao hip-hop, e o resultado final é - a nível sonoro - muito bom.

Ao longo da hora e meia do filme é Alexander Hacke (baixista dos Einstürstende Neubaten) que nos guia pelas ruas de Istambul para nos apresentar algumas das suas descobertas musicais. É curioso que apesar do título e do foco geográfico do filme a cidade em si não tem muito protagonismo, sendo pouco explorada enquanto espaço urbano mas apenas como ponto de encontro de culturas musicais diversas.

É por isso que não somos apresentados a monumentos como a Hagia Sophia ou ruas como a Ataturk Boulevard e quando os vemos é mais por recurso a imagens de arquivo que propriamente com filmagens feitas pelo realizador. O (excelente) trabalho de Fatih Akim neste filme é sobretudo o de fazer uma excelente edição de imagem e som, em que a música, as entrevistas e as opiniões do narrador se fundem de uma forma tão boa que não queremos deixar de conhecer mais aprofundadamente aquela música. O único problema é, a meu ver, o ter optado pela música mais calma para o final do filme...em termos de energia do público a coisa provavelmente funcionaria melhor ao contrário.

Se são apaixonados por Istambul e não se interessam muito por música não vale a pena. Se são como eu (e muitos de vocês são, que eu bem sei) e têm na música uma outra grande paixão toca a ver este filme e a descobrir (consoante o gosto) os Baba Zula, os Duman, os Replikas, o Ceza ou Orhan Gencebay (vale a pena carregar no link nem que seja só para ver O bigode). Eu gostei de os descobrir e posso confirmar que já estou a fazer as minhas próprias explorações.


O filme passa de novo dia 23 às 23h.


P.S.: Um pormenor que quase ninguém reparou, aposto, é que foi o Andrew Bird a fazer a edição de filme. Não é o Andrew Bird que muitos de vocês podem conhecer do meio musical, mas isso não interessa nada!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Doc Lisboa dia 4: Claude Lévi-Strauss: Return to the Amazon

Claude Lévi-Strauss: Return to the Amazon:



Já conhecia o nome de Claude Lévi-Strauss há uns tempos. Não me lembro em que contexto ouvi falar dele mas devo confessar que quando vi o nome no programa no Doc não o associei a nada, tanto que nem estava nos meus planos ir ver este filme. (Ia ver o Hitler's Hit Parade, que estava esgotado hoje...deviam ter posto este filme numa sala maior, senhores organizadores)

Foi, portanto, por acaso que dei hoje por mim no cinema Londres a ver aquele que muito provavelmente será o meu filme preferido desta edição do festival. A descrição não o deixaria antever, as minhas expectativas não o previam mas aconteceu.

Ainda mais que na ficção, a principal razão pela qual adoro documentários é o poder testemunhar histórias que não a minha, ver realidades que não conheço e viver vidas que não vivi e neste filme tive a sorte de ser apresentado à realidade do povo Nambikwara, estabelecido algures na floresta amazónica e estudado pela primeira vez em 1939 pelo senhor que ainda hoje é considerado o pai da antropologia.

Os Nambikwara são um povo indígena que teve o azar (ou a sorte, para quem pense ao contrário de mim) de ver o seu território cruzado pela linha telegráfica logo em inícios do século XX. Claro que isso facilitou o seu encontro com o "homem branco" e a consequente miscigenação cultural (sim, usei a palavra miscigenação). Felizmente ao longo do filme vemos imagens fotográficas e até alguns vídeos filmados por Lévy-Strauss intercaladas com imagens actuais dos restantes Nambikwara e conseguimos aperceber-nos que algumas tradições ainda se mantêm.

Enquanto que noutras ocasiões aproveitaria para falar agora dessas tradições, aqui não o vou fazer - é realmente complicado aprofundar muito as minhas ideias sobre tradições que desconheço e que apenas vi neste filme - mas não quero deixar de referir que fiquei contente por ver que mesmo após anos de "colonização" destes povos indígenas as tradições ainda se mantêm, contra todas aquelas coisas que nós vemos como básicas mas que para gente de outros povos não o é.

Esperemos é que, com a crescente exploração da floresta amazónica para fins económicos, estes povos consigam mais uma vez sobreviver. Honestamente parece-me mais difícil, porque agora o inimigo é maior e mais destrutivo, mas espero estar enganado e daqui a uns anos poder ver uma espécie de sequela deste filme, em que nos mostrem as crianças que vi hoje a viver como adultos da sua cultura.




P.S.: Não, não me esqueci de fazer SMR ao filme de ontem, não vi foi filme nenhum. Fica aliás o aviso que não haverá posts todos os dias do Doc. É verem quando haverá

sábado, 16 de outubro de 2010

Doc Lisboa dia 2: Congo in Four Acts

Congo in Four Acts:



Avaliar um documentário é mais difícil que avaliar ficção, mesmo quando só se diz disparates como eu. É que de tempos a tempos lá vem um daqueles filmes que parece não ter qualquer "factor de redenção" mas que ainda assim tem algum interesse.

Este Congo in Four Acts é um desses casos: nenhum dos seus 4 actos (Ladies in Waiting, Symphony Kinshasa, Zero Tolerance e After the Mine) tem uma temática daquela que nos enchem as medidas. Já vou dizer quais as histórias, mas por agora fica a informação de que são 4 curtas de 4 realizadores congoleses que foram editadas para que se tornassem apenas uma longa.

Quando digo editadas quase tenho de me rir, porque para mim colocar um separador preto com letras brancas entre os filmes sem explicar minimamente o contexto do filme, sem haver algo que se pareça com um narrador e sem haver o mínimo fio condutor não me parece tanto um trabalho de edição como o que na realidade é - utilizar o copy/paste não no Word mas no iMovie.

É assim que caímos em Ladies in Waiting, a primeira das curtas, verdadeiramente de pára-quedas numa maternidade de uma cidade que não é em Kinshasa mas que também não nos é explicado onde é. Aqui o que é interessante ver é o facto de a maternidade aceitar pagamentos em espécie (i.e., deixar os brincos ou a televisão) e o prender as mulheres lá dentro enquanto não pagam as contas.

É assim que caímos em Symphony Kinshasa, o pior dos filmes (já que nem dentro do próprio filme tem o tal fio condutor) mas que tem como mensagem mostrar as quantidades absolutamente gigantescas de lixo que poluem as ruas de Kinshasa e os efeitos das frequentes cheias da cidade.

É assim que caímos em Zero Tolerance, o melhor dos filmes, uma espécie de Cops à congolesa, em que seguimos uma agente da polícia enquanto ela tenta resolver dois crimes que não aconteceriam nos EUA (daí nunca irem aparecer no Cops) dois jovens de 13 anos que violaram e espancaram uma senhora alcoolizada supostamente "para a obrigarem a ir para casa descansar" e outro que - segundo a vítima - violou uma senhora idosa que, segundo o acusado, apenas a estava a proteger, apesar de ser bruxa e lhe querer matar a família toda.

É, finalmente, assim que caímos em After the Mine, em que vemos como a população que sobrou após o encerramento de uma importante mina diamantífera vai sobre vivendo, mas sempre com recurso à única técnica de realização que os realizadores parecem conhecer: ligar a câmara e ouvir as pessoas falar. Este método, de parecer que apenas se ligou a câmara, funciona bem quando a edição e montagem são bem feitas, aqui não.

Nenhum deles tem grande interesse, mas apesar de tudo fiquei satisfeito por através deles ver a realidade de um país onde creio que nunca irei. Também me deu para reflectir um pouco sobre as minhas ideias quanto à ajuda ao desenvolvimento (já tenho um livro sobre o assunto na minha lista de leituras e tudo) mas vou poupar-vos ao sofrimento e não vou expor as minhas ideias aqui, não hoje.

Se quiserem voltar a ver este filme no Doc Lisboa basta deslocarem-se ao Londres dia 17 às 16h30 ou dia 23 às 22h30.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Doc Lisboa Dia 1


Chegou Outubro e voltou o Doc Lisboa, o meu segundo festival de cinema favorito. Devo dizer que em tempos já esteve empatado em primeiro lugar com o Indie, mas já apanhei tantas secas com documentários chineses que o meti em segundo lugar, mas muito muito próximo.

Ao longo destes dias de festival (que decorre até dia 24) tentarei actualizar o blog da mesma forma que fiz no Indie, SMR apresentadas no próprio dia em que vejo o filme, para que quem queira ver o filme ainda o possa fazer em eventuais reposições. Aviso já é que não terei o mesmo ritmo (40 filmes em 11 dias é imbatível!) porque agora tenho bastante menos tempo. Mesmo assim serei cliente assíduo.

Passemos, então ao primeiro filme que vi no Doc Lisboa 2010. Vamos a isso? Vamos!


Oil Rocks:


Existem três tipos de documentários que merecem ser vistos: os que têm um tema interessante e não estão lá muito bem feitos, os que são muito bem feitos e com isso compensam o tema menos interessante e, finalmente, os que têm um tema interessante e estão muito bem feitos. Neste caso diria que estamos perante um filme da primeira categoria.

Não que tenha alguma crítica em concreto em relação ao modo como o filme foi realizado (tirando o não ter respondido a uma questão que é mencionada e merecia ser explorada), mas a sua curta duração e o tom marcadamente neutro, consequência natural da profissão do realizador - jornalista, fazem-me pensar que este filme seria uma excelente reportagem num programa como o 60 minutes.

Mas o que realmente interessa aqui é o tema, e o tema de Oil Rocks, que tem ainda o sub-título de City above the Sea, é a plataforma petrolífera de Neft Daşları no Mar Cáspio, Azerbeijão, nada mais nada menos que a maior plataforma petrolífera do mundo, em área.

O título não é um exagero, Neft Daşları é literalmente uma cidade...ao contrário das plataformas petrolíferas habituais aqui encontramos centenas de estruturas ligadas por cerca de 300km de pontes, encontramos vários prédios de vários andares (onde os trabalhadores vivem), encontramos campos de futebol, encontramos comboios e muitas outras coisas que à partida associaríamos mais a cidades em terra.

Esta plataforma petrolífera foi inaugurada em 1949 (pela União Soviética, portanto) e desde então tem estado permanentemente habitada, a 6 horas de barco da costa, por uma série de pessoas que - mesmo tendo a oportunidade de ir a terra - vivem numa espécie de redoma de vidro e realmente pensam que aquilo é o melhor do mundo, a concretização do ideal da "cidade luminosa" comunista.

Claro que ao editar este filme o realizador (Marc Wolfensberger, que só obteve autorização para filmar durante 12 dias e depois teve de voltar para terra) escolheu mostrar-nos aqueles habitantes que têm histórias mais interessantes, mas não me parece que seja só Alexandra (tão feliz com os seus óculos de fundo de garrafa e a "fantástica" casa que lhe providenciaram - que, acabaremos por ver, é um único quarto sem o mínimo de condições) a viver naquela ilusão.

Talvez os trabalhadores mais jovens não se sintam assim, mas o que transparece deste filme é que os cerca de 25oo habitantes de Neft Daşları estão ainda muito imbuídos da ideologia comunista que promovia esta plataforma como a 8ª maravilha do mundo.

É essa a realidade que mais interessa, de facto. Como o realizador explicou na sessão pós-exibição, poderia ter feito um "Greenpeace movie" em relação aos - muitíssimos - problemas ambientais que esta plataforma tem vindo a ter, mas ao focar-se antes nas pessoas Marc Wolfensberger mostrou a(s) cara(s) de uma indústria e de um país em que o indivíduo é facilmente esmagado pelo lucro ou pela propaganda, respectivamente.



Vai voltar a passar, ambas as vezes no cinema Londres, dia 17 (23h) e 23 (16h30).

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Des hommes et des dieux

Des hommes et des dieux:


Parece-me que no mundo existirão dois tipos de ateus, aqueles que - como eu -sentirão uma uma certa admiração por aqueles que detêm a capacidade de crer e os outros, talvez mais mediáticos, que defendem um raciocínio mais combativo ao conceito de uma entidade divina.

Publico este parágrafo inicial, aparentemente tão pouco apropriado a um blog de cinema, porque este filme, que vi ontem na Festa do Cinema Francês, me fez admirar ainda mais a grande dignidade com que aqueles frades agiram mas ao mesmo tempo acreditar ainda mais convictamente que não acredito nem acreditarei. Sei que acreditar é bom, torna certos momentos da vida bem mais fáceis de tolerar, mas simplesmente sou demasiado racional para isso.

Des hommes et des dieux trata, como disse, acima de tudo da grande dignidade e coragem dos 8 frades trapistas franceses que em 1996 viviam no mosteiro de Thibirine (não leiam o link antes de ver o filme se não querem ter um grande SPOILER), na Argélia. Sim, estes homens existiram e esta é a sua história.

Pouco sei sobre a guerra civil da Argélia, que assolou este país entre 1992 e 2002, mas pelo que nos é dado a entender no filme as duas facções envolvidas foram o Governo (corrupto, mas que manteve apesar de tudo alguma estabilidade no período pós-independência) e grupos extremistas de marcada influência islâmica.

Os frades, que nos são apresentados como estando naquela região do Atlas argelino desde tempos imemoriais, vivem inicialmente numa comunidade pacífica com os habitantes da região que os acolheu, sendo eles, por exemplo, que dão apoio médico à população local. É este convívio pacífico (até amistoso) o que se retrata durante a maior parte do tempo, num filme que é mais profundo que isso.

É a partir do momento em que os frades começam a ser importunados pelos guerrilheiros que, a meu ver, o filme mostra a sua verdadeira intenção, a de nos pôr a reflectir tanto sobre a tolerância religiosa (numa época em que ela é bem precisa) como sobre a forma como aqueles que decidem dedicar a sua vida à contemplação e reflexão espiritual sobrevivem, pensam e se sentem.

É aqui que este filme se mostra superior. Os frades são apresentados como oito homens de grande integridade, que aceitam o seu destino de serem árvores para que os pássaros possam pousar (metáfora linda!) mesmo à custa de sacrificios maiores do que aqueles que julgariam ter de enfrentar. Ao contrário de uma perspectiva mais hollywoodesca que poderia ter sido dada a esta história, nenhum deles é um bastião da verdade ou da fé inabalável. Todos eles sofrem e têm dúvidas, aceitando o seu papel em sinal mais de fidelidade do que sacrifício.

E muito admirei eu estes homens ao longo do filme (e admiro ainda agora, sabendo que a história é real). É preciso muita coragem, muita integridade mesmo, para não desistir e morrer de pé, se for preciso. Diz-nos Luc, um deles (tão bem interpretado por Michael Lonsdale que nem parece estar a ser...interpretado), "um homem livre não tem medo de morrer". É aqui que acho que ter fé facilita, eu não sei se teria a mesma presença de espirito para continuar, não ceder às armas, mas gosto de pensar que em situação semelhante me comportaria da mesma forma. Dizem as letras de uma das minhas músicas favoritas "I'd rather die on my feet, than live on my knees".

Espero porém nunca ter de tomar essa decisão, é sinal de que vivi sempre em paz e segurança, o desejo da maioria da população mundial e uma das razões que me levam a estar convicto da minha condição de ateu. Se deus é amor ou bondade, se o deus cristão e muçulmano são conceptualmente os mesmos, então porquê tanto ódio e tanto sofrimento em nome da religião?

Com uma execução técnica exemplar (aquela "última ceia" é das cenas que mais me transmitiu uma grande emoção de uma forma tão contida) que torna um filme longo e meditativo numa experiência que nunca é aborrecida, o realizador Xavier Beauvois fez-me acreditar que faço mal em nunca ter visto nenhum outro dos seus filmes e mostra-nos aqui uma obra que passa rapidamente para a shortlist dos dois ou três melhores filmes que vi este ano.

Excelente!




P.S.: Nota para a organização, aqueles estalidos do sistema de som tornaram-se bastante irritantes. Percebo que não podiam fazer nada durante o filme, mas poderiam ter precavido isso antes da sessão, digo eu. Os espectadores que esgotaram a sala 1 do São Jorge mereciam isso.
P.P.S.: Nota para as duas pessoas que vieram falar comigo no final da sessão. Percebo que a luz do telemóvel vos incomode, mas sinceramente acho que demonstrei todo o cuidado em esconder ao máximo a fonte de luz enquanto escrevia as minhas notas para esta SMR. E já agora fica a pergunta: como é que tirariam notas às escuras? Eu já tentei com papel e caneta mas no final das sessões acabo sempre por não perceber o que escrevi e por isso tenho optado pelo telemóvel.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Embargo

Embargo:


"Todos nós sabemos que cada dia que nasce é o primeiro dia para uns, será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais"
(José Saramago)

É com esta frase de José Saramago que o filme Embargo começa, sendo que - curiosamente - nele se retrata um dia que não é o primeiro nem o último do seu protagonista, Nuno, mas que também não será - de todo - um dia mais; é, antes pelo contrário, o dia em que fica como que soldado ao seu carro e dele não se consegue separar.

Sim, leram bem: o protagonista e o seu carro tornam-se uma só entidade.

Apesar de tudo não se preocupem, não estamos perante a versão portuguesa dos Transformers (se bem que em teoria isso daria um filme genial) nem sequer do Herbie. Embargo é um filme baseado, ou mais precisamente livremente adaptado, de um conto da autoria do senhor da citação ali de cima.

Nesse conto, tal como aqui, o protagonista torna-se vítima da sua própria dependência automóvel já que - ao que sei, porque não li o conto original - o carro ganha vida e "absorve-o". No conto essa situação bizarra tem uma mensagem: é frequentemente interpretada como uma alegoria à crescente dependência do Homem em relação às máquinas e - já bem menos alegoricamente - um aviso à navegação quanto ao impacto que uma eventual escassez de petróleo, o alimento das máquinas, poderá ter no nosso quotidiano.

Fui ver o filme dado o autor da obra original mas, para muita surpresa minha, achei que o seu ponto mais fraco é precisamente esta premissa, já que nunca nos é dada qualquer informação sobre como é que Nuno ficou preso, como (SPOILER) se soltou (FIM DE SPOILER) ou o porquê de ter tanto medo de explicar o que se lhe passou e pedir ajuda (nas minhas notas tenho escrito, com vários pontos de exclamação, "rapaz, porque é que não vais aos bombeiros?").

Esta premissa não funciona mas quase tudo o resto está lá...o actor que faz de Nuno (Filipe Costa) interpreta-o da melhor forma possível, como um pintas que vende bifanas enquanto não vende a patente da sua grande invenção, um scanner de pés (!), e mesmo os restantes personagens, inexistentes na obra original, que só nos apresenta o carro e seu condutor, estão criados de forma a transparecer um humor absurdo mas muito acertado e (infelizmente) atípico no cinema português. (De referir o personagem do José Raposo, a fazer lembrar um misto de Luis Filipe Vieira e Manuel Damásio e que é hilariante)

O mérito vai para os argumentistas, que tiveram a feliz ideia de expandir o universo criado pelo Saramago, mas sobretudo deverá ser entregue ao realizador (António Ferreira) que depois do muito elogiado Esquece tudo o que te disse consegue provar que o sucesso da sua primeira longa não foi um golpe de sorte e, na minha modesta opinião, se mostra como uma excelente alternativa à típica divisão do cinema português entre o "intelectualóide" e o "Soraia Chaves nua".

Não o coloco na minha famosa lista de filmes portugueses de que gosto mesmo pelo que disse sobre o elemento central do argumento e por ser um bocado longo demais, mas acreditem que se tivesse uma lista de "filmes portugueses que vi, gostei, recomendo e não me importaria de ver de novo" seria lá que este interessante filme passaria o resto dos seus dias.