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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

The Man that Got Away

The Man that Got Away:


The Man that Got Away foi o vencedor do DAAD Short Film Prize e, por mero acaso de logísitca, o último filme que vi na Berlinale 2012. Trata-se de uma curta-metragem musical que nos conta de uma forma muito inovadora a história de Jimmy, tio do narrador e um dos muitos homens que viveram a sua homosexualidade em segredo.

Com o prémio que acabou por vencer vem uma bolsa de estudo para estudar cinema em Berlim e, presumo eu, uma maior facilidade de obter financiamentos para filmes futuros. Ora, não faço a mínima ideia qual foi o orçamento desta curta, mas posso dizer-vos que o que mais me impressionou na mesma foi a forma de contar a história com o mínimo recurso a cenários possível: a história do tio Jimmy e do seu encontro com Judy Garland é integralmente contada enquanto actores e actrizes descem a rampa de um qualquer silo-auto canadiano.

Eu que nem costumo gostar de musicais fiquei satisfeito com este. Para além da realização inventiva as letras das músicas são divertidas e as coreografias dançadas de uma forma tão (propositadamente?) trapalhona que se tornam interessantes. O único grande problema é ter-se esticado demais...ao contrário de tudo o que até então se estava a passar, o último capítulo da história do tio Jimmy é contado tipo dança contemporânea, sem música e durante demasiado tempo. É uma pena, pois acaba por manchar o que poderia ter sido uma boa despedida da Berlinale.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Rebelle

Rebelle:


Rebelle, filme canadiano na secção competitiva da Berlinale tem muitas semelhanças com Captive, candidato filipino ao mesmo galardão. Serão demasiadas, essas semelhanças? Diria que não, Rebelle e Captive contam o que têm a contar de forma semelhante mas as histórias são suficientemente diferentes para ambos merecerem o visionamento.

A história de Rebelle é ao mesmo tempo mais abstracta e mais real que a de Captive. É certo que não se trata de um argumento baseado em factos reais, mas aquilo que Komona (Rachel Mwanza) narra à criança que tem no ventre acontece todos os dias a meninas como ela.

Foi aos 12 anos que Komona foi raptada da sua aldeia pelo exército do Grand Tigre, num qualquer país francófono do centro africano. O seu baptismo de fogo começa logo ali quando os soldados que a raptam a obrigam a fuzilar os seus pais. Por algum motivo? Nem por isso, apenas para ver se Komono tem o que é preciso para empunhar uma arma. Komona mata-os porque tem de os matar para viver, e torna-se rebelde porque assim o instinto de sobrevivência lho diz. Numa situação de matar ou morrer pouco interessa a afinidade ideológica.

Levadas pelo grupo para o meio da selva as crianças raptadas são apresentadas ao "leite mágico" - uma substância alucinogénica que no caso da nossa protagonista faz com que veja os fantasmas daqueles que vão morrer (aqui representados em sequências oníricas bastante poderosas). Numa sociedade em que a magia ainda é tão prevalente este é um grande poder e, após ter sido a única sobrevivente a um ataque sobre o seu exército, Komona é promovida a war witch (bruxa de guerra?), o que lhe confere acesso directo ao grande líder e uma protecção que normalmente não é dada a mulheres que passam por aquela situação.

É pouco depois desta dita promoção que um dos seus protectores decide fugir da guerra e a aconselha a fazer o mesmo. Muitas war witches são assassinadas depois de uma batalha perdida e Komona não terá destino diferente. Esse protector é um rapaz não muito mais velho mas já com o one mile stare que só muitos anos de guerra podem criar. É também albino, uma característica que muitas culturas africanas vêem como sobrenatural e que lhe conferiram o nome pelo qual o vamos conhecer, Magicien (Serge Kanyinda).

Os dois jovens fogem e o filme perde-se. Se até então estavamos a testemunhar as dificuldades por que passam as crianças soldado do Lord's Resistance Army (só para citar um exemplo verdadeiro) a história passa a focar-se quase em exclusivo no destino dos dois e as intersecções que esse vai ter com o exército que agora os vê como desertores. Ambas as histórias têm o seu valor e seriam interessantes por si só, mas a quebra pareceu-me demasiado abrupta e teve como consequência um desligar emocional logo quando estava a começar a ficar mais interessado.

Filmado na República Democrática do Congo com um elenco de não-actores, a história de Rebelle poderia ter lugar na maioria dos países centro-africanos e é esse o grande mérito que lhe revejo, o de aumentar a notoriedade de um fenómeno actual e mais frequente do que nós, cidadãos de países em que estas histórias são ficção, queremos acreditar. Aqueles que entraram no filme são sortudos, as armas em que pegam são meros adereços, muitos da idade deles andam ainda hoje, neste preciso momento, a mando de exércitos como o do Grand Tigre.

domingo, 8 de maio de 2011

Indie Lisboa dia 4: Curling + Gravity Was Everywhere Back Then + Viagem a Portugal + This Movie Is Broken

Curling:


Enquanto assistia a Curling, o filme de Denis Côté inserido na secção Observatório do Indie deste ano, sentia-me realmente a observar um mundo aparte. Um mundo de condições extremas - o filme é passado no Norte do Canadá, onde a neve e o frio são imensos - mas que me lembrar uma coisa mais familiar.

Não sei se serei só eu mas ao assistir à história de Jean-François Sauvageau (Emmanuel Bilodeau, um famosissimo actor canadiano) e da sua filha Julyvonne (a filha real do actor) pensei frequentemente no caso Joseph Fritzl, aquele austriaco que teve a filha imprisionada na cave de sua casa durante 24 anos. Jean-François não abusa da sua filha, nem sequer a tem presa a nada - Julyvonne pode sair e passa a maior parte do tempo sozinha, de qualquer forma - mas com a sua atitude ultra rígida, o seu modo de vida espartano e o permanente medo de algo que não percebemos nunca o que é fazem com que - amando a sua filha - a prejudique gravemente.

Exemplo? Por causa dos tais medos que o pai tem Julyvonne não vai à escola. Nunca foi. E por isso demonstra limitações intelectuais que até o patrão de Jean-François e Rosie (a mãe?), que raramente a vêem, o notam.

O filme é precisamente sobre esta relação sufocante. Por não ter um pai normal Julyvonne não é uma criança normal e não tem uma infância normal...não tem amigos e, como entretém, deita-se na neve junto a um monte de cadáveres (numa cena que não percebi, devo admitir) e quando o pai a abandona (porque teve uma reacção errada a algo que não provocou) ela não liga lá muito. A relação entre eles é distante, e a nossa relação com o filme também o é.

No final do filme o pai parece querer (re)aproximar-se da filha. Talvez fosse essa a intenção so realizador, (re)aproximar-se do público. No entanto, a reacção morna que teve na sala quer-me fazer crer que a próxima sessão, dia 12 às 21h30, não deve ser muito mais calorosa.


Gravity Was Everywhere Back Then:


Filme mais original que este não vão encontrar neste Indie de certeza absoluta. Melhor que este também vai ser difícil, mas estou pronto para ser surpreendido.

Gravity Was Everywhere Back Then é a ficcionalização de uma história real que o realizador, Brent Green (não se esqueçam deste nome!) ouviu falar: em Louisville, Kentucky, Mary e Leonard Wood eram um casal mais ou menos normal até ao dia em que Mary adoeceu com cancro. A partir dessa altura Leonard começou a construir uma casa muito especial, qual Noé dos tempos modernos.

Segundo o realizador a história base é verdadeira mas grande parte do conteúdo é imaginado porque nunca conheceu os seus inspiradores. A verdade é que esse pormenor (sim, porque neste filme isso é um pormenor) não é muito relevante. A magia deste filme está muito na sua forma...não vemos uma única imagem em movimento, todas as filmagens foram feitas em stop motion se bem que com actores reais; muitas vezes o som não está em sincronia com o que vemos no ecrã e mesmo tendo em conta que Mary, Leonard e a casa são os protagonistas o realizador não se coíbe de dar o seu comentário aos eventos que vamos acompanhando.

Diz ele a dada altura que se acreditasse em deus, que não acredita, diria que os anjos devem estar a fazer um bom trabalho a distraí-lo porque parece que deus se está a cagar para muitas coisas importantes. Ao construir aquela casa, com uma torre de 23 metros a servir de lavandaria, Leonard estava a tentar chegar a deus (Leonard era crente), aproximar-se dele para lhe pedir um pequeno milagre...salvar o grande amor da sua vida.

Deus não lhe concedeu esse milagre, Mary acaba por morrer (não é spoiler, ficamos a saber disso logo no início) mas durante os 20 anos seguintes Leonard continuou a construir aquela Sagrada Família versão hardware store. Que milagre procuraria ele na altura? Essa resposta nunca nos surge, já referi que realizador e personagens nunca se conheceram, mas creio muito honestamente que o milagre que Leonard procurava era manter Mary com ele...pode não a ter curado mas a casa manteve a sua memória viva.

Fomos informados no início da sessão que devido a problemas económicos Leonard acabou por ter de vender a casa e o seu novo dono demoliu-a por ser tão diferente das restantes casas do bairro. Penso que as pessoas que destruiriam tal casa não poderão gostar deste filme (e acreditem que houve muita gente a sair a meio) mas eu gosto de pensar que a manteria assim, estranha e mágica, e eu - tal como as restantes pessoas que a manteriam como estava adorei esta que é uma obra prima do stop motion e, no geral, uma obra prima do cinema. Mesmo, para mim o cinema é isto!

Volta a passar dia 13 às 18h45. Se só puderem ver um filme deste festival este é uma excelente aposta. Mais, só existem 5 cópias deste filme a circular pelo mundo, por isso é mesmo uma oportunidade única.


Viagem a Portugal:


A coisa começou bem: antes do início da sessão actrizes do filme estavam a entregar panfletos com o título "Enquadramento Político". "Boa", pensei eu, "isto é capaz de ser interessante".

Viagem a Portugal conta uma história sobre uma realidade que conheço relativamente bem, a da imigração em Portugal. Os que me conhecem pessoalmente sabem que não sou imigrante, nasci na mítica freguesia de São Sebastião da Pedreira..a razão pela qual conheço esta realidade é de natureza profissional: durante cerca de um ano coordenei um gabinete de apoio jurídico a imigrantes e sei o que custa lidar com o SEF.

Tanya, a mulher ucraniana que inspirou esta história, também o soube. Chegou a Faro (legalmente) no dia 31 de Dezembro de 1997 para visitar o marido, um senegalês que estudou Medicina com ela em Donetsk mas que por cá trabalhou nas obras da Expo '98. Nessa altura Tanya não passou das portas do aeroporto, mas entretanto voltou e contou a sua história, história essa que segundo o realizador - Sérgio Treffaut, que ganhou o prémio de melhor filme português no primeiro Indie com Lisboetas - é "água de rosas quando comparada com outras histórias semelhantes".

A adaptação dessa história feita em Viagem a Portugal é bastante fraca, devo dizê-lo.

A Maria de Medeiros é convincente como ucraniana, mas é basicamente isso...o filme está pejado de frases escolhidas para provocar um sorriso auto-comiserante ("Nós em Portugal não somos corruptos como no teu país", diz a inspectora do SEF a dada altura), personagens secundários escolhidos a dedo para preencher o espaço do cliché (travesti brasileira? check!) e sobretudo tem um look muito muito errado. Um tema como este nunca pediria um preto e branco tão clean, por muito que o contraste entre uma ucraniana e um senegalês fique bem na tela.

O tema da imigração é fértil e merece ser explorado, mas nunca desta forma e com esta leveza de estilo. Os brasileiros, ucranianos, bengalis ou apátridas que tentam todos os dias cruzas as nossas fronteiras mereciam bastante melhor.


This Movie Is Broken:



Com um look algures entre o Nick and Norah's Infinite Playlist e o melhor anúncio da Super Bock This Movie Is Broken é um filme que tenho muita dificuldade em analisar.

Não que seja mau, é muito bom(!), a questão é que não é propriamente um filme. This Movie Is Broken é uma gravação de um concerto que os Broken Social Scene deram em Toronto a 11 de Julho de 2009 mas é um pouco mais que isso. No meio das imagens do concerto propriamente dito temos uma história de 3 amigos - Bruno, Caroline e Blake - que assistem a ele.

Uns 80% do filme são imagens da banda a tocar e isso provoca um efeito curioso e raro numa sala de cinema: à minha frente tinha bastante gente a abanar a cabeça como se estivessem mesmo a assistir àquilo. Os restantes 20% são secundários em relação ao concerto mas passam uma mensagem bonita: a música serve para nos apaixonarmos (não necessariamente em termos amorosos, também pelos nossos amigos) e para nos deixarmos entregar aos bons momentos da vida.

Foi uma excelente maneira de acabar a maratona do dia e se gostarem da banda (ou do estilo de música) ainda o podem apanhar dia 14 às 19h15 no São Jorge. Se não gostarem não vale a pena irem ver.

Amanhã já sei qual vai ser a minha banda sonora.

sábado, 1 de maio de 2010

Indie Lisboa dia 9: Carcasses + Ilha da Cova da Moura + Como desenhar um círculo perfeito

Carcasses:

Noutro dia perguntaram-me qual era a definição de filme independente e eu dei a resposta mais comum: é um filme feito fora do sistema dos grandes estúdios. Depois de ver Carcasses (e outros filmes deste festival) a minha resposta poderia antes ser "é um filme em que quase não há diálogos".

Claro que seria uma resposta errada, mas se pegarmos no exemplo deste filme - em que cerca de 85% do tempo seguimos os personagens sem qualquer interacção - ficamos convencidos que tal não funcionaria com um público mais mainstream, menos habituado ao som do silêncio.

O problema deste Carcasses é que aqui, ao contrário do que se passa em Le jour où Dieu est parti en voyage, por exemplo, tal silêncio é um ponto em desfavor do filme.

O personagem central, Jean Paul Colmor, é um velhote com o que em inglês se chama CHD (e eu traduzo para coleccionite. João Moreira, a invertar termos médicos há 27 anos!) e que ganha a sua vida gerindo uma espécie de sucata/lixeira. Vive sozinho e vive feliz, porque segundo o próprio "tem sempre que fazer".

Jean Paul é - não o sabia enquanto via o filme - uma pessoa real, que vive na parte francófona do Canadá e o filme é uma mistura entre documentário e ficcionalização da sua vida. (Podem ser amigos dele no facebook e tudo!) É curioso ter lido isto, porque durante o filme tinha ficado confuso se seria uma coisa ou outra e afinal é as duas. Everyone wins.

Este excelente equilibrio entre os dois métodos cinematográficos acaba por ser o ponto mais alto de um filme que ganhava se tivesse deixado falar mais o seu protagonista. Jean Paul pode ser calado, tal como muitos solitários o são, mas quando fala diz coisas interessantes, mais até que a representação visual do seu dia a dia.

(Mais uma nota para a sessão em si: desta vez era algo que não podia ser previamente resolvido, mas não há dúvida que neste Indie acontece de tudo...hoje foi uma mosca que ficou presa no projector, e cuja sombra apareceu na tela durante grande parte do filme)


Ilha da Cova da Moura:

Antes da projecção do filme, o realizador Rui Simões disse-nos que decidiu fazer este filme porque a realidade que encontrou no bairro estava longe de corresponder ao que via nas reportagens televisivas. Curiosamente, eu fui ver o filme do realizador Rui Simões porque quando fui a primeira vez à Cova da Moura senti precisamente o mesmo...o que se vive por lá é tão mais bonito que a imagem que é passada cá para fora!

A Cova da Moura, para quem não sabe, é um bairro clandestino nos subúrbios de Lisboa. É uma zona que só costuma aparecer nas notícias por causa de violência, sobretudo ligada a tráfico de droga. Muita gente tem medo de ir à Cova da Moura e, como uma moradora entrevistada para o filme confessa, muita gente da Cova da Moura tem vergonha de dizer que lá vive.

Pela minha parte, fui lá apenas duas vezes (em trabalho, curiosamente numa colaboração com a Associação Cultural Moinho da Juventude, que é um dos focos do filme e é - realmente - o coração do bairro) e em ambas as ocasiões fiquei completamente rendido ao que por lá se passa. É que, como outro entrevistado refere, na Cova paga o justo pelo pecador e a grande maioria que não quer nada com o crime e tenta viver a sua vida com dificuldades sofre o estigma criado pelos poucos que realmente são "bandidos" e que muitas vezes nem sequer lá vivem.

E porquê uma ilha? Porque a grande maioria dos residentes da Cova da Moura tem origem em Cabo Verde, e as suas tradições e vivências são muito próximas das desse país. Ao ponto de se dizer que a Cova da Moura é a décima primeira das dez ilhas cabo verdeanas.

Este filme tem um grande mérito. É um filme feliz sobre um bairro feliz, onde ainda há um sentido de comunidade e onde todos festejam as alegrias de todos e todos partilham os lutos dos seus queridos. É um bairro africano, onde a música, a dança e a (deliciosa) catchupa estão sempre presentes. É este o bairro que Rui Simões conseguiu captar como nunca ninguém tinha captado antes.

É um filme para desfazer preconceitos. E era bom que finalmente esses preconceitos fossem mesmo derrubados, para que as pessoas vejam que a Cova é muito mais do que aquilo que se vê nos telejornais. Eu quero lá estar dia 19 de Junho, para a grande festa anual, a Noite de Sanjon - uma mistura do São João do Porto com o Carnaval do Rio - alguém me quer acompanhar?


Como desenhar um círculo perfeito:


O Marco Martins deve ter sentido a imensa pressão de fazer um segundo filme que fosse ao nível do Alice, uma obra-prima do cinema português que teve o reconhecimento de quase todos o que o viram. Para mim continua no topo da lista dos 3 filmes portugueses de que realmente gosto muito (e que já falei algures no blog, vejam se encontram através do botãozinho search).

Do outro lado da equação temos o público, que estava com uma grande expectativa sobre o que poderia vir desta grande promessa do cinema português. Ora, o que posso dizer depois desta ante-estreia nacional é que se o Marco Martins já pode sentir menos pressão - o filme está feito e mostrado! - o público terá de continuar à espera de um filme ao nível do Alice.

É que enquanto que Alice é um filme diferente de tudo o que é costume ver-se no cinema português, aqui já temos a mesma série de características que há tanto tempo o vêm minando. Exemplo maior disso é, neste filme, o facto do pai dos protagonistas ser francês...não é minimamente relevante para a história, mas permite que mais de metade do filme seja falado na língua de Moliére, uma daquelas coisas que não pode faltar num bom (mau!) filme português.

É pena o Marco ter seguido este caminho; a excelente capacidade técnica claramente continua lá (alguns planos são lindíssimos!) e ao longo do filme ainda temos alguns dos seus traços característicos, mas agora estão esbatidos no meio de tanta decadência forçada. (Outro ponto da hipotética checklist)

Até a história é inferior. Enquanto que em Alice é praticamente impossível não nos solidarizarmos com Mário, aqui a obsessão sexual (não correspondida) de Guilherme pela sua irmã Sofia não só não é algo com que muita gente se possa identificar, como é retratada de uma forma tão doentia que não apela à empatia.(Um dia faço uma SMR em rima)

Claro que o ser doentio é propositado. Até é fácil entender isso desde o início (se virmos o estado da casa em que vivem como uma metáfora, por exemplo) e de certa forma não podia ser de outra forma, afinal de contas é um filme sobre incesto. Mas não deixa de ser difícil de aceitar o pedido do realizador, acompanhar a obsessão de Guilherme até à sua concretização.

Vou já acabar porque noto que a crítica está a ficar demasiado circular (é do sono), mas preciso de dizer uma outra coisa. A história-base do filme é a que disse e, por muito doentia que seja, estava a ser bem explorada durante o primeiro do terço do filme, tal como o foi durante os minutos finais (a última cena é belíssima, e mesmo a cena de sexo está muito bem realizada), mas entre esses dois momentos a história perde-se totalmente. Não sei o que se passou ali, mas a opção de dar tanto tempo de antena ao pai dos dois irmãos sai furada quando, claramente, o sumo da história estava na relação de ambos com a mãe.

Se antes estava ansioso por ver se o brilhantismo de Alice se repetia, agora só quero que esse brilhantismo volte. Não desejo que a melhor longa do Marco Martins seja o seu filme de estreia, mas se continuar por este rumo tão pouco original é bem capaz de ser isso o que lhe acontece.