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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Celda 211:

Celda 211:


E aqui está ele, o último filme que vi em 2010 tornou-se na primeira SMR de 2011. Não consegui mesmo fazer a análise antes e por isso agora todo o vosso universo se vai desequilibrar e nada será como dantes. Ou então continua tudo na mesma.

Celda 211 foi o vencedor absoluto dos prémios Goya (vulgo Óscares espanhóis) em 2010, chegando mesmo a bater o El secreto de sus ojos, vencedor - esse sim - do Óscar de melhor filme estrangeiro no mesmo ano. Algum tempo depois da consagração o filme chegou a Portugal e depois de algum tempo em sala fui vê-lo. De notar, com agrado, que mesmo depois de tanto tempo de exibição a sala estava quase cheia.

Será que o filme merece assim tantos prémios? Não consigo comparar verdadeiramente já que não vi quase nenhum outro dos filmes nomeados, mas analisando o filme por si só posso dizer que ficou tudo bem entregue. A única crítica que poderia fazer relaciona-se com um prémio que não ganhou: Luis Zahera merecia sem sombra de dúvidas ganhar algum prémio pela sua interpretação de Releches.

A história do filme inicia-se de uma maneira bastante comum: Juan Oliver (Alberto Ammann) é um futuro guarda prisional que, ao visitar a cadeia onde vai trabalhar na véspera do seu primeiro dia, é apanhado no meio de um motim e tem de se safar como puder. O que é que ele faz? Aproveita que ainda ninguém o conhece e faz-se passar por preso...o Juan Oliver do exterior passa a ser Calzones no interior da prisão.

É Calzones que acompanhamos a maior parte do tempo. Vemos como a sua mentalidade muda quanto mais tempo lá passa. Desde o início alia-se com o líder do motim, Malamadre (Luis Tosar, a dar ideia que este é o papel da sua vida) numa lógica de “se não os podes vencer junta-te a eles”, mas com o tempo (e com o que se vai passando lá fora) o seu instinto de sobrevivência é sobreposto pela vingança.

Celda 211 é, como dá para ver, um filme em permanente tensão. Apesar da premissa “jovem em primeiro dia de trabalho” ser quase tão frequente como a do ”polícia que se vai reformar no dia seguinte” a verdade é que ficamos a sofrer com Juan (mesmo sem a história da namorada) por estar metido num verdadeiro inferno. As cenas de motim são fraquinhas (para se ver a falta de um orçamento hollywoodesco comparar com os motins do Natural Born Killers) mas tanto os avanços e recuos da negociação como a introdução de um elemento exclusivamente espanhol na equação mantêm os espectadores interessados no que virá a acontecer àquele grupo de reclusos.

Não é um final feliz, mas quem é que realmente acha que estas situações dão finais felizes? Nunca percebi quem faz reféns em bancos, etc., tal como não consigo perceber como é que matar guardas prisionais poderá melhorar a situação dos reclusos, mas fora isso Celda 211 é um filme interessante que posso recomendar e que fechou bem o ano cinemático mais prolífico da minha vida.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Queer Lisboa: programa de curtas 2


Devo começar por confessar que esta foi a primeira edição do Queer Lisboa a que fui. Dito isto e com base na pouca experiência que tenho do festival, quero dar os parabéns à organização pelo profissionalismo que a sessão a que assisti aparentou, bastante mais do que o que - confesso - estava à espera. Posso não concordar totalmente com a excessiva colagem do festival ao movimento queer mas no que toca ao que a este blog interessa - cinema, apenas e só - correu tudo bem, sem falhas aparentes da organização.

Feito este louvor, sigamos para as curtas que vi no Programa de Curtas 2, do passado Domingo.


Cavalos Selvagens:

Este filme foi a razão principal para me ter deslocado ao São Jorge em vez de ir à praia, já que é realizado por amigos de uma amiga minha (a Daniela, digam olá à Daniela...olá Daniela!) e a dita amiga me convidou para a acompanhar.

No Indie Lisboa do ano passado assisti à primeira curta desta dupla de realizadores (André Santos e Marco Leão) e - como podem ver no maior post de sempre deste blog - achei-a interessante esteticamente mas pouco mais (chama-se A nossa necessidade de consolo, by the way). Felizmente a segunda já é bastante melhor. O estilo bastante contido mantém-se - a totalidade dos 11 minutos da curta é passada em silêncio - mas na relação entre os dois personagens (interpretados pelos realizadores) há afecto e humanidade, para além da distância.

Não me parece que já estejam prontos para se lançar no mundo das longas-metragens comerciais (nem sei se é essa a intenção), mas no circuito de festivais, e tendo em conta que são bastante jovens, auguro-lhes um futuro de sucesso. Parabéns!


Haboged:

(já se sabe qual é o problema das curtas em festivais de cinema...posters nem vê-los)

Nas notas que tirei durante este filme apenas tenho escrito: "bleh, não tem interesse nenhum". Agora desenvolverei um pouco mais: bleh, não me suscitou interesse nenhum.


Steam:

Apesar de ser uma curta metragem de apenas 16 minutos, este filme tem duas partes bem distintas: na primeira estamos perante um filme de dança, na segunda perante um episódio do Alfred Hitchcock Presents.

Estranhamente, neste caso optaria antes pelo vídeo de dança. Nessa parte assistimos a um engate numa sauna em que muito pouco é dito mas muito é transmitido através dos movimentos dos actores e da (apropriadíssima) banda sonora. Já na segunda parte vemos o período pós-engate, em que os protagonistas se apercebem que não conseguem sair de lá. Aqui, a boa impressão com que fiquei dos dois actores esbateu-se um pouco, tendo mostrado que funcionam melhor sem falas do que com elas, mas mantive o interesse no realizador, que demonstrou bastante qualidade ao atingir o seu objectivo de "realizar uma espécie de peça de teatro num cenário muito reduzido".


Toiletzone:

(ver o que disse no Haboged)

Dos cinco filmes que vi este foi o de que mais gostei e é, de longe, o que apresenta mais condições para ser apreciado por um público mais generalista, é que - tendo a temática queer como um assunto meramente acessório - o filme aborda antes uma temática bem actual: os layoffs e a extinção de postos de trabalho.

Eu explico: ao longo da meia hora de filme acompanhamos a história de três funcionários da casa de banho de um qualquer centro comercial francês. Juntamente com eles somos forçados a viver um dilema: ou afastam os "répteis" da casa de banho ou fecham a casa de banho e vão para a rua, sendo que répteis é o nome dado por um dos funcionários aos homens que - e aqui está a ligação ao mundo queer - usam os cubículos do WC para encontros pecaminosos com outros homens. Sim, disse pecaminosos, faz-me lembrar o saudoso Diácono Remédios.

Conseguem fazê-lo mas, ironia da economia actual, como as casas de banho em França se pagam a facturação desce com a partida dos "répteis" e ... fecham a casa de banho e lá vão os funcionários para a rua.

Tratando com muito humor duas realidades que são por vezes trágicas, o realizador Didier Blasco mostrou aqui que é possível fazer uma excelente comédia de casa de banho sem uma referência escatológica. Algo muito difícil num mundo pós-American Pie.

Acabou por ganhar o prémio de melhor curta do festival. Não estranho nada, é bastante bom.


Los fuegos:
(ver o que disse no Toiletzone)


Este filme tem duas coisas em comum com o Haboged:
1- tem um homem nu a (tentar) matar outro homem nu depois de uma cena de sexo;
2- é uma valente bosta.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

La habitación de Fermat

La habitación de Fermat:




Um homem tem três filhas, um dia perguntei-lhe a idade delas e ele respondeu: se multiplicares as idades delas dá-te 36. Não consegui chegar lá e perguntei de novo. Ele disse "Dou-te outra pista, se somares as idades delas chegas ao número da minha casa". Eu sabia esse número, mas mesmo assim não consegui chegar às idades. Finalmente, ele deu-me uma última pista..."A mais velha toca piano". Que idade têm as filhas?


Se sabem a solução deste enigma, este filme - apresentado frequentemente como a alternativa espanhola ao The Cube - é capaz de ser demasiado simplista para o vosso gosto. É que, na modesta opinião do vosso crítico favorito (eu!), são os enigmas matemáticos o seu maior forte.

Ao contrário do já referido The Cube, aqui os protagonistas não precisam de sair de um quarto para enfrentar perigos: são 4 e são convidados por um quinto para uma reunião com a nata da Matemática espanhola (e, pelo que percebi, seriam génios em qualquer lado) mas quando lá chegam apercebem-se que não vai ser um fim de semana de descanso...são-lhes apresentados enigmas como este que têm de responder num determinado tempo, caso contrário o quarto vai encolhendo até a um ponto em que serão, coitadinhos, todos esmagadinhos. (vejam o poster, se não perceberem como é que funciona)

Enquanto vão tentando resolver os enigmas - que para mim são lixados, mas que realmente parecem fáceis para supostos génios matemáticos - também vão tentando descobrir quem é que os convidou, e porque é que os quer matar. E aí é que as coisas não correm tão bem...os actores até não são maus (tirando o Alejo Sauras, demasiado irritante) mas nunca nos deixam a sofrer por eles, algo essencial num tipo de filmes que vive da nossa empatia com quem está em apuros.

Ou seja, rebobinando. Se forem como eu e adorarem enigmas matemáticos têm duas hipóteses...ou percebem de matemática e acham o filme pouco profundo ou continuam a ser como eu (não percebem nada daquilo!) e acham piada à coisa. Já se não tiverem paciência para aquilo mais vale, lá está, verem o The Cube que se divertem mais.

Foi um bom primeiro esforço dos realizadores, Luis Piedrahita e Rodrigo Sopeña, mas torna-se uma aplicação muito superficial de um conceito que exigia ser mais aprofundado

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Indie Lisboa dia 5: The Cat, the Reverend and the Slave + La mujer sin piano + Cinema emergente curtas 1

The Cat, the Reverend and the Slave:

Razão #1 pela qual quis ir ver este documentário: o Second Life.

Desde há coisa de dois anos que, nunca percebi bem porquê, a televisão portuguesa dá imensa atenção a este mundo virtual onde supostamente podemos viver a vida com que sempre sonhámos. A primeira vez que vi uma reportagem sobre o assunto resolvi ir espreitar aquilo e tão depressa me inscrevi naquilo como me desliguei de vez. Bastaram poucos minutos para ver que aquilo era um hype criado pelos media em que muita gente caiu.

Passados cerca de dois anos, e depois de ver este documentário, continuo a achar a mesma coisa.

Os entrevistados são pessoas reais que dedicam muitas horas do seu tempo a viver naquele mundo, que para eles é real. Tal como o título indica, os utilizadores do Second Life que conhecemos mais a fundo são um que tem um avatar de gato, que se sente um gato (é, por isso, um furry) e que anda com orelhas e cauda de gato na rua; um pastor evangelista que tem uma igreja enorme no Second Life, onde diz que Deus também está (pergunto-me qual será o avatar de Deus) e um homem que gosta de se vestir de mulher e que no Second Life é escravo de um dominador e ao mesmo tempo dominadora de três escravas (uma confusão, portanto).

Todos os três se revelam pessoas solitárias e que usam o SL (como lhe chamam) para contactar com mais gente. Mas o que mais me espantou foi mesmo um grupo de mães suburbanas, com ar saudável e até atraente (o que é estranho, dado o estereótipo de utilizadores de tais programas) que caem na mesma esparrela (ninguém me convence do contrário!) e decidem fazer uma das coisas mais parvas de que há memória...plantar árvores no Second Life, para alertar os utilizadores para as questões ambientais. Plantem árvores reais, senhoras!

Razão #2 pela qual quis ir ver este documentário: Goreanos

Aqui há uns meses, um dos artigos da primeira página da Wikipedia era sobre este estilo de vida inspirado nuns livros de que nunca tinha ouvido falar antes. Ao que percebi, o pessoal que segue isto à letra vive uma relação de sado-maso permanente, em que em vez de ter um marido ou mulher tem um dono ou escravo.

Gajo curioso que sou, e porque o tema me interessa (demasiado Marilyn Manson quando era jovem?) fiquei atento quando reencontrei este termo na descrição do filme.

Infelizmente quase não se fala do assunto, por isso também não me vou alongar mais. Fiquei na mesma, ou aliás, fiquei com a ideia que aquilo era mais uma brincadeira que um compromisso real como pensava antes que era.

Razões pelas quais não gostei lá muito do documentário:

Mais uma vez é um daqueles documentários cuja destreza na realização é praticamente nula. Não digo que fizesse melhor, e de certeza que os realizadores fizeram o melhor que conseguiram com os meios que conseguiram, mas este filme sofre do mesmo problema que o Um lugar ao Sol.

Para além disso, nos últimos 15 minutos debruçam-se sobre um outro mundo alternativo, desta vez real, que é criado todos os anos nos Estados Unidos, o festival Burning Man. Mais uma vez, é um tema que me interessa bastante (tive colegas de San Francisco que foram e me disseram que aquilo é mesmo outra onda) mas neste contexto ficou estranhíssimo. Deu a ideia que os realizadores acharam que o documentário estava curto e meteram por lá mais umas imagens sobre aquilo, por ser apenas moderadamente próximo do tema que abordaram no resto do filme.


La mujer sin piano:

Estou em risco de me tornar mais um crítico "normal"...pela 2ª vez em 2 dias vejo-me obrigado a fazer referências a filmes do Luis Buñuel. Foi ontem com o Origin of the Species e hoje por causa deste La mujer sin piano.

A proximidade vai muito para além da origem geográfica do filme. Não sei se terei sido só eu, mas enquanto olhava para a Rosa de Carmen Machi recordava-me da Sevérine, interpretada pela Catherine Deneuve em Belle de Jour. Ambas as mulheres têm vidas marcadas pela monotonia, e ambas procuram escapar a esse tédio através de uma mudança radical.

Mas enquanto que Sevérine faz escapadelas diurnas, Rosa tem uma só escapadela durante a noite que vivemos neste filme. E é uma escapadela bem menos marota, digamos.

Rosa é uma dona de casa quarentona e desesperada que também é depiladora. Mas quando a conhecemos melhor percebemos que os seus sonhos são mais altos que a sua realidade. Rosa pode não ter piano mas é uma excelente pianista, está cansada da vida monótona que tem com o marido e decide fugir. Nunca sabemos como vai ficar a sua vida no futuro, mas vê-se que aquela noite foi importantíssima para ela...descobriu novas gentes, novos mundos e descobriu uma nova vertente da sua personalidade.

Já eu descobri um novo realizador espanhol a seguir atentamente. Este La mujer sin piano é uma excelente lição sobre como contar uma história aparentemente simples de uma forma profunda e surpreendentemente tocante.



Passemos agora às curtas do dia, vistas na sessão Cinema emergente curtas 1:

The Armoire:


Um filme que nos é "vendido" como sendo um thriller (uma criança desaparece! é encontrada morta!) mas que é comédia e musical em (quase) igual medida. Uma boa surpresa com uma fantástica palete de cores.


Licht:


Seguimos uma senhora idosa que aparenta ter alzheimer ou assim. A história não é nada de especial, mas gostei imenso da fotografia, que poderia descrever dizendo que provavelmente seria assim que uma câmara da Polaroid captaria imagens em movimento.


Os olhos do farol:

(não encontrei imagem, mas vejam o trailer aqui)

Foi a curta que mais me puxou para esta sessão. É uma produção portuguesa sem qualquer diálogo (boa estratégia de internacionalização!) e que conjuga perfeitamente uma animação fabulosa com uma banda sonora muito bem conseguida.

É essa música, aliada à muita expressividade dos bonecos animados que nos faz viver as aventuras daquela filha de um faroleiro taciturno. Sem ser preciso uma única palavra. Muito, muito boa.


Muzica in sange:


O título não está mal escrito. É a expressão romena para a frase que estavam a pensar: música no sangue.

Infelizmente confirmei o que já temia...tenho algum problema com cinema romeno. Tirando o 4 luni, 3 saptamâni si 2 zile - que é excelente - acho que nunca gostei de nenhum. Este é outro exemplo...não é que seja mau, mas não me conta nada de especial nem me faz sentir nada.


Watts and Volts:


Outra boa surpresa desta sessão. Em Watts and Volts temos a história de um casal do bairro de Watts, em Los Angeles. Ele tem pose de gangster, mas está mais interessado em poesia e em brahmacharya. Ela é quem realmente controla a relação...ele grita com ela, eles discutem, mas é ela quem acaba sempre por levar a sua avante.

É uma história divertida e até romântica. Tem uma fotografia muito boa, mas o que se destaca acima de tudo é a banda sonora, tão boa que nem parece de uma curta.


Carne:

(mais uma vez não encontro imagem adequada. Fica o trailer, que não faz justiça ao filme)

Todas as edições do Indie têm uma curta completamente alucinada. O ano passado foi o Visionary Iraq, este ano já está encontrada, é novamente portuguesa e chama-se Carne.

A melhor forma que encontro para o descrever é Carmelitas Descalças meets Reservoir Dogs. Isso mesmo, tem uma freira, tem Jesus à chapada à freira por ser uma maluca, tem um diálogo entre os dois composto apenas por citações da Bíblia (que deixaria o Tarantino orgulhoso), tem uma cena de engate hilariante, tem referências ao Magnolia e tem, sobretudo, uma boa disposição que muita falta faz ao cinema português.

Para mim a melhor curta até agora! Só espero é que o humor tenha sido intencional.

domingo, 3 de janeiro de 2010

The Private Lives of Pippa Lee + Mujeres al borde de un ataque de nervios

E aqui vamos nós! O primeiro post de 2010 e, curiosamente, um em que falo do último filme que vi em 2009. Mas também vos falo do primeiro deste ano, e porquê? Porque sou perito no simbolismo das transições.

The Private Lives of Pippa Lee:



De vez em quando surgem-nos filmes muito pouco conhecidos, que vemos quase por acaso mas dos quais ficamos fãs. The Private Lives of Pippa Lee foi um destes casos, tal como já foram no passado o We Don't Live Here Anymore e outro cujo nome não me lembro mas cujo poster tem um livro vermelho e - penso - tem a palavra stories lá pelo meio. (Dou uma pastilha elástica a quem me lembrar qual é esse filme, estou assim tão curioso)

Aqui, acima de tudo, seguimos uma história de vida diferente (e mais completa) do que a que imaginariamos ao conhecer a senhora Pippa Lee pela primeira vez. Sim, porque a Pippa para além de ter um nome estranho (mas fino, ainda deve ser da família da Bibá Pitta) era uma grande maluca...e quem é que imaginaria isso ao vê-la nas primeiras cenas do filme.

O que ela fez ou deixa de fazer não é assim tão relevante, o que me agradou neste filme foi mostrar que nem todas as donas de casa que se vêm nos filmes/séries americanas têm como história de vida a busca incessante pela melhor tarte de maçã. Têm razões (mais ou menos positivas, não me cabe a mim julgar) para terem chegado àquela ponto, neste caso a uma típica comunidade de reformados

Sim, eu sei que o Desperate Housewives faz isso. Sim, eu sei que a temática não anda assim tão longe do Revolutionary Road. Mas gostei mais deste, o que é que querem. E nem estou a dizer isto para impressionar uma miúda, numa de fingir que sou artístico...apenas gosto de filmes mais indiezinhos, parecem-me mais reais.

E como é que se consegue um filme indiezinho (acho que vou registar este novo estilo cinematográfico) com actores como a Winona Ryder (a melhor interpretação do filme) ou o Keanu Reeves? É uma questão de atitude? Deve ser, porque todo o filme tem uma aura muito low-profile que me agrada bastante.

Ainda assim é um filme que me é dificil de definir. Saí da sala bastante satisfeito com esta "pérola" que tinha descoberto, mas actualmente (poucos dias depois) já não me sinto assim tão marcado por ele. Não sei se resistirá à passagem do tempo, mas sei que a tatuagem que meteram no Keanu Reeves deveria ter criado resistências a quem a achou uma boa ideia.


Mujeres al borde de un ataque de nervios:



Não há melhor maneira de começar o 2010 cinéfilo que com um Almodóvar colheita de 1988.

Já é um filme antigo, mas resolvi vê-lo porque o último dele, o Los Abrazos Rotos repete uma cena deste filme e não queria deixar de ver o original. Mujeres al borde de un ataque de nervios é um filme tipicamente deste realizador, cheio de mulheres neuróticas, de cores garridas e planos curiosos. É um filme em que podemos ver alguns traços largos do que Almodóvar veio a explorarar em filmes futuros.

É também por isso que, se calhar, não gostei tanto. O que aqui é resultado de coincidências, em histórias mais recentes foi refinado com argumentos mais completos, as cores são agora mais garridas e os planos curiosos mais ousados. As mulheres continuam neuróticas, mas agora também já somos brindados com homens mais aprofundados que os que aqui vemos.

Já há muito que acho que apesar dos bons filmes serem intemporais a melhor altura para os ver é quando são feitos. Este é um bom exemplo, se o tivesse visto na altura teria ficado mais agradado que agora, depois de já ter visto que o mesmo realizador consegue fazer melhor.







E está feito...este foi o primeiro post do ano. E já agora vejam o novo logotipo aqui do espaço, não há mais King Kong para ninguém.

domingo, 20 de setembro de 2009

Los Abrazos Rotos + The Hurt Locker

Eu bem tento, mas não consigo mudar os hábitos. Lá vem mais uma dose dupla.


Los Abrazos Rotos:



Antes de escrever qualquer coisa mais pessoal devo dizer que sim, concordo com o crítico (já não me lembro qual) que dizia que este filme é muito de Almodóvar mas também tem uns pózinhos de Hitchcock.

Los Abrazos Rotos é, de facto, um filme muito almodovariano (?): tem as suas mulheres, as suas cores, os seus planos e - estranho! - até um dos seus filmes. Mas também é uma história menos próxima do que as que ele normalmente nos apresenta: aqui temos duplas identidades, obsessão sexual (que poderia ser almodovariana, mas é representada de uma forma diferente), crimes e confissões.

Sempre gostei muito dos filmes do Almodóvar, e sempre gostei muito dos filmes - para repetir a referência, que não é assim tão óbvia - do Hitchcock, por isso não foi nada difícil ter gostado deste. Ouso até dizer, e aqui já contra outras críticas que já li, que foi dos filmes dele que mais satisfeito me deixaram assim que as luzes do cinema se acenderam.

Personagens bem construídas, boas actuações, drama/suspense/comédia perfeitamente doseadas, imagens muito bonitas (aquelas estradas em Lanzarote!) fazem um excelente filme, este tem isso tudo.

P.S.: Curiosamente, o poster que meti neste post é das poucas coisas que não gostei no filme. Não podia ser perfeito, não é?


The Hurt Locker:



A seguir a um filme do Almodóvar, o que é que vem? Um filme de guerra, pois claro! Faz todo o sentido! (Não faz? Mas...pensei que fizesse...Que se lixe, não tem de fazer sentido!)
Segundo o que nos diz o nosso amigo IMDB "hurt locker" é o expressão dada pelos soldados americanos estacionados no Iraque ao estado de espírito que vivenciam depois de um momento traumático (serem atingidos por uma bala, morrer algum colega, etc.). É uma expressão interessante mas acho que não é o melhor título possível para o filme. Para mim esse título ideal seria a parte final desta citação, que aparece nos seus segundos iniciais:

"The rush of battle is often a potent and lethal addiction, for war is a drug."

Este filme segue a estadia do Sargento William James no Iraque, onde é colocado tendo como missão encabeçar um esquadrão de desmantelamento de bombas, cujo anterior líder morreu na primeira cena do filme. Ao contrário deste antigo líder, William James é um soldado temerário (irresponsável, a meu ver e na opinião dos seus colegas de equipa) que tem um real prazer em fazer o que faz.

É por isso que acho que "War is a Drug" seria um melhor (ou pelo menos mais adequado) título. Ao longo da estadia no Iraque e nas, curtas mas muito importantes, cenas de volta aos EUA percebemos que ele está viciado naquilo. Tem pouco mais que lhe dê ânimo, vida, energia. Acredito honestamente que assim seja, na realidade. Conheço alguns veteranos da guerra colonial e todos ainda vivem aquilo como se calhar nada mais na vida deles. É um bocadinho como o que eu senti quando vim da Disney World, tinha eu uns 10 anos: a Feira Popular de Lisboa nunca mais foi a mesma coisa. (Que comparação fantástica! Sou mesmo bom!)

Quanto ao filme em si. Está muito bem filmado, estilo documentário, mas se calhar por ter as expectativas altíssimas soube-me um bocado a pouco. Mas ainda hoje, dois dias depois de o ter visto, acho que vai ser daqueles filmes que de que vou gostando mais ao longo dos tempos.