segunda-feira, 27 de abril de 2009

Dose dupla

Weeeeeeeeeeee, cá estou eu outra vez. Tenho visto bastantes filmes mas falta de tempo = falta de updates. Vamos a dois que vi já há algum tempo. Os do Indie virão depois.


The Bourne Identity:


Olá. Eu não me lembro do meu nome, mas rapidamente apercebo-me que sou um máquina assassina.

Luto como um verdadeiro ninja, domino todas as novas tecnologias, falo várias línguas. Ainda tenho tempo para o amor.

Fujo de uma organização que me persegue. Porquê? Não sei, ando a tentar descobrir.

O meu nome é Jason Bourne e sou o protagonista do primeiro filme de uma trilogia de acção. Tenho mais jeito para a porrada que para representar.


Linha de Passe:



Ultimamente quase todos os filmes brasileiros são comparados com o Cidade de Deus. É verdade que foi um filme marcante, um excelente filme vindo de onde a excelência não era (tão) expectável, mas já começa a cansar.

A primeira vez que ouvi falar deste filme foi antes do festival de Cannes deste ano, e lembro-me que li algures (já não me recordo onde) que este filme tinha certas parecenças com o Cidade de Deus, por causa das histórias que relata. Ora, enquanto que um relata a vida de vários jovens de uma favela, esta relata a vida de menos jovens de outra favela.

Dá ideia que são parecidos, mas não. Onde o Cidade de Deus é exuberante, este é discreto. Onde o outro se solta este contém-se, onde o outro dança, este mostra-nos uma (excelente) banda sonora, em que a tensão impera.

Não deixa de ser verdade que esta história é, tal como a de "Zé Pequeno", puramente brasileira. Em mais lado nenhum se mistura miséria com alegria, mas aqui o tom é mais pessimista (foi assim que interpretei o final, que pode ser visto de forma diametralmente oposta). Aquela família já teve melhores dias, e é a tristeza que lhes ocupa os dias.

O que é que vocês, muy louvados leitores, fariam se vissem o vosso mundo, a vossa única esperança, desmoronar-se?

segunda-feira, 20 de abril de 2009

The Killing Fields

The Killing Fields:



Desde 2005 que andava a tentar ver este filme. Vi-o, finalmente, ontem. Não deixa de ser estranho que um filme nomeado para 7 Óscares e vencedor de 3 não seja acessível, mesmo sendo de 1984. Mas pronto, assim cresceu a curiosidade.

Valeu a pena a espera? Acho que sim! O genocídio esquecido do Cambodja há muito que foi um tema que me interessou e esta é uma das poucas histórias que o aborda. Claro que não é um documentário sobre o assunto, vemos a história pelos olhos de um jornalista americano e do seu tradutor cambodjano. Não é objectivo, não o pretende ser nem tem de o ser. O cinema é - tal como este blog - subjectivo.

A vertente "americana" da história é menos marcante, Sydney Schanberg é um correspondente do New York Times destacado no Cambodja na altura do seu bombardeamento (secreto) pelo exército norteamericano que, no momento em que os khmer rouge sobem ao poder, é forçado a abandonar o país, deixando também para trás o seu tradutor, Dith Pran. Chegado aos EUA, Sydney vive com os fantasmas desse momento, em que indirectamente sugeriu a Dith que ficasse com ele quando poderia ter fugido com o resto da família.

Mas é a história de Pran a mais marcante. Depois da tal separação forçada (a cena em que Pran se entrega, saindo da embaixada, é delicada e comovente) Pran é enviado para os famigerados Killing Fields, os campos de agricultura forçada para onde os habitantes das cidades cambodjanas foram enviados. Uma espécie de reprogramação mental e ideológica daqueles que, para a classe política dominante, eram culpados de capitalismo por coisas tão irreais como usar óculos ou falar uma língua estrangeira.

Nesses campos da morte Pran é forçado a manter-se em silêncio, a melhor forma que teve de se proteger das purgas aos intelectuais (era jornalista, teve de assumir ser condutor de táxi para salvar a sua vida) até ao momento em que conseguiu fugir. A história da sua fuga é verdadeiramente épica, atravessando rios repletos de cadáveres, montanhas cravadas de minas anti-pessoais e sobrevivendo a fome, doenças e cansaço quase intoleráveis.

No final do filme surge uma daquelas mensagens típicas dos filmes inspirados em factos reais. Essa mensagem diz que o pesadelo do Cambodja continua. Continuava em 1984, actualmente já não é assim. Mas existirão outros pesadelos por esse mundo fora, e é por relatos destes, de verdadeiros sobreviventes, que nos apercebemos que a realidade da crueldade humana é muito mais abjecta que qualquer ficção.

Mais uma notazinha bem negativa para o DVD. A edição que comprei é a "2 disc special edition" e nem um raio de umas legendas se arranja? Está bem que o comprei na Irlanda, não queria legendas em português, mas um English for the hard of hearing era muito bem vindo, sobretudo tendo em conta que quase um terço do filme é falado em khmer, a língua oficial do Cambodja.

Bobby

Bobby:



Não foi dos filmes com mais atenção (ver em casa com mais gente dá nisto) mas não achei espetacular. E não, não é um filme sobre um cachorrito chamado Bobby. Nem sobre o Bobby Robson, é sobre (ou mais precisamente tem algo a ver com) o Robert Kennedy.

Tem um cast recheado de actores e actrizes famosos, a dada altura até presumi que Sharon Stone não fosse a Sharon Stone porque achei que era gente famosa a mais (mas não, era mesmo ela) e as histórias que contam não são más, mas também não são propriamente marcantes.

Pode ter sido de não estar com total atenção mas achei que as histórias não são muito relevantes...mais valia terem contado o que se passava depois do SPOILER PARA QUEM NÃO VIU E NÃO SABE A SUA HISTÓRIA DOS EUA assassinato do RFK, seria mais giro que ver as historias individuais de todos eles que - talvez à excepção de um - têm pouco de interessante.

Quiseram dar uma de Magnolia, mas pelo menos a mim não me conseguiram cativar.

E é isso, pronto.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Che

Che:



Inicio esta SMR fazendo o aviso que vi os dois filmes de rajada (viva o Medeia Card!), tal como era suposto serem vistos (já que inicialmente eram um só filme) e que como tal farei um só texto.

Ernesto "Che" Guevara é o mais próximo de um homem do renascimento que o século XX teve a oportunidade de conhecer: médico, guerrilheiro, político, etc. Era um humanista que, impregnado pelos ideias comunistas, decidiu pegar em armas e lutar por aquilo em que acreditava. Não precisava de o fazer, era filho de uma classe média alta argentina e resolveu travar as suas lutas fora do país que o viu nascer.

Em Cuba a coisa correu bem, e é isso que vemos na primeira parte deste quase documentário. Colaborando com Fidel Castro, "Che" Guevara conseguiu tornar real a sua revolução. E aí mostrou o seu carácter: ao contrário da maioria dos seus colegas - guerrilheiros da Sierra Madre - "Che" não quis ficar em Havana, vivendo os proveitos da revolução. Em vez de ficar em Havana partiu para novas lutas, primeiro em África e depois na Bolívia, país que o viu morrer.

Este filme consegue mostrar o guerrilheiro mas sobretudo o ideólogo por detrás das armas: vemos "Che" em Nova Iorque, a responder (magistralmente) às acusações que recebe de representantes de outros países e vemo-lo a defender por mais que uma vez que um país analfabeto é fácil de controlar. "Che" Guevara dava TPC aos seus subordinados e queria que aumentassem a sua cultura.

Mas o filme não mostra só o "herói", mostra também o lado negro...e aqui não me refiro às mortes por si provocadas. Refiro-me a algo mais profundo que isso..."Che" não percebeu que o seu modelo não podia ser exportado livremente, e a sua campanha boliviano mostra-o perfeitamente.

Por lá o herói revolucionário foi visto com desconfiança, era um estrangeiro (tal como o era em Cuba, mas aí a revolução tinha outras condições para ser plantada e crescer proveitosamente). Na Bolívia "Che" não conseguiu organizar tão bem os seus homens e - muito menos - o povo que acreditava poder ajudar. Não que tenha falhado enquanto estratega, apenas estava a jogar um jogo diferente.

Como se diz, "one person's terrorist is another's freedom fighter" e não pretendo discutir tal ponto neste blog. "Che" Guevara é, para bem ou para o mal, um ícone mundial e este filme está à sua altura. Bem que podiam era ter tirado o Joaquim de Almeida e o seu sotaque manhoso.