sábado, 29 de outubro de 2011

There Once Was An Island

There Once Was An Island:
 

Antes de escrever outras coisas tenho de fazer um aviso: sou apaixonado por ilhas remotas e este filme é sobre uma. A minha opinião pode ter sido influenciada por isso, até porque - não duvidem - passei o filme todo a pensar que um dia queria ir ali. Dito isto, venha a SMR propriamente dita:

Houve em tempos uma ilha, diz-nos o título deste filme. Mas na verdade essa ilha ainda existe, pelo que têm de perceber o verdadeiro sentido do título... Era uma vez uma ilha, chamada Nukutoa, situada no atol de Takuu, território da Papua Nova Guiné mas tão isolada que os seus habitantes têm a sua própria língua e praticam uma religião descrita como a última religão polinésia dos tempos pré-contacto com os exploradores ocidentais ainda intacta.


Essa ilha tem cerca de 400 habitantes e todos eles se debatem com uma questão que pode, a médio prazo, ser de vida ou de morte: a ilha tem uma altitude média baixíssima e por isso tem vindo a sofrer e muito com o aquecimento global. Muitos temem que em breve deixe de existir, por força das cada vez mais frequentes cheias provocadas pelo aumento do nível médio do mar. A tal questão de vida ou de morte é saber se devem ficar ou partir para outra ilha, para uma reserva designada para eles pelo Governo da Papua Nova Guiné.


Para os ajudar a resolver este dilema, uma ilhoa (SMR, a ensinar-vos novas palavras desde 2009)  que vive "na civilização" decide pedir ajuda a dois cientistas neozelandeses. Estes acabam por passar uma temporada na ilha a investigar as causas do problema e as possibilidades de o resolver. As conclusões a que chegam não são conclusivas (passe o pleonasmo): são dois e cada um tem uma ideia diferente, pelo que a comunidade continuou tão dividida como estava.


O realizador (Briar March) não caem no erro de nos apontar numa direcção. Mostram-nos o problema (e há imagens das cheias que são verdadeiramente angustiantes), apresentam-nos as soluções e apresentam-nos o ponto de vista de muitos daqueles para os quais a decisão é inevitável. O espectador logo decide se quer ou não ter uma opinião.


Aquelas 400 pessoas têm de escolher em breve. As cheias são cada vez maiores e mais frequentes, mas por outro lado o mudarem-se para outro lado implica acabar com o modo de vida que sempre conheceram e que os seus antepassados lhes ensinaram. Entretanto vão ficando, com o coração nas mãos, numa ilha de uma beleza incrível e que - como disse ali acima - me deu imensa vontade de visitar. É nestas alturas que penso que deveria ter seguido uma profissão ligada à natureza.



Filme no âmbito do DocLisboa 2011. Passou hoje e no dia 26, o que quer dizer que já não o vêem nesta edição do festival. Com sorte apanham-no noutra altura.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Golden Dawn

Golden Dawn:


Que grande filme! A sério, que grande grande filme! Dura só 16 minutos mas esses 16 minutos foram suficientes para me encher de vontade de fazer o meu próprio documentário. Haverá melhor elogio que se possa dar?

Golden Dawn apresenta-nos o quotidiano de um grupo de pescadores holandeses algures no Mar do Norte, enquanto tentam ganhar a sua vida naquela que é uma das mais antigas profissões do mundo. O tema em si não difere muito de alguns programas que passam no Discovery Channel, agora que a pesca de alto mar virou moda, mas aqui - ao contrário do que costumo fazer - vou dar mais valor à forma que ao conteúdo.

É que este filme é de uma beleza imensa. Ao mesmo que é frio e maquinal (a pesca e os pescadores não são os temas mais charmosos de sempre) consegue ser, palavras do resumo do Doc, poético na forma como retrata esta actividade. Vê-se que não foi uma obra de realização complexa (diria que foi filmado com uma câmara daquelas que se podem comprar nas lojas) mas a atenção dada à composição de todas as cenas/todos os frames é tanta e a banda sonora, de Filipe Felizardo, é tão boa que conseguem transformar o despejar de duas redes de arrasto numa dança. Repito, o filme acabou e eu só pensava em que temas poderia mostrar num documentário de estilo semelhante.

Maaaaaaaaaaaaaaaas, apesar de todos os elogios que já lhe dei tenho de dar um valente puxão de orelhas à realizadora (Salomé Lamas) por ter deixado que os quadros explicativos finais (não sei que outro nome lhes dar) viessem público com tantos erros de inglês: "Mi" em vez de "My" ou "To" em vez de "Too" e, ainda pior, "No mi son" em vez de sei lá o quê são falhas imperdoáveis para alguém que submete um filme a uma competição.


Filme no âmbito do DocLisboa 2011. Passou hoje e volta a passar no dia 29, às 18h30, no Pequeno Auditório da Culturgest.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Guañape Sur

Guañape Sur:


O dicionário Priberam da língua portuguesa define guano como sendo "adubo de substâncias orgânicas e, particularmente, do excremento das aves". Trata-se de uma substância tão importante para a economia do Perú que o próprio termo deriva da língua dos seus povos indígenas, o quechua. Hoje já não tão importante como outrora foi mas ainda é explorado comercialmente pelo governo local.

Neste documentário seguimos uma expedição comercial organizada pelo Ministério da Agricultura peruano. A cada onze anos são contratadas várias dezenas de trabalhadores que terão como missão separar o precioso guano da restante porcaria deixada por centenas de milhares de pássaros durante os dez anos anteriores. Como diz o capataz no pep talk inicial, guano não deixa de ser caca e como tal pode trazer doenças àqueles que o aspirem; usem máscaras, é o conselho, mas nem uma única se vê a ser usada durante o filme. Os trabalhadores simplesmente não as usam.

O realizador (alemão, János Richter de seu nome) decide não se focar nesse problema. Aliás, a questão das máscaras e das eventuais consequências para a saúde daqueles homens nem sequer é abordada (eu é que tenho a tendência para pensar nesses assuntos). O foco do filme é a actividade em si, não aqueles que a exercem.

"É uma escolha acertada?" perguntam-se vocês (ou pelo menos perguntei eu). Acho que sim, dados os constrangimentos de tempo a opção por abordar o passado, o presente e o futuro daqueles homens seria demasiado. Assim, deixou-se a prospeção de guano falar por si mesma, acompanhada do constante piar das aves que habitam aquele rochedo e de uma composição visual muito interessante e prometedora para alguém que tem aqui a sua primeira obra.




Filme no âmbito do DocLisboa 2011. Passou dias 21 e 24 mas só hoje é que tive oportunidade de escrever a SMR.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

The Redemption of General Butt Naked

The Redemption of General Butt Naked:


The Redemption of General Butt Naked é um documentário que tem nome de filme porno mas que, em dados momentos, podia transformar-se em filme de terror. Fala-nos da história de Joshua Milton Blahyi, guerrilheiro liberiano que ganhou a alcunha de General Butt Naked por liderar um grupo de combatentes que enfrentavam os seus inimigos completamente nus, crentes numa protecção divina que os tornaria invencíveis.

Quando ouvi esta última parte tive de me lembrar de um outro documentário, Invisible Children: Rough Cut. Nesse filme é-nos explicado que também no Uganda o exército de Joseph Kony por vezes combate nu, crente na mesma protecção divina. Isso é, claro, o menos relevante nestes dois importantes filmes, mas não deixa de ser curiosa a ligação, por nos permitir prescrutar a mente de dois monstros que espalham o caos e a dor e mesmo assim se sentem protegidos pelas suas divindades, o diabo na Libéria, deus no Uganda.

Mas neste filme sobre o General Butt Naked o título apresenta uma outra palavra, ainda mais importante para a história que se quer contar: redenção.

Ao contrário do que se passa no Invisible Children aqui o "monstro" é filmado pelos realizadores...Joseph Kony aparece só em alguns frames mas o General Butt Naked é o protagonista do filme, estando em cena na grande maioria do tempo enquanto conta a sua história, espalha a sua nova mensagem e pede desculpa aos que magoou ou aos seus familiar. Os tempos são de redenção para Joshua Milton Blahyi.

Isto porque ao fim de uma série de anos a cometer as maiores barbaridades da guerra civil liberiana Joshua teve uma visão: Jesus apareceu-lhe, fê-lo ver o quão errado estava ao comportar-se assim e mudou-lhe a vida para sempre.

Por vezes a conversão de Joshua parece ser honesta, vê-se que ele acredita nas palavras que diz, faz o que pode para ajudar aqueles que prejudicou (embora mantenha uma série de gadgets e roupas caras num país paupérrimo) e, segundo o filme, foi um dos poucos (senão o único) dos guerrilheiros dessa altura que se apresentou publicamente perante a Comissão de Verdade e Reconciliação (CVR) criada em 2005 e confessou as atrocidades cometidas. Mas, apesar disso, devo confessar que não consigo acreditar totalmente nele: quando vemos os seus sermões na igreja (Joshua é agora um "ministro" religioso) ou quando o vemos a apresentar as suas desculpas àqueles que magoou podemos testemunhar que sua agressividade continua lá por inteiro...Joshua parece ser um barril de pólvora que por agora está controlado, mas que a dada altura poderá voltar a explodir.

Se assim é ou não não sou eu que posso confirmar, deixo-o para quem convive com ele mais de perto, mas não deixa de ser interessante ver que a grande maioria daqueles a quem Joshua pede desculpa ("Sorry", diz ele, uma palavra demasiado fraca para os horrores que motivou) deseja que ele ainda venha a ser punido pelo que fez. O ter-se apresentado na CVR fez com que fosse indultado pelo que pode andar livremente na Libéria, sem vir a ser perseguido judicialmente mas ainda há muitos que querem que pague pelos males que fez. No final do filme também vocês terão o vosso veredicto.


Este é mais um documentário no âmbito do DocLisboa 2011. Passou hoje e volta a passar dia 28, às 21h45 no cinema Londres.

Koniec Lata

Koniec Lata:


Koniec Lata (O fim do Verão, em polaco) é uma curta metragem de 32 minutos que nos apresenta a realidade de uma escola militar russa. Nele ouvimos os testemunhos de jovens de 7, 11 e 16 anos e - em geral - vemos como a escola funciona.

Em Portugal existem também algumas escolas militares e apesar de conhecer algumas pessoas que lá estudaram confesso que nunca abordei com elas o assunto. É por isso que aproveito agora para perguntar a algum leitor que tenha essa experiência: é normal haver tanta desumanização dos alunos destas escolas? Em nenhum momento deste filme se testemunha qualquer cena de violência ou de antipatia dos mais velhos para com os mais novos (antes pelo contrário), mas fiquei com a impressão de que as crianças que ali entram saem mais autómatos que adultos. Talvez seja essa a ideia fundamental da instrução militar, mas quando o testemunho incomoda-me.

Tomemos como exemplo o jovem de 7 anos que apresenta o seu testemunho: é comandante da "1.ª tropa" (na escola observada os anos dividem-se por tropas) e tem como funções observar e garantir a organização, respeito e disciplina dos seus camaradas. Até aqui tudo bem, nós também temos delegados de turma (existem na escola primária? Não me lembro), mas um dos corolários dessa sua função é ter de avaliar quinzenalmente os seus colegas, em público (perante a turma e os professores) dizendo-lhes o que fizeram de mal e como deveriam corrigir. Parece-me um pouco demais para sete anos, mas - verdade seja dita - o nosso "comandante" parece gostar.

Por nos mostrar esta realidade tão distante (geografica e mentalmente) este documentário merece ser reconhecido. Está bem filmado, bem estruturado e mostra aquilo que parece querer mostrar desde o início, que as escolas militares (pelo menos as russas) podem ser uma boa solução para educar crianças num país tão grande que faz com que o exército seja a única instituição verdadeiramente nacional, mas essa educação traz como consequência o retirar da juventude aos jovens que recebe.


Filme no âmbito do DocLisboa 2011. Foi hoje a última das duas sessões.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Marxism Today (prologue)

Marxism Today (prologue):


Com a queda do muro de Berlim, a 9 de Novembro de 1989 muita coisa mudou na que até então era a República Popular da Alemanha. Uma dessas coisas foi o fim da carreira para todos os professores de "Teoria Marxista-Leninista" que existiam nas universidades do país. São essas pessoas que ouvimos nesta curta-metragem documental.

Ao ouvirmos alguns dos seus testemunhos vemos que alguns desses antigos professores de Marxismo-Leninismo sentem o que em alemão chamam de Ostalgie, nostalgia do Leste e, tendo em conta que a maioria de nós sabe agora o quão controlada e difícil era a vida nesse extinto país, podemos ser tentados a pensar que eles devem ser mas é parvos, ao preferirem uma sociedade em que tinham de pedir autorização para casar a uma outra que os acolheu, pagou a sua integração e modernização. Mas será que tudo é assim tão linear? Creio que não, temos de pensar que se tratam de pessoas que passaram uns 40 anos da sua vida a pensar (mesmo que à força) de uma forma que agora é vista como errada...como um dos entrevistados diz "a dada altura disseram-nos que a nossa vida até então foi um erro". Imaginem como se sentiriam se vos dissessem isso agora.

Em termos de qualidade do filme, propriamente dita, tenho que deixar uma nota: o tema interessa-me bastante, dada a minha ligação com Berlin e o meu interesse por história, mas para quem não esteja muito para aí virado se calhar não será o filme mais atraente. Tem algumas imagens interessantes (nomeadamente as das actuações de ginástica a la Coreia do Norte) mas a opção do realizador (que se chama Phil Collins mas não é O Phil Collins) em basear o documentário em entrevistas filmadas e o escopo muito reduzido mesmo afastam-no um pouco do interesse geral.


Filme no âmbito do DocLisboa 2011, passou hoje e volta a passar já amanhã, às 19h15, no cinema Londres.

Susya

Susya:


A história deste filme é simples de contar: um homem palestiniano de 60 anos decide voltar, com o filho de 25, à terra da sua família. Anos antes havia sido expulso pelos militares israelitas e para voltar a ver o que era seu teve de pagar bilhete, pois a sua terra natal foi transformada em espaço arqueológico.

As causas e consequências do que aqui se passa são muito mais profundas: pai, filho e restante família foram expulsos da sua terra por força da política de colonatos israelita e para além do triste que é terem de pagar bilhete para ver a sua antiga casa, ainda acabam expulsos dessa sua visita turística por um grupo de soldados israelitas que os vê como uma ameaça. Trata-se de apenas mais uma pequena peça no enorme (e irresolúvel) puzzle que é a questão israelo-palestiniana.

Esta curta não é nada de especial a nível técnico (dá-nos aquela sensação de "até eu podia fazer isto") mas não deixa de ter o seu interesse por pôr em foco mais um aspecto da ocupação israelita do território palestiniano e do drama que deve ser ser-se expulso do nosso país/da nossa aldeia sem que ninguém possa fazer nada por nós.

Filme no âmbito do DocLisboa 2011. Passou hoje e volta a passar dia 26 às 18h, na Culturgest.

Gesto

Gesto:


Esta SMR não é uma crítica ao filme, é uma carta ao seu protagonista  (António Coelho), que conheço de outros tempos e outras andanças.

"Caro António,

Talvez não te lembres de mim à primeira e por isso devo apresentar-me. Chamo-me João e fui teu formador no projecto MOVA, no CED Jacob Rodrigues Pereira. Talvez de lembres de mim pelo meu nome gestual, relacionado com a minha poupa de cabelo.

Durante esse projecto tive o prazer de te mostrar a ti e aos teus colegas que não são algumas limitações físicas ou sociais que nos impedem de sermos pessoas completas, com projectos de vida bem estruturados e capazes de conviver com o mundo exterior. Infelizmente tive de sair antes do final do projecto mas soube, pelos colegas que me sucederam, que foi um sucesso. Fiquei feliz por sabê-lo, pois desde a altura em que primeiro entrei em contacto convosco que acho o CED Jacob Rodrigues Pereira uma grande escola e os seus alunos grandes exemplos de inteligência, cultura e vontade de aprender.

Escrevo-te pois ontem à noite voltei a ver-te. Desta vez vi-te num filme mas reconheci-te de imediato. Foi bom ver que continuas a sonhar alto, como já na altura demonstravas fazer e que não desistes do teu sonho de cinema. Houve um dia em que vos mostrei um filme do Charlie Chaplin e já na altura demonstraste um interesse especial na análise daquelas imagens.

Mas ontem, ao ver-te como a "estrela" do teu próprio filme lembrei-me sobretudo de outra coisa. No final da minha colaboração no projecto passámos um fim de semana juntos na Colónia d'O Século, lembras-te? Pois eu nunca mais me esqueci da conversa que tivemos os dois numa das noites. Não tinhas o intérprete por perto por isso usámos o telemóvel para falar por escrito e no final disseste-me que gostavas de mim e da minha colega por sermos ouvintes mas estarmos a dar formação a jovens surdos como tu e (alguns d)os teus colegas. Pois hoje, passados uns dois anos e tal digo-te que ao ver o filme Gesto sou eu que te agradeço, pela inspiração que foste na tua crença de que todas as barreiras são ultrapassáveis.

Espero, muito honestamente, que o teu sonho continue vivo e que um dia nos encontremos por aí, tu realizador e eu ainda aqui a escrever as minhas críticas de cinema. Boa sorte!"


P.S.: Filme no âmbito do DocLisboa 2011. Passou ontem, dia 23 e infelizmente já não volta a passar, mas se o mundo for justo voltarão a ouvir falar dele e terão oportunidade de o ver noutra ocasião. É um filme que, tendo algumas falhas, serve como uma ponte para o outro mundo que é a comunidade surda portuguesa.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

DocLisboa 2011

Aviso à navegação! Começa hoje a edição de 2011 do Doc Lisboa.

Não vou poder fazer uma cobertura tão intensa como fiz o ano passado mas conto ver mais filmes e, sabem bem, fazer as respectivas SMR. Vou tentar ao máximo escrever no dia da sessão, mas desde que não se importem com ler a SMR sem ser no dia estamos todos bem, já que todos os filmes serão marcados com o tag "Doc Lisboa".

Aproveitem o festival e aprendam enquanto vêem cinema. É por isso que adoro documentários!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Cyrus



Imaginem-se com uns quarenta e tal anos, divorciados há sete, mas ainda com uma grande panca pela vossa ex-mulher. Imaginem que se dão com ela como amigos e colegas de trabalho e imaginem que ela vos diz que se vai casar dentro de pouco tempo. É por isso que John (John C. Reilly) passa nos minutos iniciais deste filme.

Felizmente a ex-mulher de John, Jamie (Catherine Keener), é uma bacana e tenta animar o homem levando-o a uma festa a que vai com o noivo. John está deprimido mas em tempos já foi interessante e tinha piada: é isso que diz a Molly (Marisa Tomei), uma mulher que conhece na tal festa e com quem acaba por se envolver.

Molly consegue ver para lá da depressão de John e os dois vão começar uma relação que de início é escondida mas que depressa passa a ser do conhecimento de Cyrus (Jonah Hill), filho de Molly e razão para o título do filme. É que se não há dúvida que o par John/Molly é o centro do filme também não pode haver quanto ao facto de Cyrus ser o motor que faz a história andar.

A meu ver este filme cometeu um grande erro. A sua promoção foi feita como se de uma comédia se tratasse (vi o trailer já o ano passado e também tinha ficado com essa ideia) quando não é de todo uma comédia. Digo isto porque o pano de fundo emocional desta história é melancólico e mesmo com umas quantas piadas pelo meio (muito poucas, o que neste caso é bom) não devemos vê-lo como sendo qualquer outra coisa.

Cyrus torna-se importante na história porque apesar de ter já 21 anos de idade é um bebé gigante com uma relação tão próxima com a mãe que até o Édipo diria que era doentio: manipula-a emocionalmente a toda a hora e quando sente o risco de esta se afastar ao aproximar-se de John resolve ir à carga e tentar correr com o novo namorado da mãe dali para fora. Seria aqui que poderia estar a comédia mas repito, o assunto não é tratado de maneira a sacar gargalhadas e na minha modesta opinião ainda bem.

Cyrus acaba por ser um filme interessante mas que podia ser um bocadinho melhor e deveria ter sido promovido de outra forma. É uma rara abordagem moderna a um tema tão clássico, feita de forma inteligente e que terá interesse acrescido para aqueles que têm uma relação próxima com os pais mas que também não é uma má opção para todos os outros.

sábado, 8 de outubro de 2011

Horrible Bosses

Horrible Bosses:


Todos nós já tivemos um chefe ou uma chefe com o/a qual não nos damos bem. Faz parte do mundo do trabalho e quem diz que sempre foi feliz no emprego é porque nunca teve um emprego a sério (empregos de que se gosta mesmo não contam!). No entanto, o facto de não gostarmos dos nossos chefes não nos faz querer matá-los, certo?

No caso de Nick, Dale e Kurt (Jason Bateman, Charlie Day e Jason Sudeikis, respectivamente) a minha afirmação do parágrafo anterior é errada: detestam-nos ao ponto de os querer matar, e o filme acompanha precisamente os planos dos três para o fazer, planos que passam por tentar contratar um gangster para fazer o trabalhinho, longas sessões de observação da chefe de Dale (a Jennifer Aniston, cujo "único mal" é ser tarada sexual e querer ter sexo com o seu empregado) e buscas por pistas que acabam com dois dos três altamente drogados. Esqueci-me de dizer que se trata de uma comédia.

Até consigo imaginar que nas reuniões de argumento algumas das ideias apresentadas tivessem piada. Infelizmente, no resultado final só duas é que me fizeram rir: o facto do personagem do Jamie Foxx se chamar Motherfucker Jones (o que dá para umas boas linhas de diálogo) e o aspecto geral do personagem do Colin Farrel enquanto chefe de Kurt (pena que não explorem mais esse filão). Tudo o resto no filme é conteúdo daquelas comédias insalubres que de tempos a tempos vou metendo por aqui e que vejo numa das três seguintes situações: ou na companhia da namorada, ou quando não me apetece raciocinar durante o filme ou, como neste caso, quando vou em viagem de comboio e sei que o ambiente não é o ideal para ver um filme, a menos que seja daqueles rapidamente esquecidos.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Julianes Sturz in den Dschungel

Julianes Sturz in den Dschungel:



Juliane Koepcke tem uma história de vida que mais ninguém tem, e ninguém deseja ter. Existem no mundo uns quantos sobreviventes únicos de quedas de avião, como ela, mas não deve haver mais nenhum que depois da queda no meio da Amazónia passou 10 dias a caminhar sozinha pela selva até encontrar mais gente, isto porque as buscas foram canceladas por nem sequer conseguirem encontrar os destroços do avião no meio do mato.

A história de Juliane foi contada de uma forma dramatizada num filme série B dos anos 70 mas aqui é contada pela própria, que aos 29 anos voltou ao lugar do acidente e reviveu o que ali se passou. Quem lhe propôs esta viagem foi o Werner Herzog, que tinha bilhete para o mesmo avião e só não embarcou no fatídico voo por causa de um atraso numa ligação.

A 24 de Dezembro de 1971 Juliane embarcou em Lima e sentou-se no lugar 19F no voo com rumo a Pucallpa, de onde partiria para passar o Natal com a família na reserva biológica gerida pelos pais na floresta amazónica. Fora lá que Juliane viveu durante grande parte da sua vida e, quando o avião se despenhou, foi isso que a salvou.

Como é natural Juliane não se lembra de (quase) nada entre o raio que acertou num dos depósitos de combustível do avião e o fez cair a pique e o ter acordado no chão, ainda presa ao seu lugar com o cinto de segurança. Estava ferida mas conseguia andar, pelo que se levantou, procurou (em vão) outros sobreviventes (incluindo a mãe) e, quando percebeu que tinha de ser ela a salvar-se, seguiu os seus conhecimentos de sobrevivência na natureza e fez a coisa mais lógica mas que se calhar nenhum de nós faria: procurar um curso de água, por mais pequeno que fosse, e segui-lo até encontrar civilização.

Na minha opinião o aspecto visual este documentário podia ser melhor. É impressionante ver a vegetação amazónica mas verdade seja dita que grande parte do filme é passado a ver Juliane remexer nos destroços do avião (que entretanto foram encontrados mas que demoraram cerca de 3 meses a ser relocalizados pela equipa do Herzog) enquanto conta a sua história. Felizmente essa história é espantosa e os seus relatos estão cheios de informação que espero nunca ter de usar (Juliane não tinha medo das piranhas por saber que elas são inofensívas em águas corridas; os animais mais perigosos que encontrou naquela viagem eram as raias venenosas; um determinado tipo de pássaros (não me lembro como se chamam) significa que há um curso de água navegável por perto).

Foi sobretudo por esses pedaços de informação que mantive o interesse no filme, se tivesse de dar uma nota ao filme estaria perto do Satisfaz. É capaz de ter sido o documentário dele que menos me puxou mas apesar de tudo tem um tema interessante. Acho que não há nenhum filme do Herzog com um tema desinteressante.



P.S: Eu sei que o título em alemão torna o post menos apelativo, mas como gosto de usar o título original sempre que posso e acho que o inglês (Wings of Hope) é muito enganador lá terão de aprender a dizer Julianes Sturz in den Dschungel.