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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Bronson

Bronson:


Se os biopics são retratos então Bronson, filme que conta a história de Michael Gordon Peterson, é uma daquelas caricaturas que se podem fazer num qualquer calçadão de praia. A referência que este poster faz ao A Clockwork Orange não é desapropriada mas não seria desapropriado mencionar antes o Natural Born Killers do Oliver Stone...tudo aqui parece cartoon, embora a história por detrás do filme seja real.

Quem é Michael Gordon Peterson? É o auto-proclamado recluso mais violento da Inglaterra. Um homem de 59 anos que adoptou a alcunha de Charles Bronson, inspirando-se no actor para criar uma personalidade para a sua vida na prisão. Desde que foi preso pela primeira vez, em 1974, Charles Bronson passou toda a sua vida na cadeia à excepção de 69 dias em 1988. A primeira pena de prisão era de "apenas" 7 anos, mas como Charles se diverte em lutar com os restantes reclusos e com os guardas prisionais os anos foram-se acumulando e os muitos dias de solitária também.

Não vos consigo falar muito mais sobre a personalidade deste homem. Não o conhecia antes de ver este filme e mesmo depois de o ver não o conheço propriamente bem. A razão para ter visto o filme é ser do mesmo realizador que o Drive mas quem esperar um filme semelhante está bastante enganado...não me canso de repetir que se trata de uma obra mais próxima do Natural Born Killers que qualquer outro filme que me lembre: a história é violenta mas contada de uma forma quase cartoonesca e, por força da sua personalidade, o vilão torna-se no personagem mais simpático/cool de toda a história, o Charles Bronson deste filme acredita que é uma estrela, comporta-se como tal e faz-nos simpatizar com ele. Pena é que a simpatia não fique para sempre.

Isto porque o filme comete um pecado capital: começa em grande (passei os primeiros 15 minutos de boca aberta, completamente surpreendido com o que estava a ver) mas depois vai decrescendo de interesse. A qualidade mantém-se mas a história prolonga-se demais (não há assim tanto a dizer sobre uma pessoa como estas, certo?) e a dada altura torna-se um bocado aborrecida.

É por causa dessa falha que acho que Nicolas Winding Refn não fica no mesmo patamar que estava depois de Drive (nota importante: este filme é mais antigo, de 2008, eu é que só o vi agora). Se em relação a Drive é o realizador que merece a grande parte dos elogios, em Bronson a realização é também merecedora de elogios (o homem mostra que consegue filmar com estilo) mas os holofotes devem cair todos sobre Tom Hardy, um actor que antes não tinha muito que mostrar mas que por causa deste filme já ganhou uma série de papéis icónicos (vejam-no como Bane no próximo Batman!). A sua criação é decerto mais interessante que o Charles Bronson do Michael Gordon Peterson e - ainda mais importante - agradou à mãe do personagem que retrata.

O recluso verdadeiro não foi autorizado a ver o filme que o retrata, mas contou estar orgulhoso por ser retratado num filme que agradou à sua mãe. Consigo imaginar que, se visse o filme, ficaria ainda mais orgulhoso: um filme tão louco só poderia agradar a alguém com uma personalidade tão louca.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Drive

Drive:



Li na Empire deste mês que uma mulher americana processou os produtores deste filme por, aparentemente, o trailer parecer que se trata de um filme tipo The Fast and The Furious. Para eu próprio não ser processado deixo já o aviso: apesar do título e do que eventualmente possam achar do trailer, este não é um filme sobre condução de carros a alta velocidade.

Exemplo disso é a cena inicial, talvez a segunda melhor perseguição automóvel mostrada no cinema (a seguir ao Bullit, claro) mas que se caracteriza por ser metódica e não pela testosterona. Quem conduz o carro nessa altura é o Ryan Gosling, na pele de um duplo de cinema que faz uns biscates enquanto condutor de fugas após actividades, digamos, menos legais. Como ele diz aos potenciais clientes: ele não faz nada e não pega em armas, mas dêm-lhe uma janela de cinco minutos e podem contar com ele para o que quer que aconteça durante esses cinco minutos.

Este personagem interpretado pelo Ryan Gosling (um dos melhores actores desta nova geração? Assino por baixo!) não tem nome e é de muito poucas falas. A ideia do realizador (Nicolas Winding Refn) e do argumentista (Hossein Amini, baseado num livro de James Sallis) é deixar-nos sem saber quem ele é verdadeiramente pois ele próprio não sabe bem quem ou o que é.

Algo que fica bem definido, porém, é a sua ligação a Irene (Carey Mulligan) e ao filho, seus vizinhos e o mais próximo que parece ter tido de uma relação humana. Uma ligação tão forte que quando o marido de Irene volta para casa depois de ter passado uns tempos na prisão o nosso protagonista acabar por o ajudar, para que indirectamente Irene e o filho possam ser mais felizes.

Mas, como diz a tagline do filme "there are no clean getaways" (não há fugas fáceis). As coisas correm mal e muito vai ter de ser feito para proteger aquela mulher e aquela criança inocentes.

Desde a banda sonora (excelente) à fotografia, passando pelo guarda-roupa e pela forma como os silêncios são geridos, este filme é acima de tudo cool e impressionista. É por isso que estou com aqueles que o interpretam como tendo bastante mais para além da superfície. Para além de um filme de gangsters (que por vezes consegue ser bem violento, fica o aviso) Drive tem uma outra dimensão mais profunda mas que não é necessária para que saíamos satisfeitos da sala de cinema. Numa comparação meio simplista, pensem no Pulp Fiction.

Não é que Driver seja tão bom ou venha a ser tão influente como a obra-prima do Tarantino, mas enquanto filme desse género (que não consigo bem definir) é mesmo capaz de ser o melhor desde 1994 e não posso deixar de o recomendar a quem gosta de filmes nesta onda.