sábado, 2 de junho de 2012

Moonrise Kingdom

Moonrise Kingdom:



No dia 8 de Abril de 2002 vi o The Royal Tenenbaums numa sala do cinema Monumental em Lisboa. Não gostei do filme mas pior do que isso, comecei uma relação muito complicada com os filmes do Wes Anderson. Devo ter visto esse filme por volta das 19h porque me lembro que era essa a hora a que as visitas do Hospital Particular de Lisboa acabavam e eu saí um pouco mais cedo para conseguir chegar à sessão a tempo. Foi a última vez que falei com o meu pai.

Ontem, mais de 10 anos depois, numa sala do cinema Cinestar Potsdamer Platz em Berlim, fiz finalmente as pazes com o Wes Anderson. Obviamente a culpa não é dele, mas desde 2002 que não conseguia desligar-me da relação que tinha entre este realizador e a sensação de "e se tivesse ficado mais uns minutos a conversar"? Entretanto o meu pai morreu, o Wes Anderson fez mais três longas (das quais vi uma - The Darjeeling Limited), eu cresci 10 anos e só ontem consegui desligar essa associação.

O segredo para que isso tivesse acontecido está no facto de Moonrise Kingdom contar uma história que eu gostaria de ter vivido quando tinha os mesmos 12 anos que Sam (Jared Gilman, que poderá ir longe se decidir continuar a ser actor). Sam é um membro altamente impopular dos Khaki Scouts liderados por Ward, um Edward Norton brilhante de tão perdido que torna o seu personagem. Um certo dia, no verão passado, Sam conhece Suzy (Kara Hayward), filha de um dos poucos casais residentes na fictícia ilha de New Penzance. Tornam-se pen pals (o filme é passado em 1965, na era pré-internet) e no ano seguinte resolvem tentar o reencontro e a fuga.

Tanto Suzy como Sam estão longe de ser o que a sociedade gostaria que eles fossem. Ele é um órfão incompreendido no meio de uma família adoptiva que acaba por o abandonar, ela tem tudo o que uma família (disfuncional, não fosse ela liderada pelo Bill Murray e pela Frances McDormand) lhe poderia dar mas confessa a Sam que gostaria de ser órfã como ele, pois nos seus livros os órfãos têm vidas muito mais interessantes.

A fuga de Sam e Suzy conjugada com uma tempestade anunciada pelo estranho narrador põe New Penzance em alvoroço. O polícia da ilha (Bruce Willis, uma grande escolha de casting) junta-se aos pais de Suzy, a Ward e aos seus escuteiros na busca dos fugitivos e essa é metade da história. A outra metade é a do desenvolver da relação entre o casal em fuga.

A fórmula de dividir a história em dois funciona muito bem pois permite-nos divertir-nos com a seriedade com que a fuga é tratada pelos perseguidores enquanto que sabemos o quão pouco desesperado é o estado de espirito dos perseguidos. Sam e Suzy só querem estar juntos e acabam por envolver-se de uma forma bem mais profunda do que se esperaria para duas crianças.

Como disse no início, este filme fez as pazes entre mim e o Wes Anderson por contar uma história de que eu gostaria de ter feito parte. Mas o segredo do sucesso é sobretudo a forma como é contada. O look e a banda sonora dos anos 60 só ajudam a que nos deixemos envolver numa narrativa que conta a história deste puto de 12 anos como se fosse ele mesmo a conta-la.

No final da sessão nem uma pessoa saiu até ao final dos créditos. Uns provavelmente sonhando ser Sam (ou Suzy) numa história de amor tão possível como irreal, outros querendo talvez ser tão cool como o casal Bishop, eu por ter desfeito o nó que me afastava deste grande realizador e por ter acabado de assistir ao meu filme favorito deste ano, todos com um grande sorriso na cara.

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