Mostrando postagens com marcador Dinamarca. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Dinamarca. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Hævnen

Hævnen:



Aqui há uns tempos vi e analisei um filme norueguês que partilhava a actriz principal com este filme, dinamarquês, que chega até nós já com o Óscar de melhor filme estrangeiro no currículo.

Esse filme chama-se De Usynlige e lida com as consequências de um erro cometido no passado. Este filme, Hævnen, partilha por isso algo mais que a actriz Trine Dyrholm, partilham também a sua temática. A grande diferença entre estes dois filmes é a perspectiva temporal: enquanto que a Noruega nos trouxe os dramas de um jovem que já fez a asneira, a Dinamarca mostra-nos a escalada da violência que leva à tal asneira e, só mais mitigadamente, as suas consequências.

Hævnen mostra-nos a violência em dois contextos diversos: inicia-se matreiramente num campo de refugiados, onde Anton (Mikael Persbrant) trabalha, algures em África, mas rapidamente se muda para a Dinamarca, onde o seu filho faz amizade com Christian (William Jøhnk Nielsen), um jovem bem mais problemático do que parece e o verdadeiro personagem principal desta história.

A violência em África tenta ser chocante mas em abono da verdade não é assim tanto, tão conhecidas que são as histórias reais iguais ou piores que todos os dias acontecem em lugares como aquele. Mais chocante é a reacção de Anton (ou a falta dela) a essa violência, que indirectamente nos faz a todos pensar "isto vai correr mal" quando, mais tarde, essa reacção (ou falta dela) tem consequências no Norte da Europa.

Isto porque Christian tem andado a desencaminhar Elias (Markus Rygaard), o filho do nosso médico sem fronteiras.

Com uma atitude nietzschiana, Christian proclama odiar "todos os que desistem"; para ele a melhor resposta não é dar a outra face mas antes espetar um selo na face do outro e se no contexto escolar a coisa dá asneira, fora dele - quando se tenta vingar de uma injustiça cometida contra o pai do seu amigo - a asneira terá consequências bem mais graves.

Elias não tem a mesma atitude desafiadora do seu amigo Christian (o nome será uma coincidência?)...é muito mais medroso/racional e se calhar é por isso que que se torna a maior vítima de toda esta história: é ele a vítima de bullying antes da chegada de Christian à sua escola e é ele a maior vítima da sua má, se bem que não mal intencionada, influência a partir do momento em que travam amizade.

Christian não deixa de ser, porém, uma outra vítima: vítima das circunstâncias que trouxeram drama à sua vida e da incapacidade que o seu pai (um típico homem de negócios ausente) tem em o educar emocionalmente.

O título português deste filme é "Num mundo melhor" e nesse mundo melhor vai ser a amizade com Elias que acabará por salvar Christian e será Christian a reestruturar o mundo de Elias. Resta no entanto saber se num mundo melhor existirá lugar à verdadeira redenção.

Hævnen é um filme passado, em grande parte, no mundo das crianças, mas os seus problemas são de adultos. O filme em si também é muito adulto, contido e de grande qualidade. Só o posso, por isso, recomendar.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

EFF parte II: Antichrist

Antichrist:


(este não é o poster original do filme, mas é tão mais giro que esse que não podia deixar de o colocar aqui)

É difícil fazer uma review a este filme. Não porque tenha um grande twist final que possa ser destruído com algum spoiler mas sobretudo porque este é um daqueles filmes que ou se ama ou se odeia. Não é possível ter-se uma posição intermédia, neutra, sobre ele e como tal fica complicado recomendar o filme a alguém que eventualmente o odiará ou não o recomendar a alguém que o amaria.

Tirando a parte polémica logo do caminho: o filme é brutalmente violento. Está ao nível daquele que é o meu exemplo típico de violência num filme deste tipo (i.e., que não pode ser metido no mesmo saco que Saw's e afins), o Irréversible. De certa forma este filme consegue ser ainda mais violento, nem que seja pela razão pela qual a violência é despoletada. Por vezes chega até a ser violento demais...eu a dada altura senti que a violência é uma distracção demasiado grande num filme que até ali estava (muito bem) construído de uma forma tensa e introvertida.

Segunda conclusão: este filme é bastante assustador. E porquê? Não é o tipo de filme que nos enerve o tempo todo com efeitos sonoros, ou com jogos de espelhos. Não, este filme é assustador porque a loucura é assustadora, e porque a loucura pode chegar até qualquer um de nós. (Nem quero imaginar o que se sente ao se perder um filho...)

Mas este filme é, sobretudo, um filme de reflexão...sobre o que significaria viver uma situação como aquelas? em que é que os estudos dela contribuiram para a sua degeneração? porque é que a floresta chora? quem são todas aquelas mulheres anónimas na cena final? São muitas as perguntas que ficam no ar, e muito poucas as que serão respondidas na sala de cinema...este é um daqueles filmes de levar para casa e pensar sobre ele. Quando terminou, aliás, pensei que teria de me decidir se tinha adorado ou detestado, tal como me tinha acontecido com o Dogville, também do Lars von Trier. O Dogville passou a ser o meu filme favorito, este nem tanto, mas sem dúvida que estará numa posição de destaque entre os muitos que já vi este ano.

Conclusão: eu gostei imenso do filme, acho que tem muito mais para além da violência extrema que lhe tem trazido a fama, mas é bastante provavel que alguns (muitos? todos?) de vocês não venham a gostar, seja porque não "aguentam" a violência (várias pessoas sairam da sala) ou porque não têm paciência para este tipo de filmes, ditos intelectuais.

Mas independentemente de se gostar ou não, há duas coisas que - a meu ver - são praticamente unânimes: a excelente interpretação do Willem Dafoe e da Charlotte Gainsbourg (basicamente os dois únicos actores no filme) e a ainda mais excelente cinematografia, sobretudo no prólogo do filme e nas sequências de sonho/pesadelo.