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terça-feira, 10 de maio de 2011

Indie Lisboa dia 5: Competição Internacional de Curtas 8 + Long Live the New Flesh + Vampires

Dos 8 filmes que vi hoje os 7 primeiros eram curtas metragens, por isso não estranhem as SMR mais curtas que o habital.

Muscles:



Uma rapariga australiana cujos pais decidem quem lava a louça lutando boxe um contra o outro tem uma obsessão muito pouco feminina: o culturismo. Arranca as cabeças das Barbies, cola-as nos corpos dos lutadores de wrestling do irmão e passa muito tempo no ginásio a tentar transformar o seu corpo.

O irmão, mais novo, é mais pacato e não tem esse interesse. No entanto, tem de provar que não é menos gajo que a irmã e começa a fazer asneira. Asneira da série.

Ao fim de dois anos de blog este é, curiosamente, o primeiro filme australiano que analiso. Gostei do que vi, é melhor que o Crocodile Dundee e era bem capaz de dar uma longa interessante.


Los minutos, las horas:


Uma mulher, Yoli, vive com a mãe algures em Cuba. A mãe está dependente dela porque já não consegue andar sozinha. Yoli recebe um convite para sair, irrita-se por estar presa aquela casa e aquela mulher mas no final apercebe-se do valor que têm as relações familiares.

É essa a grande mensagem de Los dias, las horas. Uma mensagem que nos diz que devemos estar lá para as nossas famílias quando elas precisam de nós. O facto de ser um filme em co-produção cubana e brasileira explica muita coisa: são valores intrinsecamente latinos os que transmite.

As interpretações são ok, a fotografia é ok, mas o filme não pega. Talvez por Yoli ser tão solitária que já não precisa de transmitir emoções.

Miten Marjoja Poimitaan:


Uma espécie de documentário artístico sobre os efeitos que a mão de obra tailandesa tem na apanha de frutos silvestres no Norte da Finlândia parece ser das coisas mais desinteressantes de sempre, certo? Errado!

O tema pode não interessar ao menino jesus, mas talvez por saber disso a realizadora - Elina Talvensaari - apostou mais no estilo e foi uma aposta ganha. Com uma série de imagens quase fantasmagóricas e um excelente uso de filtros/planos apertados/contraste entre a natureza e o mecânico este filme, que se chama How to Pick Berries em Finlandês foi visualmente o mais apelativo desta sessão.

La dame au chien:


A única nota que tirei durante este filme foi "Quem é a gorda?". A gorda a que me refiro é a senhora que aparece na foto aqui em cima. É ela a dona do cão e que dá o nome ao filme.

Durante os 16 minutos do filme vemo-la a conversar com um adolescente, numa casa que não parece a sua. No final há uma surpresa, mas esse twist é tão irrelevante como pouco concreto. Daqui saltam à vista as interpretações, tanto da dita gorda como do adolescente e fica a pena de o filme não ter um bocadinho mais de sumo para espremer.


Paris Shangai:


Cada vez me convenço mais que a comédia é o meio que funciona melhor em curta-metragem. Talvez por ser mais imediato e não requerer uma ligação tão próxima com as histórias dos personagens mas a verdade é que normalmente as minhas curtas preferidas são as mais divertidas.

Nesta sessão - Competição Internacional Curtas 8, que volta a passar dia 14 às 14h30 - não houve uma excepção para confirmar a regra. Paris Shangai, a história de um jovem que deseja unir essas duas cidades numa viagem de bicicleta mas não chega a sair de França é a mais divertida das curtas e aquela que mais aplausos obteve por parte do público.

Não é genial, mas deixa-nos com um sorriso nos lábios e só por isso já vale a pena. De destacar ainda a interpretação de Franc Bruneau, que faz de Manu. Não sei se é actor ou não, mas se não o fôr aposto que anda algures pela Ásia à procura de Shangai, montado na sua bicicleta.


The Voice of God:


Um filme experimental que desde o início nos avisa "This movie has no subtitles". É um aviso estranho mas que se percebe logo de seguida...enquanto vemos imagens aceleradas do trânsito em Bombaim e imagens em câmara lenta do quarto de uma mulher indiana ouvimos alguém declamar algo numa qualquer língua indiana.

Não sei o que diziam, sequer se diziam algo que fizesse sentido, mas não consegui deixar de pensar na música Die Eier von Satan, dos Tool - uma música super-agressiva em alemão que goza com o facto de o vocalista estar apenas a ler uma receita de omoletes sem ovos - e isso distraiu-me completamente do simbolismo do filme.



Long Live the New Flesh:


Já fora da sessão de curtas mas uma curta ainda assim, Long Live the New Flesh é mais um filme experimental.

Fez-me lembrar um artista americano com o nome de Girl Talk, um especialista em mash-ups que não faz nada de verdadeiramente original. Em Long Live the New Flesh o realizador pegou em imagens de uma data de filmes de terror (entre os quais o Videodrone, de onde retirou o título) "desfez as imagens em ácido" (se bem que me parece um efeito digital) e está feito.

Não referi acima mas digo-o agora. Detesto Girl Talk. E detestei esta curta como há muito não detestava um filme.

Vampires:


A ideia por detrás de Vampires é tão genial que acabamos a pensar como é nunca ninguém se tinha lembrado disto antes.

Vampires é o que se chamaria de mockumentary. Um documentário falso em que seguimos o dia a dia de uma família de vampiros residente na Bélgica. A piada da coisa é que a vida deles é praticamente normal, só com algumas adaptações: celebram "mortiversários", bebem uma chavenazinha de sangue ao acordar e no pseudo-frigorífico têm uma humana, a quem chamam de Carne.

O pai desta família, Georges, esforça-se por nos mostrar o dia a dia dos vampiros belgas e vê-se que gosta muito de um país em que têm imigrantes ilegais (a quem chamam de salsichas) entregues à porta todas as semanas, qual encomenda online. Mas a vida de Georges não é fácil...para além de ter uma mulher meia chanfrada, tem um filho que insiste em fazer merda (tipo ver se os paraplégicos deixam de o ser quando se tornam vampiros) e uma filha adolescente que insiste em vestir-se de cor de rosa mesmo quando vai à escola. Sim, ouviram bem...os vampiros têm uma escola nocturna onde usam os bonecos de respiração boca a boca para aprender a chupar sangue.

O segredo deste filme é tratar todos os eventos com a maior naturalidade possível. Claro que não passa tudo de um grande disparate, mas quando vemos as entrevistas de Georges à equipa de reportagem, ou os testemunhos dos seus vizinhos vampiros, uns atadinhos que vivem na cave, parece mesmo que estamos a ver uma reportagem do 60 minutes ou um episódio daquele reality show da família Osbourne.

Só por isso Vampires já se assume como um dos grandes filmes deste Indie, mas quando o filho de Georges usa a frase "Estou tão contente que é como se estivesse a peidar foguetes" ficamos com a certeza absoluta que esta vai ser uma das comédias do ano.

Já não volta a passar neste festival mas espero que volte às salas portuguesas. Sei que uns quantos leitores frequentes deste estaminé iriam adorar este filme.

domingo, 20 de março de 2011

Panique au village

Panique au village:



Já tive oportunidade de o dizer aqui antes, mas desde há mais ou menos 10 anos que sigo um estilo de vida chamado straight edge, um estilo de vida que - resumindo muito as coisas - consiste em nos mantermos puros de corpo e mente, nomeadamente sem vícios. Isto, claro, leva a que não beba, não fume e não me drogue.

Pois hoje, meus amigos, não sei se ainda serei straight, não depois de ter visto Panique au village, o mais próximo que já estive de uma trip de LSD e sem dúvida a melhor experiência alucinogénea que conseguirão ter com apenas 4 €. Este é um filme em que a coisa mais normal é um cavalo com o um boné que toca música de Mozart a conduzir um carro tipo lowrider., um filme cuja história não consigo descrever por palavras próprias por isso faço uma tradução livre do que está no IMDB:

Brinquedos de plástico como o Cowboy, o Índio e o Cavalo também têm problemas. O plano do Cowboy e do Índio para surpreender o Cavalo no seu aniversário com um barbeque de tijolo corre mal e acabam por lhe destruir a casa. A partir daí começam as aventuras surreais que os levam ao centro da terra, a caminhar pela tundra gelada e a descobrir um mundo sub-aquático paralelo onde vivem criaturas desonestas e com cornos. Com o pânico a ser uma constante nesta aldeia de brincar será que Cavalo alguma vez conseguirá estar a sós com a sua namorada?

Parece-vos esquisito? É mesmo! É mais esquisito do que este resumo deixa antecipar...o resumo não fala do Agricultor, do Burro que toca bateria, do Pai Natal equino/sub-aquático nem das vacas que servem como projécteis e sim, todos eles têm o seu papel em Panique au Village.

Juro que há muito tempo que não saía de uma sessão de cinema com o cérebro tão feito em papa, tamanha é a loucura do filme. Panique au village é deliciosamente idiota e não nos dá 30 segundos de descanso: está sempre algo a explodir, alguém a gritar aos altos berros ou alguma arma a ser disparada (seja ela uma espingarda ou um pinguim mecânico, claro!).

No final de contas o que fica é um filme diferente de tudo o resto, talvez o filme mais original dos últimos anos (apesar de ter alguns pontos de contacto com uma série de televisão, o Robot Chicken) e uma animação que, ao contrário dos pais dos 15 putos de 9 anos que estavam comigo na sala devem ter achado, não é para crianças mas sim para adultos que curtiam voltar a brincar com os seus brinquedos de plástico.

Acho que o seguinte diálogo é ilustrativo do que acabei de dizer.

Miudo de 9 anos #1, no final do filme: "Percebeste?"
Miudo de 9 anos #2: "Não"

Está tudo dito.

P.S.: Esta pequena maravilha da cinematografia belga está a passar no cinema em Lisboa. Aos Domingos, às 16h no novo centro cultural de Lisboa (e um dos sítios mais cool da cidade, onde de certeza que vou voltar várias vezes), o Teatro do Bairro. Na próxima semana quero-vos lá!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Indie Lisboa dia 7: Baara + Le jour où Dieu est parti en voyage

Baara:


Um blog de cinema que tem um post com uma crítica a um filme Maliano de 1978 começa a entrar por campos de cinema muito alternativo. (In)Felizmente mantenho a minha vertente pouco intelectual porque não consigo falar muito sobre o filme. Isto porquê? Porque estava quase a dormir.

Atenção. Eu estava (e estou) cheio de sono porque ontem não consegui dormir quase nada, não porque o filme é mau. Vejam a hora a que estou a escrever isto hoje e percebem o que estou a dizer.

Inserido na secção Herói Independente do Indie, este ano dedicado à secção Forum, da Berlinale, este que foi o primeiro filme produzido naquele país africano começa com um aviso "Qualquer semelhança de nomes ou eventos é pura coincidência". Ora, pareceu-me um aviso estranho e, como tal, fiquei com a impressão que deve haver uma qualquer semelhança e que não será coincidência nenhuma.

A história não é nada por aí além (ou então foi o meu sono que a tornou assim) mas o filme não deixa de ser bastante interessante, por mostrar uma realidade diferente, não só em termos geográficos (Mali, com as suas tradições tão específicas) como temporais (a luta de classes ocorrida nos primeiros momentos da industrialização do país). Um dia que volte a passar sou capaz de rever.

Tenho é de deixar um recado à organização: eu sei que a película é antiga mas deviam ter isso em conta e se não estava em condições não exibiam o filme...o som esteve em níveis quase inaudíveis e escusado será dizer que os problemas com a imagem que obrigaram à interrupção da sessão por duas vezes não deveriam ocorrer num festival que quer (e pode) estar entre os melhores.



Le jour où Dieu est parti en voyage:


Mesmo com o sono de que falei acima não desisti e vi mais um filme. Já sabem, por isso, que as críticas de hoje são um bocadinho menos esclarecidas. É que como em relação ao Baara, este Le jour où Dieu est parti en voyage sofreu do mesmo problema (só para mim, claro). É um filme interessante, que um dia gostarei de rever mais desperto.

Também passado em África, mas sendo uma co-produção franco-belga, este filme - cujo título não vou repetir por ser demasiado longo - mostra-nos o genocídio no Ruanda de uma perspectiva diferente daquela que os (excelentes) Hotel Rwanda e Shooting Dogs.

Enquanto que estes dois filmes mostram os eventos de uma perspectiva colectiva (Hotel Rwanda) ou de estrangeiros (Shooting Dogs) aqui temos a história de Jacqueline, uma mulher tutsi que consegue escapar à vaga inicial de assassínios e se vê obrigada a sobreviver nas mais duras condições.

Imaginam-se a ouvir mulheres crianças a ser abatidas a tiro e não poder emitir um som, sob pena de serem encontrados?
Imaginam-se a ver os vossos dois filhos mortos, e nem sequer vos deixarem lavar-lhes o sangue que os cobre? Nem sequer poder chorar, ou serão descobertos?
Imaginam-se a ver esses mesmos filhos a ser atirados para a rua pela mulher que ocupou a vossa casa? E a vê-los serem recolhidos por uma camioneta tal qual um saco do lixo?
Imaginam-se a preferir morrer que viver?

Jacqueline passa por tudo isso e tudo isso lhe deixa grandes marcas psicológicas. Não lhe retira o instinto de sobrevivência, nem o instinto de protector que a impele a ajudar um outro tutsi ferido, mas quase tudo o resto da sua humanidade desaparece. Não sei se esta é uma história real, mas mesmo que não seja é bem provável que muita gente tenha vivido desesperos semelhantes. É triste ver como a humanidade pode ser tão selvagem.

Como já referi, o filme é interessante. Não será tão bom com os outros dois que abordam esta temática e que já referi, mas há algo aqui que é extraordinário...a interpretação de Ruth Nirere no papel principal. Para uma actriz que teve aqui o seu primeiro papel em cinema consegue, quase sem palavras, transmitir-nos todo o desespero e pré-insanidade que passam por alguém que vive estas trágicas circunstâncias.