Dos 8 filmes que vi hoje os 7 primeiros eram curtas metragens, por isso não estranhem as SMR mais curtas que o habital.
Muscles:
Uma rapariga australiana cujos pais decidem quem lava a louça lutando boxe um contra o outro tem uma obsessão muito pouco feminina: o culturismo. Arranca as cabeças das Barbies, cola-as nos corpos dos lutadores de wrestling do irmão e passa muito tempo no ginásio a tentar transformar o seu corpo.
O irmão, mais novo, é mais pacato e não tem esse interesse. No entanto, tem de provar que não é menos gajo que a irmã e começa a fazer asneira. Asneira da série.
Ao fim de dois anos de blog este é, curiosamente, o primeiro filme australiano que analiso. Gostei do que vi, é melhor que o Crocodile Dundee e era bem capaz de dar uma longa interessante.
Los minutos, las horas:
Uma mulher, Yoli, vive com a mãe algures em Cuba. A mãe está dependente dela porque já não consegue andar sozinha. Yoli recebe um convite para sair, irrita-se por estar presa aquela casa e aquela mulher mas no final apercebe-se do valor que têm as relações familiares.
É essa a grande mensagem de Los dias, las horas. Uma mensagem que nos diz que devemos estar lá para as nossas famílias quando elas precisam de nós. O facto de ser um filme em co-produção cubana e brasileira explica muita coisa: são valores intrinsecamente latinos os que transmite.
As interpretações são ok, a fotografia é ok, mas o filme não pega. Talvez por Yoli ser tão solitária que já não precisa de transmitir emoções.
Miten Marjoja Poimitaan:
Uma espécie de documentário artístico sobre os efeitos que a mão de obra tailandesa tem na apanha de frutos silvestres no Norte da Finlândia parece ser das coisas mais desinteressantes de sempre, certo? Errado!
O tema pode não interessar ao menino jesus, mas talvez por saber disso a realizadora - Elina Talvensaari - apostou mais no estilo e foi uma aposta ganha. Com uma série de imagens quase fantasmagóricas e um excelente uso de filtros/planos apertados/contraste entre a natureza e o mecânico este filme, que se chama How to Pick Berries em Finlandês foi visualmente o mais apelativo desta sessão.
La dame au chien:
A única nota que tirei durante este filme foi "Quem é a gorda?". A gorda a que me refiro é a senhora que aparece na foto aqui em cima. É ela a dona do cão e que dá o nome ao filme.
Durante os 16 minutos do filme vemo-la a conversar com um adolescente, numa casa que não parece a sua. No final há uma surpresa, mas esse twist é tão irrelevante como pouco concreto. Daqui saltam à vista as interpretações, tanto da dita gorda como do adolescente e fica a pena de o filme não ter um bocadinho mais de sumo para espremer.
Paris Shangai:
Cada vez me convenço mais que a comédia é o meio que funciona melhor em curta-metragem. Talvez por ser mais imediato e não requerer uma ligação tão próxima com as histórias dos personagens mas a verdade é que normalmente as minhas curtas preferidas são as mais divertidas.
Nesta sessão - Competição Internacional Curtas 8, que volta a passar dia 14 às 14h30 - não houve uma excepção para confirmar a regra. Paris Shangai, a história de um jovem que deseja unir essas duas cidades numa viagem de bicicleta mas não chega a sair de França é a mais divertida das curtas e aquela que mais aplausos obteve por parte do público.
Não é genial, mas deixa-nos com um sorriso nos lábios e só por isso já vale a pena. De destacar ainda a interpretação de Franc Bruneau, que faz de Manu. Não sei se é actor ou não, mas se não o fôr aposto que anda algures pela Ásia à procura de Shangai, montado na sua bicicleta.
The Voice of God:
Um filme experimental que desde o início nos avisa "This movie has no subtitles". É um aviso estranho mas que se percebe logo de seguida...enquanto vemos imagens aceleradas do trânsito em Bombaim e imagens em câmara lenta do quarto de uma mulher indiana ouvimos alguém declamar algo numa qualquer língua indiana.
Não sei o que diziam, sequer se diziam algo que fizesse sentido, mas não consegui deixar de pensar na música Die Eier von Satan, dos Tool - uma música super-agressiva em alemão que goza com o facto de o vocalista estar apenas a ler uma receita de omoletes sem ovos - e isso distraiu-me completamente do simbolismo do filme.
Long Live the New Flesh:
Já fora da sessão de curtas mas uma curta ainda assim, Long Live the New Flesh é mais um filme experimental.
Fez-me lembrar um artista americano com o nome de Girl Talk, um especialista em mash-ups que não faz nada de verdadeiramente original. Em Long Live the New Flesh o realizador pegou em imagens de uma data de filmes de terror (entre os quais o Videodrone, de onde retirou o título) "desfez as imagens em ácido" (se bem que me parece um efeito digital) e está feito.
Não referi acima mas digo-o agora. Detesto Girl Talk. E detestei esta curta como há muito não detestava um filme.
Vampires:
A ideia por detrás de Vampires é tão genial que acabamos a pensar como é nunca ninguém se tinha lembrado disto antes.
Vampires é o que se chamaria de mockumentary. Um documentário falso em que seguimos o dia a dia de uma família de vampiros residente na Bélgica. A piada da coisa é que a vida deles é praticamente normal, só com algumas adaptações: celebram "mortiversários", bebem uma chavenazinha de sangue ao acordar e no pseudo-frigorífico têm uma humana, a quem chamam de Carne.
O pai desta família, Georges, esforça-se por nos mostrar o dia a dia dos vampiros belgas e vê-se que gosta muito de um país em que têm imigrantes ilegais (a quem chamam de salsichas) entregues à porta todas as semanas, qual encomenda online. Mas a vida de Georges não é fácil...para além de ter uma mulher meia chanfrada, tem um filho que insiste em fazer merda (tipo ver se os paraplégicos deixam de o ser quando se tornam vampiros) e uma filha adolescente que insiste em vestir-se de cor de rosa mesmo quando vai à escola. Sim, ouviram bem...os vampiros têm uma escola nocturna onde usam os bonecos de respiração boca a boca para aprender a chupar sangue.
O segredo deste filme é tratar todos os eventos com a maior naturalidade possível. Claro que não passa tudo de um grande disparate, mas quando vemos as entrevistas de Georges à equipa de reportagem, ou os testemunhos dos seus vizinhos vampiros, uns atadinhos que vivem na cave, parece mesmo que estamos a ver uma reportagem do 60 minutes ou um episódio daquele reality show da família Osbourne.
Só por isso Vampires já se assume como um dos grandes filmes deste Indie, mas quando o filho de Georges usa a frase "Estou tão contente que é como se estivesse a peidar foguetes" ficamos com a certeza absoluta que esta vai ser uma das comédias do ano.
Já não volta a passar neste festival mas espero que volte às salas portuguesas. Sei que uns quantos leitores frequentes deste estaminé iriam adorar este filme.
Muscles:
Uma rapariga australiana cujos pais decidem quem lava a louça lutando boxe um contra o outro tem uma obsessão muito pouco feminina: o culturismo. Arranca as cabeças das Barbies, cola-as nos corpos dos lutadores de wrestling do irmão e passa muito tempo no ginásio a tentar transformar o seu corpo.
O irmão, mais novo, é mais pacato e não tem esse interesse. No entanto, tem de provar que não é menos gajo que a irmã e começa a fazer asneira. Asneira da série.
Ao fim de dois anos de blog este é, curiosamente, o primeiro filme australiano que analiso. Gostei do que vi, é melhor que o Crocodile Dundee e era bem capaz de dar uma longa interessante.
Los minutos, las horas:
Uma mulher, Yoli, vive com a mãe algures em Cuba. A mãe está dependente dela porque já não consegue andar sozinha. Yoli recebe um convite para sair, irrita-se por estar presa aquela casa e aquela mulher mas no final apercebe-se do valor que têm as relações familiares.
É essa a grande mensagem de Los dias, las horas. Uma mensagem que nos diz que devemos estar lá para as nossas famílias quando elas precisam de nós. O facto de ser um filme em co-produção cubana e brasileira explica muita coisa: são valores intrinsecamente latinos os que transmite.
As interpretações são ok, a fotografia é ok, mas o filme não pega. Talvez por Yoli ser tão solitária que já não precisa de transmitir emoções.
Miten Marjoja Poimitaan:
Uma espécie de documentário artístico sobre os efeitos que a mão de obra tailandesa tem na apanha de frutos silvestres no Norte da Finlândia parece ser das coisas mais desinteressantes de sempre, certo? Errado!
O tema pode não interessar ao menino jesus, mas talvez por saber disso a realizadora - Elina Talvensaari - apostou mais no estilo e foi uma aposta ganha. Com uma série de imagens quase fantasmagóricas e um excelente uso de filtros/planos apertados/contraste entre a natureza e o mecânico este filme, que se chama How to Pick Berries em Finlandês foi visualmente o mais apelativo desta sessão.
La dame au chien:
A única nota que tirei durante este filme foi "Quem é a gorda?". A gorda a que me refiro é a senhora que aparece na foto aqui em cima. É ela a dona do cão e que dá o nome ao filme.
Durante os 16 minutos do filme vemo-la a conversar com um adolescente, numa casa que não parece a sua. No final há uma surpresa, mas esse twist é tão irrelevante como pouco concreto. Daqui saltam à vista as interpretações, tanto da dita gorda como do adolescente e fica a pena de o filme não ter um bocadinho mais de sumo para espremer.
Paris Shangai:
Cada vez me convenço mais que a comédia é o meio que funciona melhor em curta-metragem. Talvez por ser mais imediato e não requerer uma ligação tão próxima com as histórias dos personagens mas a verdade é que normalmente as minhas curtas preferidas são as mais divertidas.
Nesta sessão - Competição Internacional Curtas 8, que volta a passar dia 14 às 14h30 - não houve uma excepção para confirmar a regra. Paris Shangai, a história de um jovem que deseja unir essas duas cidades numa viagem de bicicleta mas não chega a sair de França é a mais divertida das curtas e aquela que mais aplausos obteve por parte do público.
Não é genial, mas deixa-nos com um sorriso nos lábios e só por isso já vale a pena. De destacar ainda a interpretação de Franc Bruneau, que faz de Manu. Não sei se é actor ou não, mas se não o fôr aposto que anda algures pela Ásia à procura de Shangai, montado na sua bicicleta.
The Voice of God:
Um filme experimental que desde o início nos avisa "This movie has no subtitles". É um aviso estranho mas que se percebe logo de seguida...enquanto vemos imagens aceleradas do trânsito em Bombaim e imagens em câmara lenta do quarto de uma mulher indiana ouvimos alguém declamar algo numa qualquer língua indiana.
Não sei o que diziam, sequer se diziam algo que fizesse sentido, mas não consegui deixar de pensar na música Die Eier von Satan, dos Tool - uma música super-agressiva em alemão que goza com o facto de o vocalista estar apenas a ler uma receita de omoletes sem ovos - e isso distraiu-me completamente do simbolismo do filme.
Long Live the New Flesh:
Já fora da sessão de curtas mas uma curta ainda assim, Long Live the New Flesh é mais um filme experimental.
Fez-me lembrar um artista americano com o nome de Girl Talk, um especialista em mash-ups que não faz nada de verdadeiramente original. Em Long Live the New Flesh o realizador pegou em imagens de uma data de filmes de terror (entre os quais o Videodrone, de onde retirou o título) "desfez as imagens em ácido" (se bem que me parece um efeito digital) e está feito.
Não referi acima mas digo-o agora. Detesto Girl Talk. E detestei esta curta como há muito não detestava um filme.
Vampires:
A ideia por detrás de Vampires é tão genial que acabamos a pensar como é nunca ninguém se tinha lembrado disto antes.
Vampires é o que se chamaria de mockumentary. Um documentário falso em que seguimos o dia a dia de uma família de vampiros residente na Bélgica. A piada da coisa é que a vida deles é praticamente normal, só com algumas adaptações: celebram "mortiversários", bebem uma chavenazinha de sangue ao acordar e no pseudo-frigorífico têm uma humana, a quem chamam de Carne.
O pai desta família, Georges, esforça-se por nos mostrar o dia a dia dos vampiros belgas e vê-se que gosta muito de um país em que têm imigrantes ilegais (a quem chamam de salsichas) entregues à porta todas as semanas, qual encomenda online. Mas a vida de Georges não é fácil...para além de ter uma mulher meia chanfrada, tem um filho que insiste em fazer merda (tipo ver se os paraplégicos deixam de o ser quando se tornam vampiros) e uma filha adolescente que insiste em vestir-se de cor de rosa mesmo quando vai à escola. Sim, ouviram bem...os vampiros têm uma escola nocturna onde usam os bonecos de respiração boca a boca para aprender a chupar sangue.
O segredo deste filme é tratar todos os eventos com a maior naturalidade possível. Claro que não passa tudo de um grande disparate, mas quando vemos as entrevistas de Georges à equipa de reportagem, ou os testemunhos dos seus vizinhos vampiros, uns atadinhos que vivem na cave, parece mesmo que estamos a ver uma reportagem do 60 minutes ou um episódio daquele reality show da família Osbourne.
Só por isso Vampires já se assume como um dos grandes filmes deste Indie, mas quando o filho de Georges usa a frase "Estou tão contente que é como se estivesse a peidar foguetes" ficamos com a certeza absoluta que esta vai ser uma das comédias do ano.
Já não volta a passar neste festival mas espero que volte às salas portuguesas. Sei que uns quantos leitores frequentes deste estaminé iriam adorar este filme.
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