Já devem ter reparado pelo tipo de filmes que analiso por aqui que algo chamado Monsters não é bem o meu tipo de filme. Mas este caso é diferente, li há uns tempos a crítica na Empire e fiquei curioso com a descrição que fizeram: é um misto de ficção científica com road trip, um filme de monstros para raparigas ou um romance para geeks. Algo deste género.
E não é que realmente o título é (meio) enganador? O filme tem os ditos monstros, mais precisamente seres extra-terrestes com uma altura entre 100 e 150 metros originários de uma das luas de Júpiter, mas é muito diferente do que costumamos ver neste tipo de filmes. Para fazer uma comparação assim a dar para o mais ou menos, este filme está para os filmes de monstros como o 2001: Odisseia no Espaço está para o Star Wars.
A história deve mais a um road movie que aos tais filmes de monstros: Sam é a filha do patrão de Kaulder e está (por motivos que desconheço) para lá da "zona infectada" que existe entre o México e os EUA. O pai de Sam usa as suas prerrogativas de chefe para fazer com que Kaulder - que é fotógrafo - tenha de abandonar a sua reportagem sobre os tais monstros e garanta que a filha do patrão chega bem a casa. O que é que se segue? Uma viagem México acima, até à "fortaleza" que os EUA ergueram para se proteger dos novos habitantes do nosso planeta.
Esta história com o muro dá logo que pensar numa eventual conotação política, uma comparação com o muro construído para deter os imigrantes mexicanos, mas segundo o realizador (Gareth Edwards, que fez tudo sozinho - já lá vamos) não era essa a intenção...a ideia dele era contar uma história que se passasse alguns anos depois dos demais filmes de aliens, quando as pessoas já estivessem habituadas, a vida seguisse a (possível) normalidade e a destruição provocada pelos "monstros" não se devesse a um eventual ataque mas sim a defesa de ataques humanos e à mera escala daqueles seres. Um bocadinho como o District 9 mas com "bichos" de 150 metros.
Outro dos pontos que trouxe Monsters para as luzes da ribalta foi o facto de, como já referi, ser um trabalho quase amador (mas altamente profissional!). Não houve guião, o realizador fez tudo menos tratar do som, o equipamento usado poderia ser comprado por nós numa qualquer fnac ou Media Markt, foi tudo filmado on location sem ensaios prévios e existem apenas dois actores (sendo que um deles não é)...todos os extras são locais que aceitaram fazer parte do filme enquanto a equipa de 7 pessoas viajava pela América do Sul numa carrinha alugada. A única actriz do filme é a protagonista feminina, Whitney Able, que só ganhou o papel por ser namorada do protagonista masculino, Scoot McNairy, que só ganhou o papel por ser um grande amigo do realizador.
O filme teve um orçamento perto dos quinhentos mil euros (muito pouco para este tipo de filmes), já deve ter feito umas 3 ou 4 vezes esse valor e só há pouco é que estreou na Europa continental. É um trabalho de um jovem que acreditou, conseguiu arranjar quem acreditasse com ele (e lhe desse algum dinheiro) e agora está a ter a confirmação do seu valor.
O filme é interessante, podia ser um bocadinho melhor (a relação entre Sam e Kaulder podia chegar ao fim de forma mais intensa, sobretudo se pensarmos que eles são um casal real), mas quando a história que está por detrás do filme é tão interessante como a do filme propriamente dito só podemos dar-nos por contentes.
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