Tabloid:
Joyce Bermann McKinney nasceu em 1949. Durante a sua adolescência era concorrente frequente de concursos de beleza, chegando a Miss Wyoming. Algures durante esse período conheceu Kirk Anderson, namorou-o e a relação terminou por este ser Mormon. Em 1977 Joyce Bermann McKinney viajou até Ewell, em Inglaterra, fez com que Kirk Anderson (que andava por lá a pregar, como todos os Elders Mormon o fazem a dada altura da sua vida) desaparecesse durante 3 dias.
Segundo ela isto foi o que se passou: Kirk foi com ela porque quis, viveram três dias de diversão, comida e sexo, ela só o amarrou à cama porque leu num livro que era a melhor maneira de o fazer sentir que não estava a pecar tendo sexo antes do casamento mas no fundo aquilo foi uma verdadeira lua de mel.
Segundo ele isto foi o que se passou: quando foi abordado por um amigo de Joyce este apontou-lhe uma arma, meteu-lhe um saco na cabeça, levou-o para uma vivenda onde foi amarrado de mãos e pés a uma cama e foi violado...sete vezes...sendo que a partir da terceira, aparentemente, já foi mais consensual que antes.
Segundo os tablóides ingleses, nomeadamente o Daily Mirror, isto foi o que se passou: "Mormon Sex in Chains!!!" --> vamos investigar a vida da americana chanfrada --> e não é que ela foi call girl e dominatrix em Los Angeles? Foi mesmo! Vamos destruir-lhe a vida? Vamos a isso!
Tabloid, o mais recente filme de Errol Morris (que já nos trouxe documentários tão bons como o The Fog of War), tem um nome que engana: fala da exploração que os tablóides fizeram à vida de Joyce McKinney mas está sempre mais interessado em contar as histórias desta mulher que - há que admiti-lo - tem mesmo uma granda panca. Ao vermos este filme, ao rir-mo-nos dos disparates que ela diz ("Violar um homem é impossível! sem uma erecção ter sexo é como enfiar um marshmallow num parquímetro") estamos a alimentar essa mesma cultura de voyeurismo que os tablóides exploram.
Será que a história de Joyce é assim tão interessante? Apesar de ela também ter estado envolvida na primeira clonagem de cães, feita em 2005 na Coreia do Sul (don't even go there) a verdade é que não. Vermos a sua história não é muito diferente de vermos um Big Brother famosos os famosos na selva ou lá o que é. Pega-se numa celebridadezeca qualquer e fala-se das coisas mais estranhas da sua vida.
Foi por isso que apesar deste ter sido o melhor dos filmes que vi até agora no Indie (e tecnicamente está muito interessante) não fiquei plenamente convencido. Ao contrário do The Fog of War, que nos fica na cabeça, este filme será tão vazio como a história que retrata. Joyce pode ser maluca, mas a sua história não é mais que um fait divers que não acrescenta nada de relevante às nossas vidas.
Volta a passar no dia 14 de Maio, Sábado, às 15h. Onde? No São Jorge, claro.
The Ballad of Genesis and Lady Jaye:
Segundo filme do dia, segundo documentário do dia, mas se o primeiro era uma coisa profissional e muito estilizada este é muito mais caseiro e se calhar mais apropriado a um museu do que a uma sala de cinema.
Gravado numa câmara de 16mm com bobines de 3min ao longo de 7 anos, The Ballad of Genesis and Lady Jaye é um documentário que nos mostra o íntimo de Lady Jaye e da sua marido (sim, disse bem, vejam o poster) Genesis P-Orridge, duas artistas avant garde de Nova Iorque que poderiam claramente ser personagens secundários no filme Shortbus. Poderiam estar numa das muitas cenas passadas naquele "salon for the gifted and challenged".
Qualquer uma das estrelas deste filme tem interesse por si só, foram importantes na cena avant garde americana, pioneiras do que chamaram o pandroginia (procuraram aproximar o seu aspecto físico através de operações plásticas, tipo José Castelo Branco e Betty Graffstein mas com cabeça) e Genesis fez parte de uma banda influente dos anos 70, os Throbbing Gristle, mais conhecidos daqueles que sabem um pouco sobre música industrial, mas tal como diz o resumo oficial do Indie isto é mais uma história de amor que outra coisa.
Antes de ser Genesis Genesis era um homem, um dia conheceu Lady Jaye, a faísca veio de imediato e soltou-se. Passaram a viver juntas, casaram (com Genesis a ser a mulher apesar de ser o homem), fizeram uma série de projectos conjuntos e tiveram o que Lady Jaye queria, uma das maiores histórias de amor de que há memória.
É esse o grande mérito da realizadora, Marie Losier. O método que escolheu dá a todo o filme uma sensação de estarmos a ver um vídeo caseiro de um casal apaixonado e ao mesmo tempo - dadas as actividades dos sujeitos do filme - um look experimental que, como já referi, estaria em casa num museu ou num espectáculo de performance art não fosse o "acaso" de ser uma longa metragem.
Apesar de no final ter saído relativamente satisfeito, este filme tem alguns problemas. O início é altamente esquisito (começa com Genesis a fingir que é um pato, por exemplo) e isso fez com que algumas pessoas saíssem da sala e por vezes torna-se meio confuso, provavelmente porque Genesis é muito confusa, por isso há o risco que muita gente desista de o ver.
No entanto, se forem pacientes e se tolerarem pessoas e estilos de vida (muito) diferentes da norma vão encontrar um filme que não sendo tão bom nem tão interessante, tem alguns pontos em comum com o It Came From Kuchar e, como este, foi uma boa surpresa deste Indie.
Passa de novo no São Jorge na 2ª feira, dia 9, às 21h45.
Joyce Bermann McKinney nasceu em 1949. Durante a sua adolescência era concorrente frequente de concursos de beleza, chegando a Miss Wyoming. Algures durante esse período conheceu Kirk Anderson, namorou-o e a relação terminou por este ser Mormon. Em 1977 Joyce Bermann McKinney viajou até Ewell, em Inglaterra, fez com que Kirk Anderson (que andava por lá a pregar, como todos os Elders Mormon o fazem a dada altura da sua vida) desaparecesse durante 3 dias.
Segundo ela isto foi o que se passou: Kirk foi com ela porque quis, viveram três dias de diversão, comida e sexo, ela só o amarrou à cama porque leu num livro que era a melhor maneira de o fazer sentir que não estava a pecar tendo sexo antes do casamento mas no fundo aquilo foi uma verdadeira lua de mel.
Segundo ele isto foi o que se passou: quando foi abordado por um amigo de Joyce este apontou-lhe uma arma, meteu-lhe um saco na cabeça, levou-o para uma vivenda onde foi amarrado de mãos e pés a uma cama e foi violado...sete vezes...sendo que a partir da terceira, aparentemente, já foi mais consensual que antes.
Segundo os tablóides ingleses, nomeadamente o Daily Mirror, isto foi o que se passou: "Mormon Sex in Chains!!!" --> vamos investigar a vida da americana chanfrada --> e não é que ela foi call girl e dominatrix em Los Angeles? Foi mesmo! Vamos destruir-lhe a vida? Vamos a isso!
Tabloid, o mais recente filme de Errol Morris (que já nos trouxe documentários tão bons como o The Fog of War), tem um nome que engana: fala da exploração que os tablóides fizeram à vida de Joyce McKinney mas está sempre mais interessado em contar as histórias desta mulher que - há que admiti-lo - tem mesmo uma granda panca. Ao vermos este filme, ao rir-mo-nos dos disparates que ela diz ("Violar um homem é impossível! sem uma erecção ter sexo é como enfiar um marshmallow num parquímetro") estamos a alimentar essa mesma cultura de voyeurismo que os tablóides exploram.
Será que a história de Joyce é assim tão interessante? Apesar de ela também ter estado envolvida na primeira clonagem de cães, feita em 2005 na Coreia do Sul (don't even go there) a verdade é que não. Vermos a sua história não é muito diferente de vermos um Big Brother famosos os famosos na selva ou lá o que é. Pega-se numa celebridadezeca qualquer e fala-se das coisas mais estranhas da sua vida.
Foi por isso que apesar deste ter sido o melhor dos filmes que vi até agora no Indie (e tecnicamente está muito interessante) não fiquei plenamente convencido. Ao contrário do The Fog of War, que nos fica na cabeça, este filme será tão vazio como a história que retrata. Joyce pode ser maluca, mas a sua história não é mais que um fait divers que não acrescenta nada de relevante às nossas vidas.
Volta a passar no dia 14 de Maio, Sábado, às 15h. Onde? No São Jorge, claro.
The Ballad of Genesis and Lady Jaye:
Segundo filme do dia, segundo documentário do dia, mas se o primeiro era uma coisa profissional e muito estilizada este é muito mais caseiro e se calhar mais apropriado a um museu do que a uma sala de cinema.
Gravado numa câmara de 16mm com bobines de 3min ao longo de 7 anos, The Ballad of Genesis and Lady Jaye é um documentário que nos mostra o íntimo de Lady Jaye e da sua marido (sim, disse bem, vejam o poster) Genesis P-Orridge, duas artistas avant garde de Nova Iorque que poderiam claramente ser personagens secundários no filme Shortbus. Poderiam estar numa das muitas cenas passadas naquele "salon for the gifted and challenged".
Qualquer uma das estrelas deste filme tem interesse por si só, foram importantes na cena avant garde americana, pioneiras do que chamaram o pandroginia (procuraram aproximar o seu aspecto físico através de operações plásticas, tipo José Castelo Branco e Betty Graffstein mas com cabeça) e Genesis fez parte de uma banda influente dos anos 70, os Throbbing Gristle, mais conhecidos daqueles que sabem um pouco sobre música industrial, mas tal como diz o resumo oficial do Indie isto é mais uma história de amor que outra coisa.
Antes de ser Genesis Genesis era um homem, um dia conheceu Lady Jaye, a faísca veio de imediato e soltou-se. Passaram a viver juntas, casaram (com Genesis a ser a mulher apesar de ser o homem), fizeram uma série de projectos conjuntos e tiveram o que Lady Jaye queria, uma das maiores histórias de amor de que há memória.
É esse o grande mérito da realizadora, Marie Losier. O método que escolheu dá a todo o filme uma sensação de estarmos a ver um vídeo caseiro de um casal apaixonado e ao mesmo tempo - dadas as actividades dos sujeitos do filme - um look experimental que, como já referi, estaria em casa num museu ou num espectáculo de performance art não fosse o "acaso" de ser uma longa metragem.
Apesar de no final ter saído relativamente satisfeito, este filme tem alguns problemas. O início é altamente esquisito (começa com Genesis a fingir que é um pato, por exemplo) e isso fez com que algumas pessoas saíssem da sala e por vezes torna-se meio confuso, provavelmente porque Genesis é muito confusa, por isso há o risco que muita gente desista de o ver.
No entanto, se forem pacientes e se tolerarem pessoas e estilos de vida (muito) diferentes da norma vão encontrar um filme que não sendo tão bom nem tão interessante, tem alguns pontos em comum com o It Came From Kuchar e, como este, foi uma boa surpresa deste Indie.
Passa de novo no São Jorge na 2ª feira, dia 9, às 21h45.
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