terça-feira, 24 de maio de 2011

Le concert




Sabem aquelas pessoas que são uma coisa, queriam ser outra e andam a saltar de emprego em emprego (ou de relação em relação) até finalmente conseguirem o que achavam que queriam, para depois perceber que afinal também não era aquilo? Se fosse humano, Le concert seria uma dessas pessoas.

O início do filme é de longe o melhor: num estilo quase à Kusturica, Radu Mihăileanu começa por nos contar a história de Andreï Filipov, um ex-maestro do famoso Teatro Bolshoi, de Moscovo. Por motivos políticos Andreï perdeu o emprego ainda no tempo da URSS (segunda referência em 2 SMR's, é obra!) mas - depois de ter interceptado um convite do não menos famoso Teatro Châtelet - tem a oportunidade de pegar na sua velha orquestra, ir a Paris passando-se pelo Bolshoi e finalmente atingir a glória que lhe escapara há umas décadas.

O terço do filme em que Andreï procura convencer os ex-colegas a tentar novamente é por vezes hilariante, sempre divertido e a única parte do filme em que existe alguma preocupação com um mínimo de realismo da coisa. A partir daí é sempre tudo a descer.

Tal como as tais pessoas que andam sempre a saltitar, o filme decide a dada altura que afinal não quer ser uma comédia gira e passa a uma comédia tão exagerada que não tem piada e depois a drama familiar sem ponta por onde se lhe pegue. O momento em que isso acontece dá-se quando - orquestra montada - todos partem para Paris com passaportes e vistos falsos emitidos por uma família cigana em pleno aeroporto de Moscovo. Eu avisei.

Honestamente, parece mesmo que o filme teve duas equipas de produtores/realizadores/guionistas, uma em Moscovo e outra em Paris. Tudo o que se passa na chamada cidade luz requer do espectador uma tal suspension of disbelief que a dada altura o fardo se torna demasiado pesado e nem quem seja menos exigente pode deixar de reparar! Não acredito que haja uma única pessoa no planeta que seja intelectualmente capaz e que ache que a cena final seja possível, por muito bonita que seja. E sim, eu tenho noção que o Harrison Ford não poderia ser congelado em "carbonite" e sobreviver, mas em Le concert ninguém voa pela galáxia, andam de metro.

Ora, alguns de vocês poderão estar a pensar: "então mas este filme não teve um enorme sucesso e esteve umas 30 semanas em sala?" Sim, teve e esteve (não sei o número de semanas, though, estou mesmo só a lançar um número ao calhas) mas honestamente não consigo perceber o porquê...a banda sonora de Stravinsky é boa, algumas interpretações (as mais discretas) também são boas mas fica-se por aí...Imaginem um filme como o Saving Private Ryan. Agora imaginem que nesse filme todas as cenas eram exactamente as mesmas mas todos os soldados eram cegos. Acham que seria um bom filme? Não, tal como Le concert seria demasiado irrealista para se poder ter como tolerável.

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