sexta-feira, 23 de abril de 2010

Indie Lisboa dia 1: Greenberg + It came from Kuchar

Greenberg:



Não foi o filme que abriu oficialmente o Indie Lisboa (honra dada ao português Fantasia Lusitana, que podia ter um título menos pornográfico) mas este Greenberg fez um excelente papel enquanto primeira fita a ser exibida nesta que é a 7ª edição do meu festival de cinema favorito.

Tendo a dura função de seguir o muito aplaudido The Squid and The Whale (que nunca vi, pelo que não opino), o realizador Noah Baumbach pegou no Ben Stiller e, segundo a tradição de actores cómicos a fazer filmes sérios, fez dele Roger Greenberg.

E quem é Roger Greenberg? É um quarentão neurótico (talvez não seja o termo psiquiatricamente correcto, por isso perdoa-me Zé, se estiver errado) que, cansado de viver "uma vida que não planeou" resolve "não fazer nada durante uns tempos". Conhecemo-lo em Los Angeles, cidade onde nasceu e cresceu mas onde já não vive, em casa do seu mais bem sucedido irmão, Phillip, onde aproveita para se tentar reencontrar enquanto revê os seus amigos do passado.

Roger Greenberg não tem uma vida semelhante aqueles com quem cresceu, tal como eu não tenho (e talvez por isso me tenha identificado tanto), pelo que quando os revê não os reencontra, são apenas estranhos.

Ao longo das 6 semanas que passa na casa do irmão, Roger tenta matar a solidão com a companhia de Florence, a assistente pessoal da família (interpretada pela Greta Gerwig, que não conhecia mas que faz um bom papel enquanto rapariga especializada em momentos akward) e de Ivan (Rhys Ifans), um ex-band mate e o único amigo de antigamente que sobra. (Sobrará?)

Com eles, e sobretudo com os erros que vai cometendo, Roger vai tentando também vencer as suas incapacidades sociais e, neste caso, o final em aberto não nos explica como ficará a sua vida depois daqueles dias de house sitting. O que fica claro é que este é um filme ideal para quem está em processo de auto-descoberta (como o vosso escriba) e que é, de longe, a melhor interpretação do Ben Stiller.

Não virá a ser um clássico do cinema, mas é um filme agradável de se ver, leve mas que me deixou a pensar...tal como o slogan do Indie diz, é um filme que não acaba quando termina.


It Came From Kuchar:


Ora aí está! É precisamente por filmes como este It Came From Kuchar que gosto de festivais de cinema.

É um documentário, realizado por uma senhora chamada Jennifer M. Kroot, mas rapidamente esta realizadora perde todo o protagonismo. Aqui as verdadeiras estrelas são a dupla de realizadores (e irmãos gémeos) George e Mike Kuchar, estrelas no mundo do cinema undergound e praticamente desconhecidos nos restantes círculos.

Eu próprio devo admitir que nunca tinha ouvido sequer falar neles. Mas agora estou tão bem impressionado e rendido ao que foi apresentado do seu trabalho que vou querer (e hei-de) ver tudo o que conseguir encontrar deles.

Sem sequer ter ainda procurado (porque é tarde e amanhã tenho de ir trabalhar cedo) aposto já que vai ser complicado encontrar uma retrospectiva dos seus filmes...pérolas quase home made, filmadas em 8mm, com nomes como Sins of the Fleshapoids, The Devil's Cleavage ou Thundercrack e onde tanto vemos as sobrancelhas mais ousadas da história do cinema, a mãe dos realizadores a ser atacada com fezes de cão (falsas!) ou uma paixão incompreendidasentre um protagonista e ... um gorila!

Este documentário mostra-nos um apanhado da sua (extensíssima) obra focando-se na relação de ambos com os pais, as suas personalidades distintas, as suas relações de amor/ódio com a sexualidade mas sobretudo o seu humor. Tal como alguém diz durante o filme, enquanto que os outros filmes underground da altura (os irmãos Kuchar são contemporâneos e fazem parte da mesma "cena" que o Andy Warhol, por exemplo) eram muito snob, estes eram marcados pelo humor, mas nunca deixando de ter aspectos mais profundos que merecem análise e discussão.

De certeza que vos falarei mais sobre eles, por agora apenas vos aconselho vivamente a procurarem tudo o que puderem sobre eles, nem que seja para me dizerem onde encontrar os filmes.

Estou com aquela excitação de quem acabou de descobrir um tesouro nada deprimente. Se o quiserem descobrir também ainda vão a tempo de ver a segunda exibição do filme, dia 26 às 23h59 no cinema São Jorge

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