Se há coisa que aqueles que me conhecem sabem é que eu e o humor absurdo temos uma relação de grande proximidade. Não é uma relação exclusiva (por isso, meninas, não se abstenham de vir falar comigo e declarar a vossa paixão) mas estamos juntos e felizes há muito tempo.
Dito isto, há que dizer que me fartei de rir em Castro, o último filme do realizador argentino Alejo Moguillansky.
Inspirado livremente no texto "Murphy", de Samuel Beckett, em Castro temos dois conjuntos de personagens: os perseguidos (Castro e Célia, a sua namorada giríssima) e os perseguidores (Samuel, Acuña e Rebecca, a sua não menos sexy ex-mulher).
Castro é um diletante inveterado, sempre com esquemas para se ir safando ("ganarse la vida es lo mismo que desperdiciarla") e que procura não ceder à pressão da namorada para que arranje um emprego. Célia é, de longe, o personagem mais normal...pelo menos é a única pessoa que não dorme em armários, nem usa estranhos códigos envolvendo guarda-chuvas, e é - também de longe - a que está numa posição mais próxima da dos espectadores, sem perceber o que se está a passar.
Do outro lado da trama temos os perseguidores, que a dada altura já nem devem saber porque é que perseguem. São eles os responsáveis por uma das principais características do filme: o ritmo e o quase slapstick que o definem, dada a excelente coreografia orquestrada por Luciana Acuña. É preciso ver para perceber.
No final de contas, e a 5 dias do fim do festival, este Castro tem o título de A surpresa do Indie quase garantido (e se for ultrapassado é muito bom sinal) e é um dos filmes que mais gozo me deu ver nos últimos tempos.
Se puderem vão mesmo vê-lo. É reposto dia 29 (esta 5ª feira) às 21h45 no cinema Londres e se não gostarem obrigo-me a ver um filme daqueles com cães a falar e faço aqui a crítica. Sim, seria tortura mas estou assim tão confiante no filme.
(¡Felicitaciones Alejo, te busqué al final de la película para hablarmos, pero saliste demasiado rapido!)
A religiosa portuguesa:
Antes da exibição deste filme, e já que era a sua ante-estreia nacional, subiram ao palco o realizador, o produtor e a actriz principal. A actriz esteve calada, o realizador agradeceu ao Indie e a quem devia agradecer e o produtor resolveu lançar uma farpa tão comum no cinema português: criticou o ICA - Instituto do Cinema e do Audiovisual - por apoiar filmes "de qualidade duvidosa". Depois agradeceu ao mesmo ICA por ter apoiado financeiramente este filme.
Neste aspecto estou com o tal produtor: este filme não é de qualidade duvidosa. Aliás, tenho a certeza absoluta que este é o pior filme que já vi na vida. Eu sei que é um statement forte, mas é a mais pura das verdades.
Deve ter sido em meados da década de 90 a última vez que me tinha sentido assim numa sala de cinema. Na altura fui com o meu pai (de quem herdei a paixão pelo cinema) ao cinema King e vimos o Der Rosenkönig, do Werner Schroeter. Na altura era bastante mais jovem e ainda não me tinham passado pelos olhos tantas centenas de filmes, mas tanto eu como o meu pai nos sentimos totalmente gozados (não há outra palavra) pelo realizador.
Ontem, 27 de Abril de 2010, essa sensação voltou. E o recentemente falecido Werner poderá finalmente descansar em paz, sabendo que já não tem tão infame lugar na minha lista de realizadores. Agora, essa (des)honra é toda de Eugène Green e aconselho-o a esperar sentado pela saída do lugar. É se demorou para aí uns 15 anos para o outro ser deposto, para ultrapassar este filme vai ser preciso muito, mas muito esforço.
Este filme é de um pretensiosismo atroz, disfarçado de formalismo estético. Nada é espontâneo, nada é real e nada é - to put it simply - bom. É uma obra "só para intelectuais" (como um personagem lhe chama), os quais honestamente gostaria de conhecer...é que analisar a mente de quem ache que esta é uma boa forma de gastar dinheiros públicos deve ser o equivalente a estar na pele de Hiram Bingham quando descobriu Machu Picchu...a sensação de explorar um mundo novo.
Não seria possível ter os actores a dizer as deixas como se fossem seres humanos e não autómatos que olham fixamente para a câmara enquanto dizem palavra a palavra? Não seria possível ter - uma vez que fosse - duas pessoas a falar ao mesmo tempo? Sabem, como as pessoas fazem? Não seria possível dar ao filme um ritmo que não fizesse com que um diálogo do Porto da Minha Infância, do mal-amado Manoel de Oliveira, parecesse um filme de acção vertiginosa? Não seria possível tanta coisa que simplesmente nem sequer passou pela cabeça dos cineastas, ou se calhar passou mas resolveram emular o César Monteiro e o público que se foda? Será demais pedir expressividade num filme?
Não consigo, nem quero, dizer muito mais. Apenas que é realmente um desperdício de dinheiro dos contribuintes (sim, não se esqueçam, leitores portugueses, que todos nós contribuímos para que isto fosse feito) e de tempo dos espectadores que como eu caíram na esparrela o irem exibir comercialmente este filme e não darem oportunidades a realizadores que fazem obras que se conseguem ver (já não peço mais), como qualquer outro dos que já aqui analisei.
E digo mais uma coisa. Estou contente comigo mesmo, porque precisei de fazer um grande esforço para não usar a palavra merda durante esta crítica. E até agora tinha conseguido.
Ainda bem que não consegui ver "A religiosa portuguesa"... é que para destornar o "Porto da Minha Infância", como o pior filme que já viste, deve ser obra ;)
ResponderExcluirComentário genial.
ResponderExcluirO Porto da Minha Infância não é o pior filme que já vi, nunca disse isso e nem sequer leste bem o que escrevi.
ResponderExcluirEssa honra era desde meados dos anos 90 do Rei das Rosas
Comentário genial? Quando é que ele disse que o Porto da Minha Infância é o pior filme que viu?
ResponderExcluirE ler o artigo?
Bem, o meu primeiro stress no blog. Estou orgulhoso destas SMR :)
ResponderExcluirDe qualquer forma acho que a malta já percebeu que não percebeu o meu post.
Há distância de um mês vejo que o meu comentário gerou confusão. Pelo que, venho exercer o meu direito de resposta/defesa.
ResponderExcluirPor circunstâncias da vida conheço o jmnpm não apenas do seu blog, mas da vida real...e em determinado momento dessa vida real, ofereci ao jmnpm o dvd "Porto da minha infância". Vimos o filme juntos, e no fim, o autor deste blog, disse-me "foi o pior filme que vi na vida!".
É verdade que esta referência não é feita no post, é verdade que agora o jmnpm vem dizer que o pior afinal é o "Rei das Rosas", mas dei como bom a informação que me tinha sido dada na altura... Lamento!
Aos que se sentiram ofendidos, o meu sincero pedido de desculpas.