Lourdes é um filme sobre uma senhora que não se chama Lourdes (não nos é dado o seu nome, na verdade) mas a qual acompanhamos durante uma peregrinação ao santuário mariano francês.
Para quem não sabe, Lourdes é uma localidade nos Pirinéus franceses onde se diz que em 1858 uma jovem começou a ver aparições da Nossa Senhora e que, desde então, é um dos principais destinos religiosos do mundo. Mas este filme não é (só) sobre religião.
Ao contrário do que poderíamos pensar, a nossa protagonista anónima não é especialmente religiosa. Como confessa a uma voluntária da Ordem de Malta que a acompanha, faz estas peregrinações porque é a única forma que tem de viajar. É que, como ela diz, é difícil viajar quando se é tetraplégico.
A primeira parte do filme é, por isso, mais baseada na solidão da protagonista e dos seus companheiros de viagem, contrastante com a boa disposição e aparente alegria de viver dos voluntários que as acompanham e a fúria consumista que envolve o santuário. Mas, a partir mais ou menos do meio do filme, a religião aparece, sob forma de um aparente milagre.
A nossa protagonista até então esteve sempre numa cadeira de rodas, mas a meio de uma noite levanta-se e começa a andar. Será milagre? O médico que ela consulta, passo obrigatório no processo de reconhecimento de milagres, diz-lhe que não...que ela tem esclerose em placas e que aquele tipo de melhoras pode acontecer mas são apenas temporárias. Um optimista, portanto. Os seus companheiros de viagem, por outro lado, vêm aquilo como prova do amor de Deus pelos homens, e o filme não nos dá uma resposta...deixa-nos um final em aberto, que poderá ser preenchido consoante as nossas crenças religiosas.
É esse um dos pontos fortes neste filme da austríaca Jessica Hausner, mas o protagonismo todo é para a interpretação de Sylvie Testud, que em grande contenção de movimentos e palavras nos transmite um enorme leque de emoções.
Uma excelente interpretação num filme bom mas que para mim, ateu convicto, talvez tenha um bocadinho menos de profundidade do que para alguém que seja religioso. Gostaria de saber a opinião de um crente. Há por aí algum ou alguma que queira ver o filme e partilhar?
Man tänker sit:
O título inglês "Burrowing" significa escavar. O título sueco "Man tänker sit" significa algo como pensar sobre si mesmo. Dos dois o sueco é o mais apropriado, porque o filme faz-nos pensar sobre nós próprios, não porque nos sentimos tocados pela história mas porque neste filme não acontece nada e damos por nós a pensar noutras coisas.
Eu sei que nem sempre os filmes têm de ter uma narrativa convencional, mas aqui não há nada de nada, já que passamos todo o filme a acompanhar habitantes de uma cidade onde não se passa nada, a fazer nada de especial. Não estranhei, por isso, que fosse o primeiro filme deste Indie em que vi gente a sair e o primeiro em que dei por mim a olhar para o relógio.
Já tive oportunidade de por aqui confessar a minha paixão pela Suécia e por tudo o que é sueco, mas assim não.
tao bandido
ResponderExcluire verdade, belo dia este..
mas o indie lisboa nao vale !
FANTAS la do porto is tha real shaite!
abraco!
O Fantas é um excelente festival ao qual reconheço muito mérito.
ResponderExcluirInfelizmente o facto de ser no Porto (apesar de lá ter casa), aliado à temática não ser a que mais me interessa faz com que não vá lá muito.
Por onde andas agora nas tuas viagens?
Não vi nenhum dos filmes, mas confesso que o Lourdes me interessou. O filme é totalmente ficção, ou tem por base alguma história real?
ResponderExcluirVai passar outra vez?
Se passar, e se eu conseguir ver, pode ser que contes com o comentário de uma "quase"-crente (uso o "quase" para não afrontar os mais crentes que eu, e não para pôr em causa a minha crença).
Passa a 1 de Maio, às 15h15 no Cinemacity Classic Alvalade
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