sexta-feira, 23 de abril de 2010

Indie Lisboa dia 2: Um lugar ao Sol + Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta + George Washington

Um lugar ao Sol:


(Estes filmes do Indie têm este problema, encontrar os posters on-line, mas esta imagem é do filme)

Antes de mais, deixem-me dizer que fiquei contente por finalmente ver um filme brasileiro, dado o número de leitores brasileiros que tenho. (oi! tudo bem?) Agora que já disse, siga para a SMR.

A principal razão porque resolvi ir ver este documentário foi, curiosamente, referida por um dos seus intervenientes: grande parte dos outros filmes/documentários sobre o Brasil focam-se na miséria, na pobreza dos seus cidadãos, enquanto que este tenta mostrar o outro lado: como é ser rico no Brasil e, especificamente, nas últimos andares dos prédios junto às praias do Rio de Janeiro, onde só vivem mesmo os mais privilegiados.

"Onde eu vivo não é na realidade o Brasil", diz esse entrevistado. E é mesmo assim...é notório que estas elites não são na realidade o Brasil. Não se pode ser o Brasil quando o comentário que se faz sobre os tiroteios nas favelas é "Adoro ver o bang bang cá de cima. As balas tracejantes têm cores tão bonitas". Felizmente já tive a sorte de ir ao Brasil e sei que não é assim, há muita miséria, há muita riqueza mal distribuída, mas há sobretudo uma alegria de viver contagiante. E neste Um lugar ao Sol não fui contagiado por ninguém.

Mas o pior mesmo é que o documentário é chato. É interessante ouvir a opinião daqueles entrevistados, mas as opções estéticas do realizador (entrevista --> separador com música e imagem com câmara estática --> entrevista --> repete) não são as que mais me agradam. Isso e aqueles zooms, enquanto os convidados falam, que pareceriam inspirados na nouvelle vague, se a inspiração fosse voluntária.Assim sendo, foi um tiro ao lado. É um tema interessante (e é esse o maior mérito do filme, ter uma perspectiva diferente) mas tirando

Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta:



Segundo documentário do dia, segundo documentário falado em português, mas desta feita em português de Angola, da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. Se há coisa importante que Portugal fez no mundo foi precisamente isto, espalhar a sua língua (mas não tanto a sua cultura) por todos os continentes.

Neste documentário, da também portuguesa Diana Andringa (nascida em Angola), fala-se antes de um momento e de um local muito negro na história do meu país: o campo de trabalho de Chão Bom, mais frequentemente conhecido por Tarrafal.

Foi aqui que, até há 36 anos, o Estado Novo (ditadura que sufocou Portugal durante 41 anos) aprisionou em condições sub-humanas alguns dos seus opositores, fossem eles portugueses comunistas ou cidadãos das (então) colónias que lutavam por um direito que era seu: a independência e auto-determinação dos seus povos.

Nós portugueses gostamos de nos denominar como um povo de brandos costumes, mas enquanto ouvia as descrições das torturas infligidas aos presos e os métodos de fuzilamento daqueles que não sobreviveram senti-me feliz por já não vivermos debaixo de um regime que de branda só tinha a mundividência.

O regime acabou a 25 de Abril de 1974, as colónias tiveram a sua independência e estes presos foram libertados. Eu, pela minha parte tenho alguma pena de não ter vivido esse dia de libertação, mas se se costuma dizer que quem esquece a sua história está condenado a repeti-la, então desejo sinceramente que este filme sirva para que este passado recente não se repita, nem no futuro distante.


George Washington:



Mais uma vez tenho um recadinho antes de começar com a SMR propriamente dita: ó senhores que fizeram a programação do Indie, para a próxima quando dizem que um filme passa às 00h de Sábado pensem que as pessoas interpretam isso como sendo na noite de 6ª para Sábado e não (como afinal parece que queriam dizer) de Sábado para Domingo.

Sim, porque fui para o cinema com a ideia de ir ver o Orly e não este filme, mas aparentemente só passa amanhã.

Felizmente não apanhei uma estopada. Soube que não ia ver o filme que tinha programado quando fui buscar o bilhete, cerca de 20m antes da sessão começar e resolvi não ler nada sobre o filme. Foi, por isso, uma surpresa absoluta...não sabia mesmo nada, nem a origem, nem se era ficção ou documentário, nada. (Por causa do título, até pensei que pudesse ser algum documentário histórico)

O que descobri foi um filme muito low-fi, que é triste e acolhedor em doses iguais. Nele, vamos seguindo um grupo de jovens que vivem abaixo do limiar da pobreza num qualquer vilarejo do interior dos EUA. Em George Washington (o nome do personagem principal, também ele uma criança...como podem ver no poster) os adultos são totalmente secundários...o que aqui interessa é observar este grupo de putos de 12/13 anos e as suas reacções ao que se vai passando, desde o amor à morte.

Uma coisa que achei curiosa foi perceber que este filme é um dos primeiros do David Gordon Green, realizador do Pineapple Express, uma comédia completamente estúpida de que gostei bastante. Aqui a estupidez não existe, o filme é profundo e muito contido. Os planos bem compostos e a banda sonora ambiental juntam-se ao excelente grupo de actores, que me deram a impressão de ser amadores mas que são de excelente qualidade.

2 comentários:

  1. "Tarrafal: memórias de um campo de morte lenta", era talvez o filme que fazia mesmo questão de ter visto, mas por diversas razões, não consegui.
    Vejo que perdi um grande documentário.
    Vai passar outra vez?

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  2. A segunda exibição foi ontem e acho que já não vão repetir mais

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