quarta-feira, 28 de abril de 2010

Indie Lisboa dia 7: Baara + Le jour où Dieu est parti en voyage

Baara:


Um blog de cinema que tem um post com uma crítica a um filme Maliano de 1978 começa a entrar por campos de cinema muito alternativo. (In)Felizmente mantenho a minha vertente pouco intelectual porque não consigo falar muito sobre o filme. Isto porquê? Porque estava quase a dormir.

Atenção. Eu estava (e estou) cheio de sono porque ontem não consegui dormir quase nada, não porque o filme é mau. Vejam a hora a que estou a escrever isto hoje e percebem o que estou a dizer.

Inserido na secção Herói Independente do Indie, este ano dedicado à secção Forum, da Berlinale, este que foi o primeiro filme produzido naquele país africano começa com um aviso "Qualquer semelhança de nomes ou eventos é pura coincidência". Ora, pareceu-me um aviso estranho e, como tal, fiquei com a impressão que deve haver uma qualquer semelhança e que não será coincidência nenhuma.

A história não é nada por aí além (ou então foi o meu sono que a tornou assim) mas o filme não deixa de ser bastante interessante, por mostrar uma realidade diferente, não só em termos geográficos (Mali, com as suas tradições tão específicas) como temporais (a luta de classes ocorrida nos primeiros momentos da industrialização do país). Um dia que volte a passar sou capaz de rever.

Tenho é de deixar um recado à organização: eu sei que a película é antiga mas deviam ter isso em conta e se não estava em condições não exibiam o filme...o som esteve em níveis quase inaudíveis e escusado será dizer que os problemas com a imagem que obrigaram à interrupção da sessão por duas vezes não deveriam ocorrer num festival que quer (e pode) estar entre os melhores.



Le jour où Dieu est parti en voyage:


Mesmo com o sono de que falei acima não desisti e vi mais um filme. Já sabem, por isso, que as críticas de hoje são um bocadinho menos esclarecidas. É que como em relação ao Baara, este Le jour où Dieu est parti en voyage sofreu do mesmo problema (só para mim, claro). É um filme interessante, que um dia gostarei de rever mais desperto.

Também passado em África, mas sendo uma co-produção franco-belga, este filme - cujo título não vou repetir por ser demasiado longo - mostra-nos o genocídio no Ruanda de uma perspectiva diferente daquela que os (excelentes) Hotel Rwanda e Shooting Dogs.

Enquanto que estes dois filmes mostram os eventos de uma perspectiva colectiva (Hotel Rwanda) ou de estrangeiros (Shooting Dogs) aqui temos a história de Jacqueline, uma mulher tutsi que consegue escapar à vaga inicial de assassínios e se vê obrigada a sobreviver nas mais duras condições.

Imaginam-se a ouvir mulheres crianças a ser abatidas a tiro e não poder emitir um som, sob pena de serem encontrados?
Imaginam-se a ver os vossos dois filhos mortos, e nem sequer vos deixarem lavar-lhes o sangue que os cobre? Nem sequer poder chorar, ou serão descobertos?
Imaginam-se a ver esses mesmos filhos a ser atirados para a rua pela mulher que ocupou a vossa casa? E a vê-los serem recolhidos por uma camioneta tal qual um saco do lixo?
Imaginam-se a preferir morrer que viver?

Jacqueline passa por tudo isso e tudo isso lhe deixa grandes marcas psicológicas. Não lhe retira o instinto de sobrevivência, nem o instinto de protector que a impele a ajudar um outro tutsi ferido, mas quase tudo o resto da sua humanidade desaparece. Não sei se esta é uma história real, mas mesmo que não seja é bem provável que muita gente tenha vivido desesperos semelhantes. É triste ver como a humanidade pode ser tão selvagem.

Como já referi, o filme é interessante. Não será tão bom com os outros dois que abordam esta temática e que já referi, mas há algo aqui que é extraordinário...a interpretação de Ruth Nirere no papel principal. Para uma actriz que teve aqui o seu primeiro papel em cinema consegue, quase sem palavras, transmitir-nos todo o desespero e pré-insanidade que passam por alguém que vive estas trágicas circunstâncias.

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