Captive:
O realizador filipino Brillante Mendoza sobre do mesmo fado que o jogador Lucho González. Ambos têm nomes que dão para o trocadilho fácil e enquanto que os jornalistas desportivos portugueses se fartam de dizer que o Futebol Clube do Porto tem um jogador de "lucho" também a crítica cinematográfica várias vezes descreve o trabalho deste filipino como brilhante.
Captive é o seu primeiro filme após a dupla de sucesso Lola/Kinatay e o primeiro em que pode contar com uma estrela internacional para chamar ainda mais atenção para o seu trabalho. Não que necessite disso, já que os seus filmes anteriores contavam apenas com actores filipinos e não deixaram de ser brilhantes. (see what I did there?)
Mal as luzes se apagam e o filme começa somos transportados de volta a 2001 e até um resort turístico em Palawan, no Sul das Filipinas onde testemunhamos o rapto de cerca de três dezenas de pessoas que estavam no sítio errado à hora errada. Tal como eles, de início não sabemos o porquê daquela acção e damos por nós tão perturbados como decerto aquelas pessoas estariam. Felizmente, porém, as explicações são dadas e não auguram uma saída rápida para aquele problema: os raptores fazem parte da milícia islâmica Abu Sayyaf, que reclama a ilha de Mindanao como um estado islâmico e ninguém será libertado sem o pagamento de um resgate.
O que ninguém sabe naquela altura é que ali começam para alguns dos raptados os mais duros 377 dias que jamais tiveram de enfrentar. Na tentativa de negociar resgates mais altos os terroristas foram libertando alguns dos seus reféns mas mantiveram os estrangeiros (mais valiosos) e em particular Thérèse Bourgoine (Isabelle Huppert), uma missionária/cooperante francesa.
Em situações de rapto está comprovado que existe um fenómeno psicológico chamado de Síndrome de Estocolmo. Dizem os especialistas que esse síndrome se manifesta através da necessidade que as vítimas têm de se identificar com os raptores, muitas vezes apoiando honestamente a sua causa ou - em casos mais extremos - estabelecendo relações emocionais com os mesmos. É um fenómeno atraente para o mundo do cinema, pelas possibilidades narrativas que trás, mas que felizmente não tem lugar neste filme. Brillante Mendoza sabe humanizar personagens como poucos e é isso que volta a acontecer nesta história.
Thérèse é uma mulher forte que tem os seus momentos de desespero (como quando é visitada por uma equipa de jornalistas, para fazer uma prova de vida), assim como os terroristas são tão capazes de actos profundamente cruéis como de pequenas simpatias como transportar com especial cuidado Soledad, uma idosa com quem Thérèse viaja e que o grupo de raptores e raptados chama de "avózinha". Mendoza não faz o filme para censurar os terroristas ou vitimizar ainda mais as vítimas mas sim para contar a história do que é passar mais de um ano às voltas nas selvas de Mindanao.
Em consequência disso o filme tem um ritmo relativamente lento. Mendoza leva-nos até às profundezas daquela selva e mostra-nos diferentes episódios pelos quais o grupo tem de passar. Imagino que os dias na selva fossem psicologicamente cansativos, pela rotina e pelo constante pairar da ameaça que aquele grupo representa e o realizador tenta - e sucede - recrear o que se passou com aquele grupo de gente.
Sim, este é um daqueles filmes com o famoso crédito "baseado em factos reais". A história de Captive encontra correspondência nos Sequestros de Dos Palmas e é bem provável que nunca tenham ouvido falar nele. Ainda assim, através de Captive, o maior medo de Gracia Burham (outra das raptadas, que no filme tem outro nome) não teve seguimento: houve quem se preocupasse com eles e fizesse um filme para que a sua história não fosse esquecida.
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