quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Bai lu yuan (White Deer Plain)

Bai lu yuan:


Dizem as regras do chamar a atenção que um texto deve começar com um statement arrojado, pelo que cá vai ele: Bai lu yuan é o equivalente chinês a uma obra da Jane Austen adaptada ao cinema pelo Stanley Kubrick, desde que essa obra envolva uma mulher a urinar na cara de um idoso. Refiro a Jane Austen por ser um filme de época, o Kubrick pela atenção ao detalhe e a urina na cara porque...bem, há uma mulher a urinar na cara de um idoso.

Passando por cima da urofilia, esta nova mega-produção chinesa teve a sorte de me ter parecido semelhante ao City of Life and Death. O sumário do filme não me deixou por demais curioso mas tendo em conta que esse tinha sido um dos meus dois filmes favoritos de 2010 (e o último filme semelhante que vi) dei-lhe uma oportunidade e pus-me a caminho.

Bai lu yuan é, pelo que percebi, uma fértil região agrícola da China, uma espécie de Alentejo mas com Guangzhou em vez de Beja. Durante as quase três horas de filme raramente saímos dessa região e acompanhamos de perto a evolução de Bai Xiao Weng, Lu Zhao Peng e Heiwa desde a sua infância até à 2.ª Guerra Mundial. A relação entre eles começa como tantas outras em filmes "feudais" (Weng é filho do chefe do clã, Peng do administrador da aldeia e Heiwa do servente de Weng) mas acaba por se desenvolver de uma forma que só a história da China no início do século XX poderá explicar.

Baseado num romance histórico com o mesmo nome, esta história fez-me antes pensar em Cisnes Selvagens, um livro bastante popular nos anos 90. Se bem que aqui os grandes intervenientes na história são homens, o seu destino é controlado por uma mulher, Xiao'e (Yu Qi Zhang, cuja interpretação é a melhor do filme). Xiao'e é representativa da inevitável dor que vem com a mudança dentro da grande metáfora que liga os destinos dos três protagonistas aos destinos da China e chega mesmo a ser vista, pelos pobres camponeses da aldeia, como um sedutor diabo que deve ser afugentado.

O que passou pela cabeça do realizador, Quan'an Wang, para desvalorizar os interessantíssimos eventos históricos da revolução republicana chinesa, utilizando-os como meras tangentes, é algo que não consigo explicar, mas a verdade é que o fez e que com isso prejudicou em muito o seu filme. Em vez de um grande documento histórico Bai lu yuan acaba por ser um mediano romance de cordel que terá dificuldade em cativar as audiências por força da sua excessiva duração.

Mas nem tudo é de desaproveitar. A minuciosa atenção aos detalhes de como a população rural do Império do Meio vivia e os frequentes momentos de grande cinegenia fazem com seja um filme bonito de se ver. Se tivesse uma história de jeito a coisa até tinha ficado compostinha.

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