Licuri Surf:
Ora aqui está uma coisa que nunca me tinha acontecido. Enquanto via esta curta, vencedora de uma menção honrosa da Berlinale, fiquei com a ideia (mas não a convicção) de que se tratava de um documentário mas ao ler o seu resumo nada indica que tal o seja. Em que ficamos?
Vou avançar para a teoria do documentário, e dentro dos documentários um surf-film bastante fora do comum. Licuri é o nome do nosso narrador, um membro da tribo Pataxó, nativa do estado brasileiro da Bahia. O que torna a sua história interessante é a grande paixão da sua vida, o surf.
Normalmente associamos a prática do surf com caucasianos de classe média-alta/alta, com equipamento caríssimo e muitos autocolantes publicitários. Ainda mais, os surf-films costumam ser baseados em surfistas profissionais cuja vida é viajar pelo mundo à procura da onda perfeita. Aqui a realidade é totalmente diferente e foi isso que me fez gostar tanto de a conhecer.
Licuri não é o único pataxó a surfar as ondas da Bahia. Ele e alguns membros da sua tribo vivem junto à costa e desde crianças que têm as ondas como principal companheiro de brincadeiras. Não precisam de pranchas caras - um pedaço de madeira ou de esferovite basta para aprender e mais tarde usam as pranchas feitas localmente - nem de equipamento dispendioso, bastam uns calções e estão prontos para a acção. Creio que nem sequer vi leashes, mas não posso garantir.
Para além de nos apresentar a cena surf local, Licuri Surf mostra-nos também uma surf-trip deste grupo tão improvável. Em vez de Bali vão até ao estado de São Paulo, onde as ondas são mais fortes que na Bahia, e em vez de aviões usam uma carrinha a cair de podre. Licuri Surf é um interessante testemunho sobre uma sub-cultura muito específica e enquanto tal são 15 minutos muito bem passados mesmo para aqueles que, como eu, não se conseguem pôr em cima de uma prancha.
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