terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Death Row

Antes de mais um momento fan-boy. Quem diria que eu, pequeno e amador crítico de cinema, iria alguma vez estar presente na estreia mundial do mais recente filme do meu realizador favorito? E, ainda para mais, ter a oportunidade de falar com ele após a exibição? Adoro a Berlinale!
E agora passemos à SMR propriamente dita.

Death Row:


Antes de dizer seja o que for sobre o filme quero fazer um aviso à navegação: sou um veemente opositor da pena de morte e já tive contacto profissional com alguns casos deste tipo. Por esse motivo, é normal que a minha interpretação deste filme seja especialmente afectada pela minha experiência.
Não quer isto dizer, porém, que seja a favor dos criminosos. Como o realizador, Werner Herzog, diz a um dos seus entrevistados "o facto de ser contra a pena de morte não quer dizer que tenha de simpatizar consigo". Herzog é contra a pena de morte mas este não é um filme militante, optando antes por dar voz aos condenados e não às opiniões do cineasta.

Apresentado como um conjunto de 4 episódios completamente autónomos, Death Row aborda as histórias de 4 homens e uma mulher, tendo como característica em comum o facto de estarem no corredor da morte de um dos 34 estados dos EUA que ainda têm a pena capital como uma pena possivel para certos crimes. Três dos entrevistados confessam os seus crimes, dois lutam até hoje por ver provada a sua inocência, nenhum quer morrer às mãos do Estado.

Dos quatro episódios aquele que mais me tocou foi o de Hank Skinner, o homem que podem ver na foto acima e um dos dois que continuam a clamar a sua inocência. Este homem foi condenado à morte pelo homicídio da sua namorada e dos dois filhos desta, esteve a 20 minutos da hora da sua execução e conseguiu uma extensão dos seus recursos por lhe ter sido recusada a entrega de provas que poderiam estabelecer a sua inocência e qual é a sua atitude perante a vida? Diz apenas que ou passa a vida a chorar ou a rir e já chorou demais. A sua personalidade, a sua crença na inocência e numa eventual libertação, bem como a sua vitória perante o Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América lançarão, de certeza, muitos conflitos morais na mente dos espectadores pró-pena de morte.

Os restantes três episódios (James Barnes, George Rivas & Joseph Garcia e Linda Carty) apresentam histórias mais difíceis de abraçar: Barnes confessa os seus hediondos crimes, Rivas & Garcia pensam que a sua condenação é exagerada e Linda Carty clama inocência mas a sua história é mais macabra. Herzog consegue ainda assim mostrar um lado mais humano daquelas pessoas, dirigindo com mestria as perguntas (espontâneas) que foi fazendo naquelas conversas de 50 minutos que foi autorizado a ter com os cinco condenados.

Se há mérito neste filme é esse. O formato prejudica-o um pouco já que parece ser uma espécie de material-bónus para a edição em DVD do seu anterior filme sobre o tema, Into the Abyss (de 2011) mas ao colocar estas pessoas perante as câmaras, bem como aqueles que os acusam e os defendem, Herzog consegue manter-se numa linha da qual seria muito fácil resvalar. A opinião dos espectadores sobre o assunto não vai mudar depois de ver Death Row, mas todos nós ficaremos com uma melhor impressão do que passa pela cabeça de quem sabe a data em que vai morrer.

Ao longo do filme Herzog pergunta frequentemente com que sonham dos condenados e esses  sonhos passam-se, infalivelmente, fora das prisões que os detêm. Porquê?, acaba por perguntar a Joseph Garcia. A resposta é tocante de tão simples que é: sonham com o mundo lá fora porque acordados vivem um pesadelo constante, um pesadelo do qual não sairão vivos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário