quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

The Artist



Há já muitos anos que me perguntava isto: porque é desde que há a possibilidade de fazer filmes a cores ainda se fazem alguns a preto e branco mas desde o The Jazz Singer (o primeiro grande filme com falas da história do cinema, datado de 1927) foram raros os filmes mudos? É que se repararem de tempos a tempos vão surgindo alguns filmes a preto e branco, mas - depois de o ter investigado por causa deste filme - devem ter sido feitos uns 10  filmes mudos desde os anos 30.

A vossa resposta à minha pergunta é aquela que também me surgia sempre, enquanto que o preto e branco por vezes serve como acrescento artístico a perda do som é uma limitação à qual os espectadores actuais não estão habituados. Seria uma distração em vez de uma escolha estilística.

The Artist, o mais recente filme do realizador francês Michel Hazanavicius (mais conhecido pelas suas comédias) surge em 2011 com a intenção de acabar com a minha lógica infalível. Aqui está um filme mudo (ou quase), a preto e branco e com grande sucesso comercial e artístico. Venceu vários Globos de Ouro, incluindo o de Melhor Filme de Comédia ou Musical (embora não seja nem uma comédia nem um musical!), foi um dos principais nomeados para os Óscares (10!) e é um dos grandes candidatos a ganhar uma data de estatuetas.

A questão que necessariamente tem de ser abordada é o quão merecido é esse sucesso. Eu diria que tem algum mérito mas não tanto que justifique as ondas que tem criado. Acho que o mérito é sobretudo pela coragem de fazer um filme destes em pleno século XXI, tudo o mais é bom mas não extraordinário.

A história é a de George Valentin (Jean Dujardin), estrela do cinema mudo que não se consegue adaptar à transição para o cinema falado e vê uma sua antiga protegida tornar-se uma estrela de nível mundial. Nos tempos do mudo George ajuda Peppy (Bérénice Bejo) a conseguir os seus primeiros trabalhos e, depois da desgraça de George é Peppy que o ajuda, não a conseguir filmes mas a manter-se vivo. É uma história que se repetiu muito nos anos 20, quando vários actores e actrizes não conseguiram vingar num mercado totalmente diferente.

Um dos frequentes elogios ao filme é a qualidade da actuação do actor principal, Jean Dujardin. Ao aceitar o papel foi corajoso, pois coube-lhe liderar um filme mudo apenas com a sua expressividade e - há que dizê-lo - acho que não vai desiludir ninguém. Há, porém, outra pessoa que me agradou bastante mais. Tal como se passa durante o filme, a actriz mais jovem supera o mais veterano actor e torna-se na verdadeira estrela. Bérénice Bejo é uma actriz que vai valer a pena seguir no futuro, a menos que esteja talhada apenas para filmes mudos. Creio que The Artist é uma obra solitária e não vamos ter uma série de filmes mudos num futuro próximo.

Uma última nota para algo que é realmente merecedor do hype, a banda sonora. Tal como no antigamente, em The Artist o diálogo é substituído por intertítulos e a emoção é transmitida através da música que acompanha as cenas. O trabalho de Ludovic Bource é, nesse aspecto, exemplar...não obstante as críticas de que tem sido alvo são as suas composições que nos ajudam a rir quando Uggie faz as suas cenas ou sentir o desespero de George quando a sua vida está quase no fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário