quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Tabu

Tabu:


A noite de 14 de Fevereiro de 2012 ficará na memória de Miguel Gomes, realizador de Tabu, como a da estreia com mais pompa e circunstância que algum dos seus filmes já teve. Aliás, a estreia de Tabu na Berlinale 2012 deve ter sido a estreia mais pomposa que um filme português jamais teve: passadeira vermelha, emissão em directo na televisão, segurança reforçada e fãs à espera (se bem que os fãs estavam à espera da Meryl Streep para outra sessão, mas isso não interessa nada). É uma pena, portanto, que o filme exibido não estivesse à altura do espetáculo montado para ela.

Honestamente já não sei o que dizer mais sobre o prototípico cinema português. Já por várias vezes referi o quanto me custa ver que, filme atrás de filme, a nossa escola de cinema continua a repetir a mesma fórmula, caracterizada pelo formalismo excessivo (a roçar o grotesco), o pedantismo e um desinteresse em cativar o público. Em Tabu Miguel Gomes cai nos mesmos erros, logo ele cujo anterior filme teve bastante sucesso precisamente por se afastar desse molde.

Partilhando o título com um filme dos anos 30, Tabu começa com um prólogo que parece ter sido filmado nessa década. Neste se conta a história de um intrépido explorador que, de coração desfeito, se deixa morrer em plena África e a, partir dessa lenda, partimos para a história propriamente dita. 

Dividido em duas partes (Paraíso Perdido e Paraíso, tal como o seu homónimo) Tabu começa por nos apresentar a Aurora (Laura Soveral/Ana Moreira) enquanto idosa já meio senil, tal como a sua empregada Santa (Isabel Cardoso, o melhor que o filme tem para oferecer) e a sua vizinha Pilar (Teresa Madruga). No leito de morte Aurora pede a Pilar para contactar um homem, Gian Luca Ventura (Henrique Espírito Santo/Carloto Cotta). Ventura e Aurora conhecem-se dos tempos em que ambos tinham fazendas em na África colonial portuguesa e por lá tiveram uma relação intensa que entretanto se diluiu até à inexistência. Ventura, já velho e solitário, acaba por nos contar o porquê recordando os dias tórridos que viveu com aquela mulher.

Começa aqui os dos meus grandes pontos de discórdia com este filme. A segunda parte do filme é integralmente narrada por Ventura, em prejuízo dos diálogos entre os personagens. Não, não é um filme mudo porque se ouvem efeitos sonoros - tanto o som de fundo como a respiração dos actores marcam presença e eles conversam entre si, nós é que não lhes ouvimos a voz.
 
Juntem a isso uma rigidez formal excessiva, que transforma as interpretações em marionetas (e que já vinha da primeira metade do filme) e uma fotografia a preto e branco que não me pareceu ter grande qualidade e ainda menos interesse narrativo e começam a perceber o que quero dizer: Tabu é um exercício de estilo feito por um autor para si mesmo e que - com muita pena minha - acaba por ser um desperdício de tempo, dinheiro e talento.

Bem sei que não represento a crítica cinematográfica mais típica e não é por acaso que resumo o meu blog como "crítica de cinema para quem não paciência para críticos de cinema". Admito até que talvez seja eu a estar errado, já que aparentemente a recepção a este filme noutras publicações tem sido positiva, mas enquanto espectador de cinema não posso recomendar este filme a ninguém. 

Durante a primeira parte do filme Aurora diz algo do género: "Por vezes dão-nos presentes de que não gostamos. Não é por mal, apenas não nos conhecem o gosto". Tabu é o mais recente presente de Miguel Gomes aos espectadores. É provável que a maioria não goste mas não é por mal, apenas não lhes conhece o gosto.

2 comentários:

  1. "A longa-metragem «Tabu», do realizador português Miguel Gomes, venceu o prémio da crítica do festival de cinema de Berlim, afirmou esta sexta-feira à agência Lusa o produtor Luís Urbano."

    Ups.

    CDP

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    1. Cara CDP,

      A crítica cinematográfica não tem como objectivo o acertar em que filmes vão ganhar prémios. A notícia que cita alegra-me pelo eventual benefício que poderá trazer ao cinema português e de modo nenhum significa que tenha falhado na minha percepção do filme. Por estes motivos o seu "Ups." era escusado.

      Esta crítica é, como todas as outras, uma opinião pessoal e se daqui a uns minutos o filme "Tabu" vier a ganhar o Urso de Ouro da Berlinale ficarei mais uma vez contente mas continuarei a achar que o prémio não foi bem entregue.

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