domingo, 12 de fevereiro de 2012

Kid-Thing

Kid-Thing:


Annie (Sydney Aguirre) tem 10 anos e vive com o homem que é seu pai numa qualquer terroiola do Texas. O homem que é seu pai só o é na teoria, porque quanto ao tomar conta da filha, preocupar-se com ela, saber por onde anda ou transmitir-lhe alguns valores está quieto, Marvin (Nathan Zellner, irmão do realizador) é uma criança grande que falha completamente nas suas responsabilidades parentais.

Annie é uma criança-criança mas por vezes faz asneira como gente grande: diverte-se fazendo chamadas anónimas (como tantos de nós fizemos quando éramos mais novos), a roubar doces do supermercado ou a disparar armas de paintball contra o cadáver de uma vaca. Vejam-na como um Calvin, mas sem o Hobbes e no corpo de uma maria-rapaz. Annie tem uma vida complicada e é, ela mesma, complicada.

Um dia em que não tem escola resolve ir passar o tempo para um bosque e começa a ouvir gritos de socorro. Resolve investigar e descobre uma espécie de poço onde aparentemente terá caído Esther, mulher mais velha que agora precisa da ajuda de Annie para sair. Annie, a criança que diz que não tem medo de nada, foge a correr mas volta no dia seguinte e continua a voltar, com comida, bebida e pedidos de atenção. Nunca, porém, com uma escada ou um adulto que possa realmente ajudar.

Porque é que Annie mantém a relação com esta mulher que não vê? Porque é que não a ajuda a sair dali? Será que Esther existe mesmo ou é uma criação da mente daquela criança, uma forma de enfrentar o medo do desconhecido? A resposta é deixada em aberto mas o filme tende a seguir numa direcção que não me agradou particularmente e que o afasta de maior grandeza. Tomem particular atenção à montagem sonora para perceber o que estou a dizer.

Talvez seja embirração pessoal da minha parte mas acho que filmes sobre crianças (que não são a mesma coisa que filmes para crianças, Kid-Thing é um filme para adultos!) devem tentar ser o mais directos possível, sem forçar obscurantismos que não existiriam na mente dos seus protagonistas. As crianças vêem magia e aventura em todo o lado, mas não duplos sentidos para as suas acções. A história de Annie é por si só relevante e a tentativa de forçar simbolismos onde não os devia haver faz com que Kid-Thing nos transmita uma mensagem, mas uma mensagem menos interessante.

Foi sobretudo por isso que fiquei desiludido com Kid-Thing. É um filme tecnicamente bastante competente (com especial louvor para o trabalho a nível sonoro e para a interpretação da protagonista) e que não é propriamente mau, mas a razão que me impeliu a ir vê-lo foi o ter-me lembrado de um filme chamado Curling, do Denis Côté, e querer ver um filme a explorar melhor um tema que me interessa bastante. Infelizmente terei de continuar na minha busca da forma perfeita de mostrar a solidão infantil.

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