Pode um bom final salvar um filme do naufrágio? Já tinha dito em relação ao Play the Game que não. Aqui a história repete-se.
Resolvi ir ver este documentário por dois motivos: pelo facto da realizadora - Heddy Honigman - ser um dos destaques da secção Herói Independente do festival, onde está a ser passada a sua retrospectiva quase integral, e pela temática ser relacionada com a 2ª Guerra Mundial, assunto pelo qual nutro grande interesse.
Mais especificamente, o tema do filme são os dois minutos de silêncio que toda a Holanda faz a cada dia 4 de Maio às 20h. O que a realizadora procurou explorar e o que a mim me interessava saber é o que se vai passando na cabeça das pessoas durante esses 2 minutos, quer seja um sobrevivente da guerra, quer seja alguém que vive com a vergonha de ser filha de pais colaboracionistas.
O grande problema do filme, na minha modestíssima opinião, é que é uma longa de 80 e tal minutos quando poderia (e deveria) ser uma curta de 15 ou 20.
Como já disse, o final é arrepiante, com a Holanda verdadeiramente em silêncio durante aqueles 2 minutos (filmados em tempo real), passando depois para uma poderosíssima interpretação do Requiem, de Mozart.
O mal está é no que vem antes, uma série de entrevistas demasiado longas e aborrecidas, onde a realizadora constantemente interrompe os entrevistados, mudando o rumo às conversas sem os deixar terminar o seu raciocínio.
Normalmente os Director's Cuts são mais longos que a versão original do filme, mas aqui impunha-se uma nova edição que o tornasse muito mais curto. Talvez assim não houvesse gente a sair a meio e outros a dormir quando finalmente chega o momento que realmente interessa.
City of Life and Death:
Em 1938 a Alemanha nazi já existia, mas ainda não tinha iniciado a sua política expansionista que viria a culminar no início da Segunda Guerra Mundial. Precisamente ao mesmo tempo, já o Japão Imperial tinha iniciado a sua política expansionista que só acabou com após o uso das bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki, bem depois da rendição da Alemanha Nazi, no final da Segunda Guerra Mundial.
Diz-se que o mundo é pequeno, mas aqui dou-vos dois exemplos do contrário.
Se o mundo fosse assim tão pequeno o mundo condenaria de forma mais intensa as verdadeiras selvajarias cometidas pelos japoneses, tanto em Nanjing (episódio que o filme retrata), como em qualquer outro território que ocuparam na altura. Selvajarias que não são menos hediondas que as cometidas pelos nazis, mas são menos conhecidas. Aliás, basta pegar numa imagem simbólica deste filme para defender o que estou a dizer: aqui, tal como nos factos reais em que o filme é baseado, o representante nazi na cidade é visto como um porto de abrigo e, a dada altura, não consegue conter as lágrimas pelas atrocidades que os japoneses vão cometendo.
Por outro lado, se o mundo fosse realmente pequeno, ou pelo menos o mundo cinéfilo fosse mais atento a filmes que vêm de outros lados que não Hollywood, esta verdadeira obra-prima realizada por Lu Chuan (que não conhecia mas que passei a ver como um realizador de topo) seria vista por muito mais gente e seria justamente considerada como um dos melhores filmes de guerra de sempre.
O que Lu Chuan aqui consegue é um filme numa escala monumental, onde ao longo das suas mais de duas horas nos faz um relato bastante completo de tudo o que por lá aconteceu. Para isso tanto nos apresenta batalhas ferozes como momentos íntimos de tragédia familiar, todos eles realizados com verdadeira mestria.
Excelente em todos estes aspectos e ajudado por uma fotografia a preto e branco que intensifica ainda mais o que vemos no ecrã, City of Life and Death conseguiu convencer-me que é o melhor filme que vi no Indie Lisboa 2010 e é um grande candidato ao melhor filme que vi em 2010.
É um filme obrigatório, que se estrear em sala deve ser visto no cinema, dada a grandeza de tudo o que acontece no ecrã.
My Son, My Son, What Have Ye Done?:
Já há quase um ano que andava a antecipar este filme. Mais precisamente, desde que li um mini-artigo na Empire sobre uma colaboração entre o Werner Herzog e o David Lynch. Ora, estes dois senhores são - apenas e só - dois dos meus três ou quatro realizadores favoritos. A expectativa era muita e apesar do filme ser bom, não conseguiu ser totalmente atingida.
Resumindo muito a coisa, a história do filme é inspirada num caso real de um habitante de San Diego que assassinou a mãe dada a sua depressão e a obsessão pelo mito de Orestes. Esta é a versão reduzida, mas em qualquer filme que tenha o David Lynch envolvido há muito mais para interpretar. Neste caso temos de ter em conta uma viagem ao Perú que mudou a vida do protagonista (iniciando a sua obsessão com um deus que vive numa lata de papas de aveia!...don't ask), um tio que cria galinhas gigantes e - presença quase obrigatória num filme destes dois loucos realizadores (no bom sentido) - um anão.
Costumo dizer que enquanto o David Lynch aborda mais o sobrenatural (não extra-terrestres, mas realidades paralelas e coisas assim) o Werner Herzog prefere histórias surreais de pessoas reais. Aqui, a história central é um bom misto dos interesses de ambos os realizadores, mas no geral os traços do filme são muito mais de Lynch que de Herzog; aliás, se não soubesse diria que tinha sido o primeiro a realizar e o segundo a produzir e não o contrário.
As expectativas eram realmente altíssimas e por isso praticamente impossíveis de atingir, mas o facto de eu não ter ficado 100% satisfeito não quer dizer que não recomende o filme. É uma história estranha, como não poderia deixar de ser, mas suportada por excelentes interpretações (sobretudo o protagonista, Michael Shannon, que já tinha sido o ponto alto do Revolutionary Road, e a sua mãe, Grace Zabriskie, que permanece tão assustadora como no seu papel em Inland Empire) e tem um bom equilíbrio entre realidade e surrealidade.
É que, como eu interpretei uma das últimas cenas, o que para uns é insanidade, para outros é arte.
Resolvi ir ver este documentário por dois motivos: pelo facto da realizadora - Heddy Honigman - ser um dos destaques da secção Herói Independente do festival, onde está a ser passada a sua retrospectiva quase integral, e pela temática ser relacionada com a 2ª Guerra Mundial, assunto pelo qual nutro grande interesse.
Mais especificamente, o tema do filme são os dois minutos de silêncio que toda a Holanda faz a cada dia 4 de Maio às 20h. O que a realizadora procurou explorar e o que a mim me interessava saber é o que se vai passando na cabeça das pessoas durante esses 2 minutos, quer seja um sobrevivente da guerra, quer seja alguém que vive com a vergonha de ser filha de pais colaboracionistas.
O grande problema do filme, na minha modestíssima opinião, é que é uma longa de 80 e tal minutos quando poderia (e deveria) ser uma curta de 15 ou 20.
Como já disse, o final é arrepiante, com a Holanda verdadeiramente em silêncio durante aqueles 2 minutos (filmados em tempo real), passando depois para uma poderosíssima interpretação do Requiem, de Mozart.
O mal está é no que vem antes, uma série de entrevistas demasiado longas e aborrecidas, onde a realizadora constantemente interrompe os entrevistados, mudando o rumo às conversas sem os deixar terminar o seu raciocínio.
Normalmente os Director's Cuts são mais longos que a versão original do filme, mas aqui impunha-se uma nova edição que o tornasse muito mais curto. Talvez assim não houvesse gente a sair a meio e outros a dormir quando finalmente chega o momento que realmente interessa.
City of Life and Death:
Em 1938 a Alemanha nazi já existia, mas ainda não tinha iniciado a sua política expansionista que viria a culminar no início da Segunda Guerra Mundial. Precisamente ao mesmo tempo, já o Japão Imperial tinha iniciado a sua política expansionista que só acabou com após o uso das bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki, bem depois da rendição da Alemanha Nazi, no final da Segunda Guerra Mundial.
Diz-se que o mundo é pequeno, mas aqui dou-vos dois exemplos do contrário.
Se o mundo fosse assim tão pequeno o mundo condenaria de forma mais intensa as verdadeiras selvajarias cometidas pelos japoneses, tanto em Nanjing (episódio que o filme retrata), como em qualquer outro território que ocuparam na altura. Selvajarias que não são menos hediondas que as cometidas pelos nazis, mas são menos conhecidas. Aliás, basta pegar numa imagem simbólica deste filme para defender o que estou a dizer: aqui, tal como nos factos reais em que o filme é baseado, o representante nazi na cidade é visto como um porto de abrigo e, a dada altura, não consegue conter as lágrimas pelas atrocidades que os japoneses vão cometendo.
Por outro lado, se o mundo fosse realmente pequeno, ou pelo menos o mundo cinéfilo fosse mais atento a filmes que vêm de outros lados que não Hollywood, esta verdadeira obra-prima realizada por Lu Chuan (que não conhecia mas que passei a ver como um realizador de topo) seria vista por muito mais gente e seria justamente considerada como um dos melhores filmes de guerra de sempre.
O que Lu Chuan aqui consegue é um filme numa escala monumental, onde ao longo das suas mais de duas horas nos faz um relato bastante completo de tudo o que por lá aconteceu. Para isso tanto nos apresenta batalhas ferozes como momentos íntimos de tragédia familiar, todos eles realizados com verdadeira mestria.
Excelente em todos estes aspectos e ajudado por uma fotografia a preto e branco que intensifica ainda mais o que vemos no ecrã, City of Life and Death conseguiu convencer-me que é o melhor filme que vi no Indie Lisboa 2010 e é um grande candidato ao melhor filme que vi em 2010.
É um filme obrigatório, que se estrear em sala deve ser visto no cinema, dada a grandeza de tudo o que acontece no ecrã.
My Son, My Son, What Have Ye Done?:
Já há quase um ano que andava a antecipar este filme. Mais precisamente, desde que li um mini-artigo na Empire sobre uma colaboração entre o Werner Herzog e o David Lynch. Ora, estes dois senhores são - apenas e só - dois dos meus três ou quatro realizadores favoritos. A expectativa era muita e apesar do filme ser bom, não conseguiu ser totalmente atingida.
Resumindo muito a coisa, a história do filme é inspirada num caso real de um habitante de San Diego que assassinou a mãe dada a sua depressão e a obsessão pelo mito de Orestes. Esta é a versão reduzida, mas em qualquer filme que tenha o David Lynch envolvido há muito mais para interpretar. Neste caso temos de ter em conta uma viagem ao Perú que mudou a vida do protagonista (iniciando a sua obsessão com um deus que vive numa lata de papas de aveia!...don't ask), um tio que cria galinhas gigantes e - presença quase obrigatória num filme destes dois loucos realizadores (no bom sentido) - um anão.
Costumo dizer que enquanto o David Lynch aborda mais o sobrenatural (não extra-terrestres, mas realidades paralelas e coisas assim) o Werner Herzog prefere histórias surreais de pessoas reais. Aqui, a história central é um bom misto dos interesses de ambos os realizadores, mas no geral os traços do filme são muito mais de Lynch que de Herzog; aliás, se não soubesse diria que tinha sido o primeiro a realizar e o segundo a produzir e não o contrário.
As expectativas eram realmente altíssimas e por isso praticamente impossíveis de atingir, mas o facto de eu não ter ficado 100% satisfeito não quer dizer que não recomende o filme. É uma história estranha, como não poderia deixar de ser, mas suportada por excelentes interpretações (sobretudo o protagonista, Michael Shannon, que já tinha sido o ponto alto do Revolutionary Road, e a sua mãe, Grace Zabriskie, que permanece tão assustadora como no seu papel em Inland Empire) e tem um bom equilíbrio entre realidade e surrealidade.
É que, como eu interpretei uma das últimas cenas, o que para uns é insanidade, para outros é arte.
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