domingo, 2 de maio de 2010

Indie Lisboa dia 11: Go Get Some Rosemary + Guerra Civil

Go Get Some Rosemary:

E aqui está, foi este o filme vencedor do grande prémio do Indie! E como não o tinha visto, resolvi aproveitar o último dia para o fazer.

Go Get Some Rosemary é uma espécie de Kramer vs. Kramer dos dias modernos. Nele conhecemos de perto a relação do nova-iorquino Lenny com os seus filhos, Sage e Frey, durante duas semanas. É uma relação muito esporádica, já que os termos da custódia das crianças ditam que Lenny pode passar duas semanas por ano com os filhos, estando estes o resto do tempo com a mãe.

Dadas estas circunstâncias muito específicas, Lenny faz um grande esforço para lhes proporcionar 15 dias divertidos e que de certa forma os deixem com uma imagem positiva do pai. Ao mesmo tempo, Lenny tem a sua vida profissional e pessoal on hold, já que o resto da sua vida não está habituada a ter concorrência dos filhos.

É esse malabarismo de tempo que faz a história avançar. Se por vezes os miúdos estão felizes a passar o tempo com o pai, noutros momentos as restantes obrigações de Lenny chamam por ele e a coisa começa a azedar. É aqui que se vê que não estamos perante um pai a tempo inteiro, Lenny é demasiado imaturo para conseguir lidar com as necessidades que aquelas crianças lhe trazem e não são uma nem duas vezes que as coisas correm mal. Mas a interpretação de Ronald Bronstein faz dele um lovable loser (seria mais correcto dizer lovable fuck-up, na verdade) a quem perdoamos as muitas vezes em que faz asneira, e acreditem em mim que às vezes as asneiras são graves, porque sabemos que tudo o que faz é por amor aos filhos.

Quanto ao mérito do prémio continuo na minha, dos filmes que estavam em competição, o Castro foi aquele que me pareceu mais merecedor do galardão, mas não tendo ganho devo dizer que me parece que o prémio também ficou bem entregue nas estantes dos realizadores, Ben e Joshua Safdie, dois velhos conhecidos do festival. É um filme muito afectivo e que coloca várias questões, a mais importante delas sendo "Será que eu faria melhor?" (Lá está, filmes que não acabam quando terminam)


Guerra Civil:

(não é o poster do filme; não o encontrei on-line, o que é uma pena, porque é bem giro)

Para terminar a minha maratona Indie Lisboa escolhi o Guerra Civil, filme vencedor do prémio de melhor longa portuguesa.

Digo escolhi porque - apesar de não fazer parte do Jurí do festival (isso é coisa para daqui a uns anos) e de não ter visto o filme antes da atribuição do prémio - fui eu que escolhi que este seria o último que ia ver...ainda tinha pensado ir ver o Pelas Sombras, que venceu o prémio do público, mas como me pareceu bastante chato (alguém viu? querem fazer-me arrepender?) resolvi antes ir ver a bola e despedir-me do festival mais cedo.

Decidir fazer isso porque Guerra Civil foi um final em grande. Tenho até de dizer ao Pedro Caldas (realizador) "Bem vindo ao clube dos filmes portugueses de que gostei realmente". São agora 4!

Guerra Civil não é - felizmente? - um filme histórico sobre as guerras que opuseram Pedristas e Miguelistas em meados do século XIX. Quem está em guerra neste filme é uma família, isto se a minha interpretação é a correcta. (E gosto de pensar que é) Guerra porque os pais de Rui (Francisco Bellard, com boa interpretação), o protagonista, estão juntos mas não estão bem...nem entre eles nem com o filho, que desconhecem quase por completo.

A história deste filme está ligada à de Rui, jovem que me fez lembrar uma versão um pouco mais extrema de mim próprio, que tenho traços de personalidade parecidos e sou tão tapadinho quanto ele no que toca a raparigas. E gosto de Joy Division.

Anyway, a história é a dele e o tempo é o Verão de 1982. É nestas férias, numa praia nunca identificada, que Rui conhece (ou pelo menos passa a dar-se mais) com Joana, uma vizinha sazonal que é basicamente o oposto dele. Está sempre bem disposta, dança ao som de música para dançar (por oposição às "deprimências" que Rui ouve), vai à praia e gosta de se apaixonar. Apaixona-se por Rui e tira-o do seu mundo, com consequências imprevistas.

Já elogiei a actuação do jovem que faz de Rui, mas para mim a estrela do filme é mesmo Maria Leite, que faz de Joana. Infelizmente não encontrei nenhum link para um site sobre ela, mas de certeza que se mantiver este nível um dia há de ter todo o reconhecimento que merece. A sua interpretação é - para estrear uma palavra aqui no blog - amorosa e é assim que tem de ser, a sua Joana é uma Joana real. É uma Joana adolescente, de férias, com vontade de descobrir tudo o que o mundo tem para lhe oferecer.

É esta naturalidade o que mais sobressai no filme. Mesmo comparando com os outros filmes portugueses de que gosto mesmo, só aqui vi um Portugal com portugueses normais...aqui não se cai no cliché da bimbalhada, nem no erro de nos representar como um povo altamente intelectual. As pessoas que povoam Guerra Civil falam como os portugueses falam, comportam-se como um português normal se comportaria e têm as mesmas actividades balneares que os portugueses normais (ok, tirando o volley sem ball, mas essa cena tem uma beleza tal que vale por si própria).

Também me parece que os portugueses normais gostariam deste filme. Se eu fosse o realizador seria essa a minha maior alegria, saber que com a minha primeira longa-metragem tinha trazido um novo vento de esperança para o futuro do cinema português.

(Uma outra coisa que sobressai no filme é a excelente banda sonora com bandas da altura. Queria falar dela, mas não sabia onde por isso fica aqui.)

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