A filmografia dos EUA (já para não falar da produção televisiva) é bastante prolífica em representar o que por lá se chama de white trash. A versão inglesa dessa realidade não tem o mesmo nome - a Wikipedia fala-nos em Chav's mas os meus leitores ingleses poderão elucidar-me melhor - e não é tantas vezes retratada.
Neste Fish Tank é e, e compensando a quantidade com qualidade, é-o muito bem. Mas este é um filme muito mais profundo que uma mera tentativa de mostrar uma realidade specífica da sociedade britânica.
É verdade que, sobretudo no terço inicial do filme, ao seguirmos Mia (uma brilhante Kate Jarvis, a mostrar na sua primeira interpretação que o nome Jarvis é bom presságio para artistas ingleses) vamo-nos apercebendo sobretudo das difíceis condições de vida nos bairros de habituação social em terras de sua majestade. Durante muito tempo pensamos que é disso que trata o filme, um aquário que do pouco nos mostra o muito.
Mas a dada altura, num movimento que não é um twist mas que muda a direcção da história quase a 180º, começamos a aprofundar outra realidade...a dos abusos familiares que grassam no interior daquelas casas. Tanto no que toca à violência entre uma mãe (Kierston Waring, com uma igualmente boa interpretação) e as suas duas filhas, como no que toca ao abuso (emocional e não só) entre o namorado da mãe, Connor, (o grande Michael Fassbender), a mãe e Mia que, carente de uma figura paternal, confunde muito as coisas e se liga demasiado ao único adulto que não a afasta.
As coisas tornam-se feias, mas no final de contas - talvez mesmo na última cena - fica uma réstia de esperança. Esperança que aquela jovem tenha conseguido encontrar uma saída para aquele mundo, condenado a repetir-se. Ela parte, talvez para um futuro igual ao presente, mas com a esperança que o passado não se repita. E é essa esperança que se vê no seu sorriso, a caminho da "terra das baleias".
Tecnicamente, só tenho a referir mais duas coisas. Em primeiro lugar as bonitas imagens que por vezes surgem quase como separadores - não têm muito a ver com o resto do filme, mas que ficam ali muito bem. Finalmente, uma nota não tão positiva para a banda sonora...que faz todo o sentido naquele contexto (é a música que aqueles jovens ouvem!) mas que não me consegue entrar na cabeça
és doido, a melhor cena desse filme é a banda sonora! o final com a Life's A Bitch do Nas faz todo o sentido e é mesmo a cereja em cima do bolo!
ResponderExcluirmas sim o filme está bem conseguido justamente pelos aspectos que referiste...o cinema do UK no geral, do pouco que conheço, está bem nice.
Eu adorei o filme, mas eu sou algo fanboy do cinema inglês :P
ResponderExcluirAgora a sério, para não repetir o que já disse, tenho-o escrito no meu blog.
Ema: também disse que acho que a banda sonora está super adequada para o filme (e sim, o terem usado aquela música do Nas no final faz todo o sentido) mas é mesmo um tipo de som que não consigo curtir.
ResponderExcluirKords: só uma correcção ao que escreveste, este filme pode ser uma resposta moderna ao An Education, mas não uma resposta inglesa porque o An education já é inglês.
(adicionei o teu blog ao reader, curti do que vi)