Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans:
Quem está atento a este blog e - ao mesmo tempo - esteve atento à programação do Indie Lisboa deve a dada altura ter feito esta pergunta: então o gajo lá daquele blog do cinema está sempre a dizer que adora o Werner Herzog e não me vai ver um dos dois filmes dele que passam no Indie? É verdade, não fui mas foi por um bom motivo: ver o FCP ganhar 5-2 ao Vitória de Setúbal.
Foi um leap of faith arriscado, na verdade, porque presumi que o filme fosse estrear comercialmente mas podia ter-me lixado à grande. Felizmente não me lixei. Vamos por isso à crítica do primeiro dos dois filmes do Werner Herzog que passou no Indie Lisboa 2010.
Antes de mais digo que gostei mais deste que do My Son, My Son, What Have Ye Done?. É uma história mais profunda, com lugar a mais sensações que a constante estranheza que se vai sentindo neste (mas, claro, não deixa de haver estranheza!). Aqui há espaço para relações familiares, relações amorosas e até (mais) humor, nem que seja por estarmos perante uma das melhores representações do que eu imagino deva ser estar-se high on crack. Digamos que, fazendo paralelos com o David Lynch, se o My Son... era um Lost Highway este é mais um Blue Velvet.
Falo em Lynch porque, apesar deste filme ser anterior à colaboração entre os dois realizadores mais marcantes da minha adolescência cinematográfica, já se notam aqui vários traços do senhor que nos trouxe o Twin Peaks. O primeiro deles é, claro, a surrealidade de algumas cenas (como é que é possível ver-se o acidente provocado pelo crocodilo sem se lembrar do Straight Story?), surgindo aqui maioritariamente através das visões do protagonista, Terrence McDonagh.
O protagonista é outro desses pontos de ligação, já que é interpretado por um actor de quem já falei recentemente, e que aqui consegue superar outra das suas grandes interpretações, no Wild at Heart, do Lynch. Falo do Nicolas Cage e não é difícil dizer-se que é ele que faz o filme. Qualquer outro actor (ou ele mesmo, num dia mau) poderia levar este personagem a excessos que fariam do filme uma parvoíce pegada, enquanto que aqui conseguiu um equilíbrio perfeito entre demência e humanidade.
A história não é original. Não só porque este é um remake de um filme de 1992 (que não vi, mas se tivesse visto diria - como tantos os outros críticos - que só mesmo o título é que é partilhado pelas duas obras), mas também porque estamos perante uma história bastante frequente: um polícia que era bom (or was he?) passa por uma tragédia, torna-se viciado para a superar, faz merda (muita merda!) para manter o vício, mas acaba por se safar através do amor e da sorte (ou será que aquilo era planeado?).
A diferença é que esta história aparentemente normal é realizada por um realizador extraordinário (e que, mais uma vez partilho a opinião com grande parte dos críticos, voltou a fazer ficção ao nível da sua obra dos anos 70/80) e com uma interpretação que também não é menos que extraordinária. Diz-se que o Nicolas Cage poderá ser o novo Klaus Kinsky (imagem estranha, no link) na carreira do Herzog e se assim for só vos digo uma coisa, queridos leitores, preparem-se para uma avalanche de filmes geniais!
Estes dois, juntos, podem ir muito longe.
Quem está atento a este blog e - ao mesmo tempo - esteve atento à programação do Indie Lisboa deve a dada altura ter feito esta pergunta: então o gajo lá daquele blog do cinema está sempre a dizer que adora o Werner Herzog e não me vai ver um dos dois filmes dele que passam no Indie? É verdade, não fui mas foi por um bom motivo: ver o FCP ganhar 5-2 ao Vitória de Setúbal.
Foi um leap of faith arriscado, na verdade, porque presumi que o filme fosse estrear comercialmente mas podia ter-me lixado à grande. Felizmente não me lixei. Vamos por isso à crítica do primeiro dos dois filmes do Werner Herzog que passou no Indie Lisboa 2010.
Antes de mais digo que gostei mais deste que do My Son, My Son, What Have Ye Done?. É uma história mais profunda, com lugar a mais sensações que a constante estranheza que se vai sentindo neste (mas, claro, não deixa de haver estranheza!). Aqui há espaço para relações familiares, relações amorosas e até (mais) humor, nem que seja por estarmos perante uma das melhores representações do que eu imagino deva ser estar-se high on crack. Digamos que, fazendo paralelos com o David Lynch, se o My Son... era um Lost Highway este é mais um Blue Velvet.
Falo em Lynch porque, apesar deste filme ser anterior à colaboração entre os dois realizadores mais marcantes da minha adolescência cinematográfica, já se notam aqui vários traços do senhor que nos trouxe o Twin Peaks. O primeiro deles é, claro, a surrealidade de algumas cenas (como é que é possível ver-se o acidente provocado pelo crocodilo sem se lembrar do Straight Story?), surgindo aqui maioritariamente através das visões do protagonista, Terrence McDonagh.
O protagonista é outro desses pontos de ligação, já que é interpretado por um actor de quem já falei recentemente, e que aqui consegue superar outra das suas grandes interpretações, no Wild at Heart, do Lynch. Falo do Nicolas Cage e não é difícil dizer-se que é ele que faz o filme. Qualquer outro actor (ou ele mesmo, num dia mau) poderia levar este personagem a excessos que fariam do filme uma parvoíce pegada, enquanto que aqui conseguiu um equilíbrio perfeito entre demência e humanidade.
A história não é original. Não só porque este é um remake de um filme de 1992 (que não vi, mas se tivesse visto diria - como tantos os outros críticos - que só mesmo o título é que é partilhado pelas duas obras), mas também porque estamos perante uma história bastante frequente: um polícia que era bom (or was he?) passa por uma tragédia, torna-se viciado para a superar, faz merda (muita merda!) para manter o vício, mas acaba por se safar através do amor e da sorte (ou será que aquilo era planeado?).
A diferença é que esta história aparentemente normal é realizada por um realizador extraordinário (e que, mais uma vez partilho a opinião com grande parte dos críticos, voltou a fazer ficção ao nível da sua obra dos anos 70/80) e com uma interpretação que também não é menos que extraordinária. Diz-se que o Nicolas Cage poderá ser o novo Klaus Kinsky (imagem estranha, no link) na carreira do Herzog e se assim for só vos digo uma coisa, queridos leitores, preparem-se para uma avalanche de filmes geniais!
Estes dois, juntos, podem ir muito longe.
(Atenção! Primeiro comentário que faço no blog não alusivo a cinema)
ResponderExcluirNesse jogo nós vitorianos fomos claramente roubados...paguei muito para ver a minha equipa levar uma cabazada...