Das Boot:
Lembram-se de há uns tempos vos ter falado de um filme israelita chamado Lebanon passado integralmente dentro de um tanque? Pois é, nessa SMR falo da claustrofobia constante que se sente ao longo do filme e, nesse aspecto, de certeza que este se inspirou neste clássico do cinema alemão: Das boot. (Lê-se bôt, não boot, como em inglês)
Não sendo tão extremo com Lebanon, a versão de Das Boot que tive o prazer de ver há uns dias também pega em nós e enfia-nos por períodos muito prolongados de tempo numa situação ainda mais claustrofóbica. Durante grande parte das mais de 3 horas e meia juntamo-nos ao Tenente Herbert A. Werner (Herber Grönemeyer) e à tripulação do submarino U-96, da marinha sub-aquática da Alemanha nazi.
Só pelo facto de acabarmos o filme a torcer por aquele grupo de 42 marinheiros, quando a história do século XX faz com que qualquer pessoa de bem seja anti-nazi por defeito prova o mérito do trabalho do realizador Wolfgang Peterson. Verdade seja dita, as afiliações políticas daquela gente são muito fracas (na tripulação existe apenas um nazi convicto, os outros são - no mínimo - indiferentes) e não passam de um fait divers justificado pelo facto do filme ser baseado num livro que relata a história real do U-96, escrito nem mais nem menos que pela versão real do já referido Tenente Werner.
Mas o que fez deste filme de 1981 um clássico que deve ser visto 31 anos depois é a incrível tensão que se vai acumulando ao longo do mesmo, uma tensão que não sentia a ver um filme há bastante tempo. A história começa em 1941 na cidade de La Rochelle, comando naval alemão na França cooperacionista e - já agora - cidade que recomendo que visitem. Num par de cenas somos apresentados aos homens que vamos acompanhar mas rapidamente estamos dentro do submarino.
Tal como grande parte de nós imagina, a vida a bordo de um destes navios é tão difícil como aborrecida. Os tripulantes do U-96 estão constantemente a trabalhar (quando não estão a dormir, claro) mas, ao mesmo tempo, estão sempre à espera que algo aconteça. A guerra sub-aquática que Hitler declarou à marinha britânica obriga-os a estar à escuta de cargueiros da marinha mercante e eventualmente atacá-los - uma cruzada infantil, nas palavras do comandante Willenbrock (Jürgen Prochnow) mas os oceanos são muito grandes e encontrar um inimigo é pouco mais fácil que uma agulha num palheiro. Basta pensar que estão debaixo de água (submergir significa estar exposto) num navio em que o único contacto com o exterior é via rádio. Num submarino submerso a visão é muito pouco útil...não há janelas e tudo é tão apertado que o horizonte nunca está a mais de um par de metros.
O realizador optou por criar réplicas fidedignas do submarino original. Isto significa não só um detalhe histórico impecável mas acima de tudo uma grande dificuldade nas filmagens que acabou por compensar na sensação geral do filme. O movimento das câmaras é constrangido pelo pouco espaço existente e não nos é dado um centímetro sequer que não existia nos submarinos reais.
Mas mais cedo ou mais tarde lá se encontra um inimigo e, quando isso acontece, o ritual é o mesmo: investigar se existem navios da marinha de guerra que possam atacar (a resposta, nesta altura da guerra, era invariavelmente sim), alinhar o submarino com o navio à superfície, disparar torpedos e pirar-se dali para fora antes que as cargas de profundidade comecem a rebentar. Tudo isto se passa num ritmo lento, é certo (os submarinos não são propriamente conhecidos pela sua velocidade), mas imaginem o que é assistirmos em tempo real a esta situação. É como vermos a nossa equipa ir aos penalties na Liga dos Campeões, só queremos que ganhem!
Quando a tripulação é enviada numa missão suicida então sim pensamos que vai tudo vai acabar, mas devido a uma resistência heróica (e uma acção praticamente sobre-humana) o U-96 sobrevive. Acho que já o sabiam, caso contrário o livro não tinha sido escrito, não é? Por uma vez fiquei contente que os ingleses não tenham dado cabo do canastro aos nazis, pois esta é uma história que merece ser contada e Das Boot é um clássico que deve ser visto.
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