quarta-feira, 10 de março de 2010

The Cove + Alice in Wonderland

Antes das SMR uma pequena avaliação aos Óscares. Este ano provei ser o Professor Karamba, falhei bastantes (mesmo assim acertei 12!) mas fiquei contente por isso: pensei que a Academia fosse dar mais prémios ao Avatar, felizmente não deu. Apesar de tudo, acho que um que devia ter ganho era o de melhor realizador...o James Cameron teve aquela visão e fez tudo para nos mostrar o mundo que criou, isso para mim é o papel de um realizador e este ano não houve ninguém com um papel comparável.

Mas adiante...


The Cove:



Ora aqui está um caso raro de um documentário em que gosto mais da forma que do conteúdo. Normalmente é precisamente o contrário, achamos que a história é interessantíssima mas "era tão bom que soubessem fazer um filme mais compostinho".

Aqui não. A história é importante - The Cove denuncia o abate de milhares de golfinhos por ano, por causa da industria dos parques aquáticos, mas já falo mais disto - mas o que mais me impressionou no filme foi a forma como foi filmado. Eu explico: o activista que teve a ideia por detrás deste documentário, Ric O'Barry, já é conhecido na zona de Taiji, no Japão, e isso - aliado ao facto dos abate dos golfinhos ser feito numa baía escondida e protegida com arame farpado e tal- faz com que os realizadores tenham de usar novas técnicas.

Mas quando digo novas técnicas não me refiro a planos mais afastados ou assim. Não, este The Cove torna-se a dada altura um filme de espionagem, basicamente...Para conseguir filmar esta chacina tiveram de ser usadas câmaras de infravermelhos, visão nocturna e microfones sub-aquáticos. É incrível pensar que teve de ser assim, mas ao vermos as imagens "normais" dos pescadores a gritar e a ameaçar violência física contra os realizadores percebemos que era mesmo a única opção.

De certa forma acho é que este "style" torna a "substance" um bocadinho menos impactante. (Isto se impactante for uma palavra) Não deixam de haver momentos em que nos sentimos impelidos a fazer algo, é incontornável a revolta contra o abate de mais de 23.000 (vinte e três mil!) golfinhos por ano, mas na verdade este foi dos documentários activistas que menos me deixou com vontade de agir: talvez seja pelo que disse acima ou talvez porque é uma mensagem importante, mas que é muito localizada no espaço...não há muito que possamos fazer à distância, e imagino de 99,9% das pessoas que o vêm estejam longe daquela comunidade pesqueira.

Por outro lado, não deixa de ser importante que se denuncie esta prática e quanto mais gente vir e espalhar a mensagem mais efeito terá. Eu, pelo menos, nunca mais verei as indústrias dos parques marinhos da mesma forma.

Vocês, mesmo que não vejam o filme (que agora é capaz de ter maior distribuição, por ter ganho o Óscar de Melhor Documentário) façam o favor de ir aqui e informar-se sobre o assunto.



Alice in Wonderland:



O Tim Burton ou se ama ou se odeia, está visto. Eu há muito que sou do primeiro grupo...o primeiro Batman e o Eduardo mãos de tesoura são dos filmes mais marcantes da minha infância/início da adolescência e desde então tenho seguido com atenção a carreira do realizador mais gótico de Hollywood.

Este Alice in Wonderland é mais um dos seus filmes de que gostei. Tanto que achei estranho ler críticas a dizer mal escritas em blogs com que normalmente partilho opiniões (Claquete, Noite Americana, curiosamente com o mesmo título). Talvez seja por esses autores serem conhecedores da história original e eu não, não sei.

Sim, confesso que nunca li o livro e não me lembro quase nada do clássico da Disney. E talvez isso seja importante na avaliação final desta versão Burtoniana...para quem está fixado no original (ou na versão da Disney) só pode ficar desiludido. Logo à partida porque a protagonista, Alice claro está, é uma adolescente e não a criança da história original.

Ao contrário da versão da Disney, aqui segue-se não só o Alice's Adventures in Wonderland (o livro original, de que podem fazer o download - legal - no link), como - até mais proximamente, pelo que percebi - a sua sequela - Through the Looking Glass. No Alice de Tim Burton acompanhamos uma Alice adolescente, a mesma que visitou aquela terra estranha mas que não tem qualquer memória de o fazer. Mas encontramos também uma série de personagens já nossas conhecidas: desde o chapeleiro louco à rainha de copas.

O que eu gosto neste filme é sobretudo a componente estética. A história não é, realmente, nada de profundo (é baseado num conto infantil, carago!) mas toda aquela Underland (sim, Underland e não Wonderland...a Alice é que percebeu mal da primeira vez que lá foi --> pormenor totalmente desnecessário no filme, concordo) está desenhada ao mais ínfimo pormenor com a imagem típica (e bela) do realizador.

Quem diz a imagem diz as personagens que o habitam: o chapeleiro louco do Johnny Depp é um misto de comédia e sensibilidade; a rainha de copas (Helena Bonham Carter) é má e prefere ser temida que amada; a rainha branca (Anne Hathaway) está fantástica com todos aqueles seus gestos exagerados e pureza exacerbada e no campo dos personagens virtuais temos isso mesmo, personagens, e não bonecos.

Nisto tudo a Alice (Mia Wasikowska) acaba por ser a personagem menos marcante. Mas não faz mal, tudo o resto é suficientemente bom para nos fazer sair da sala felizes por termos passado aqueles momentos a conhecer um mundo menos tropical que o de Avatar, mas que até tem um 3D de melhor qualidade. (Uma opinião que muito poucos partilham comigo, mas olha...alguém tem de ser o primeiro a dizer as verdades)

Tim Burton, conta comigo para a equipa dos que gostaram do teu filme. Em troca podias assinar-me o livro que comprei na tua exposição em NY, não? (Reparem a delicadeza com que fiz referência a este livro que deveria ser mostrado a todos os aspirantes a artistas)

3 comentários:

  1. Junto-me ao primeiro grupo - "Amo Tim Burton". Adorei o filme e mais vi-o em 2D! E Tim Burton, não tenho um livro todo catita (e BRUTAL) vindo da tua exposição em NY, mas tenho um estojo que comprei em Portugal. Assinas?

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  2. Fiquei muito feliz por o The Cove ter ganho o oscar...mais que merecido. Realmente não há muito que se possa a fazer, mas chegando a mensagem aos "big bosses", talvez algo mude.
    E achei interessante o teu comentário ao James Cameron...realmente não tinha pensado nisso, e achei o prémio de melhor realizador(a) mais um chamariz para os media do que um prémio merecido.

    Quanto à MONSTRA, pah sinceramente sei que há filmes muito bons mesmo a passarem por lá, o Mary & Max por exemplo, mas não vou ter tempo para ver nenhum...recomendações não tas consigo dar, mas tenta ver uma sessão que te dê jeito e se souberes quem eu sou (vai ao fórum lol) vem ter comigo que te arranjo bilhetes sem problema!

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  3. Eu também não desgostei que tivesse ganho, mas não vi os outros, por isso não sei. Mas não curti a cena que o Ric O' Barry fez:

    http://blog.zap2it.com/thedishrag/ric-obarry-oscar-sign.jpg


    Acho que podia ter usado aquela plataforma para algo mais importante que "Text Dolphin"

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