segunda-feira, 7 de março de 2011

127 Hours

127 Hours:



Os limites da capacidade humana são algo que nunca deixa de me surpreender. Todos nós já passámos por situações em que de inicio dizemos “Nem pensar nisso, não consigo, nem vale a pena!” mas que no final de contas, quando temos de enfrentar as dificuldades, conseguimos superar-nos a nós próprios e o que parecia impossível afinal de contas nem foi assim tão difícil. “A man’s gotta do what a man’s gotta do”, certo?

Pois na vida de Aron Ralston, “explorador” americano em cuja vida este filme se baseia, o que o homem teve de fazer é um bocadinho mais extremo do que o que a maioria dos homens tem de fazer.

Não vale a pena fazer esta SMR sem falar do momento chave deste filme, quase todos saberão o que se passou e o que se vê durante o filme: num belo fim de semana de 2003 Aron (aqui representado pelo James Franco que mereceu uma nomeação para os Óscares, e não pelo James Franco que os apresentou) decidiu ir passear sozinho para o Blue John Canyon, no Canyonlands National Park, Utah. Por lá andou, por lá encontrou umas moçoilas (tem sempre de haver moçoilas, não tem?) e pouco depois de se separarem dá por si a descer uma fenda no canyon e, ao tentar apoiar-se numa rocha, esta rola e basicamente esmaga o seu braço direito, impossibilitando-o de se libertar.

Gritar não adianta de nada, aquelas paisagens são mais inóspitas que sei lá o quê. Esperar por ajuda também não vale a pena porque o menino Aron (esperto!) não avisou ninguém sobre para onde ia. As opções de Aron limitavam-se a duas: ou fazia com que a pedra se mexesse ou libertava-se de outra forma. Como a pedra tinha mais de 350kg, Aron teve de fazer pela vida e libertar-se da única maneira possível...amputar o seu próprio braço com uma faca multi-usos manhosa que tinha consigo.

Muito se tem falado da cena da amputação, e verdade seja dita que se não fosse por isso provavelmente a história nunca teria tido a dimensão que teve, mas na minha opinião esse é o elemento menor do filme. É verdade que é violento (bastante menos do que o marketing quer passar cá para fora, com notícias de desmaios e vómitos) mas parece-me bem menos violento que a evolução psicológica do personagem, e naturalmente da pessoa real – que já disse em entrevistas que quase tudo no filme é “o mais próximo possível a fazer-se um documentário sobre a história”.

Não é de ânimo leve que uma pessoa amputa o seu próprio braço, tal como não foi de ânimo leve que os jovens argentinos perdidos nos Andes comeram a carne dos seus colegas mortos (se não sabem do que estou a falar vejam o Alive - Estamos vivos, um excelente filme e que em muitos aspectos é semelhante a este). Quando se apercebe da sua situação Aron nem grita, nem chora nem nada...pelo que nos é dado a conhecer no filme trata-se de um rapaz altamente prático e que ao contrário de mim – que provavelmente entraria em choque menos de 1,27s depois daquela queda – começa desde logo a trabalhar para a sua libertação, tentando lascar o pedregulho que o aprisiona. Desde esse momento inicial em que há uma esperança diria que irrealista até ao momento em que Aron se apercebe que não há outra saída, ou o braço ou ele por inteiro, vamos acompanhando as suas mudanças de humor, as suas alucinações e o seu crescente desespero.

Dizer-vos que no final ele se liberta não é um spoiler, já que se lá tivesse ficado provavelmente ainda hoje ninguém sabia o que lhe tinha acontecido. O que este filme nos mostra é que é o processo que importa, muito mais do que o resultado.

O que achei do filme propriamente dito? Bem, posso dizer-vos que a cena final me tocou bastante (os Sigur Rós também ajudam) mas que tudo o resto poderia estar melhor. Muitos outros críticos dizem que o filme nunca deveria sair da fenda em que Aron está metido mas eu discordo, acho importante que o vejamos fora dali para que melhor se perceba aquilo porque ele está a passar. Para mim o problema é mesmo o excesso de montagens e cultura pop que o Danny Boyle tenta adicionar ao filme. Se ficava bem no Slumdog Millionaire aqui já é uma distracção demasiado grande num filme que teria necessariamente de ser intimista, quanto mais não fosse pela claustrofobia do lugar.

2 comentários:

  1. Tem Sigur Rós?!?! Opah então está decidido, é não comer nada antes e ir ver o filme!

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  2. Não vás ver só por isso. É só um (bom) extra

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