terça-feira, 22 de março de 2011

Blue Valentine

Blue Valentine:

Quando começamos uma relação amorosa tudo o que o outro (ou outra) faz é “tão queriiiiiiiiiido” ou “amorooooooooso” ou seja lá o que for. Infelizmente, é frequente (se bem que não obrigatório) que essas mesmas coisas se tornem, com o passar do tempo, muito irritantes ou mesmo fontes para o conflito no seio da relação.

É isso que se passa entre Dean e Cindy, protagonistas de Blue Valentine, uma das sensações indie da última temporada de prémios e uma típica história de (des)amor indie que não é má mas também não é boa.

O problema do filme não é falta de qualidade de realização (embora o quase estreante Derek Cianfrance pudesse ter feito melhor) e muito menos das actuações, já que tanto o Ryan Gosling como a Michelle Williams vão bastante bem nos seus papéis, sobretudo durante o cortejar inicial. O que a meu ver mais afasta este filme da grandeza são as razões dadas para a autodestruição daquele casal.

Deixem-me explicar: a relação entre ambos é-nos contada por via de flashbacks e flashforwards que oram nos mostram Cindy a apaixonar-se pela despreocupação e atitude leviana de Dean ora nos mostram esse seu carácter a destruir uma relação que, se no início parecia duradoura, está prestes a descarrilar.

Um bom exemplo desta involução são os seguintes diálogos entre os dois:

Dean: In my experience, the prettier a girl is, the more nuts she is, which makes you insane. Cindy:I like how you can compliment and insult somebody at the same time, in equal measure.

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Dean: You know, it’s not just us, we got a little girl we gotta think about. Cindy: I know, I am thinking about her. I can’t do this anymore. Dean: Baby, you’re just thinking about yourself. What about Frankie? You want her to grow up in a broken home? Is that what you want? (…) Cindy: I don’t want her to grow up in a home where her parents treat each other like this.

Acho que ambos são exemplificativos de que algo correu mal. No primeiro Cindy fica contente com o estranho elogio de Dean, no segundo Dean esforça-se para manter a sua família unida mas Cindy já não aguenta mais.

E pronto...é aqui que começo a discordar do filme. Percebo que Cindy sinta o seu futuro limitado pela pouca ambição de Dean (Cindy queria ser médica e é enfermeira, Dean queria curtir e agora trabalha na construção civil). As diferenças de ambição de um casal podem ser um osso difícil de roer e um desafio grande à sua manutenção mas acima de tudo o que me parece é que Cindy está aborrecida com a vida que tem.

Não que isso não seja razão mais que suficiente. Costuma dizer-se que it takes two to tango e eu acredito piamente nessa premissa. Agora, aquilo em que o filme falha é no tentar dramatizar excessivamente algo que nasce sobretudo do tédio e da repetição. É claro que isso não daria um filme tão interessante, mas seria decerto mais realista e – sem dúvida – um excelente argumento para um mau filme português.

Se estão desiludidos com o vosso companheiro (ou companheira) é provável que venham a adorar a segunda parte do filme e usá-lo como fundamento para antecipar o fim da vossa relação; se estão agora a apaixonar-se vão adorar a primeira parte do filme e pensar que aquilo nunca vos vai acontecer. Finalmente, se estiverem – como eu estou – numa fase de amor sereno e consolidado vão ver o filme sem se ligarem a ele emocionalmente e – como tal – é provável que acabem a achar que podia ser melhor.



P.S.: Escusado será dizer que a Frankie de que falam no diálogo é a filha de ambos, uma miúda com uns 5 anos que consegue trazer as ultimas réstias de esperança àquele casal. A actriz que a interpreta, Faith Wladyka, é talvez a surpresa mais positiva do filme, sendo para este filme o que a Abigail Breslin foi para o Little Miss Sunshine mas com menos tempo para brilhar.

3 comentários:

  1. A banda sonora do filme merecia uma palavrinha. ;)

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  2. Ora ja há muito tempo que não concordava com uma review tua: o filme é mediano, gostei mas nao é nenhuma obra prima. E acho que o filme falhou, se bem entendi, no sentido em que falaste. Não se percebe muito bem de onde vem aquele mal estar e até digo mais: passa-se a ideia de que o Dean é mais culpado pelo estado da relação mas durante o desenrolar do filme tive pena dele, até porque o achei bem mais equilibrado e com mais bom senso que ela. E no fundo é ela que quer terminar tudo. Achei que nesse ponto o filme não fazia muito sentido! As interpretações são muito boas e no geral está alu um bom retrato do que é uma relação a deteriorar-se, só não se entende bem ali o que é que causou tanta dor e saturação.

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  3. Carolina: não a devo ter achado assim tão espetacular, tendo em conta que nem me lembro dela

    Maria: devem ter-se esquecido desse "pequeno" pormenor ;)

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