O pessoal português que seja da minha idade e veja a primeira cena de Somewhere, o último filme da Sofia Copolla vai lembrar-se do famoso anúncio ao Renault Clio em que se via um carro a passar e o som “Get’upaaaaaaaaaa” e vai necessariamente ter de se rir. Essa cena é o prelúdio para um filme que seria bom não fosse um problema de que vou falar daqui a pouco. Antes, o resumo que fica bem em qualquer crítica.
Somewhere segue a história de Johnny Marco, actor de Hollywood com imensas semelhanças com o Vincent Chase, do Entourage. Vive uma vida superficial em que o luxo é muito (e traduz-se em hotéis de luxo, um Ferrari 360 Modena e duas strippers gémeas) mas com pouca ligação afectiva ao que quer que seja: no terço inicial do filme Johnny anda solitário entre a gente, como diria o Camões, mas não está propriamente apaixonado. O Johnny que nos aparece nessa altura está nada mais nada menos que aborrecido.
Só que, claro, a vida dele vai ter de mudar. Depois de uma noite bem passada com uma amiga do sexo feminino Johnny acorda com alguém a assinar-lhe o gesso que tem no braço direito. Não é a sua amiga do sexo feminino, essa já saiu há muito (mais um reflexo da vida superficial que ambos levam?) mas sim Cleo, a sua filha de 11 anos, acabadinha de despachar pela mãe que – ficamos a pensar – terá alguns problemas a resolver.
De início a relação entre pai e filha é distante (ela mesmo lhe diz, a dada altura, que ele sempre foi um pai ausente) mas com o passar dos dias a intimidade entre os dois cresce e através dela Johnny acorda do marasmo e decide fazer algo da sua vida, transformar-se numa pessoa ...algo que até à altura achava não ser.
Stephen Dorff é o actor que competentemente faz de Johnny mas é a excelente interpretação de Elle Fanning que nos mostra que a Sofia Copolla tem um talento especial para transformar jovens actrizes em jovens estrelas (Kirsten Dunst em The Virgin Suicides! Scarlett Johansson em Lost in Translation!) e sem dúvida que a relação que se estabeleceu entre ambos os protagonistas é o principal segredo para um filme que se fosse visto e analisado independentemente de tudo o que está para trás seria bastante bom.
O PROBLEMA É QUE
Somewhere é tão mas tão parecido com o Lost in Translation que caso não fossem ambos da mesma realizadora a coisa poderia dar algum dinheiro a umas quantas equipas de advogados.
Não é só o ambos serem maioritariamente passados em hotéis, ambos terem personagens sem saber o que fazer até que alguém lhes troca as voltas ou ambos terem cenas em que se goza com programas de televisão estrangeiros. Tudo isto é quase de certeza, e como já referiu o Roger Ebert, fruto das experiências de Sofia quando era mais nova (não se esqueçam que é filha do Francis Ford Coppola e costumava seguir o pai pelo mundo fora) e tudo isto seria relativamente secundário não fosse o facto de – tirando o epílogo um pouco mais longo – todas as cenas de Somewhere me fazerem lembrar uma cena correspondente em Lost in Translation.
É pouco original e sobretudo distrai-nos demasiado num filme que fora deste contexto, repito, é bom.
Finalmente, àqueles que ainda não viram nenhum destes filmes só vos posso dar um conselho: vejam este antes do outro...são ambos bons mas, como diz outro anúncio, o original é sempre o melhor.
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