sábado, 29 de maio de 2010

Soul Kitchen

Soul Kitchen:


Chegou o dia! O dia em que tenho de usar uma expressão muito querida de críticos "a sério". A razão é este novo filme do Fatih Akim e a razão é o restaurante que dá o nome ao filme, o Soul Kitchen.

E aqui vem a expressão: neste filme, é o próprio restaurante o personagem principal. Está dito e é verdade! Não deve ser por acaso que o filme tem este nome, não é? Se fosse outro o personagem principal, se calhar o filme chamar-se-ia Zinos Kazantsakis, ou assim.

O grande problema é que o realizador não se deve ter apercebido disto enquanto fazia a montagem final, porque se por um lado enquanto o filme está centrado no dia-a-dia do Soul Kitchen a coisa funciona bem, quando o foco muda para as pessoas que dele dependem a coisa dispersa-se muito e torna-se até um bocado exagerada (estou a pensar numa das últimas imagens da festa final, com a senhora das Finanças). É pena, mesmo, porque até estava a gostar muito do filme, mas depois de descarrilar nunca mais voltou ao que era.

Se calhar estão a pensar "se o restaurante é o melhor do filme, os personagens humanos e os actores que os representam devem ser mesmo maus", mas não é bem o caso...até não estão nada mal (sobretudo Zinos, o protagonista, interpretado por um tal de Adam Bousdoukos) enquanto são mostrados como pessoas normais - caso da relação entre Zinos e a (ex) namorada, Nadine - mas não funciona a partir do momento em que, talvez por falta por tempo para os aprofundar mais, são apresentados como meras caricaturas.

Ainda assim o filme é engraçado. Não é uma comédia desbragada, longe disso, mas deixa-nos bem dispostos durante algum tempo e essa boa disposição tem dois grandes responsáveis, a banda sonora funk/soul de primeira qualidade (mesmo!) e - voltando ao tal personagem principal não humano - o ambiente do restaurante, que nos deixa a pensar que deveria existir um igual em todas as cidades.

Eu vi-o porque amei o trailer (vejam também, acho que vão gostar), vocês vejam se puderem, mas não o considerem uma prioridade

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans

Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans:


Quem está atento a este blog e - ao mesmo tempo - esteve atento à programação do Indie Lisboa deve a dada altura ter feito esta pergunta: então o gajo lá daquele blog do cinema está sempre a dizer que adora o Werner Herzog e não me vai ver um dos dois filmes dele que passam no Indie? É verdade, não fui mas foi por um bom motivo: ver o FCP ganhar 5-2 ao Vitória de Setúbal.

Foi um leap of faith arriscado, na verdade, porque presumi que o filme fosse estrear comercialmente mas podia ter-me lixado à grande. Felizmente não me lixei. Vamos por isso à crítica do primeiro dos dois filmes do Werner Herzog que passou no Indie Lisboa 2010.

Antes de mais digo que gostei mais deste que do My Son, My Son, What Have Ye Done?. É uma história mais profunda, com lugar a mais sensações que a constante estranheza que se vai sentindo neste (mas, claro, não deixa de haver estranheza!). Aqui há espaço para relações familiares, relações amorosas e até (mais) humor, nem que seja por estarmos perante uma das melhores representações do que eu imagino deva ser estar-se high on crack. Digamos que, fazendo paralelos com o David Lynch, se o My Son... era um Lost Highway este é mais um Blue Velvet.

Falo em Lynch porque, apesar deste filme ser anterior à colaboração entre os dois realizadores mais marcantes da minha adolescência cinematográfica, já se notam aqui vários traços do senhor que nos trouxe o Twin Peaks. O primeiro deles é, claro, a surrealidade de algumas cenas (como é que é possível ver-se o acidente provocado pelo crocodilo sem se lembrar do Straight Story?), surgindo aqui maioritariamente através das visões do protagonista, Terrence McDonagh.

O protagonista é outro desses pontos de ligação, já que é interpretado por um actor de quem já falei recentemente, e que aqui consegue superar outra das suas grandes interpretações, no Wild at Heart, do Lynch. Falo do Nicolas Cage e não é difícil dizer-se que é ele que faz o filme. Qualquer outro actor (ou ele mesmo, num dia mau) poderia levar este personagem a excessos que fariam do filme uma parvoíce pegada, enquanto que aqui conseguiu um equilíbrio perfeito entre demência e humanidade.

A história não é original. Não só porque este é um remake de um filme de 1992 (que não vi, mas se tivesse visto diria - como tantos os outros críticos - que só mesmo o título é que é partilhado pelas duas obras), mas também porque estamos perante uma história bastante frequente: um polícia que era bom (or was he?) passa por uma tragédia, torna-se viciado para a superar, faz merda (muita merda!) para manter o vício, mas acaba por se safar através do amor e da sorte (ou será que aquilo era planeado?).

A diferença é que esta história aparentemente normal é realizada por um realizador extraordinário (e que, mais uma vez partilho a opinião com grande parte dos críticos, voltou a fazer ficção ao nível da sua obra dos anos 70/80) e com uma interpretação que também não é menos que extraordinária. Diz-se que o Nicolas Cage poderá ser o novo Klaus Kinsky (imagem estranha, no link) na carreira do Herzog e se assim for só vos digo uma coisa, queridos leitores, preparem-se para uma avalanche de filmes geniais!

Estes dois, juntos, podem ir muito longe.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Fish Tank

Fish Tank:


A filmografia dos EUA (já para não falar da produção televisiva) é bastante prolífica em representar o que por lá se chama de white trash. A versão inglesa dessa realidade não tem o mesmo nome - a Wikipedia fala-nos em Chav's mas os meus leitores ingleses poderão elucidar-me melhor - e não é tantas vezes retratada.

Neste Fish Tank é e, e compensando a quantidade com qualidade, é-o muito bem. Mas este é um filme muito mais profundo que uma mera tentativa de mostrar uma realidade specífica da sociedade britânica.

É verdade que, sobretudo no terço inicial do filme, ao seguirmos Mia (uma brilhante Kate Jarvis, a mostrar na sua primeira interpretação que o nome Jarvis é bom presságio para artistas ingleses) vamo-nos apercebendo sobretudo das difíceis condições de vida nos bairros de habituação social em terras de sua majestade. Durante muito tempo pensamos que é disso que trata o filme, um aquário que do pouco nos mostra o muito.

Mas a dada altura, num movimento que não é um twist mas que muda a direcção da história quase a 180º, começamos a aprofundar outra realidade...a dos abusos familiares que grassam no interior daquelas casas. Tanto no que toca à violência entre uma mãe (Kierston Waring, com uma igualmente boa interpretação) e as suas duas filhas, como no que toca ao abuso (emocional e não só) entre o namorado da mãe, Connor, (o grande Michael Fassbender), a mãe e Mia que, carente de uma figura paternal, confunde muito as coisas e se liga demasiado ao único adulto que não a afasta.

As coisas tornam-se feias, mas no final de contas - talvez mesmo na última cena - fica uma réstia de esperança. Esperança que aquela jovem tenha conseguido encontrar uma saída para aquele mundo, condenado a repetir-se. Ela parte, talvez para um futuro igual ao presente, mas com a esperança que o passado não se repita. E é essa esperança que se vê no seu sorriso, a caminho da "terra das baleias".

Tecnicamente, só tenho a referir mais duas coisas. Em primeiro lugar as bonitas imagens que por vezes surgem quase como separadores - não têm muito a ver com o resto do filme, mas que ficam ali muito bem. Finalmente, uma nota não tão positiva para a banda sonora...que faz todo o sentido naquele contexto (é a música que aqueles jovens ouvem!) mas que não me consegue entrar na cabeça

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Estômago

Estômago:


Este filme brasileiro de 2007 surgiu um bocadinho "do nada" nas salas de cinema portuguesas em 2010 mas eu, que não me canso de sorrir sempre que vejo que tenho tantos leitores em terras de Vera Cruz, não o deixei escapar.

Digo que surgiu do nada não só pelos 3 anos que já passaram desde a data de estreia (original) do filme mas também porque, apesar de vir cotado com alguns prémios - nomeadamente o Grande Prémio Vivo do Cinema Brasileiro 2009, não o consegui achar realmente bom e estou certo que há mais e melhor cinema de onde este veio.

Se me perguntarem porque é que não gostei não vos consigo responder muito bem. Na verdade, este foi um dos filmes em que mais me demorei a decidir se gostava ou não do que estava a ver. Normalmente, estou convencido (ou não) na primeira meia hora e neste foi preciso chegar quase à última cena para tomar posição.

A nível de interpretações está bastante bem. A do protagonista, João Miguel, já foi bastante elogiada por outras críticas e está realmente bem conseguida, se bem que me pareceu que deu ao seu Nonato um toque demasiado tonto, a roçar o atraso mental, que não deveria estar presente. Já a interpretação de Fabiula Nascimento, no papel da prostituta Íria, merece elogios igualmente rasgados, pela grande dimensão humana que traz a uma fábula que poderia pecar pela ausência de um grande papel feminino.

Não sendo a interpretação que me deixou por convencer, acho que é mesmo a história que não pega o suficiente para cativar. É interessante ver como a paixão e o jeito para a cozinha servem para que um nordestino sobreviva na grande metrópole (e na prisão!) mas a estrutura baseada em flashbacks e flashforwards não funciona, deixando-nos sempre com a sensação de que estamos a ver um filme...nunca passamos a barreira da tela, o que acontece (e deve acontecer) nos grandes filmes.

Em abono da verdade, essa estranheza talvez tenha sido potenciada por um problema muito específico que julgo já ter referido por aqui. O português do Brasil é facilmente perceptível pelos portugueses, mas neste tipo de filmes (em que há muitos sotaques regionais e bastante calão) fica difícil acompanhar todas as falas. E se isso não ajuda, o som completamente afunilado (não cheguei a perceber se era falha do filme ou da sala de cinema em si) ainda mais contribuiu para que Estômago tivesse apenas um efeito concreto em mim: estava cheio de fome quando saí do cinema.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Robin Hood

E aqui está uma outra novidade, não surgiu logo no dia e que na verdade não era planeada, mas é a primeira vez que isto acontece no blog e como tal é ... adivinharam ... novidade.

Tenho a honra de vos apresentar a primeira SMR não escrita por mim, mas sim por uma assíduissima leitora. Agradeçam por isso à Margarida, primeiro por me poupar o trabalho de ir ver o Robin Hood e - depois - por partilhar connosco as suas opiniões.






Obrigado Margarida.
E agora a crítica, que é para isso que vocês aqui vêm.


Robin Hood:


Olá amiguinhos do SMR! Depois de alguma resistência decidi aceitar o convite do crítico mor e escrever algo que se assemelhe levemente a crítica aos filmes que ele não tem o prazer de ver (que são poucos). E qual é o filme com que abro as honras de convidada? Pois bem Robin Hood, de Ridley Scott.

Estava bastante curiosa e tinha altas expectativas para este filme. Sou uma espécie de fã da lenda deste personagem, que reza a lenda viveu na Inglaterra do século XIII e que defendia os fracos e oprimidos, roubando aos ricos e dando aos pobres. E o que se pensa quando se fala em filmes de Robin Hood? Exacto! Num filme cheio de peripécias com roubos e injustiças corrigidas.

Mas o que seguimos é a história de como Robin Longstride se torna Robin Hood. Leal soldado e simples arqueiro no exército de Ricardo Coração de Leão, Robin e quatro companheiros (entre eles o famoso João Pequeno) combatem em França mas desertam depois de o Rei ser morto, rumando de regresso à Inglaterra. Pelo meio encontram Sir Robert de Loxley que é morto numa emboscada e que já moribundo, encarrega Robin de entregar a espada ao pai em Nothingham e a coroa do rei em Londres. Entre intrigas e palavras de esperança, Robin, assume a identidade do falecido Sir Robert para entregar a coroa em Londres, viaja para Nothingham de seguida para entregar a espada e aí se descobre como um improvável herói e líder do povo, descobre a verdade sobre o seu passado, evita a guerra civil, luta por Inglaterra contra os franceses e ainda tem tempo para se apaixonar por Marion de Loxley, viúva de Robert de Loxley. Confundidos? Até é simples.

A reconstituição de época está bem conseguida, está bem filmado e dá-nos um sentido de realidade ao nível de “hummm devem todos cheirar mal”. O elenco está bem nos seus papéis (gostei de ver uma Lady Marion mais lutadora do que coitadinha), Crowe não vai mal, mas o seu registo recordou-me demasiado o papel em Gladiador. Mark Strong consegue ser odioso enquanto o traidor de serviço e Oscar Isaac é um Rei John que apetece assassinar. Não evitei um sorriso ao rever uma actriz que vi há bem pouco tempo num filme do Indie Lisboa, Lourdes, no papel da futura rainha de Inglaterra, Isabella de Angoulême. Em suma, o filme é giro, entretém, mas como a minha companhia me disse “estes filmes tornam-se sempre demasiado previsíveis” e às tantas estamos a observar os clichés de tantos outros filmes de época e a sentir que estamos a ver mais um.

Se gostei? Gostei bastante! Se recomendo? Há melhores. Se valeu a pena? Valeu, porque é filme para se ver no cinema. Se esteve dentro das expectativas? Ia à espera de um filme de Robin Hood e saiu-me um filme épico, por isso se vão à espera de algo parecido com o Robin Hood de Kevin Costner, podem mudar já de ideias, que o que vão ter é o Gladiador inglês do século XIII.

domingo, 16 de maio de 2010

De battre mon coeur s'est arrêté

De battre mon coeur s'est arrêté:


Costuma dizer-se que não se deve julgar um livro pela sua capa. Neste caso, eu faço o mea culpa e admito que a primeira razão pela qual resolvi ver este filme foi o seu excelente título português, "De tanto bater o meu coração parou". Excelente título que, curiosamente, também é excelente na versão original francesa e na sua tradução inglesa, em que se chama The Beat That My Heart Skipped.

Mas se resolvi julgar este "livro" pelo seu título, também o fiz pelo seu autor, Jacques Audiard, o mesmo do - posterior - Um Profeta, que aqui analisei de forma muito positiva. Nesse filme, o primeiro que vi deste realizador francês, fiquei fã do seu estilo e muito poucos dias depois resolvi comprar este DVD.

Só agora o consegui ver mas valeu a pena a espera. Não é um filme tão bom como o tal Um Profeta, é verdade, mas não deixa de ser uma história interessante baseada numa interpretação muito boa, sendo aqui Romain Duris a assumir o papel principal, num registo - propositadamente - bem menos simpático que aquele que nos costuma apresentar.

O seu papel é o de Thomas Seyr, um agente imobiliário aparentemente cansado daquela vida dura e com a esperança de voltar a seguir uma paixão da sua juventude...o piano. É que, apesar a principal cena do filme ser a primeira (este é daqueles filmes que se chegarmos atrasados perdemos um pedaço de diálogo importantíssimo para explicar a motivação dos personagens), o evento central do filme é uma audição que Thomas vai fazer perante o agente da sua mãe, também ela uma pianista conceituada.

Ao mesmo tempo que faz malabarismos para conjugar as actividades semi-ilegais da sua imobiliária (espantosa a sua honestidade quando as explica) e tem as suas aulas de piano com Miao Lin, uma pianista chinesa que não fala nada de francês, Thomas tem ainda de lidar com a cada vez maior dependência do seu pai, Robert (Niels Arestup, mais uma vez muito bom mas, tal como o filme em geral, abaixo da sua prestação em Un Prophète), numa escalada de eventos que vai levar à excelente conclusão do filme.

No final o coração de Thomas Seyr pára realmente, mas apenas um bocadinho. Nesse sentido a versão inglesa do título está mais adequada. O coração dele pára quando se apercebe que por muito que se esforce por mudar o seu rumo, o mundo do antigamente não o deixará de o atormentar. Um pensamento que, cheira-me, passará por todos nós mais tarde ou mais cedo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Kick Ass

Kick Ass:


O Kick Ass é um filme de que já vinha a ouvir falar há uns tempos e que, desde que recebeu 5 estrelas na Empire, me deixou com bastante expectativa. Para além disso, achei que era uma excelente escolha para primeiro filme pós-Indie.

Por isso, ontem lá fui eu ao El Corte Inglés (e não aos meus queridos Medeia, porque o filme já tinha saído de sala) ver o filme e apesar de ter saído agradado não fiquei rendido em absoluto aos seus encantos. A coisa tem piada na sua tentativa de desconstruir os clichés dos filmes de super-heróis mas a ratio humor/acção não pende para o lado que mais me agradaria (o humor) e a acção não é assim nada de especial.

É verdade que não dá para não acharmos piada a ver uma miúda de 12 anos a dar cabo do canastro a uma data de gajos que não são do tamanho dela, mas se o conceito é giro depois a execução torna-se um bocado repetitiva. É o costume neste tipo de filmes, porrada de meia noite mas depois num momento qualquer há uma fraqueza e - estando à beira da morte - é salva de uma forma inesperada.

Em Kick-Ass, que para quem não sabe é o alter-ego de Dave Lizewski (Aaron Johnson, a querer parecer-se demasiado com o Jesse Einsenberg), um adolescente geek que resolve imitar os super-heróis que lê nos comics e combater o crime mas acaba por levar mais porrada do que dá (e cujo único poder, segundo o próprio, é ser invisível para as raparigas), o que mais me agradou não foi o protagonista nem sequer a tal Hit Girl (Chloe Moretz), que tanta polémica causou. Quem mais me agradou foi o Big Daddy, outro pseudo-super-herói, que não afinal não é mais que um ex-polícia absolutamente psicótico. O que me agrada não é sequer o personagem (que pelo que sei é diferente, para melhor, na BD que no filme) mas sim a interpretação do Nicolas Cage, um actor que tanto consegue ser genial (Wild at Heart, The Weatherman) como depois tem escolhas que só podem ser justificadas com um aneurisma temporário no momento de assinar contrato, como aquela aberração que tem por nome Ghost Rider.

Aqui fez uma boa escolha e é o actor mais forte, já que os outros são demasiado copy/paste de todas as convenções deste tipo de cinema. Como, aliás, o próprio filme o é...tenta escapar do formato mas não consegue fazê-lo por inteiro, por muito e muito bem que o goze.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Novidade fraquinha, mas é o que se tem

Olá olá!!!

Cá estou de volta ao blog, depois da semana de férias forçadas pela overdose de cinema no Indie Lisboa.

Como disse tinha novidades para vocês, mas menti. Só tenho uma novidade. E qual é ela? É a nova forma de se ligar aqui ao estaminé, a partir do facebook.

Por isso, se já estiverem registados na rede social do momento é só carregarem no link aqui ao lado (Onde diz "O blog no facebook") e lá chegados "likearem" a página para passar a receber novidades no vosso perfil. Se não forem juntem-se às ovelinhas e inscrevam-se apenas e só para serem fãs deste que ameaça ser o maior blog do planeta.

Vemo-nos por lá, mas não deixem de vir aqui, porque este não deixa de ser a base de todo o mundo SMR.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Vemo-nos para o ano, Indie Lisboa

E já está. Depois de 40 filmes em 11 dias, a minha maratona Indie Lisboa está terminada.

Foi, como foi sempre, uma maratona fácil de se correr. É verdade que apanhamos sempre umas estopadas (este ano até apanhei o pior filme que já vi), e há sempre espaço para melhorar a organização do evento em si, mas a avaliação final é claramente positiva. Mais uma vez o Indie trouxe filmes muito bons e que dificilmente seriam vistos noutros circuitos.

Queria agradecer à organização do festival o terem acreditado neste projecto. Penso que correspondi bem à vossa simpatia. Até para o ano!





Agora vou desintoxicar de cinema durante uma semanita. Vemo-nos a partir de 10 de Maio, com algumas novidades.

domingo, 2 de maio de 2010

Indie Lisboa dia 11: Go Get Some Rosemary + Guerra Civil

Go Get Some Rosemary:

E aqui está, foi este o filme vencedor do grande prémio do Indie! E como não o tinha visto, resolvi aproveitar o último dia para o fazer.

Go Get Some Rosemary é uma espécie de Kramer vs. Kramer dos dias modernos. Nele conhecemos de perto a relação do nova-iorquino Lenny com os seus filhos, Sage e Frey, durante duas semanas. É uma relação muito esporádica, já que os termos da custódia das crianças ditam que Lenny pode passar duas semanas por ano com os filhos, estando estes o resto do tempo com a mãe.

Dadas estas circunstâncias muito específicas, Lenny faz um grande esforço para lhes proporcionar 15 dias divertidos e que de certa forma os deixem com uma imagem positiva do pai. Ao mesmo tempo, Lenny tem a sua vida profissional e pessoal on hold, já que o resto da sua vida não está habituada a ter concorrência dos filhos.

É esse malabarismo de tempo que faz a história avançar. Se por vezes os miúdos estão felizes a passar o tempo com o pai, noutros momentos as restantes obrigações de Lenny chamam por ele e a coisa começa a azedar. É aqui que se vê que não estamos perante um pai a tempo inteiro, Lenny é demasiado imaturo para conseguir lidar com as necessidades que aquelas crianças lhe trazem e não são uma nem duas vezes que as coisas correm mal. Mas a interpretação de Ronald Bronstein faz dele um lovable loser (seria mais correcto dizer lovable fuck-up, na verdade) a quem perdoamos as muitas vezes em que faz asneira, e acreditem em mim que às vezes as asneiras são graves, porque sabemos que tudo o que faz é por amor aos filhos.

Quanto ao mérito do prémio continuo na minha, dos filmes que estavam em competição, o Castro foi aquele que me pareceu mais merecedor do galardão, mas não tendo ganho devo dizer que me parece que o prémio também ficou bem entregue nas estantes dos realizadores, Ben e Joshua Safdie, dois velhos conhecidos do festival. É um filme muito afectivo e que coloca várias questões, a mais importante delas sendo "Será que eu faria melhor?" (Lá está, filmes que não acabam quando terminam)


Guerra Civil:

(não é o poster do filme; não o encontrei on-line, o que é uma pena, porque é bem giro)

Para terminar a minha maratona Indie Lisboa escolhi o Guerra Civil, filme vencedor do prémio de melhor longa portuguesa.

Digo escolhi porque - apesar de não fazer parte do Jurí do festival (isso é coisa para daqui a uns anos) e de não ter visto o filme antes da atribuição do prémio - fui eu que escolhi que este seria o último que ia ver...ainda tinha pensado ir ver o Pelas Sombras, que venceu o prémio do público, mas como me pareceu bastante chato (alguém viu? querem fazer-me arrepender?) resolvi antes ir ver a bola e despedir-me do festival mais cedo.

Decidir fazer isso porque Guerra Civil foi um final em grande. Tenho até de dizer ao Pedro Caldas (realizador) "Bem vindo ao clube dos filmes portugueses de que gostei realmente". São agora 4!

Guerra Civil não é - felizmente? - um filme histórico sobre as guerras que opuseram Pedristas e Miguelistas em meados do século XIX. Quem está em guerra neste filme é uma família, isto se a minha interpretação é a correcta. (E gosto de pensar que é) Guerra porque os pais de Rui (Francisco Bellard, com boa interpretação), o protagonista, estão juntos mas não estão bem...nem entre eles nem com o filho, que desconhecem quase por completo.

A história deste filme está ligada à de Rui, jovem que me fez lembrar uma versão um pouco mais extrema de mim próprio, que tenho traços de personalidade parecidos e sou tão tapadinho quanto ele no que toca a raparigas. E gosto de Joy Division.

Anyway, a história é a dele e o tempo é o Verão de 1982. É nestas férias, numa praia nunca identificada, que Rui conhece (ou pelo menos passa a dar-se mais) com Joana, uma vizinha sazonal que é basicamente o oposto dele. Está sempre bem disposta, dança ao som de música para dançar (por oposição às "deprimências" que Rui ouve), vai à praia e gosta de se apaixonar. Apaixona-se por Rui e tira-o do seu mundo, com consequências imprevistas.

Já elogiei a actuação do jovem que faz de Rui, mas para mim a estrela do filme é mesmo Maria Leite, que faz de Joana. Infelizmente não encontrei nenhum link para um site sobre ela, mas de certeza que se mantiver este nível um dia há de ter todo o reconhecimento que merece. A sua interpretação é - para estrear uma palavra aqui no blog - amorosa e é assim que tem de ser, a sua Joana é uma Joana real. É uma Joana adolescente, de férias, com vontade de descobrir tudo o que o mundo tem para lhe oferecer.

É esta naturalidade o que mais sobressai no filme. Mesmo comparando com os outros filmes portugueses de que gosto mesmo, só aqui vi um Portugal com portugueses normais...aqui não se cai no cliché da bimbalhada, nem no erro de nos representar como um povo altamente intelectual. As pessoas que povoam Guerra Civil falam como os portugueses falam, comportam-se como um português normal se comportaria e têm as mesmas actividades balneares que os portugueses normais (ok, tirando o volley sem ball, mas essa cena tem uma beleza tal que vale por si própria).

Também me parece que os portugueses normais gostariam deste filme. Se eu fosse o realizador seria essa a minha maior alegria, saber que com a minha primeira longa-metragem tinha trazido um novo vento de esperança para o futuro do cinema português.

(Uma outra coisa que sobressai no filme é a excelente banda sonora com bandas da altura. Queria falar dela, mas não sabia onde por isso fica aqui.)

Indie Lisboa dia 10: 2 minuten stilte, a.u.b. + City of Life and Death + My Son, My Son, What Have Ye Done?

2 minuten stilte, a.u.b.:
Pode um bom final salvar um filme do naufrágio? Já tinha dito em relação ao Play the Game que não. Aqui a história repete-se.

Resolvi ir ver este documentário por dois motivos: pelo facto da realizadora - Heddy Honigman - ser um dos destaques da secção Herói Independente do festival, onde está a ser passada a sua retrospectiva quase integral, e pela temática ser relacionada com a 2ª Guerra Mundial, assunto pelo qual nutro grande interesse.

Mais especificamente, o tema do filme são os dois minutos de silêncio que toda a Holanda faz a cada dia 4 de Maio às 20h. O que a realizadora procurou explorar e o que a mim me interessava saber é o que se vai passando na cabeça das pessoas durante esses 2 minutos, quer seja um sobrevivente da guerra, quer seja alguém que vive com a vergonha de ser filha de pais colaboracionistas.

O grande problema do filme, na minha modestíssima opinião, é que é uma longa de 80 e tal minutos quando poderia (e deveria) ser uma curta de 15 ou 20.

Como já disse, o final é arrepiante, com a Holanda verdadeiramente em silêncio durante aqueles 2 minutos (filmados em tempo real), passando depois para uma poderosíssima interpretação do Requiem, de Mozart.

O mal está é no que vem antes, uma série de entrevistas demasiado longas e aborrecidas, onde a realizadora constantemente interrompe os entrevistados, mudando o rumo às conversas sem os deixar terminar o seu raciocínio.

Normalmente os Director's Cuts são mais longos que a versão original do filme, mas aqui impunha-se uma nova edição que o tornasse muito mais curto. Talvez assim não houvesse gente a sair a meio e outros a dormir quando finalmente chega o momento que realmente interessa.



City of Life and Death:


Em 1938 a Alemanha nazi já existia, mas ainda não tinha iniciado a sua política expansionista que viria a culminar no início da Segunda Guerra Mundial. Precisamente ao mesmo tempo, já o Japão Imperial tinha iniciado a sua política expansionista que só acabou com após o uso das bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki, bem depois da rendição da Alemanha Nazi, no final da Segunda Guerra Mundial.

Diz-se que o mundo é pequeno, mas aqui dou-vos dois exemplos do contrário.

Se o mundo fosse assim tão pequeno o mundo condenaria de forma mais intensa as verdadeiras selvajarias cometidas pelos japoneses, tanto em Nanjing (episódio que o filme retrata), como em qualquer outro território que ocuparam na altura. Selvajarias que não são menos hediondas que as cometidas pelos nazis, mas são menos conhecidas. Aliás, basta pegar numa imagem simbólica deste filme para defender o que estou a dizer: aqui, tal como nos factos reais em que o filme é baseado, o representante nazi na cidade é visto como um porto de abrigo e, a dada altura, não consegue conter as lágrimas pelas atrocidades que os japoneses vão cometendo.

Por outro lado, se o mundo fosse realmente pequeno, ou pelo menos o mundo cinéfilo fosse mais atento a filmes que vêm de outros lados que não Hollywood, esta verdadeira obra-prima realizada por Lu Chuan (que não conhecia mas que passei a ver como um realizador de topo) seria vista por muito mais gente e seria justamente considerada como um dos melhores filmes de guerra de sempre.

O que Lu Chuan aqui consegue é um filme numa escala monumental, onde ao longo das suas mais de duas horas nos faz um relato bastante completo de tudo o que por lá aconteceu. Para isso tanto nos apresenta batalhas ferozes como momentos íntimos de tragédia familiar, todos eles realizados com verdadeira mestria.

Excelente em todos estes aspectos e ajudado por uma fotografia a preto e branco que intensifica ainda mais o que vemos no ecrã, City of Life and Death conseguiu convencer-me que é o melhor filme que vi no Indie Lisboa 2010 e é um grande candidato ao melhor filme que vi em 2010.

É um filme obrigatório, que se estrear em sala deve ser visto no cinema, dada a grandeza de tudo o que acontece no ecrã.



My Son, My Son, What Have Ye Done?:


Já há quase um ano que andava a antecipar este filme. Mais precisamente, desde que li um mini-artigo na Empire sobre uma colaboração entre o Werner Herzog e o David Lynch. Ora, estes dois senhores são - apenas e só - dois dos meus três ou quatro realizadores favoritos. A expectativa era muita e apesar do filme ser bom, não conseguiu ser totalmente atingida.

Resumindo muito a coisa, a história do filme é inspirada num caso real de um habitante de San Diego que assassinou a mãe dada a sua depressão e a obsessão pelo mito de Orestes. Esta é a versão reduzida, mas em qualquer filme que tenha o David Lynch envolvido há muito mais para interpretar. Neste caso temos de ter em conta uma viagem ao Perú que mudou a vida do protagonista (iniciando a sua obsessão com um deus que vive numa lata de papas de aveia!...don't ask), um tio que cria galinhas gigantes e - presença quase obrigatória num filme destes dois loucos realizadores (no bom sentido) - um anão.

Costumo dizer que enquanto o David Lynch aborda mais o sobrenatural (não extra-terrestres, mas realidades paralelas e coisas assim) o Werner Herzog prefere histórias surreais de pessoas reais. Aqui, a história central é um bom misto dos interesses de ambos os realizadores, mas no geral os traços do filme são muito mais de Lynch que de Herzog; aliás, se não soubesse diria que tinha sido o primeiro a realizar e o segundo a produzir e não o contrário.

As expectativas eram realmente altíssimas e por isso praticamente impossíveis de atingir, mas o facto de eu não ter ficado 100% satisfeito não quer dizer que não recomende o filme. É uma história estranha, como não poderia deixar de ser, mas suportada por excelentes interpretações (sobretudo o protagonista, Michael Shannon, que já tinha sido o ponto alto do Revolutionary Road, e a sua mãe, Grace Zabriskie, que permanece tão assustadora como no seu papel em Inland Empire) e tem um bom equilíbrio entre realidade e surrealidade.

É que, como eu interpretei uma das últimas cenas, o que para uns é insanidade, para outros é arte.

sábado, 1 de maio de 2010

Indie Lisboa dia 9: Carcasses + Ilha da Cova da Moura + Como desenhar um círculo perfeito

Carcasses:

Noutro dia perguntaram-me qual era a definição de filme independente e eu dei a resposta mais comum: é um filme feito fora do sistema dos grandes estúdios. Depois de ver Carcasses (e outros filmes deste festival) a minha resposta poderia antes ser "é um filme em que quase não há diálogos".

Claro que seria uma resposta errada, mas se pegarmos no exemplo deste filme - em que cerca de 85% do tempo seguimos os personagens sem qualquer interacção - ficamos convencidos que tal não funcionaria com um público mais mainstream, menos habituado ao som do silêncio.

O problema deste Carcasses é que aqui, ao contrário do que se passa em Le jour où Dieu est parti en voyage, por exemplo, tal silêncio é um ponto em desfavor do filme.

O personagem central, Jean Paul Colmor, é um velhote com o que em inglês se chama CHD (e eu traduzo para coleccionite. João Moreira, a invertar termos médicos há 27 anos!) e que ganha a sua vida gerindo uma espécie de sucata/lixeira. Vive sozinho e vive feliz, porque segundo o próprio "tem sempre que fazer".

Jean Paul é - não o sabia enquanto via o filme - uma pessoa real, que vive na parte francófona do Canadá e o filme é uma mistura entre documentário e ficcionalização da sua vida. (Podem ser amigos dele no facebook e tudo!) É curioso ter lido isto, porque durante o filme tinha ficado confuso se seria uma coisa ou outra e afinal é as duas. Everyone wins.

Este excelente equilibrio entre os dois métodos cinematográficos acaba por ser o ponto mais alto de um filme que ganhava se tivesse deixado falar mais o seu protagonista. Jean Paul pode ser calado, tal como muitos solitários o são, mas quando fala diz coisas interessantes, mais até que a representação visual do seu dia a dia.

(Mais uma nota para a sessão em si: desta vez era algo que não podia ser previamente resolvido, mas não há dúvida que neste Indie acontece de tudo...hoje foi uma mosca que ficou presa no projector, e cuja sombra apareceu na tela durante grande parte do filme)


Ilha da Cova da Moura:

Antes da projecção do filme, o realizador Rui Simões disse-nos que decidiu fazer este filme porque a realidade que encontrou no bairro estava longe de corresponder ao que via nas reportagens televisivas. Curiosamente, eu fui ver o filme do realizador Rui Simões porque quando fui a primeira vez à Cova da Moura senti precisamente o mesmo...o que se vive por lá é tão mais bonito que a imagem que é passada cá para fora!

A Cova da Moura, para quem não sabe, é um bairro clandestino nos subúrbios de Lisboa. É uma zona que só costuma aparecer nas notícias por causa de violência, sobretudo ligada a tráfico de droga. Muita gente tem medo de ir à Cova da Moura e, como uma moradora entrevistada para o filme confessa, muita gente da Cova da Moura tem vergonha de dizer que lá vive.

Pela minha parte, fui lá apenas duas vezes (em trabalho, curiosamente numa colaboração com a Associação Cultural Moinho da Juventude, que é um dos focos do filme e é - realmente - o coração do bairro) e em ambas as ocasiões fiquei completamente rendido ao que por lá se passa. É que, como outro entrevistado refere, na Cova paga o justo pelo pecador e a grande maioria que não quer nada com o crime e tenta viver a sua vida com dificuldades sofre o estigma criado pelos poucos que realmente são "bandidos" e que muitas vezes nem sequer lá vivem.

E porquê uma ilha? Porque a grande maioria dos residentes da Cova da Moura tem origem em Cabo Verde, e as suas tradições e vivências são muito próximas das desse país. Ao ponto de se dizer que a Cova da Moura é a décima primeira das dez ilhas cabo verdeanas.

Este filme tem um grande mérito. É um filme feliz sobre um bairro feliz, onde ainda há um sentido de comunidade e onde todos festejam as alegrias de todos e todos partilham os lutos dos seus queridos. É um bairro africano, onde a música, a dança e a (deliciosa) catchupa estão sempre presentes. É este o bairro que Rui Simões conseguiu captar como nunca ninguém tinha captado antes.

É um filme para desfazer preconceitos. E era bom que finalmente esses preconceitos fossem mesmo derrubados, para que as pessoas vejam que a Cova é muito mais do que aquilo que se vê nos telejornais. Eu quero lá estar dia 19 de Junho, para a grande festa anual, a Noite de Sanjon - uma mistura do São João do Porto com o Carnaval do Rio - alguém me quer acompanhar?


Como desenhar um círculo perfeito:


O Marco Martins deve ter sentido a imensa pressão de fazer um segundo filme que fosse ao nível do Alice, uma obra-prima do cinema português que teve o reconhecimento de quase todos o que o viram. Para mim continua no topo da lista dos 3 filmes portugueses de que realmente gosto muito (e que já falei algures no blog, vejam se encontram através do botãozinho search).

Do outro lado da equação temos o público, que estava com uma grande expectativa sobre o que poderia vir desta grande promessa do cinema português. Ora, o que posso dizer depois desta ante-estreia nacional é que se o Marco Martins já pode sentir menos pressão - o filme está feito e mostrado! - o público terá de continuar à espera de um filme ao nível do Alice.

É que enquanto que Alice é um filme diferente de tudo o que é costume ver-se no cinema português, aqui já temos a mesma série de características que há tanto tempo o vêm minando. Exemplo maior disso é, neste filme, o facto do pai dos protagonistas ser francês...não é minimamente relevante para a história, mas permite que mais de metade do filme seja falado na língua de Moliére, uma daquelas coisas que não pode faltar num bom (mau!) filme português.

É pena o Marco ter seguido este caminho; a excelente capacidade técnica claramente continua lá (alguns planos são lindíssimos!) e ao longo do filme ainda temos alguns dos seus traços característicos, mas agora estão esbatidos no meio de tanta decadência forçada. (Outro ponto da hipotética checklist)

Até a história é inferior. Enquanto que em Alice é praticamente impossível não nos solidarizarmos com Mário, aqui a obsessão sexual (não correspondida) de Guilherme pela sua irmã Sofia não só não é algo com que muita gente se possa identificar, como é retratada de uma forma tão doentia que não apela à empatia.(Um dia faço uma SMR em rima)

Claro que o ser doentio é propositado. Até é fácil entender isso desde o início (se virmos o estado da casa em que vivem como uma metáfora, por exemplo) e de certa forma não podia ser de outra forma, afinal de contas é um filme sobre incesto. Mas não deixa de ser difícil de aceitar o pedido do realizador, acompanhar a obsessão de Guilherme até à sua concretização.

Vou já acabar porque noto que a crítica está a ficar demasiado circular (é do sono), mas preciso de dizer uma outra coisa. A história-base do filme é a que disse e, por muito doentia que seja, estava a ser bem explorada durante o primeiro do terço do filme, tal como o foi durante os minutos finais (a última cena é belíssima, e mesmo a cena de sexo está muito bem realizada), mas entre esses dois momentos a história perde-se totalmente. Não sei o que se passou ali, mas a opção de dar tanto tempo de antena ao pai dos dois irmãos sai furada quando, claramente, o sumo da história estava na relação de ambos com a mãe.

Se antes estava ansioso por ver se o brilhantismo de Alice se repetia, agora só quero que esse brilhantismo volte. Não desejo que a melhor longa do Marco Martins seja o seu filme de estreia, mas se continuar por este rumo tão pouco original é bem capaz de ser isso o que lhe acontece.