sábado, 31 de dezembro de 2011

Ano novo vida velha

Ano novo vida velha. Tal como no ano passado, este ano ficou-me uma SMR por fazer (The Baader-Meinhof Complex, que em breve estará aqui analisadinho). É a única que me falta fazer aos 114 filmes que vi pela primeira vez este ano.

Como é sempre difícil escolher o filme do ano (e relembro que aqui refiro-me ao filme que vi este ano, que não tem necessariamente de ser deste ano) resolvi destacar 4 longas e uma curta, cada um deles na sua categoria e cada um deles passível de ser a minha escolha, se tivesse de fazer só uma.

Filme que mais recomendei a outras pessoas: Panique au Village
Filme que mais me surpreendeu (pela positiva, claro): Gravity Was Everywhere Back Then
Filme que mais me marcou: Les Petits Mouchoirs
Curta-metragem do ano: Golden Dawn
Longa-metragem do ano: Melancholia


E agora digam-me de vossa justiça. Qual é ou quais foram os vossos filmes do ano?
Em 2012 quero-vos a participar mais!

Bom ano para todos.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Dogtown and Z-boys



Dogtown and Z-boys é o chamado companion piece de um filme de ficção de 2005 chamado Lords of Dogtown. Foi porque vi esse filme (ainda antes deste estaminé existir), gostei dele e achar piada à cultura de surf/skate californiana que este documentário entrou no meu radar e, uma data de anos depois, finalmente o apanhei e o vi.

Baseado sobretudo em filmagens da época (anos 70, feitas maioritariamente por Craig Stecyk, jornalista que mostrou o novo skate ao mundo) e realizado por um dos jovens que retrata (Stacy Peralta), este documentário conta-nos a história de como um grupo de putos resolveu adaptar os seus conhecimentos de surf ao skate e, em consequência, mudou aquele desporto para sempre.

Sim, sabiam que antes da Zephyr Competition Team (nome oficial da equipa que originou esta revolução no skate) o skate era visto como uma moda tipo o yo-yo e que as competições se dividiam em duas modalidades: corridas slalom e acrobacias tipo ginástica rítmica mas em cima de um skate? Pois era assim mesmo e foi este grupo de jovens que mudou tudo quando participou nos Del Mar Skateboarding Nationals, em 1975. Foi a partir daí que se começaram a desenvolver as manobras que hoje se fazem no skate e, pouco depois, surgiriam as paredes das piscinas como local de eleição para fazer manobras.

Quanto ao público alvo deste filme é fácil circunscrevê-lo: quem achou que o último parágrafo está cheio de informação interessante devia ver este filme e é quase certinho que vai gostar (foi o meu caso) mas quem acha que a história do skate é tão interessante como ver a tinta a secar se calhar fará melhor em optar por gastar dinheiro (ou banda larga) noutro filme, que este tem baixa nota artística (parafraseando Jorge Jesus) e nem a quase-narração do Sean Penn (que chegou a conhecer alguns daqueles miúdos na época a que o filme se refere) ou as brevíssimas e largamente injustificadas aparições do Ian McKaye e do Henry Rollins vos vão salvar da epilepsia induzida pela edição no mínimo trepidante. A estes últimos sugiro, por exemplo, ver o tal Lords of Dogtown, é mais certinho e pode ser que vos incuta o gosto pelo skate.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Luftslottet som sprängdes



aqui e aqui fiz SMR à primeira e segunda adaptações cinemáticas ao primeiro e segundo livros da saga Millenium, respectivamente. Se repararem bem em 2009 gostei muito do filme, em 2010 não e em 2011 ainda menos. Numa trilogia em que nos livros a qualidade se mantém, o segundo e terceiro filmes estragam o bom trabalho feito no primeiro.

Um bom advogado de defesa diria logo "têm de ver as coisas no seu contexto: enquanto que no primeiro e segundo filmes se adaptam livros com bastante acção neste terceiro a história anda à roda de uma pessoa acamada no hospital, em conversas entre idosos e nos bancos do Tribunal". Seria um bom argumento? Sem dúvida, e eu enquanto advogado apelidaria a opinião desse fictício colega como sendo "mui douta", no entanto o argumento acaba por não colher, na medida em que o problema deste filme não é a falta de acção, é o tentar enfiar tudo em 100 cenas de 30 segundos, em vez de apostar em 30 cenas de 100 segundos.

Não sei se seria caso para seguir a nova moda de transformar o último livro de uma saga em dois filmes, mas este problema que já tinha notado nos outros dois filmes (os livros estão pejados de informação e compreendo que seja difícil passar tudo para a tela) aqui então chega aos limites do desesperante, pois a sucessão de cenas e mais cenas faz com que não se tenha ligação com nenhum personagem (nem mesmo com a Lisbeth Salander, único ponto que se salva deste terceiro filme - parabéns Noomi Rapace), não se explicam as razões para nada, se ignoram totalmente personagens que não são assim tão secundários e se altera o procedimento criminal sueco de forma a permitir despachar a coisa o mais depressa possível. O ritmo do livro (que, na minha opinião, é o seu ponto mais forte) aqui é totalmente inexistente.

É certo que, como costumo dizer, não seria capaz de fazer melhor, mas é por causa desta tristeza de adaptação (leitores que leram o livro: vejam o que fizeram ao Niedermann e depois mandem-me um mail) que acabei de ver o filme com um sorriso na cara...há uma luz ao fundo do túnel.

A boa notícia é que daqui a poucos dias hei de ver o primeiro livro adaptado pelo David Fincher e cheira-me que neste caso a trilogia-remake americana vai acabar por ser melhor que esta.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

The Devil's Double

The Devil's Double:


Do realizador de xXx: State of the Union (Lee Tamahori) temos hoje um filme que nos conta a história - provavelmente baseada em factos reais - de Latif Yahia, um homem que teve o azar de nascer no Iraque e ser extremamente parecido com Uday, o filho mais velho do ditador Saddam Hussein. E digo que a história é provavelmente baseada em factos reais porque depois de o livro em que este filme é baseado ter sido publicado têm surgido dúvidas sobre a veracidade de muitas das coisas relatadas.

A história inicia-se quando Uday que está na altura de ter um duplo, que apareça por ele em locais públicos e que - caso necessário - leve os tiros que lhe eram destinados. Ora, no Iraque de Saddam Hussein o que Uday quer Uday tem e, não é tarde nem é cedo, Latif cai-lhe nos pés. Após ter sido aprovado pelo verdadeiro Uday Latif é informado que morreu, a partir de então será Uday, com tudo o que de bom e de mau isso tem.

De bom Latif recebeu o acesso aos melhores carros, palácios, mulheres, comida e bebida do Iraque, mesmo quando o resto do país estava na miséria. De mau, teve de testemunhar a loucura do homem que o forçou a sofrer várias cirurgias para tornar os rostos mais parecidos.

Quando digo loucura não uso a palavra livremente. Uday Hussein era a criança mimada dos infernos e até o seu pai o achava perigoso por ser demasiado descontrolado. Estamos a falar de uma pessoa que, segundo consta, raptava adolescentes de 13 ou 14 anos nas ruas de Bagdade, violava-as e matava-as, uma pessoa que matou um dos amigos do pai degolando-o com uma faca eléctrica num jantar de recepção ao Presidente egípcio, uma pessoa que enquanto presidente da federação iraquiana de futebol puniu os jogadores que perderam o playoff de qualificação para o Mundial forçando-os a pontapear bolas de cimento.

Sejam os dados contados por Latif verdade ou não (e mesmo que só metade seja verdade, já é mau o suficiente), o que interessa para este blog de cinema é o cinema e nesse aspecto a coisa não está tão má assim. Trata-se de um filme médio, com altos e baixos (por vezes é demasiado longo e perde-se, como tantos outros, numa história amorosa que deveria ser totalmente secundária) com um ponto muito positivo, a interpretação de Dominic Cooper

Não só faz um duplo papel, enquanto Latif e Uday, como é perturbadoramente brilhante sobretudo na forma como interpreta este último. É um trabalho excelente que mereceria um reconhecimento que ou muito me engano ou não virá, perdido que ficará na torrente de filmes para a época dos prémios e por duas outras razões:  já estreou há demasiado tempo e, mais importante ainda, o filme não ser mau mas também não ser bom. Noutras mãos seria uma desilusão, mas tendo em conta o passado do realizador até se torna uma surpresa positiva.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Paul



Paul é o novo filme do realizador de Superbad e Adventureland (Greg Mottola), um filme de que não gostei. Paul é o novo filme da dupla Simon Pegg/Nick Frost (responsáveis por duas das melhores comédias da presente década, Shaun of the Dead e Hot Fuzz). Paul é um extraterrestre em CGI cuja voz é emprestada pelo Seth Rogen. Paul é um filme fraco (a menos que o conceito de um extraterrestre constantemente a peidar-se e a dizer palavrões vos faça rir às gargalhadas). Paul é um filme que me foi recomendado pelo homem que fez obras na minha cozinha (e que tanto me falou da economia mundial como da estrutura gramatical da língua húngara). João é um crítico de cinema amador que devia ter percebido que isto ia ser mau, Paul é um filme muito fraco.

Feliz Natal para todos!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Humpday

Humpday:


Imaginem que estão muito bem a dormir na casa que dividem com a vossa mulher e que às três da manhã de uma noite qualquer vos bate à porta, sem qualquer aviso, um amigo dos tempos da Universidade. Imaginem que esse amigo parece o Zach Galifianakis (mas não é, chama-se Joshua Leonard e foi uma das vítimas do Blair Witch Project). Imaginem também que no dia seguinte vão a uma festa com esse amigo (e sem a vossa mulher, que não fica muito contente com a história) e que, já bem bebidos e fumados, começam a desenvolver uma ideia para um projecto artístico: dois amigos heterosexuais terem sexo um com o outro, enquanto forma de expressar a sua amizade. Finalmente, imaginem que no dia seguinte, já sóbrios, debatem com o dito amigo o raio de ideia que tiveram na noite anterior. O que diriam?

Ora, os protagonistas de Humpday continuam a dizer que sim, não se sabe se devido a uma atracção homoerótica latente ou se por não quererem dar parte fraca numa espécie de chickie run de sexo gay. Eu, pela minha parte, sei que não só rejeitaria esse projecto artístico logo à partida como acho estranho que, nas circunstâncias concretas do filme (um dos amigos demonstra ser bastante averso a experimentações sexuais), estas duas pessoas seguissem em frente com o projecto.

Acima de tudo foi essa impressão de falta de razoabilidade de toda a situação que me afastou um pouco do filme. A sua estética indie funciona bem (em certos momentos deu-me a sensação de que este filme inspirou o This Movie is Broken) e não há nada particular que possa apontar como falha, mas realmente estes dois amigos poderiam ter sido dotados de maior inteligência...tal como nos filmes de terror de baixa qualidade em que todos fazem o que não devem fazer ("Ora deixa-me lá ir passear sozinha para a floresta, a meio da noite") também aqui me parece demasiado óbvio que numa situação real um deles diria que não e não havia mais conversa, mas também já não havia filme.

A Separation

A Separation:


A cena inicial deste filme iraniano que este ano venceu o Urso de Ouro (maior prémio da Berlinale) é, em conjunto com a sua cena final, uma visualização perfeita do estado da relação entre Nader e Simin. Enquanto que no início este casal discute a possibilidade de divórcio sentados um ao lado do outro no final ambos estão calados, mais calmos mas afastados e separados por uma porta de vidro partida.

Numa tentativa de buscar metáforas para essa pujante imagem final poderia dizer que o vidro partido simboliza o que se passa durante as duas horas de filme. Algo se quebrou naquela relação e, tal como o vidro partido não pode ser reposto, também a decisão final será - de acordo com as leis iranianas - irredutível.

No início parece haver ainda uma ligação entre os dois. Simin (Leila Hatami) deseja sair do Irão e finalmente tem a hipótese de o fazer, só que no Irão uma mulher não pode sair sozinha e um filho menor não pode sair sem autorização do pai. O consentimento de Nader (Peyman Maadi) é fulcral e este mostra-se irredutível, não sairá do Irão mas também não vai obrigar a mulher a continuar a viver consigo.

A principal razão pela qual Nader não sai é o seu pai, doente de Alzheimer e completamente dependente. Tanto que, quando Simin sai de casa, Nader se vê forçado a contratar alguém que tome conta dele enquanto está trabalhar e aí é que vai começar todo o efeito bola de neve que só acabará, literalmente, quando os últimos créditos rolam e as luzes se acendem.

A pessoa escolhida para tomar conta do pai é Razieh (Sareh Bayat), uma mulher profundamente devota que está grávida e que esconde ao marido o facto de estar a trabalhar a dias por medo da sua reacção. Os pormenores da gravidez e das reacções do marido virão a ser extremamente importantes para a história, mas não vou por aí agora.

O grande mérito deste filme é ter uma das histórias mais interessantes que vi neste último ano. Conseguindo balancear perfeitamente o quase surreal da situação com a possibilidade dela poder mesmo acontecer (particularmente num país como o Irão), o realizador Ashgar Farhadi - mais um exemplar da vitalidade do cinema iraniano - consegue transmitir-nos realisticamente uma história que contrapõe a irredutibilidade de uns às dúvidas e temores de outros, num país cujas leis fazem com que cada acção ou palavra, por mínima que seja, pode ter consequências muito sérias.

Quando me ponho a pensar o que faria no lugar de Nader penso se não agiria precisamente da mesma forma. Se é verdade que não olhou a meios para atingir o seu fim, o facto de (muito provavelmente) ter razão faz-me pensar se não terá feito o que devia fazer. Por exemplo, se calhar estão a achar que esta SMR está especialmente críptica e que ficaram sem perceber sobre o que é o filme mas eu digo-vos que o meu intuito era precisamente esse: este é um filme cuja magia deriva do desenrolar da sua história e não vos quero privar da magia do cinema. É um grande filme que no final pode separar os seus protagonistas por um vidro partido, mas que a nós nos recebe sem um mínimo véu.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Terri

Terri:



O poster deste filme apresenta-o como sendo dos mesmos produtores de Half Nelson e essa é, realmente, uma boa associação a fazer. Se repararem até a nível de cores são parecidos e ambos têm como pano de fundo uma escola. No entanto, aqui trata-se mais do aluno do que do professor.

Terri (Jacob Wysocki) é um jovem mal inserido no tecido social de um liceu que poderia ter como aluno Napoleon Dynamite. Pelo seu tamanho fora do normal, pela sua vida caseira fora da norma suburbana americana e por não se preocupar com as suas aparências Terri está fora do mundo dos seus colegas de escola: os seus dias são passados em solidão até que há alguém que se preocupa, o director da sua escola Mr. Fitzgerald (John C. Reilly).

O Mr. Fitzgerald é um daqueles directores bonacheirões (como eu não tive) que, segundo conta a Terri, não tem memória suficiente para conhecer todos os seus alunos, pelo que se preocupa apenas com os muito maus e com os muito bons (a nível de personalidade, não de notas) e Terri é um dos muito bons.

Para acompanhar melhor o que se está a passar na vida do seu aluno Mr. Fitzgerald decide organizar uma reunião semanal, igual àquelas que já tinha com outros dos seus alunos "especiais" e é dessas reuniões que vão surgir as primeiras amizades de Terri naquela escola, com o Mr. Fitzgerald e com Chad (Bridger Zadina, um jovem actor desconhecido mas com uma interpretação de bastante qualidade), um colega com claros problemas psicológicos. Posteriormente surgirá ainda Heather, uma menina popular caída em desgraça a quem Terri acode.

Toda a história de Terri é marcada pela melancolia e pela crueza (mais um paralelismo com Half Nelson e com Blue Valentine, outro filme citado no poster) e não são poucas as vezes em que nos sentimos desconfortáveis com a vida que aquele(s) jovem(ns) vive(m) e no final da história Terri parece estar pior do que no início. Talvez esteja mais próximo dos demais colegas de escola, mas pior e, nesse sentido, não vejam este filme como uma história de salvação, Terri parece estar no seu mundo e tal como não parece ligar ao que se passa na sua vida também o filme não parece ligar muito ao que aqueles que o veem pensam.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

One Day



One Day é baseado num romance de um autor inglês chamado David Nicholls, um romance que conta a história da amizade entre um homem e uma mulher ao longo de 20 anos usando como estratégia o relatar-nos o que se passou no dia 15 de Julho de cada um dos anos. É um daqueles livros que alcançou o estatuto de best-seller permanente e, se viajaram de avião desde 2009 é bem provável que tenham visto a sua capa numa qualquer livraria de aeroporto.

Com este estatuto era mais que óbvio que de livro iria passar a ser filme, e heis que cá está ele. Convida-se a Anne Hathaway para fazer de amiga, o Jim Sturgess para fazer de amigo, uma realizadora dinamarquesa (Lone Scherfig, que em tempos fez parte da "escola" do Lars von Trier) e siga para bingo. O que se esqueceram foi de fazer do filme algo de interessante.

Não li o livro, apesar de confessar que numa das minhas viagens também eu o comprei numa livraria de aeroporto, mas depois de ter visto o filme confirmo aquela sensação que sempre tive desde que o comprei: não deve valer muito a pena. É verdade que normalmente os livros são melhores que os filmes que os adaptam e que é bem possível que tenha sido o filme a estragar a história (por muito bom que seja o marketing o livro há de ter alguma coisa de bom) mas mesmo assim não obrigado.

Não é que o filme seja péssimo...acredito que até seja uma escolha ideal para uma ida romântica ao cinema, mas existem demasiadas falhas que me irritaram.

A primeira delas (lembrem-se do nome deste blog e que por isso embirro com o que bem me apetecer) são os óculos de Emma, personagem da Anne Hathaway, uma mistura de Harry Potter com hipster via anos 80. Mas pior que isso (até eu admito que os óculos só por si não estragam o filme por completo) são as interpretações...é que ao contrário do que se passa no último filme que analisei aqui as personagens principais são mal interpretadas (e olhem que eu sou dos que gosta muito da Anne Hathaway) e têm uma pronúncia inglesa tão estranha que ou eu perdi toda a minha capacidade de entender aquela língua ou algo correu muito muito mal.

Ora, é um facto que não percebi para aí 50% dos diálogos (só vos posso aconselhar que vejam o filme com legendas, se o quiserem entender) mas também é facto que a nossa amiga Anne ganhou o prémio de pior sotaque do ano pela revista Empire (o Jim Sturgess é inglês, por isso provavelmente não se qualificou para esse prémio) pelo que vou apostar na segunda.

Este grande problema (maior ainda que os óculos de Emma) fez-me perder toda a ligação com uma história que, vista noutro contexto, poderia ser interessante. Já tenho idade suficiente para ter alguns amigos há mais de 20 anos e imagino como seria a história das nossas amizades contada dessa forma.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Carnage



Quando estive em Nova Iorque o ano passado fui várias vezes a uma agência de bilhetes tentar comprar lugares para a peça que na altura estava mais bem cotada. Chamava-se God of Carnage e era baseada num texto (em francês, no original) da autora Yasmina Reza. Quase dois anos depois a peça aparece-me à frente em forma de filme, agora chamando-se só Carnage, realizada pelo Roman Polanski e com o melhor conjunto (ensemble) de actores deste ano.

É uma peça fácil de adaptar e por isso mesmo senti que vi o que havia perdido em Nova Iorque. Toda a história passa-se dentro de quatro paredes, no apartamento do casal Longstreet, algures em Brooklyn. A esse apartamento desloca-se o casal Cowan, para debater como lidar com o facto de o filho Cowan ter agredido o filho Longstreet. O filme, tal como a peça, é apenas o desenrolar da conversa entre aquelas quatro pessoas e não funcionaria se não tivesse um excelente conjunto de actores dirigidos por um excelente realizador.

Felizmente tudo isso existe neste filme, já que ao Roman Polanski juntaram-se a Jodie Foster e o John C. Rilley para fazer de casal Longstreet e a Kate Winslet e o Christoph Waltz para fazer de casal Cowan. E estão todos ao seu melhor nível, tenho de vos dizer. 

Um erro que vinha a fazer desde que ouvi falar da peça até ter visto o filme era que se tratava de um texto dramático quando na verdade pelo menos o filme é uma comédia. A harmonia inicial, em que os casais se tratam com a devida cortesia e boas maneiras, rapidamente desaparece e, com algum álcool à mistura, começam a surgir aqueles momentos em que decerto os personagens pensariam "eu não devia dizer isto" mas dizem à mesma. No final, saímos do apartamento dos Longstreet e da sala de cinema com a ideia de que aquela conversa não correu de todo como deveria ter corrido.

Felizmente este não é um daqueles casos em que a comédia é involuntária. Tal como se calhar aconteceria se filmassem uma discussão nossa com os nossos pais/namorados/marido ou mulher a discussão que se desenrola naquele apartamento é dramática para aqueles que nela participam mas, vista de fora e com o devido distanciamento, é deveras divertida. Carnage consegue manter esse delicado equilíbrio por força das seis personalidades a ele ligadas (os quatro actores, o realizador e a Yasmina Reza, que adaptou a sua peça para o cinema) e será com certeza um dos títulos mais repetidos nas noites de entrega de prémios.