quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Les petits mouchoirs



No dia 10 de Maio deste ano vi no Indie Lisboa um filme francês chamado Memory Lane, filme esse que retrata os (re)encontros de uma série de amigos de infância quando têm já uns 25 anos de idade. Les petits mouchoirs, entitulado "Pequenas mentiras entre amigos" em Portugal, poderia ser uma sequela desse filme com os protagonistas já na casa dos 35, não fosse o facto de os personagens serem diferentes e as suas histórias também.

Se tivesse de realçar uma só diferença entre os dois filmes seria mesmo a maturidade. Não só a maturidade dos personagens (ou de parte deles, pelo menos) mas também do elenco e do realizador. Não é por acaso que esta já é a terceira longa de Guillaume Canet enquanto que Memory Lane foi a primeira do seu realizador. Essa maturidade, que aqui se traduz em maior experiência, facilitou - digo eu - a existência de um maior orçamento, o que se traduz em actores mais famosos e na possibilidade de filmar algo como a primeira cena, aquela que mais frequentemente será mencionada como prova da qualidade cinematrográfica do realizador.

Essa cena é, no entanto, bem diferente do resto do filme: nela, Ludo sai de mais uma das suas noites de farra, mete-se na sua scooter rumo a casa mas acaba por não chegar ao destino; no restante filme acompanhamos o seu grupo de amigos - que decide avançar com as férias em grupo que já tinham programadas, mesmo sabendo que ele está nos Cuidados Intensivos do hospital - as relações entre si e a forma como lidam com a sua ausência.

Maturidade é também a caracteristica que eu usaria para justificar a - correctissima - opção de não limitar este filme a uma só tonalidade (ri-me tanto e emocionei-me tanto, tudo na mesma sessão) nem em facilitar as coisas escolhendo um personagem principal e dando aos restantes um mero papel acessório. Aqui todos aqueles amigos são igualmente importantes e todos têm (mais ou menos) o mesmo tempo de antena. As desventuras amorosas de Marie (Marion Cotillard) têm direito à mesma atenção que é dada ao quase esgotamento nervoso de Max (François Cluzet) ou à saída do armário de Vincent (Benoît Magimel).

Com essa opção vêm, porém, dois riscos: que nem todas as histórias sejam boas e que o filme se torne demasiado longo.

Começemos pelo fim: o filme é longo sim senhor, tem mais de duas horas e meia, mas posso garantir-vos que nem por uma vez pensei no tempo que estava a durar, algo que às vezes já estou a fazer ao fim de meia hora quando o filme é fraco. Aliás, como não sabia que era tão longo e não reparei no tempo passar acabei por me atrasar - e muito - para um jantar de família que já tinha marcado.

Em segundo lugar, é normal que das cinco ou seis histórias que acompanhamos nem todas nos despertem o mesmo interesse, mas não vos consigo mesmo dizer qual delas é a pior. Estão todas muito bem construídas e decerto que apelarão a públicos diferentes, que se reverão mais ou menos nelas.

No último terço do filme todas essas histórias ficam para trás e o que interessa é de novo a reacção colectiva à situação de Ludo. Todos aqueles amigos têm as suas histórias e nenhum deles as partilha a cem por cento com os outros (daí o título) mas no final acabam por perceber que isso não importa, todos temos meios para nos ajudar a lidar com as dificuldades da vida (quem nunca fez de tudo para evitar pensar em algo doloroso?) mas os nossos amigos - aqueles que realmente o são - estarão lá para nos ajudar a passar pelos maus bocados. Mais do que com patuscadas na areia, é assim que se vê com quem podemos contar.

Para concluir deixem-me só dizer-vos o seguinte: apesar do drama porque este grupo passa (esta não é uma história feliz, por muito divertida que por vezes seja) o melhor elogio que posso fazer a todos os envolvidos neste filme é que fiquei com pena de não fazer parte daquele grupo. É frequente dizerem-me que exagero muito no que digo, mas permitam-me que vos recomende o filme da seguinte forma: se só puderem ver um filme francês este ano, escolham este. Se só puderem ver três filmes este ano, independentemente da nacionalidade, garantam que Les petits mouchoirs está na vossa lista.

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