quarta-feira, 29 de junho de 2011

Cedar Rapids



Cedar Rapids, a segunda maior cidade do estado norte-americano do Iowa tem cerca de cento e trinta mil habitantes e tem como principal aspiração à fama ser a cidade natal do Ashton Kutcher e do Elijah Wood. É uma cidade desinteressante, num dos Estados mais desinteressantes dos Estados Unidos da América. Só uma pessoa Tim Lippe poderia achar que Cedar Rapids é uma versão mais amena de Las Vegas.

Quem é Tim Lippe? Antes de mais é o Ed Helms, mas para além disso é um vendedor de seguros que, por morte de um seu colega, se vê forçado a ir a Cedar Rapids, a uma convenção regional de vendedores de seguros e (tentar) ganhar, pela terceira vez consecutiva, o Two Diamonds Award. Tim vem de Brown Valley, Wisconsin, uma terra que (segundo consegui apurar) não existe mas que, por comparação, deve ser tão animada como Cortes Pereiras, concelho de Alcoutim.

Tim, claro está, é um geek mas daqueles! Nunca saiu da sua terra, todas as quartas feiras tem sexo com a sua antiga professora de Biologia (e está apaixonado por ela, achando que é correspondido), usa uma bolsa para guardar valores junto à barriga porque vai à grande cidade (Cedar Rapids), etc. etc. etc. Estão a ver o personagem do Steve Carell no Dinner for Schmucks? É tipo isso, mas menos estúpido e num filme menos cruel mas com pouco mais piada.

Tim é um peixe fora de água, e o filme é uma comédia declaradamente desse género, mas os restantes personagens (que incluem na lista de actores um John C. Rilley que agora só faz filmes da trampa e a Anne Heche, raro ponto positivo neste filme) também o são. Parafraseando o Triunfo dos Porcos, todos são geeks, mas uns são mais que outros.

Em Cedar Rapids Tim vai deixar de ser o idiota que é e, era certinho, vai crescer com as experiências que viveu, pena é que quase nada tenha graça num filme que supostamente a teria. Não tenho um clicker mas posso dizer-vos com certeza absoluta...ri-me três vezes durante os oitenta e sete minutos do filme, o que dá uma gargalhada a cada vinte e nove minutos. Digamos que se Tim fosse tão (in)competente a vender seguros como esta comédia foi a fazer-me rir podia bem dizer adeus ao seu desejado prémio.



P.S.: Uma informação para colocar os meus queridos leitores em contexto: Cedar Rapids, Iowa, deve ser tão interessante que este filme nem sequer foi lá filmado.
P.P.S: Nota para mim próprio: Joãozinho, não podes esperar que um filme que tem um poster como este venha a ser algo que se aproveite.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Get Low




É comum dizer-se que Hollywood não é amigo de actores velhos. É uma indústria baseada na juventude e que papéis para pessoas com mais de 50 ou 60 só mesmo para servir de avós aos protagonistas. Pois se essa é a regra, Get Low é a excepção.

O protagonista, Felix Bush - interpretado pelo Robert Duvall, já com 80 anos - sente que está com os pés para a cova e decide começar a preparar a sua partida. O problema? Há 40 anos que vive como um eremita na sua cabana, não fala com ninguém e todos seus vizinhos têm medo dos muitos rumores que já ouviram sobre ele. A solução? Falar com o agente funerário da terra (o Bill Murray, 20 anos mais novo) e em troca de um punhado de dólares fazer uma festa de funeral (em que festa é a operative word) onde todos aqueles que queiram falar sobre ele o possam fazer.

A preparação da festa torna-se difícil. Em primeiro lugar estamos em finais do século XIX e como tal a ideia de uma festa relacionada com um funeral é de difícil aceitação, ainda mais quando o morto que se festeja ainda está vivo. Em segundo lugar porque, durante os 40 anos de reclusão a que se forçou, Felix manteve a dureza dos velhos tempos e os únicos contactos que tem com o mundo exterior são as janelas que as crianças da vila lhe partem à pedrada e os tiros que recebem como resposta. Digamos que não são termos propriamente amigáveis e Frank (o agente funerário) vai ter de se esforçar.

A festa lá acontece e é durante a mesma que finalmente Felix esclarece o que se passou para se ter forçado àquela "prisão sem grades", como ele próprio caracteriza a sua solidão forçada. Não vos vou dizer essa razão sob pena de vos estragar o filme, mas vou adiantando que, apesar de pôr em causa uma amizade recentemente reatada, a história que Felix tem para contar sobre si próprio promete mais do que acaba por cumprir.

E é esse o grande problema deste filme que, caso contrário, estaria mais acima na minha lista de recomendações. As interpretações dos "idosos" Duvall, Murray e Spacek (Sissy Spacek) mostram que a experiência está intimamente ligada à sua qualidade, o look do filme está muito bem conseguido (imaginem um western sem tiroteios) e o crescendo até à famosa festa mantém-nos muito interessados no que se está a passar...apenas para depois acharmos que a revelação poderia ser melhor.

É uma oportunidade perdida num filme que, não sendo uma prioridade, não deixa de ser um bom programa para quem goste de cinema com uma alma que só a idade consegue transmitir.

terça-feira, 21 de junho de 2011

The Beaver




The Beaver vai dividir o mundo em três grandes grupos: os que nunca sequer ouviram falar dele, os que ouviram e dizem que é uma comédia e os que ouviram e dizem que é um drama. A diferença entre os dois últimos? Os primeiros não viram o filme e os segundos sim!

É verdade que esta história tinha sido inicialmente pensada como um "veículo" para a comédia física do Jim Carrey, e também é verdade que a dada altura era o Steve Carell a pessoa de quem se falava para o papel principal. Mas depois de ambos esses rumores a realizadora menos provável pegou no filme, deu-o a uma estrela que não é de comédia e transformou o que poderia ser um grande disparate num dos dramas que mais me tocaram. A realizadora é a Jodie Foster e a estrela o Mel Gibson, ideal para o papel que representa dados os seus próprios dramas pessoais.

Como é que uma história que era para ser uma comédia do Jim Carrey passa para drama com o Mel Gibson? Fácil de entender...o protagonista, Walter, é um homem profundamente deprimido que usa um fantoche (um castor) para se afastar da sua própria personalidade e a partir daí iniciar a sua recuperação; uma premissa que daria para os dois lados, realmente.

A escolha, a meu ver, foi a mais acertada e confesso que me custou ouvir várias pessoas a rir em cenas profundamente dramáticas como aquela em que Meredith (Jodie Foster, que também entra no filme como actriz) tenta explicar ao marido que não quer festejar o seu aniversário de casamento a três (castor incluído) mas apenas com o marido. Sabem quando vamos ver um filme e assustamo-nos com coisas que não nos assustariam se não soubessemos que era de terror? Creio que aqui se passa algo de semelhante.

Quanto à "cura milagrosa" de Walter, de início é bem aceite por (quase) todos - o quase devendo-se a Porter (Anton Yelchin), o seu filho mais velho e protagonista de um sub-plot também ele interessante - mas mais cedo ou mais tarde as ilusões desaparecem e chega-se a uma conclusão: Walter caiu num buraco negro, a depressão não se foi embora...está é escondida por detrás da "máscara" do castor, que dá liberdade a Walter para dizer sobre si próprio que é um homem irremediavelmente perdido. E com ele arrasta a sua família.

A dada altura, Walter - através da sua nova personalidade - diz algo que me tocou imenso dado o estado de espírito em que vi o filme; não me lembro da citação correcta mas as minhas notas dizem "porque é que dizemos sempre everything will be alright?" Claramente Walter não está bem, usou um método que tinha à mão (literalmente ;)) e sofreu as consequências - positivas e negativas - dessa escolha. Nem sempre as coisas têm de acabar bem.

Como talvez saibam o Mel Gibson também tem andado na mó de baixo e neste filme consegue a sua ressurreição (ele que já tinha filmado uma em The Passion of the Christ). Já sabia que a Jodie Foster era brilhante mas aqui mais uma vez provou que não há nada como ser-se inteligente para se chegar longe: é verdade que é amiga do Mel Gibson mas independentemente disso fez uma escolha de casting perfeita e conduziu o filme numa linha muito estreita entre o que poderia ter sido uma comédia desastrosa e o que poderia ter sido um drama choramingão...o resultado desta sua destreza de realização? Um filme que poucos irão ver (teve muito pouca distribuição) mas que marcará e muito aqueles que o viram. 

domingo, 19 de junho de 2011

Rewers

Rewers:

  
Rewers é um filme polaco que poucos ou nenhum de vocês irá ver, mas deviam. Deviam porque se trata de um filme bastante interessante, que merecia uma distribuição mais alargada.

É um daqueles casos em que o conteúdo é menos importante que a forma, e juro que não estou a dizer isto por não a ter compreendido completamente. Se esta história fosse contada de uma forma mais normal, por assim dizer, não tinha metade da piada.

Aliás, digam-me vocês: a história de uma rapariga solteira que vive com a mãe e a avó num apartamento que não se rende aos seus tempos, a Polónia de 1957, parece-vos interessante? Mesmo que as insistências de avó e mãe em arranjar namorado à rapariga levem o argumento para terrenos mais próximos de um thriller de espionagem?

Pois agora juntem-lhe um look tipo Jean-Pierre Jeunet. A coisa já se torna mais gira, não é? Pois é esse look que dá uma data de pontos ao filme. Borys Lankosz (o realizador) consegue manter o interesse visual durante toda a sessão e até as escolhas de casting (nomeadamente Agata Buzek, a protagonista que aparece no poster lá mais para cima) parecem perfeitas para ajudar ao look cartoon que só pode ser propositado.

Imaginem o Sin City filmado com meios e um orçamento adequado à Polónia - que, não duvidem, é bem superior ao português - e conseguem ficar com uma boa ideia do que se passa em Rewers.

terça-feira, 14 de junho de 2011

The Tree of Life

The Tree of Life:



Fazer a SMR a um filme como o The Tree of Life é muito difícil - é por isso que demorei quase uma semana a fazê-la - isto porque o seu realizador é o Terrence Malick, também conhecido como sendo (a nível estético) o melhor realizador vivo, e porque The Tree of Life estaria bem lá em cima numa lista que enumerasse os filmes que já analisei do melhor até ao mais fraco.

A história é tão grande como o Universo, literalmente. Pelos olhos de Jack (Hunter McCracken e, mais tarde, Sean Penn) testemunhamos uma história que tanto se passa no seu imediato, o pai duro (Brad Pitt, em grande) e a mãe branda (Jessica Chastain), como no Universo, como no microcosmos, assim como no tempo em que o "nosso" planeta não era habitado por nós...tudo realidades mostradas por Malick, que de uma forma kubrickiana nos mostra close ups tanto de planetas como de células.

Parece ambicioso e não há dúvida que o é, mas a ambição está mais em segundo plano do que propriamente na tela. Tirando uma sequência no primeiro terço do filme (que peca por ser demasiado longa, derradeiro problema na filmografia de Malick) a grande fatia da história é a de Jack, ora criança ora adulto que recorda o irmão no aniversário da sua morte.

Uma das falas iniciais do filme diz-nos "There are two ways through life: the way of nature, and the way of Grace. You have to choose which one you'll follow". O filme mostra-nos ambos os lados dessa dualidade através dos pais de Jack (como já tinha dito, aliás) mas não nos deixa muito espaço para escolha: não conheço as crenças de Malick mas este filme, mais do que em todos os outros, a via escolhida é a da Graça...não necessariamente cristã, mas uma crença ainda assim. Não é por acaso que a voz off (outra marca típica deste realizador) é quase sempre sussurrada, como se de uma oração se tratasse.

Também não é por acaso que o final do filme é muito mais abstracto do que o que até então se passou. A mensagem é simples: a nossa vida é mais do que a vida, mas ao vermos aquele deserto salgado podemos pensar em muitas coisas...e não é essa a magia do cinema? Pegar nas nossas experiências pessoas para nos fazer viver uma história à nossa maneira?

O filme estreou em Cannes depois de anos de atrasos (mais uma característica do realizador), teve uma primeira recepção muito fraca (penso que por causa da tal sequência inicial, que não deveria estar no inicio) mas acabou por ganhar a Palma de Ouro, um dos prémios de cinema mais importantes do mundo. Muitos odiaram o seu ritmo demasiado lânguido que se traduz num filme longo, muitos mais odiaram a famosa sequência, outros - como eu - consideram-no uma das obras primas do cinema no século XXI.

Só vos posso, portanto, recomendar que o vejam. Mesmo que não gostem vão sair da sessão com uma maior cultura cinematográfica. O cinema está vivo em Terrence Malick.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Kaboom



Tal como o filme que analisei ontem, Kaboom foi um dos filmes sensação do Indie Lisboa 2011. Tendo sido apelidado de "o novo Shortbus" pela revista Time Out este é - antes sim - um dos piores filmes que já vi na vida! Não a um nível A religiosa portuguesa, é certo, mas a um nível The Room sem ter passado a barreira do tão mau que é bom.

A sério, a desgraça é tanta que juro que pensei que no final iriam mostrar um ecrã a dizer algo do género "Sim, nós sabemos que isto é muito mau, mas é de propósito. Estamos a fazer uma experiência sociológica e por isso pedimo-vos que digam que o filme é bom. Mantenham a mentira, para ver a reacção dos demais espectadores." Mas não, meus amigos, este filme não é uma experiência sociológica, é só mau. Tão mau que dói.

A história é a de Smith (Thomas Dekker, que talvez conheçam do Heroes), estudante universitário bisexual a dar para o gay. (Talvez daqui a comparação ao Shortbus?) Na Universidade, Smith tem uma melhor amiga, uma fuck buddy, um fuck buddy e um room mate chamado Thor, por quem tem um grande crush. Só a melhor amiga vem da sua vida passada, todos os outros são conhecimentos já dos tempos da Universidade. Or are they?

De uma comédia universitária muito manhosa a história entra numa espiral descendente absolutamente estapafúrdia e o terço final é, no mínimo, indescritível.

A verdade é que há muita gente que gosta deste filme, achando a avalanche de disparates divertida, mas para ser muito honesto não consigo perceber. Ou o filme é realmente mau de propósito (sem o tal ecrã que referi acima) e aí dou os meus parabéns ao realizador, Gregg Araki, ou então não há mesmo qualquer salvação e as próprias bobines que o contêm merecem que lhes aconteça na realidade o que acontece ao nosso planeta no final desta trapalhada.

E sim, Gregg Araki, leram bem. O realizador de Misterious Skin (filme de que não gostei especialmente mas ao qual reconheço bastantes méritos) já provou que é melhor que isto, não consigo mesmo perceber o porquê de optar um filme que - não sabendo quem o realizava quando o vi - pensei sempre ser um trabalho de final de curso de um qualquer aluno de cinema frustrado.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Les amours imaginaires



Este filme passou no Indie e causou tanto sucesso (esgotou ambas as sessões, e eu não consegui ver nenhuma) como alguma confusão em relação ao seu título. No francês chama-se Les amours imaginaires, mas também é bastante conhecido pelo título inglês, "Heartbeats". Eu defendo e uso os títulos originais sempre que consigo e neste caso há uma vantagem adicional: Les amours imaginaires, os amores imaginários, resume tão melhor a história que vamos (ou não) ver!

Como podem constatar pelo poster, Nicolas é um daqueles jovens com ar de anjinho por quem muito boa gente se deve apaixonar. Neste caso quem fica de beicinho é Francis (interpretado pelo realizador, Xavier Dolan), e a sua melhor amiga Marie (Monia Chokri). Ambos vão iniciar uma competição saudável pela atenção de Nicolas que, divertindo-se, aproveita os bons momentos com aqueles dois amigos.

O dilema surge é com as atitudes de Nicolas. Não tendo um estereótipo sexual claramente identificado ele também não se demonstra só interessado por um ou por outra...e ambos ficam frustrados com isso. Mas vejamos as coisas da perspectiva de Nicolas: o rapaz é podre de rico (pelo menos assim nos dão a entender numa das cenas), está habituado a ter tudo, foi criado por uma mãe toda artística e claramente agrada-lhe a atenção que sempre recebeu de todos e todas que vai conhecendo. Será que para ele a relação com Francis, ou com Marie, é assim tão diferente? Não! Aí estão os amores imaginários.

Esta relação tripartida pode trazer muita diversão aos envolvidos, mas também trará, é certinho, muito ressentimento. Ele realmente existe, mas o filme nunca se foca demasiado no negativo; a palete de cores é imensamente colorida e mesmo nos momentos mais cinzentos a cor não deixa de estar lá. No final de contas, a relação é - como disse - tripartida ... Marie e Francis podem ambos querer Nicolas, mas estão - estarão? - acima disso e, no final, acabarão por se rir de tudo aquilo.

Não é surpresa dado o histórico do realizador, mas a nível estético o filme é - no mínimo - fantástico. Começando com entrevistas tipo documentário em que várias pessoas nos falam das suas relações e da sua sexualidade, o filme desenrola-se quase normalmente com o tal colorido que já referi, mas é nos interlúdios em câmara lenta (propositada, mas não vou contar qual a razão) com uma banda sonora que nos agarra ao ecrã que sobressai (ainda) mais.

Os amores de Xavier Dolan podem ser imaginários, mas o meu amor por Xavier Dolan é bem real. Posso dizer-vos, convictamente, que estamos perante um dos melhores realizadores da nova vaga do cinema mundial. Recomendadíssimo!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Subtitle Girl


(não é o poster do filme, claro, mas também não é um anúncio à Gilette...não há poster, arranja-se um frame)

Vamos ponto por ponto.

O título: Este filme tem um problema em comum com o blog que estão a ter o prazer de ler, porquê um título em inglês quando o filme é português e maioritariamente falado em francês? Eu confesso que a única justificação que tenho para o meu blog em português ter um título em inglês deve-se ao acaso...o meu LJ, onde as SMR foram criadas, chamava-se tales.from.the.outside.world:. e achei que este era um bom título para a secção de cinema. E tu, Gonçalo Soares, qual é a tua razão?

A história: Louis (assim mesmo à francesa, apesar do protagonista ser português) é um aspirante a artista e está aborrecido, como muitos os aspirantes a artistas costumam estar. Ao longo do filme acompanhamos as suas idas ao cinema (3 vezes num dia, se bem me lembro, é tipo eu durante o Indie), as suas tentativas falhadas de criar arte através de uma "inspiração" (para não lhe chamar outra coisa) noutros artistas e, finalmente, sabemos que se decidiu a apaixonar-se (interessante decisão). Por quem se apaixona? Pela rapariga das legendas que dá o nome a esta curta, a responsável pela legendagem do terceiro dos filmes que vê. É uma vida interessante? Nem por isso, mas muitas vidas aborrecidas já deram filmes muito bons.

A realização: A meu ver o ponto mais alto desta curta é a ideia de ter um dia tão banal narrado como se fosse digno de épicos históricos. O encanto da voz-off contrasta com o desencanto do protagonista e esse entusiasmo feminino é provavelmente a única coisa que faz o filme sobressair...se estivéssemos perante o mesmo filme sem a narração penso que não teria metade do valor e não nos ficaria na cabeça. Pena é o ser em francês! Não quero entrar naquela polémica que surgiu quando o Sam the Kid lançou o Poetas de Karaoke, mas tenho alguma pena que haja no cinema português uma tão forçada colagem à estética cinemática francesa...deviamos orgulhar-nos de ter a nossa própria escola, e usar a nossa língua deveria ser uma das bandeiras desse orgulho. Neste caso só se safam porque seria parvo um filme chamado Subtitle Girl que não tivesse legendas!

Tirando isso só queria deixar mais duas notas, uma positiva (mais ou menos) e outra negativa, e como quando me dizem "tenho uma boa notícia e uma má, qual queres ouvir primeiro?" escolho sempre a má vou começar pela nota negativa: normalmente queixo-me de filmes que deveriam ser curtas mas se alongam demasiado, aqui queixo-me do inverso! Não digo que haja história para fazer uma longa, mas a edição é demasiado rápida (sobretudo no início) quando penso que seria positivo demorarmos mais tempo quando o sentimento máximo que se pretende passar é o tédio.

E agora a nota mais positiva: o preto e branco é uma boa escolha. Muitas vezes realizadores menos experientes querem emular o que vêem no grande ecrã e acabam por querer mais do que a sua técnica (e o orçamento) permitem. Aqui o realizador Gonçalo Soares aproveitou bem as (presumíveis) limitações que tinha e optou por um preto e branco que mais facilmente embeleza imagens que a cores seriam negligenciáveis. No entanto esta opção tem um contra, em cenas em que é necessário grande contraste (como aquelas no cinema) a qualidade de imagem desce a níveis pré-VHS. Mas já estou a entrar em demasiados tecnicismos!

Em conclusão, sei que este foi um trabalho de final de curso e isso nota-se. Não é uma ideia particularmente original (mas nunca o ousou ser, o próprio filme está cheio de referências cinematográficas), a execução está ao nível do contexto (trabalho de final de curso, remember?) mas até tem algumas ideias interessantes: a escolha do preto e branco é boa, a ideia da voz-off é bastante boa, a própria voz é agradável (imaginem se não fosse, num filme tão dependente disso) e como tal não me posso de todo queixar. São 16 minutos bem passados.