terça-feira, 21 de junho de 2011

The Beaver




The Beaver vai dividir o mundo em três grandes grupos: os que nunca sequer ouviram falar dele, os que ouviram e dizem que é uma comédia e os que ouviram e dizem que é um drama. A diferença entre os dois últimos? Os primeiros não viram o filme e os segundos sim!

É verdade que esta história tinha sido inicialmente pensada como um "veículo" para a comédia física do Jim Carrey, e também é verdade que a dada altura era o Steve Carell a pessoa de quem se falava para o papel principal. Mas depois de ambos esses rumores a realizadora menos provável pegou no filme, deu-o a uma estrela que não é de comédia e transformou o que poderia ser um grande disparate num dos dramas que mais me tocaram. A realizadora é a Jodie Foster e a estrela o Mel Gibson, ideal para o papel que representa dados os seus próprios dramas pessoais.

Como é que uma história que era para ser uma comédia do Jim Carrey passa para drama com o Mel Gibson? Fácil de entender...o protagonista, Walter, é um homem profundamente deprimido que usa um fantoche (um castor) para se afastar da sua própria personalidade e a partir daí iniciar a sua recuperação; uma premissa que daria para os dois lados, realmente.

A escolha, a meu ver, foi a mais acertada e confesso que me custou ouvir várias pessoas a rir em cenas profundamente dramáticas como aquela em que Meredith (Jodie Foster, que também entra no filme como actriz) tenta explicar ao marido que não quer festejar o seu aniversário de casamento a três (castor incluído) mas apenas com o marido. Sabem quando vamos ver um filme e assustamo-nos com coisas que não nos assustariam se não soubessemos que era de terror? Creio que aqui se passa algo de semelhante.

Quanto à "cura milagrosa" de Walter, de início é bem aceite por (quase) todos - o quase devendo-se a Porter (Anton Yelchin), o seu filho mais velho e protagonista de um sub-plot também ele interessante - mas mais cedo ou mais tarde as ilusões desaparecem e chega-se a uma conclusão: Walter caiu num buraco negro, a depressão não se foi embora...está é escondida por detrás da "máscara" do castor, que dá liberdade a Walter para dizer sobre si próprio que é um homem irremediavelmente perdido. E com ele arrasta a sua família.

A dada altura, Walter - através da sua nova personalidade - diz algo que me tocou imenso dado o estado de espírito em que vi o filme; não me lembro da citação correcta mas as minhas notas dizem "porque é que dizemos sempre everything will be alright?" Claramente Walter não está bem, usou um método que tinha à mão (literalmente ;)) e sofreu as consequências - positivas e negativas - dessa escolha. Nem sempre as coisas têm de acabar bem.

Como talvez saibam o Mel Gibson também tem andado na mó de baixo e neste filme consegue a sua ressurreição (ele que já tinha filmado uma em The Passion of the Christ). Já sabia que a Jodie Foster era brilhante mas aqui mais uma vez provou que não há nada como ser-se inteligente para se chegar longe: é verdade que é amiga do Mel Gibson mas independentemente disso fez uma escolha de casting perfeita e conduziu o filme numa linha muito estreita entre o que poderia ter sido uma comédia desastrosa e o que poderia ter sido um drama choramingão...o resultado desta sua destreza de realização? Um filme que poucos irão ver (teve muito pouca distribuição) mas que marcará e muito aqueles que o viram. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário