Neste Dinner for Schmucks há uma linha de diálogo que me ficou na memória: such a pleasure, to laugh at someone else's misfortune. Ficou-me na memória porque penso precisamente o oposto, que não é um prazer rirmo-nos face à desgraça alheia. Não estou a dizer que nunca me ri nem que não me voltarei a rir em situações - como a típica de alguém a cair - em que outros sofrem, mas honestamente vos digo que mesmo nesses momentos em que realmente me rio não sinto que esteja a ter prazer na desgraça de quem, coitado, caiu à minha frente.
É este um dos dois grandes problemas deste remake de um filme francês que nunca vi (esta semana tem sido só posts sobre remakes de filmes que não vi, caramba!)...tenta fazer-nos rir da desgraça daqueles palermas quando na verdade - pelo menos a mim - me fez sentir mal de tão cruel que consegue ser. Obviamente os personagens não são torturados, nem nada que se pareça, mas ao longo do filme (com especial incidência na cena final, onde observamos o tal jantar) as piadas conseguem ser tão mázinhas que mesmo as que teriam piada perdem-na.
O outro problema é terem achado que o Steve Carrel conseguia, por si só, salvar o filme. Em tempos eu gostei do Steve Carrel (agora, pensando bem, acho que já não consigo gostar) mas sempre o achei mais talhado para sideshow que para atracção principal, com a excepção feita ao 40 Year Old Virgin em que aí sim conseguiu ser um bom protagonista a fazer um papel que ... basicamente repete neste filme.
Ora, há coisas que se uma vez têm piada a partir da segunda deixam de ter. E este personagem, sempre o mesmo, que ele anda a interpretar para aí desde o Anchorman: The Legend of Ron Burgundy já chateia! Faz-nos rir de tempos a tempos (cada vez mais raramente) mas o resto do tempo só dá pena porque, como dizia uma frequentadora do fórum da Empire, a dada altura só podemos pensar que Barry (o nome do "idiota-mor" do filme) é mesmo atrasado mental, de tanta idiotice junta.
E perguntam vocês? Então mas não é possível fazer-se um filme baseado apenas na idiotice? É mais difícil do que parece! Podem invocar filmes como o Austin Powers ou o Gato Preto Gato Branco em favor do argumento pró-idiotice, mas se virem bem as coisas tanto um como outro têm algo mais que uma série de piadas repetitivas baseadas no conceito de um adulto de 40 anos a comportar-se como uma criança de 6.
Para além do Steve Carrel quase não há mais nada para dizer do que o que já foi dito: o filme está completamente dependente dele. Sim, existem outros personagens (alguns até interpretados por actores conhecidos, como o Paul Rudd (que fez o I Love You, Man, exemplo de como é possível passar directamente bosta para o celulóide) ou o Zach Galifianakis do The Hangover (essa sim uma boa comédia) e existe uma tentativa de história que poderia ter piada se fosse bem tratada, mas no final de contas não deixamos de estar perante um filme que claramente entrou no tão querido modo piloto automático da selecção portuguesa de futebol e não se deu ao trabalho de reparar nos gigantescos plot holes que nem sequer um idiota dos do filme ousaria atravessar.
P.S.: Na sequência da total falta de entrega do filme, a equipa de legendagem deve ter tirado férias e feito tudo no Google Translate. Há muito tempo que não notava tanto erro de tradução num só filme. I'll be leaving não quer dizer eu sobreviverei!
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