Hiroshima mon amour:
Hiroshima mon amour é um filme de 1959 que ficou na história do cinema. Tem dois personagens, um homem e uma mulher (que, por não terem nomes, vou chamar de Ele e Ela) e uma cidade que todos conhecemos pelos piores motivos: Hiroshima, Japão.
Ela (Emmanuelle Riva) é uma actriz francesa que está em Hiroshima cerca de 10 anos depois da sua destruição para filmar um filme. "Sobre o quê?" pergunta Ele. "Sobre a paz. Sobre que mais se pode filmar em Hiroshima senão sobre paz?" A resposta foi dada por Alain Resnais, realizador de Hiroshima mon amour, ao deixar a paz de fora e filmar antes a convulsão interior de se estar preso ao passado.
Antes deste filme Resnais era sobretudo conhecido pelo seu documentário Nuit et Brouillard, sobre os campos de concentração nazis. Na altura em que foi convidado para filmar em Hiroshima a ideia era fazer um documentário sobre o pós-bomba atómica. Na altura o realizador achou que não conseguiria distanciá-lo suficientemente do seu anterior trabalho e a opção narrativa começou a ser explorada.
Os dez a quinze minutos iniciais são o mais parecido com um documentário que acabamos por ter; Ele e Ela abraçam-se (ainda sem nos terem sido apresentados) e, enquanto imagens da cidade nos vão sendo mostradas, debatem em voz-off as experiências dela na cidade: ela garante conhecer a sua verdadeira alma, ele diz-lhe que não, que não viu nada em Hiroshima
Passados esses minutos iniciais a narrativa avança e o estilo documentarial fica para trás, mas não as conversas entre Ele e Ela. A sua relação é fugaz mas intensa, Ela revê n'Ele o amor que perdeu em Nevers e nos sentimentos que Ele lhe desperta a loucura com que foi apossada quando esse amor cessou a sua existência. Ela, falando, liberta-se dos seus demónios ("tu me tues, tu me fais du bien") enquanto que Ele (Eiji Okada), maioritariamente ouvindo, alimenta uma paixão que o seu casamento já perdeu. A paixão face à impossibilidade do futuro.
Hiroshima mon amour ficou na história do cinema por vários motivos, desde o (até então inexistente) uso de rápidos flashbacks como forma de retratar a memória dos personagens até ao fabuloso e constante diálogo escrito pela Marguerite Duras. É um filme que não apelará à maioria dos espectadores actuais (é vagaroso e usa o paralelismo e a repetição como figuras de estilo preferenciais) mas que recompensa quem tenha paciência, vontade e/ou desejo de o ver com 89 minutos de grande, e histórico, cinema.
Nota curiosa: Foi precisa ir à cinemateca de Berlim para ver um filme francês filmado no Japão que estive para comprar em dvd quando vivia nos EUA. Adoro a globalização!