segunda-feira, 14 de novembro de 2011

La Piel Que Habito

La Piel Que Habito:


Apesar de ter um dos posters mais feios dos últimos tempos lá fui eu ver o último filme do Almodóvar. Nem poderia deixar de ser, aliás, já que o Almodóvar é um daqueles realizadores dos quais faço questão de ver todos os novos filmes.

Curiosamente, este "film de Almodóvar" (como costuma apresentar sempre os seus filmes) é o menos Almodovariano até agora. Muitos fazem conexões aos thrillers do Hitchcock, com alguma razão, mas a história em que mais pensei foi na do Dr. Frankenstein. Aqui o Dr. Frankenstein chama-se Robert Ledgard, um cirurgião plástico residente em Toledo e que esconde um segredo dentro das paredes da casa em que vive.

Robert (António Banderas, que ao fim de quase 2 décadas volta a trabalhar com o realizador que o fez famoso) tem um projecto: criar uma super-pele artificial, resistente a queimaduras, picadas de insecto e sei lá mais quantas coisas. Quando apresenta o seu projecto à comunidade científica recebe tantos elogios como dúvidas em relação ao facto de fazer experimentação animal e, passado pouco tempo, é a própria academia espanhola de ciências que o proíbe de continuar. Acho que é escusado dizer-vos que continua...

Toda a atmosfera do filme é de tensão (daí as referências aos filmes do Hitchcock, presumo) enquanto voltamos atrás no tempo e conhecemos os motivos para que Robert tenha iniciado a sua experiência, o vemos a desenvolver a tal pele sintética e, finalmente, a pôr os conhecimentos que obteve em prática. No final, quando todas as peças do puzzle estão no sítio certo e a situação se resolve (o melhor possível, dadas as circunstâncias) os créditos começam a rolar e os espectadores ficam com uma de duas sensações: ou alívio e satisfação por Vera Cruz (Elena Anaya) ter conseguido o que tanto desejava e merecia ou enjoos por causa de algumas cenas anteriores.

Sim, porque aqui as famosas cores quentes do Almodóvar incluem o vermelho sangue e a sua excelente forma de transmitir sentimentos é bem aproveitada para explorar o medo e, mais tarde, a dependência dos personagens. Este não é um filme de terror daqueles que nos fazem saltar da cadeira mas - a meu ver - não deixa de ser um filme de terror. As provações porque Vicente (não vos digo quem é de propósito) passa são menos imediatas que as de personagens perseguidos por um louco com uma moto-serra mas, talvez por isso, mais intensas.

Em conclusão, este é um filme atípico: um Almodóvar que não é "um Almodóvar"; um filme de terror que ainda assim recomendaria à minha mãe e um bom filme que não cabe no meu top 3 Almodóvariano. Mais um exemplo de como as diferentes facetas se equilibram no meio caminho entre o brilhantismo e o esquecimento? Tem uma interpretação verdadeiramente fantástica (Bianca Suárez) mas também tem actores não portugueses/brasileiros a falar o português mais atroz da história do cinema. E aquele poster, aquele poster que parece ser feito para que as pessoas não queiram ver o filme!

Nenhum comentário:

Postar um comentário