domingo, 28 de agosto de 2011

Autobiografia lui Nicolae Ceaușescu



Queridos leitores, este é um dia de estreias neste blog. É a primeira vez que escrevo a SMR enquanto a sessão que analiso ainda está a decorrer e sim, é a primeira vez (e espero que última) que saio durante a sessão.

O filme que ainda está a decorrer na sala 4 do Monumental dura três horas e é inteiramente composto de imagens de arquivo sobre o ditador que dominou a Roménia de 1965 a 1989. Imagens sem contexto, sem uma mínima explicação de quem é quem e sem qualquer edição...faltavam duas horas e meia para acabar quando, depois de termos visto a visita do ditador à Feira das Colheitas de Bucareste, não aguentei mais a cena que estava a passar: uma sessão de perguntas aquando da visita de Ceaușescu à Checoslováquia em que ouvimos a pergunta em checo, a tradução para romeno, a resposta em romeno e a tradução para checo.

Tem tido críticas altamente elogiosas, mesmo em Portugal. A opinião com que fiquei é que se tiverem interesse académico na história da Roménia deve ser bem interessante, para os restantes mortais são três horas que podem ser muito mais bem passadas. O que eu sei é que só sairia da sala daqui a hora e meia e assim já estou em casa, com SMR escrita e tudo!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Les chansons d'amour



Acho que pelo histórico de SMR aqui do estaminé dá para ver que os musicais não são a minha onda. Não me consigo ligar a um mundo em que as pessoas cantam e dançam só porque sim, sou demasiado insensível, talvez. O único musical de que gostei (e só mais ou menos) foi o Moulin Rouge, porque aí tudo é extravagante e as cantorias e danças quase passam despercebidas.

Infelizmente para o Paulo Branco (produtor deste filme e "Senhor Medeia") a minha lista de musicais de que gostei vai continuar a ter essa única entrada. Les chansons d'amour sofre por ser o oposto do que disse acima sobre o filme do Baz Luhrmann...tudo é realista, sério até e - do nada - as pessoas começam a cantar as suas falas. Para mim, isso é sinónimo de caldo entornado porque qualquer ligação emocional que estivesse a criar com os personagens vai ao ar, assim como a minha atenção.

É uma pena, por acaso, porque consigo imaginar que esta história desse um excelente filme não musicado e que, como tal, mereceria mais elogios da minha parte. A história é a de um trio (duas mulheres, Julie e Alice, e um homem, Ismaël) que alegremente partilha a sua sexualidade até que o triângulo se desfaz por morte de um dos seus vértices. Depois desse evento, quase no início do filme, vamos ver como - a cantar mais ou menos alegremente - os dois elementos restantes e os familiares e amigos do defunto lidam com a sua perda.

Admito que o filme seja bom, as interpretações são boas, as músicas estão bem escritas (não tão bem interpretadas, acho eu, ao ponto de ter notado algumas diferenças de voz suspeitas quando começam a cantar) e tem uma frase final - Aime-mois moins, mais aime-mois longtemps - que me bateu forte e que pôs muita gente nos fóruns do IMDB a conversar. É uma história adulta, de sexo, amor, dor, perda e amor novamente, que - a meu ver - se perde por se tornar leviana dada escolha estilística do realizador (Christophe Honoré).

O problema sou eu, não é o filme, poderia dizer parafraseando uma frase-feita dos desencontros de amor. Por isso se acharem que conseguem continuar ligados ao filme quando as cantorias começam força, vejam-no se é que ainda não o virem, se forem como eu é que provavelmente terão o mesmo veredicto final: quem me dera que tivessem feito tudo de uma forma mais realista.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Les petits mouchoirs



No dia 10 de Maio deste ano vi no Indie Lisboa um filme francês chamado Memory Lane, filme esse que retrata os (re)encontros de uma série de amigos de infância quando têm já uns 25 anos de idade. Les petits mouchoirs, entitulado "Pequenas mentiras entre amigos" em Portugal, poderia ser uma sequela desse filme com os protagonistas já na casa dos 35, não fosse o facto de os personagens serem diferentes e as suas histórias também.

Se tivesse de realçar uma só diferença entre os dois filmes seria mesmo a maturidade. Não só a maturidade dos personagens (ou de parte deles, pelo menos) mas também do elenco e do realizador. Não é por acaso que esta já é a terceira longa de Guillaume Canet enquanto que Memory Lane foi a primeira do seu realizador. Essa maturidade, que aqui se traduz em maior experiência, facilitou - digo eu - a existência de um maior orçamento, o que se traduz em actores mais famosos e na possibilidade de filmar algo como a primeira cena, aquela que mais frequentemente será mencionada como prova da qualidade cinematrográfica do realizador.

Essa cena é, no entanto, bem diferente do resto do filme: nela, Ludo sai de mais uma das suas noites de farra, mete-se na sua scooter rumo a casa mas acaba por não chegar ao destino; no restante filme acompanhamos o seu grupo de amigos - que decide avançar com as férias em grupo que já tinham programadas, mesmo sabendo que ele está nos Cuidados Intensivos do hospital - as relações entre si e a forma como lidam com a sua ausência.

Maturidade é também a caracteristica que eu usaria para justificar a - correctissima - opção de não limitar este filme a uma só tonalidade (ri-me tanto e emocionei-me tanto, tudo na mesma sessão) nem em facilitar as coisas escolhendo um personagem principal e dando aos restantes um mero papel acessório. Aqui todos aqueles amigos são igualmente importantes e todos têm (mais ou menos) o mesmo tempo de antena. As desventuras amorosas de Marie (Marion Cotillard) têm direito à mesma atenção que é dada ao quase esgotamento nervoso de Max (François Cluzet) ou à saída do armário de Vincent (Benoît Magimel).

Com essa opção vêm, porém, dois riscos: que nem todas as histórias sejam boas e que o filme se torne demasiado longo.

Começemos pelo fim: o filme é longo sim senhor, tem mais de duas horas e meia, mas posso garantir-vos que nem por uma vez pensei no tempo que estava a durar, algo que às vezes já estou a fazer ao fim de meia hora quando o filme é fraco. Aliás, como não sabia que era tão longo e não reparei no tempo passar acabei por me atrasar - e muito - para um jantar de família que já tinha marcado.

Em segundo lugar, é normal que das cinco ou seis histórias que acompanhamos nem todas nos despertem o mesmo interesse, mas não vos consigo mesmo dizer qual delas é a pior. Estão todas muito bem construídas e decerto que apelarão a públicos diferentes, que se reverão mais ou menos nelas.

No último terço do filme todas essas histórias ficam para trás e o que interessa é de novo a reacção colectiva à situação de Ludo. Todos aqueles amigos têm as suas histórias e nenhum deles as partilha a cem por cento com os outros (daí o título) mas no final acabam por perceber que isso não importa, todos temos meios para nos ajudar a lidar com as dificuldades da vida (quem nunca fez de tudo para evitar pensar em algo doloroso?) mas os nossos amigos - aqueles que realmente o são - estarão lá para nos ajudar a passar pelos maus bocados. Mais do que com patuscadas na areia, é assim que se vê com quem podemos contar.

Para concluir deixem-me só dizer-vos o seguinte: apesar do drama porque este grupo passa (esta não é uma história feliz, por muito divertida que por vezes seja) o melhor elogio que posso fazer a todos os envolvidos neste filme é que fiquei com pena de não fazer parte daquele grupo. É frequente dizerem-me que exagero muito no que digo, mas permitam-me que vos recomende o filme da seguinte forma: se só puderem ver um filme francês este ano, escolham este. Se só puderem ver três filmes este ano, independentemente da nacionalidade, garantam que Les petits mouchoirs está na vossa lista.

domingo, 21 de agosto de 2011

Super 8

Super 8:

E aqui está ela, conforme prometido ontem deixo-vos hoje a SMR daquela que é senão o melhor, o mais original blockbuster do Verão de 2011, o Super 8 de J.J. Abrams (e produção do Spielberg).

Quando digo original refiro-me ao facto de ser provavelmente o único que tem um argumento original (os outros é tudo remakes ou sequelas ou prequelas), mas esse argumento é muito inspirado noutras coisas que já vimos noutros tempos, nomeadamente nos anos 80 e ainda mais especificamente na obra do próprio Spielberg.

Resumidamente, Super 8 é o E.T., mas aqui o extraterrestre é mau em vez de ser aquele bonacheirão que todos conhecemos. Aterrou na terra por acidente, quer voltar para casa mas os mauzões do exército não deixam...soa-vos a E.T. ou não, leitores com mais de 25 anos de idade? Pois soa, pois soa.

Curiosamente (ou não) esta vertente alíenigena do filme é a mais fraca. Tem alguns momentos em que ficamos excitados com tanta acção no ecrã mas bem vistas as coisas há tantos plot holes e o alien é tão pouco empático que, se o filme fosse só isso, a coisa deixaria muito a desejar. Felizmente existe a outra face da moeda que é este filme, os putos.

Parafraseando a canção, os putos deste filme são como pardais à solta, pardais com um enorme interesse em fazer filmes. Joe, Alice, Cary, Martin e Preston não são de certeza os putos mais populares do seu liceu, mas - provavelmente como aconteceu com muitos geeks do mundo real - vão acabar por ser os que têm as histórias mais interessantes para contar quando voltarem à sua terrinha para a reunião dos 25 anos de formatura, vindos directamente de Hollywood.

Este grupo de miúdos junta-se à volta da visão de Charles, o realizador de "The Case", um misto de filme de detectives e de zombies, e vai ser ao filmar uma cena para o filme que as coisas dão para o torto, acabando por ser filmadas pela sua câmara Super 8 (daí o nome). É pena que dêem para o torto, na verdade, porque dei por mim a pensar muitas vezes em quão melhor seria o filme se se tivesse só focado nos miúdos.

Como realizador do filme dentro do filme poderiamos pensar que é Charles o protagonista, mas não. Esse papel vai para Joe e para Alice, o inevitável par romântico que neste caso está no início da adolescência. Se Joel Courtney faz neste filme o seu primeiro papel e promete muito para o futuro a Elle Fanning já tem mais alguns filmes de experiência mas é aqui que me faz dizer, confiantemente, que tem tudo para ser uma das grandes actrizes do futuro. Dois trabalhos brilhantes, dos quais não fica atrás Ryan Lee, enquanto principal comic relief.

Estes seis amigos fazem um conjunto cinematográfico como não se via desde os quatro de Stand by Me e, no meio de tanta explosão, conseguiram fazer-me rir bem mais do que na maioria das comédias deste ano. É pena, portanto, que o extraterrestre acabe por estar a mais na história, pois se o filme se se focasse apenas na humanidade dos personagens (humanos) poderiamos estar perante um E.T. para a nova geração.


P.S.: Não saiam logo que começam os créditos, ao fim de uns segundos começa "The Case", o filme que os miúdos filmaram.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Angèle et Tony



Já o disse aqui algumas vezes e continuarei a dizê-lo enquanto for verdade: o Verão está para o cinema como a Caras está para a imprensa...quem programa as exibições em sala deve pensar que lá porque está calor não gostamos de pensar e, consequentemente, espeta-nos com blockbusters atrás de blockbusters (tanto bons como de terceira categoria), mas felizmente de vez em quando surgem boas surpresas como Angèle et Tony.

Soube deste filme por causa do trailer, que passou antes do The Conspirator, fui vê-lo já há quase uma semana e agora sinto-me na obrigação de espalhar a boa nova: no Verão também há filmes de jeito!

Um aviso àqueles que clickaram no link e viram o trailer: o ambiente do filme é menos "contente" que aquele que o trailer deixa passar, é uma história mais feita de silêncios e reflexão, mas não, não é uma estopada intelectualóide.

A história é de amor, de como por vezes não são as pessoas mais parecidas connosco as mais indicadas para nós. Por vezes são os extremos que se atraem (como nos ímans) e por vezes, mais raramente, precisamos de uma pessoa com características diametralmente opostas para nos sentirmos completos e mais equilibrados.

Angèle é a protagonista que se envolve com Tony. Tem um passado obscuro, o qual não partilha de imediato, e inicialmente as suas intenções não são as melhores. Tony é o homem que a contacta através de um petit annonce num jornal; vive numa aldeia piscatória, precisa de companhia feminina e de alguém que o ajude a cuidar da mãe, sozinha desde que o pai - pescador - desapareceu no mar.

A narrativa deste filme não é inovadora, já que segue a estrutura mais batida neste tipo de filmes, a (grande) diferença é que aqui os papéis não são os mais óbvios e as interpretações são fora de série.

Grégory Gadebois vai bem como um Tony taciturno e tão agressivo como a sua comunidade piscatória espera de um verdadeiro homem, mas - perdoe-me o Grégory - quem rouba o espectáculo todo é Clotilde Hesme. É verdade que o facto de não a conhecer ajuda muito, mas não consigo imaginar outra pessoa para fazer de Angèle, é simplesmente perfeita.

Em conclusão, se gostam de filmes com substância, mesmo no Verão, vão ver. Se gostam de cinema francês no geral vão ver. Se estão à espera de explosões e tiros, se calhar é melhor optarem por outra coisa, talvez a minha próxima SMR seja mais indicada.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Chloe



Já vi este filme há uma data de tempo e confesso que me marcou tanto que quase nem me lembro dele. Fiquem, por isso, com as notas que tirei quando o vi:

"Girlfriend experience; Música clássica rápida; Porque é que haveria de estar a chorar?; História do chinês; Plano demasiado rebuscado; No fundo parece gostar"

Daqui tirem as vossas conclusões. Para vossa referência a "história do chinês" é uma história de Macau que não sei se é verdadeira ou se será mito urbano: um chinês podre de rico soube que a mulher o traía e resolveu vingar-se. Em vez de se divorciar ou sacar de uma caçadeira não, foi bem mais rebuscado: contratou uma prostituta para se fazer ao homem com quem a sua mulher o traía. O plano resultou e a mulher acabou por morrer. Porquê? A prostituta tinha uma doença sexualmente transmissível qualquer, que passou ao amante, que a passou à senhora. Fim.


P.S.: Esta semana devo meter aqui duas SMR, tenho que pôr o blog a par do que ando a ver!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Fantasia Lusitana



Se tivesse de reter apenas uma só frase deste filme essa frase seria de Antoine Saint-Exupéry (sim, o do Principezinho), que descreve o Portugal que visitou nos anos 40 como "um paraíso triste".

Saint-Exupéry é um dos três autores estrangeiros cujas descrições do Portugal dos anos 40 são usadas como voz off a este interessantissimo documentário de João Canijo. As imagens que as acompanham são de fantasia, a tal fantasia lusitana que o Estado Novo promovia incessantemente e que - como ouvimos nas palavras dos nossos interlocutores estrangeiros - estavam longe da realidade.

O contraste é chocante. Usando imagens de arquivo da RTP e da Cinemateca vamos acompanhando alguns eventos importantes dessa altura, como a Exposição do Mundo Português (a Expo dos nossos pais ou avós), as visitas das grandes estrelas internacionais ao Casino do Estoril ou, mais tarde, a inauguração do Cristo-Rei. Em todas estas reportagens passa a mensagem de que Portugal é uma pátria milenar, salva dos horrores da Segunda Guerra Mundial pela política de neutralidade (i.e., apoiar ambos os lados, consoante pendesse balança) do "salvador da pátria" Salazar, e que voltará aos seus dias de glória num futuro próximo, se Deus quiser.

As descrições feitas por Saint-Exupéry (bem com Alfred Döblin, autor de Berlin Alexanderplatz, e Erika Mann, filha de Thomas Mann) acerca da sua passagem por este cantinho à beira mar plantado são, contrariamente às reportagens de que falei acima, isentas da censura do Estado e - como tal - infelizmente mais realistas. Portugal é descrito como um paraíso, realmente, um porto de abrigo para todos aqueles que tiveram a sorte de chegar cá, fugindo da insana perseguição nazi. É no entanto, como já referi, um paraíso triste, um porto de abrigo onde só se fica enquanto não se apanha outro barco, para terras mais fecundas, onde os sonhos se podiam tornar realidade.

Sempre me interessei muito por história e, por causa disso, sempre falei muito com o meu avô (nascido em 1916) sobre a vida que tinha nesses tempos. Ele infelizmente já faleceu e nunca viu este filme, mas tivesse-o visto e decerto diria que as descrições sonoras são mais realistas que o que se via na televisão do Estado. O famoso mito urbano de uma sardinha por família não é tão mito assim e sempre soube que o meu avô, filho de agricultores da região de Paredes, teve o seu primeiro par de sapatos aos 14 ou 15 anos de idade...

Porque é que somos assim? Não duvidem, o Portugal de 2011 continua a ser o paraíso triste que era em 1940, um país que poderia ser perfeito para viver mas que cada vez mais vejo como um excelente destino temporário, nada mais. Como alguns de vocês saberão, a minha namorada é uma alemã apaixonada por Portugal. Foi ela que me disse - com o distanciamento que nos permite fazer melhores observações - que achava que o problema deste país não são as pessoas, nem os governantes, o problema é a nossa mentalidade colectiva: somos um povo altamente desmotivado e isso reflecte-se no todo.

Tenho de concordar com ela, sabem? Talvez tenha sido o Estado Novo a tirar-nos a fibra que outrora tivemos e que nos levou a descobrir o mundo, ou talvez fosse um mal que já vinha de outros tempos, mas enquanto não levarmos uma desfibrilação colectiva não deixaremos de estar na cauda da Europa, contentes por sermos os mais pobres dos ricos. Não será Deus que mudará o nosso destino, temos de ser nós.